Uma Mão de Verniz Sobre o Tabuleiro de Pirro: Ecos da Belle Époque em Aracaju (1918 – 1926) - Jeferson Augusto da Cruz
Uma Mão De Verniz Sobre O Tabuleiro De Pirro - Ecos Da Belle Époque Em Aracaju (1918 – 1926) -Jeferson Augusto Da Cruz.pdf
Documento PDF (4.8MB)
Documento PDF (4.8MB)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS, COMUNICAÇÃO E ARTES
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
JEFERSON AUGUSTO DA CRUZ
UMA MÃO DE VERNIZ SOBRE O TABULEIRO DE PIRRO:
Ecos da Belle Époque em Aracaju (1918 – 1926)
Maceió
2016
1
JEFERSON AUGUSTO DA CRUZ
UMA MÃO DE VERNIZ SOBRE O TABULEIRO DE PIRRO:
Ecos da Belle Époque em Aracaju (1918 – 1926)
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em História da Universidade
Federal de Alagoas, como requisito parcial para
obtenção do grau de Mestre em História.
Orientador: Prof. Dr. Gian Carlo de Melo Silva
Maceió
2016
2
Catalogação na fonte
Universidade Federal de Alagoas
Biblioteca Central
Divisão de Tratamento Técnico
Bibliotecário Responsável: Helena Cristina Pimentel do Vale
C957m
Cruz, Jeferson Augusto da.
Uma mão de verniz sobre o Tabuleiro de Pirro: Ecos da Belle Époque em
Aracaju (1918-1926) / Jeferson Augusto da Cruz. – 2016.
192 f. : il.
Orientador: Gian Carlo de Melo Silva.
Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Alagoas.
Instituto de Ciências humanas, Comunicação e Artes. Programa de
Pós-Graduação em História. Maceió, 2016.
Bibliografia: f. 180-190.
1. Aracaju (SE) – Historia. 2. Belle Époque – 1918-1926. 3. Aracaju (SE) –
Modernização. 5. Urbanização. I. Título.
CDU: 981.37
3
4
À minha tia Valdira (1949 – 2011), quem tanto
amei e amo, que estará no meu coração e mente
para sempre.
5
AGRADECIMENTOS
Agradecer é um ato que enobrece o ser humano, quando agradecemos não
estamos apenas reconhecendo quem nos ajudou, mas reconhecemos a nós mesmos. Por
isso, inicialmente agradeço a Deus por tudo que passei nesses dois anos de idas e vindas
entre Aracaju e Maceió, pois nada de ruim que a mim foi destinado se concretizou,
graças a sua infinita proteção.
Aos meus pais, Jacira e José Agustinho, uma professora e um homem do campo,
que nunca mediram esforços pela educação dos filhos, pelas diversas vezes que contei
com o incondicional apoio de ambos e por não me deixarem desistir desse propósito.
Agradeço aos meus irmãos: Jaciara, Jackeline, Jéssica e Jenerson, e aos meus sobrinhos:
Heloísa, Luiz Carlos, David Luiz, Pietro, Kayky e Lavínia, partes fragmentadas de mim.
Aos meus avôs Ozéas e José (in memorian) por terem sido os melhores exemplos de
retidão que já tive, pois juntos com suas esposas, as minhas avós Madalena e Julieta,
sempre tiveram um tempo para transmitir a esse neto, os mais valiosos
exemplos da vida. Suas lições, vozes e afetos estão sempre em minhas lembranças.
Palavras de agradecimentos se tornam necessárias para você Gian, pois no
momento que precisei contei com seu auxílio. Obrigado também por não ter desistido
da orientação, graças a ela pude ver com outros olhos minha pesquisa, sei que tiveram
alguns percalços, mas contei com um bom e inteligente orientador, serei grato sempre a
você tenha certeza disso.
Agradeço por demais à professora Michelle, por ter feito parte de minha banca,
as contribuições da qualificação foram importantes para redesenhar o trabalho, por isso
tenho um carinho, respeito e admiração por você, sua valorosa correção me ajudou a
entender melhor o meu objeto e sua compreensão para com sua orientanda "tupiniquim"
nos ajudava também. Muito Obrigado!
Ao meu querido professor Samuel, que sempre acreditou em meu potencial e por
me direcionar a cada dia para águas mais profundas. O conselho para realizar esse
trabalho partiu dele, não somente os esboços de uma ideia, mas tudo que rodou a
pesquisa. Graças aos seus valorosos conselhos, sei que posso seguir cada dia mais forte
e tenho certeza que teremos outras conquistas para nos orgulharmos no futuro. Tudo
que fui, que sou e serei devo as suas preciosas palavras de mestre e amigo.
