Ana Paula Santana

ANA PAULA SILVA SANTANA

        Doutora pelo programa de pós graduação em História da Universidade Federal de Outro Preto (PPGHIS-UFOP). Mestra pela Universidade Federal de Ouro Preto. Graduada em história licenciatura e bacharelado pela Universidade Federal de Ouro Preto. Professora de Ensino de História do curso de História da Universidade Federal de Alagoas. Docente permanente do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Alagoas. Integrante do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI-UFAL). Integrante do Laboratório de História Afro-brasileira (LAHAFRO-UFAL). Integrante do PLURAL- Laboratório de História, Ética e Democracia da UFOP. Integrante do Grupo de História Ética e Política (GHEP) da UFOP. Membra associada da ABPN - Associação Brasileira de Pesquisadores Negros. Membra associada da SBTHH- Sociedade Brasileira de Teoria e História da Historiografia. Editora da Revista Histórias Públicas da Universidade do Estado de Minas Gerais (DCH- UEMG). Editora Colaboradora da Revista HHMagazine - Humanidades em Rede. Atualmente é Coordenadora do GT de Teoria da História e História da Historiografia da ANPUH-Brasil. Interesses: Ensino de História, Teoria e História da Historiografia, Educação para Relações Étnico Raciais, Estudos Gênero.

Latteshttp://lattes.cnpq.br/8304477007617958 

Linha de pesquisa: Culturas políticas, representações, discursos e narrativas

Temáticas de orientação:  Ensino de História, Teoria e História da Historiografia, Educação para Relações Étnico Raciais, Estudos Gênero.

E-mail: ana.santana1@ichca.ufal.br 

Projetos de pesquisa em andamento:

Ensino de História e Relações Étnico-raciais: Um estudo dos desafios, das metodologias e das possibilidades