6
Sempre temos alguém que nos inspira, além de minha mãe, busquei inspiração
em uma querida conterrânea, que diversas vezes me ajudou e com uma paciência digna
de uma genitora, pois é Terezinha Oliva, o que seríamos de nós se não mirássemos nos
exemplos das "Mulheres de Atenas?" Com a senhora pude contar de uma maneira
maravilhosa e sei que faria novamente se preciso. Haverá sempre em mim uma gratidão
infinita por tudo aquilo que me ensinou e pela torcida que emana de você e seu pai o
nobre João Oliva, para que eu procure crescer cada vez mais com humildade, sabedoria
e estudo, assim as vitórias vão surgindo. Mil vezes obrigado, obrigado e obrigado!
Creio nunca ter visto uma turma tão unida quanto à da linha de Cultura,
Historiografia e Representações, em meio às diversas angústias que recaiam (e recaem)
sobre nós, procurávamos rir, pois era o melhor remédio, apesar das
minhas
inconstâncias emocionais obviamente. Nós somos a geração do entendimento, da
compreensão e do respeito aos nossos futuros alunos, sem as vaidades que cobrem o
âmbito acadêmico, por isso é válido agradecer a Carine, minha companheira das viagens
a Maceió, a Ana Beatriz, minha amiga de sonhos opulentos, a Adriana, mãe da turma, a
Marta, a menina do Crato, ao Cupirense Zé Luiz, a silenciosa Izabela, a conselheira
Simoneide, a simpática Simone e de forma especial agradeço ao colega, agora amigo,
Josian Paulino e a sua esposa Taísa pelas diversas vezes que me receberam em sua casa
quando precisei pernoitar em Maceió, vocês não sairão de minhas lembranças jamais.
Com enorme alegria agradeço a uma querida professora do Departamento de
Museologia da UFS, minha segunda graduação, a você Ana Karina devo toda força que
tive durante esse mestrado, pois com sua alegria contagiante soube me munir de
coragem para seguir em frente e não me preocupar com as barreiras que foram
impostas, sei que fará isso outras e outras vezes, por isso tens um lugar em mim para
sempre. Também agradeço ao professor Clovis, inicialmente pela torcida durante a
seleção em 2013 em seguida, pela compreensão que teve quando precisei me ausentar
das aulas para terminar esses escritos, acima de tudo pela confiança que tem em mim,
espero um dia retribuir a altura. Aos demais professores, que de alguma maneira me
incentivaram nessa caminhada, pessoas como Neila e Michel Platini que vez e outra me
perguntavam como estava o mestrado, como Priscila, Sura, Cristina e Verônica que
também estiveram presentes nessa trajetória merecem o meu reconhecimento e gratidão.
Aos queridos Fernando Aguiar e Janaina Couvo dois grandes amigos, que me
ajudaram nos momentos que mais precisei, sei o quanto vibraram com minha aprovação
em 2013, como também estão torcendo pela defesa, por isso, Janaina disse que tem uma
7
parcela de "culpa" nisso tudo e sente-se na obrigação de brindar comigo e com minha
família, todas as vitórias que vierem pelo caminho. Obrigado por tudo, pois se não fosse
a acolhida de vocês em 2012, nem sei como estaria minha vida nesse momento.
Aos amigos da Bahia, que dividiram comigo os momentos de angústia e de
apreensão que uma pós-graduação oferece, sem dúvida as coisas seriam mais tensas se
não fossem as risadas, as raivas e brincadeiras que através do grupo do WhatsApp
fazíamos. Por isso meu “Merci Beaucoup” para Hernandes, Magno, Tácila, Jacson,
Lucas, Isadora e Alisson, espero nos vermos em breve através das mudanças da vida.
Graças, a minha participação no Simpósio Nacional de História da ANPUH
em Florianópolis, em 2015, e a minha apresentação no Simpósio Temático "Cidades e
Práticas Culturais: modernidade, subjetividades e configurações de identidades", pude
conhecer duas maravilhosas pessoas que com suas dicas especiais, indicação
bibliográfica e constante contato, tornei meu trabalho mais rico, logo vocês também são
dignas de agradecimentos Professoras Fabiana Cunha e Carla Ferraresi, obrigado pelas
ajudas via Facebook e pelas conversas descontraídas que tivemos, me ajudaram na
constituição desse trabalho.
Agradeço também a Cristiane Vitório, Sayonara Rodrigues, Crislane Azevedo,
Andreza Maynard e Fabrícia Oliveira, por terem me enviado seus trabalhos, pois são
produções importantes para conhecermos a Belle Époque aracajuana. Além das pessoas,
é válido ser grato as instituições de pesquisa que visitei e que através do seu acervo, me
possibilitou conhecer as fontes dessa dissertação, por isso agradeço a todos os
funcionários do IHGSE (Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe), APES (Arquivo
Público do Estado de Sergipe), APA (Arquivo Público Municipal de Aracaju), AGJESE
(Arquivo Geral do Judiciário do Estado de Sergipe), MESE (Memorial de Sergipe –
UNIT), BPED (Biblioteca Pública Epifânio Dórea) e PDPH (Programa de
Documentação e Pesquisa Histórica – UFS).
Por fim, agradeço a Fundação de Apoio a Pesquisa do Estado de Alagoas –
FAPEAL, pela concessão da bolsa, talvez sem esse auxílio fosse mais difícil constituir
esse trabalho.
“Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.”
2 Timóteo 4:7
8
Pessoa que vem zangada, vê Aracaju e
continua zangada, não tem jeito mesmo, é
caso perdido. Porque Aracaju dá bom-humor
aos tristonhos, alegria aos que são apenas
bem humorados. Aracaju amanhece rindo na
doçura do panorama que a natureza reservou,
patenteou para ela.
Genolino Amado
9
RESUMO
Um período entressecular marcado por transformações. Essa foi uma das características
que permeou as últimas décadas do século XIX e as iniciais do XX. Nessa época,
ocorreram diversas mudanças nos âmbitos político e social, a cidade se converteu no
palco onde foram materializadas as transfigurações que caracterizavam esse momento.
No Brasil, com a implantação da república em 1889, as palavras ordem e progresso
estavam em alta e se fazia necessário conduzir o país aos ideais modernos que outrora
vigoravam na Europa, por isso a urbanização das principais cidades brasileiras,
principalmente as capitais dos estados, foram empreendidas com intuito de vivenciar os
ares cosmopolitas e modernos tão almejados pelo novo regime. Sergipe, menor estado
da federação, não sentiu de imediato as modificações empreendidas no âmbito urbano,
pois mesmo sendo idealizada na sua gênese como moderna, a capital sergipana,
Aracaju, não sofreu maiores modificações em sua estrutura urbana durante mais de
meio século, ocorrendo transformações significativas no físico da cidade a partir da
segunda década do século XX. Por isso, o propósito desse estudo é apresentar o
processo modernizador de Aracaju, principiado em 1910, porém, intensificado a partir
de 1918 a 1926. Sendo assim, um dos objetivos é analisar o processo de inserção da
Belle Époque em Aracaju através do seu projeto de modernização e urbanização,
iniciado na gestão do presidente do Estado José Joaquim Pereira Lobo (1918-1922) e
impulsionado por seu sucessor Maurício Graccho Cardoso (1922-1926). Por fim é
necessário analisar os impactos que a reforma urbana causou na cidade e como foi
apropriada pela população. Logo, tomarei como interlocutores autores que se
debruçaram sobre a temática no âmbito nacional e sergipano, juntamente com os que
evidenciam os conceitos de modernidade, representação, apropriação e cotidiano,
facilitando assim o descortinar desses eventos e possibilitando a melhor compreensão
do objeto estudado.
PALAVRAS-CHAVES: Aracaju; Belle Époque; Modernização;
Sociabilidades.
Urbanização;
10
RÉSUMÉ
Une période de transition entre siècles marquée par des transformations. Cela a été une
des caractéristiques qui a traversé les dernières décennies du XIX siècle et le début du
XX. Dans cette époque-là, plusieurs changements se sont passés dans les cadres
politique et social, la ville s’est convertie en scène où ont été matérialisées les
transfigurations qui caractérisaient ce moment. Au Brésil, avec l’implantation de la
république en 1889, les mots ordre et progrès étaient en hausse et il était nécessaire de
conduire le pays aux idéaux modernes qu’autrefois étaient en vigueur en Europe, voilà
pourquoi l’urbanisation des principales villes brésiliennes, surtout les capitales des états,
ont été entreprises avec le but de vivre les aires cosmopolites et modernes si souhaités
par le nouveau régime. Sergipe, le plus petit état de la Fédération, n’a pas eu dans
l’immédiat les modifications entreprises dans le cadre urbain, car même en étant
idéalisée dans sa genèse comme moderne, la capitale de Sergipe, Aracaju, n’a pas
souffert de grosses transformations significatives dans le physique de la ville à partir de
la deuxième décennie du XX siècle. Pour cela, le but de cette étude est de présenter le
processus modernisateur d’Aracaju, au début de 1910, mais, intensifié à partir de 1918 à
1926. Pour ainsi dire, l’un des objectifs est d’analyser le processus d’insertion de la
Belle Époque à Aracaju à travers son projet de modernisation et urbanisation, débuté
dans la gestion du président de l’État José Joaquim Pereira Lobo (1918- 1922) et
impulsé par son successeur Maurício Graccho Cardoso (1922-1926). Enfin il faut
analyser les impacts que la réforme urbaine a causé dans la ville et comment elle a été
appropriée par la population. Donc, je prendrai comme interlocuteurs des auteurs qui se
sont penchés sur la thématique dans le cadre national et de l’état de Sergipe, ainsi que
ceux qui font aux concepts de modernité, représentation, appropriation et quotidien, en
facilitant, pour ainsi dire, la découverte de ces événements et tout en permettant la
meilleure compréhension de l’objet étudié.