Dentre os muitos desafios que existem no Ensino de História hoje, talvez o maior deles seja este de aproximar o conteúdo das aulas à realidade e às experiências dos alunos. Este desafio torna-se cada vez mais latente à medida que a sala de aula se torna um espaço cada vez mais aberto para outros sujeitos, antes excluídos dos ambientes acadêmicos. Falamos da dificuldade de tornar o ensino mais palpável e eficiente para os alunos que acessam o ensino básico e superior. Portanto, diante dos desafios do tempo presente, apresentamos um projeto de pesquisa comprometido com o Ensino de História, as discussões de raça e com o conceito de giro ético-político na atualidade (Rangel, 2019). Dessa forma, em um primeiro momento do trabalho, nos dedicaremos às bibliografias e aos estudos referentes às novas demandas do Ensino de História do Brasil hoje, especialmente no que se refere à luta do movimento negro pela educação. Observamos ainda que, para além das questões mais teóricas relacionadas à Teoria e ao Ensino de História no século XXI, estudaremos a implementação de políticas públicas e leis essenciais à discussão do tema proposto. Por exemplo, a lei 10.639 de 2003, que tornou obrigatório o ensino de História da África e cultura afro-brasileira no ensino básico, e a lei 12.711 de 2012, que destina 50% das vagas das Universidades Públicas a alunos oriundos de escolas públicas, pretos, pardos e indígenas (Gomes, Silva, Brito, 2023). Portanto, em um segundo momento do projeto, nos dedicaremos ao levantamento de relatos de experiências, possibilidades e metodologias de ensino concernentes ao desenvolvimento das Relações Étnico-Raciais e à implementação da lei 10.639 no ensino básico. Nosso intuito é estudar e divulgar a pesquisa historiográfica e os trabalhos desenvolvidos acerca do tema, assim como levantar determinado material a ser utilizado como apoio e orientação para diferentes professores do ensino básico e superior no direcionamento das discussões de raça nas aulas de História. Salientamos que nosso trabalho está intimamente relacionados ao curso de história da Universidade Federal de Alagoas, sobretudo no que se refere aos interesses de grupos de pesquisa como o LAHAFRO- Laboratório de História Afro-brasileira, e o NEABI- Núcleo de História Afro-brasileira e Indígena. interesses de grupos de pesquisa como o LAHAFRO- Laboratório de História Afro-brasileira, e o NEABI- Núcleo de História Afro-brasileira e Indígena *** De acordo com o que é observado por Circe Bettencourt (2008), o Ensino de História no Brasil nasceu no contexto do Império Brasileiro, no século XIX. Pautado pelos objetivos direcionados pelo próprio Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838), aquele modelo de ensino foi criado para legitimar o poder do Estado e para contribuir na construção da identidade nacional. Era necessário consolidar o poder do Imperador e convencer aqueles cidadãos de que o Brasil de fato existia, que tinha história e que era agora independente. Nesse sentido, o Ensino de História contribuíra com o que o historiador Ilmar Mattos chama de [...] expansão para dentro da casa (Mattos, 2005, p. 26), com a necessária investida do Estado Brasileiro diante de seu povo. Vale salientar ainda que esse Ensino de História, criado no século XIX, nasceu à vista dos moldes europeus de ensino, e que os próprios historiadores conhecidos e reconhecidos naquele período possuíam fortes vínculos com a literatura e com filosofia europeia. Trata-se de um ensino que, para além da ideia de legitimação, estava fortemente associado a sujeitos (majoritariamente homens e brancos) que faziam parte da intelectualidade do Estado. É certo que, no século XX, os objetivos da disciplina tornaram-se mais amplos. Destacamos determinada renovação metodológica observada já no início do século, uma vez que a motivação dos alunos entrou na pauta do ensino, assim como a biografia, a memória e a história econômica também (Schmidt, 2012). No entanto, a ampliação do acesso ao ensino aconteceu de maneira mais efetiva apenas nas décadas de 1980 e 1990, a despeito das lutas e dos movimentos sociais que foram essenciais para a criação e o fortalecimento das ações afirmativas no Brasil. Se antes o foco do ensino era a valorização da pátria, da nação e da nacionalidade, [...] a partir da década de 1980, com a gradual abertura democrática, ocorreu uma emergência de múltiplas propostas curriculares nos estados do Brasil (Silva, 2019, p.37). Destarte, e em consequência das políticas de ações afirmativas implementadas nos séculos XX e XXI, o público presente nas escolas e, principalmente, nas Universidades, tem sido ampliado desde aquele período. À vista disso, falamos de sujeitos que não se sentem completamente representados por metodologias de ensino consagradas academicamente nos século XIX e XX. Essa circunstância traz à tona o desafio de repensar o cânone e reconstruir as metodologias e as linguagens do conhecimento com esse novo perfil de alunos. Ou seja, como observado por André Ramos, nos deparamos frequentemente com um passado traumático na sala de aula, com a complexidade do real [...] materializada no corpo, nas vozes e nos afetos dos nossos estudantes. Corpos, vozes e afetos muitas vezes atormentados por passados que não passam e que clamam por justiça (Ramos, 2023, p. 404). Conforme apontado por autores e autoras como bell hooks (2013) e Paulo Freire (2021), a teoria explicada em sala de aula precisa estar frequentemente associada à prática, precisa ser construída com e para os alunos, precisa representar e libertar o sujeito em busca do conhecimento. Isso pode ser observado nas palavras de Freire, ao traçar as premissas da sua Pedagogia do Oprimido: "A nossa preocupação, neste trabalho, é apenas apresentar alguns aspectos do que nos parece construir o que vimos chamando de pedagogia do oprimido: aquela que tem de ser forjada com ele e não para ele, enquanto homens ou povos, na luta incessante de recuperação de sua humanidade. Pedagogia que faça da opressão e de suas causas objeto da reflexão dos oprimidos, de que resultará o seu engajamento necessário na luta por sua libertação, em que esta pedagogia se fará e refará".(Freire, 2021, p. 43) Tal reinvenção da metodologia e da própria linguagem do ensino enfrenta ainda o desafio proporcionado pelo medo do novo. Afinal, é preciso coragem para sair da zona de conforto e admitir que, apesar das crescentes demandas por democratização, nossas aulas de história ainda são, majoritariamente, pautadas por estruturas tradicionais de ensino (Santana, Santana, 2022). Não é à toa que, em boa parte das vezes, agimos com medo do novo, haja vista que tendemos [...] a nos repetir e continuar o mundo no qual mobilizamos (Rangel, Pinha, 2023, p.254) cotidianamente. E isso até que alcancemos determinado estado de abertura ao novo, abertura essa que demanda uma stimmung um clima histórico orientador de ações e afetos constituído pela empatia, pela paciência, pela resistência e pelo amor (Rangel, Pinha, 2023). Vale salientar ainda que a reinvenção dessa pedagogia deve considerar, especialmente, determinado público de alunos negros e alunas negras racializados que desejam estudar a história a partir de autores, autoras, temas e leituras que os representem. Principalmente, porque estamos falando do Brasil, um país que sustentou por séculos a escravidão como política de Estado e que hoje conta com a maioria da população constituída por pessoas negras (IBGE, 2022). Assim, na sequência do projeto, discutiremos a trajetória do movimento negro na luta pela implementação de ações afirmativas capazes de trazer pessoas negras para as salas de aula das Universidades, e, por consequência, a necessária mudança/complementação das metodologias de ensino. Participantes: Isadora Joana Firmino dos Santos - graduação; Vanessa Marcelino Veira da Silva - graduação.