MOTS-CLÉS : Aracaju ; Belle Époque ; Modernisation ; Urbanisation ; Sociabilités.
11
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – Mapa de Aracaju em 1855 ..........................................................................39
Figura 02 – Planta do Plano de Aracaju em 1857 ..........................................................40
Figura 03 – Inauguração dos Jardins Olímpio campos, 1907 ........................................47
Figura 04 – Mapa de Sergipe em 1918 ...........................................................................54
Figura 05 – Av. Barão de Maruim em fase de melhoramentos, 1920 ............................61
Figura 06 – Praça Benjamim Constant, atual Praça Olímpio Campos, 1921 .................63
Figura 07 – Avenida Barão do Rio Branco, S/D ............................................................65
Figura 08 – Palácio do Governo de Sergipe, 1920 .........................................................69
Figura 09 – Palácio do Governo de Sergipe, após a remodelação de 1920, S/D ...........72
Figura 10 – Estátuas dos Índios ......................................................................................75
Figura 11 – Projeto o Theatro S. Christóvão ..................................................................77
Figura 12 – O Tabuleiro de Pirro, algumas repartições públicas e a sé católica ............80
Figura 13 – Comissão Executiva das festas do 1º Centenário da Emancipação Política
de Sergipe, 1919 ..............................................................................................................82
Figura 14 – Anúncio de venda de roupas .......................................................................87
Figura 15 – Praça Fausto Cardoso, celebração da independência de Sergipe ................89
Figura 16 – Ilustração em honra a Pereira Lobo, 1920 ..................................................90
Figura 17 – Foto de Pereira Lobo ...................................................................................91
Figura 18 – Graccho Cardoso em seu gabinete no Palácio Olímpío Campos ................98
Figura 19 – Grupo Escolar General Valladão ..............................................................105
Figura 20 – Grupo Escolar Manoel Luiz ......................................................................107
Figura 21 – Grupo de alunas da Escola Normal de Aracaju ........................................109
Figura 22 – O edifício do Patronato de São Maurício ..................................................111
Figura 23 – Grupo Escolar Barão de Maroim ..............................................................112
Figura 24 – Instituto de Química ..................................................................................114
Figura 25 – Prédio do Atheneu Pedro II.......................................................................125
Figura 26 – O novo calçamento de Aracaju paralelepípedos .......................................118
Figura 27 – Coreto da Praça Fausto Cardoso ...............................................................120
Figura 28 – Um trecho da Avenida Rio Branco, depois do calçamento e da nova
ajardinação .....................................................................................................................121
Figura 29 – Palácio da Prefeitura de Aracaju ...............................................................122
Figura 30 – Vista lateral do Instituto Parreiras Horta, em Aracaju ..............................127
Figura 31 – Vista geral do Hospital de Cirurgia, em Aracaju ......................................129
12
Figura 32 – O grande Mercado Municipal de Aracaju .................................................133
Figura 33 – Palacetes do Dr. Manoel Dantas, à Rua de Estância, do Sr. J. Couto Faria,
na Rua de Pacatuba, do Dr. Manoel Cruz, na Rua de Itabaiana e do Coronel Ceciliano
Teixeira de Andrade, na Rua de Pacatuba .....................................................................140
Figura 34 – Igreja de São Salvador, recém reformada .................................................143
Figura 35 – Bondes na Rua João Pessoa ......................................................................146
Figura 36 – Ilustração de um automóvel Studebaker ...................................................150
Figura 37 – Anúncio da Alfaiataria Carioca ................................................................160
Figura 38 – Anúncio do Lança Perfume Paris..............................................................161
Figura 39 – Anúncio do Palace Club ............................................................................164
Figura 40 – Anúncio de Madame Marguerite ..............................................................166
Figura 41 – Anúncio da Alfaiataria Paris .....................................................................167
Figura 42 - Anúncio da loja de chapéus Elite...............................................................168
13
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 – Crescimento populacional de Aracaju 1872-1920 ....................................55
Quadro 02 – Exportações sergipanas ...........................................................................104
14
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AGJESE – Arquivo Geral do Judiciário do Estado de Sergipe
APA – Arquivo Público Municipal de Aracaju APES
– Arquivo Público do Estado de Sergipe BPED –
Biblioteca Pública Epiphâneo Dórea IHGSE –
Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe MESE –
Memorial de Sergipe – UNIT
PDPH – Programa de Documentação e Pesquisa Histórica – UFS
15
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .............................................................................................................16
CAPÍTULO 1 – DAS TERRAS PANTANOSAS AO QUADRADO DE PIRRO: AS
ORIGENS DE ARACAJU E O INICÍO DA MODERNIZAÇÃO............................33
1.1 - A Inserção de Aracaju na Belle Époque ..................................................................43
1.2 - A Remodelação da Aparência Urbana de Aracaju ..................................................45
1.3 - Situação Econômica de Sergipe ..............................................................................51
CAPÍTULO 2 - O GOVERNO DE PEREIRA LOBO E O INÍCIO DA
REMODELAÇÃO URBANA (1918-1922)..................................................................56
2.1 - O Contexto político e a Reforma de Aracaju. ..........................................................56
2.1 - “Que a Sergipe Honra e Decora”: Celebrações do Centenário da Independência do
Estado ..............................................................................................................................81
CAPÍTULO 3 – UMA MÃO DE VERNIZ SOBRE O TABULEIRO DE PIRRO: O
GOVERNO DE GRACCHO CARDOSO (1922-1926) E A CONTINUAÇÃO DAS
OBRAS DA BELLE ÉPOQUE ARACAJUANA ........................................................94
3.1 - A Belle Époque da Educação: Os Grupos Escolares...............................................99
3.2 - O Tabuleiro em Obras ...........................................................................................116
3.3 “Hygienizar, Embelezar e Modernizar”: A Reforma Sanitária de Graccho Cardoso
.......................................................................................................................................123
CAPÍTULO 4 – ECOS DA BELLE ÉPOQUE: O COTIDIANO DA CAPITAL DE
SERGIPE COM AS REFORMAS URBANAS ........................................................136
4.1 - “Aracaju Civiliza-se!” ...........................................................................................137
4.2 - As Ruas, os Espaços e as Sociabilidades ..............................................................158
4.3 - Os Pobres da Belle Époque Aracajuana ................................................................169
CONCLUSÃO..............................................................................................................177
REFERÊNCIAS ..........................................................................................................180
16
INTRODUÇÃO
A evolução, porém, pode levar esta cidade aos três, aos quatro, aos
cinco milhões. Esse último quarto de século é o princípio de uma era
extraordinária.
A epígrafe acima, encontrada em um texto escrito por Machado de Assis, no
periódico “A Semana” com data de 22 de abril de 1894, refere-se à fala do “Bruxo do
Cosme Velho”, que trata sobre o crescimento da cidade do Rio de Janeiro, como
também do burburinho que as ruas começavam a ganhar com as novidades vindas do
outro lado do Atlântico. Essas mudanças já eram avistadas no horizonte durante o
crepúsculo dos oitocentos. No entanto, foi um período de transição conturbado e que
representou a inserção da sociedade a padrões tidos como modernos encaminhado-a
rumo ao progresso almejado, principalmente, pelas camadas mais ricas, que ditavam as
regras nesse período, pois “estava na ordem do dia assegurar para as classes mais
abastadas um espaço público propício à integridade e à ostentação do status, de acordo
com as últimas tendências do mundo tido como civilizado”1. Houve mudanças
significativas em diversas áreas, pois as impressões do final do século XIX e início do
XX marcaram fortemente as gerações desse período. Mas as mudanças transcorridas no
contorno das grandes cidades e nos comportamentos foram as mais significativas2.
As mudanças vertiginosas desse período estiveram presentes em todas as esferas
sociais existentes, mas foram nas cidades que as transformações ganharam uma
expressão maior, pois elas se tornariam “vitrine para as mariposas do luxo”3. A cidade
foi o palco onde os acontecimentos do cotidiano se desdobraram, concomitantemente
“foram os grandes cenários da modernidade e, hoje, o lugar emblemático das suas
ruínas e das suas tentativas de reconstrução”4. Sobre a importância do século XIX e seus
acontecimentos “descortinadores”, Weber apresenta:
O século XIX tinha o hábito de encerrar as coisas. A cortina caía
repentinamente sobre regimes, revoluções, classes dominantes e
1
AZEVEDO NETO, Joachin. Uma outra face da Belle Époque carioca: o cotidiano nos subúrbios nas
crônicas de Lima Barreto. Rio de Janeiro: Multifoco, 2011, p. 34.
2
SEVCENKO, Nicolau. A capital irradiante: técnica, ritmos e ritos do Rio. In:
(Org.). História da
vida privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, v. 3.
3
Sobre a transformação das cidades em vitrines, onde as pessoas praticavam o flâneur e dedicavam
inúmeras horas do dia para olharem as novidades luxuosas que a modernidade trazia. Ver em:
BENJAMIN, Walter. Passagens. Belo Horizonte: UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São
Paulo, 2009.
4
REZENDE, Antônio Paulo. Desencantos modernos: histórias da cidade do Recife na década de XX.
Recife: FUNDARPE, 1997.
17
ideologias, erguia-se e depois baixava de novo; mas aqueles que a
história alegadamente condenava nunca paravam de morrer5.
Os acontecimentos enredados durante o século XIX tiveram papel importante na
formação das estruturas que vigoraram durante o início do século XX, pois como
evidencia a citação acima, regimes políticos, revoluções populares, classes abastadas e
as ideias que vigoravam no período, ocasionalmente eram dissolvidas, porém, eram
imediatamente restabelecidas. Esses acontecimentos nos ajudam a compreender como a
sociedade do início do século XX foi forjada, ou seja, como os acontecimentos da
centúria formariam a mentalidade do novo período que se iniciava.
No que diz respeito à modernidade, tão almejada durante as transformações
ocorridas na cena urbana, Berman constata que ela está dividida em dois
compartimentos que as diferenciam, no entanto há uma ligação hermenêutica entre um e
o outro, ou seja, para o autor, a modernidade contém duas partes: a modernização, que
está associada entre a economia e a política e o modernismo, por sua vez ligado de
forma umbilical ao universo da arte, cultura e sensibilidade, porém tanto a
modernização quanto a modernidade “se desenvolvem por conta própria” sem precisar
necessariamente da ação humana sobre elas, no entanto, apesar de ser independente,
esse dualismo incide fortemente nas pessoas que perscrutam sobre os caminhos
modernos6.
A vertente da modernidade, que em alguns momentos será empregado nesse
trabalho será a modernização, haja vista que o projeto modernizador de Aracaju fora
pensado justamente pelos representantes da política e da elite, com isso, comungamos
com a assertiva que aponta a “política modernizadora desencadeada a partir de 1889 – e
até muito antes – esteve mais para um processo de modernização do que modernismo”7.
Como exemplo de vivência nos ambientes cosmopolitas, Berman cita Charles
Baudelaire, justamente para exemplificar o indivíduo que teve ligações fortíssimas com
os aparatos da modernidade. Para ele, Baudelaire foi responsável por difundir entre as
gerações do século XIX na França, a necessidade de pensarem como modernos. Logo,
vemos que ele teve um papel importante durante as transformações urbanas vivenciadas
em Paris no final do século XIX. Além de ter sido um observador assíduo e perspicaz,
5
WEBER, Eugen. França Fin-de-Siècle. São Paulo: Companhia das Letras, 1988, p. 9.
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo:
Companhia das Letras, 1986.
7
SILVA, Maurício. A hélade e o subúrbio: confrontos literários na Belle Époque carioca. São Paulo:
Universidade de São Paulo, 2006, p. 19.
6
18
ele difundiu junto a sua geração a necessidade de serem cidadãos modernos, algo que
foi presente em suas obras e que se perpetuou durante muito tempo.
Benjamin foi outro autor que se debruçou sobre Baudelaire em seus trabalhos,
para ele através do personagem, a cidade de Paris torna-se “um objeto da poesia lírica”,
criando um olhar alegórico sobre ela. O olhar do flâneur sobre a Cidade Luz e suas
transformações foi um dos fatores preponderantes para entendermos como a população
recebia as novidades trazidas pela modernidade e que culminaram no período chamado
Belle Époque8.
Esse momento, Santucci conceitua como um período que compreende o final do
século XIX e vai até a Primeira Guerra Mundial, e ainda no entender da autora:
[...] se caracterizou por uma sucessão de experimentações que se
estende pelo nome de modernidade, vivenciada e compreendida por
seus contemporâneos como progresso e civilização. O momento foi
marcado por uma explosão de contradições que ressaltaram as
diferenças e as condições diversas oferecidas no contexto da vida
urbana, acompanhada de uma euforia que trazia a expectativa de ser
possível resolver cientificamente todos os problemas da humanidade9.
O termo modernidade, citado pela autora, foi utilizado, segundo ela, “no sentido
de relacionar as transformações urbanas e seus efeitos socioculturais ocorridos a partir
da segunda metade do século XIX. Ao lidar com o ineditismo da vida moderna, o
indivíduo que vive essas mudanças se sente ameaçado e seduzido ao mesmo tempo”10.
Percebamos que há relações entre Santucci e Berman, pois ambos evidenciam o mister
de deslumbre e fascinação que as pessoas tinham quando se deparavam com as
transformações vertiginosas. Concomitantemente, vemos que esse período foi marcado
pela exclusão das camadas menos favorecidas, tornando-o um “processo tortuoso,
dantesco, criminoso e excludente”11, com isso a Belle Époque se torna um momento
dual, onde os aparatos modernos deveriam guiar o indivíduo para a civilização e ao
mesmo tempo excluía aqueles que não encaixavam no quesito de cidadão da
modernidade.
É necessário conhecermos os aparatos modernos, que levaram a sociedade do
fim dos oitocentos e a do alvorecer do século passado a vivenciarem a Belle Époque nos
importantes núcleos urbanos. Tais aparatos da modernidade evidenciam os motivos que
8
BENJAMIN, Walter. Op. Cit., 2009.
SANTUCCI, Jane. Cidade rebelde: as revoltas populares no Rio de Janeiro no início do século XX. Rio
de Janeiro: Casa da Palavra, 2008, p. 17.
10
Ibdem, p. 160.
11
AZEVEDO NETO, Joachin. Op. Cit., p. 30.
9
19
levaram a modernização das cidades e revelam o anseio de fazerem parte de uma
civilização pautada em costumes refinados oriundos da Europa (mais especificadamente
na França), no caso de algumas cidades brasileiras, a exemplo de Manaus, Belém,
Fortaleza, Natal, Recife, Salvador, Franca (SP), São Paulo, Rio de Janeiro e Aracaju, o
nosso objeto de estudo.
A cidade de Manaus, localizada na região amazônica, vivenciou o apogeu da
borracha, porém diferente da capital do Pará, nos anos finais da monarquia, “a cidade
permanecia acanhada, constrangida espacialmente pelo rio, para onde estava voltada”12
A partir de 1892, no Governo de Eduardo Ribeiro, Manaus começa a se projetar como
uma cidade moderna, valendo-se do apogeu da economia do látex. Para que isso
ocorresse, era necessária a adoção de códigos que ajudassem reger a ordem na cidade,
por isso que em 1893, as posturas adotadas pela capital do Amazonas foram redigidas
para indicar os modos que deveriam ser adotados em uma cidade moderna.
Assim como Aracaju, Manaus adotou o modelo urbanístico baseado em um
tabuleiro de xadrez, por isso foram criadas “ruas largas em traçados retos”, sobrepondese à natureza através de canalização de igarapés existentes na cidade, alguns foram
aterrados, com o intuito de controlar a salubridade e a umidade presentes na urbe. A
modernização de Manaus não atingiu a toda população. De acordo com Daou:
A Manaus modernizada atendia particularmente aos interesses da
burguesia e da elite “tradicional”, vinculada às atividades
administrativas e burocráticas. Foram implantados vários serviços
urbanos: redes de esgoto, iluminação elétrica, pavimentação das ruas,
circulação de bondes e o sistema de telégrafo subfluvial, que garantia
a comunicação da capital com os principais centros mundiais de
negociação da borracha13.
As transformações ocorridas nas cidades brasileiras, citadas anteriormente, não
buscavam de fato atingir as populações pobres, uma vez que os ricos comerciantes e os
grandes fazendeiros eram que possuíam o comando da administração e da economia.
Todos os serviços citados pela autora não eram acessíveis aos menos favorecidos, isso
foi uma constante no processo de modernização do país entre o final do século XIX e
início do XX. Apresentar uma Manaus moderna e urbanizada, dotada de diversos
serviços, era também uma forma de chamar atenção para os investidores interessados na
borracha.
12
13
DAOU, Ana Maria. A Belle Époque amazônica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000, p. 35.
Ibidem, p. 36.
20
Encontraremos características similares em Belém do Pará, que durante os anos
de 1870 e 1912, também viveu o apogeu da sua economia, devido à produção do látex
extraídos das seringueiras e que se transformava em borracha. Esse fator econômico
impulsionou as transformações urbanas na capital paraense, onde palacetes em estilo Art
Noveau foram erguidos para abrigar a elite; bancos instalaram-se na cidade; o Teatro da
Paz para o entretenimento das classes mais abastadas e por fim o Mercado Municipal do
Ver-o-Peso14.
Assim como Manaus, Belém também teve novas e largas ruas, como também
grandes avenidas que lembravam os boulevares franceses. De acordo com Sarges: “a
remodelação da cidade tornou-se um projeto das elites locais que a propunha em nome
do progresso e do interesse coletivo” 15. Essa afirmativa é contraditória, pois como havia
interesse coletivo, se as elites e os políticos eram os principais interessados nas reformas
urbanas e no embelezamento das cidades? Esse coletivo excluía a população pobre que
não tinha condições de viver nos centros da urbe, devido às exigências prescritas nos
códigos de postura, o que implica dizer que a modernização de Belém não atingiu a
todos.
Nos idos de 1875, Fortaleza, capital da então Província do Ceará, começava um
projeto ousado, que visava transformar a cidade em uma “Paris do Nordeste”, ou levar
Fortaleza até a Cidade Luz. Havia um projeto de reforma urbana que incluía 3
boulevards, como nos mostra Ponte:
Em 1875, Adolfo Herbster, engenheiro da Província do Ceará e da
Câmara Municipal de Fortaleza, desde 1855 contratado
de
Pernambuco para substituir o então “arruador” (arquiteto leigo),
concluía a “Planta Topográfica da Cidade de Fortaleza e Subúrbios”.
[...] a propósito dos 3 boulevards, que Herbster os incluiu em sua
planta por imitação das reformas realizadas pelo Barão de Haussmann
em Paris, em meados do século XIX16.
Notemos que Fortaleza iniciou suas obras de remodelação antes do Rio de
Janeiro, pois os projetos do então engenheiro do Ministério conservador, Pereira Passos,
sofriam represálias da política imperial. Contrariando as respostas negativas que Passos
recebera na Corte, Herbster encontra respaldo político e econômico para realizar as
reformas em Fortaleza, pois “a adaptação suavizada do projeto parisiense de Haussmann
14
SARGES, Maria de Nazaré. Belém: riquezas produzindo a Belle Époque (1870-1912). 2. ed. Belém:
Paka-Tatu, 2002.
15
Idem, p. 161.
16
PONTE, Sebastião Rogério. Fortaleza Belle Époque: reformas urbanas e controle social (1860-1930).
Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha/Multigraf, 1993, p. 27.
21
por Herbster não era algo descabido ou mesmo uma idéia fora do lugar”17. O motivo
para a deliberação dessa obra foi devido à Fortaleza dos meados do século até aquele
ano de 1875, estar passando por significativas transformações que a tornaram o
principal centro político, econômico, social e cultural da Província e o crescimento da
exportação do algodão, que ajudou a transformar a capital em um entreposto comercial
da Província. Com o desenvolvimento econômico da capital alencarina, se fez
necessário reformá-la para atender às necessidades dos grupos dominantes e a
população de profissionais que desfrutavam do apogeu econômico.
Os paradigmas da modernidade que geraram a Belle Époque também foram
vivenciados em outras capitais do então norte brasileiro. Natal, no Rio Grande do Norte
é um dos exemplos, quando em 1900 inicia o seu processo de reforma urbana no
Governo Alberto Maranhão como Marinho nos apresenta:
Em Natal, uma parte das elites exigia que a cidade apresentasse esses
aparatos modernos, para que a capital do Estado consumisse também
as novidades consumidas, com todo glamour, nos grandes centros do
mundo. A reforma do porto e a ampliação das linhas férreas além de
auxiliar a escoação da produção agrícola do interior do estado,
também foram definidores no aumento do consumo de mercadorias
importadas, como máquinas de costura, gramofones, alimentos
industrializados, pianos, automóveis, vestimentas, livros e revistas.
Esses produtos entravam na cidade de Natal com uma crescente
frequência, vindos dos estados do sul ou diretamente da Europa18.
Havia uma necessidade das elites de usufruírem de elementos sofisticados,
oriundos principalmente da Europa. A solução foi a reforma do porto da capital
potiguar, a fim de que ele trouxesse as novidades da modernidade cosmopolita europeia
e do sul do Brasil. A ferrovia era um fator importante para os natalenses, pois ao mesmo
tempo que transportava com rapidez a produção agrícola do Estado, trazia com a mesma
eficácia, mercadorias e objetos de luxo para atender as classes abastadas. Esse desejo
das elites da capital potiguar, de adentrarem ao um universo cosmopolita, baseado em
padrões europeus, encontrou aliados importantes nos representantes do Governo do
Estado que também possuíam os mesmos ideais.
As primeiras décadas do século XX foram profícuas para o Recife, pois nesse
momento, a capital de Pernambuco vivenciou modificações em sua estrutura urbana,
porém ressaltamos que sua modernização passou por um processo gradual durante
17
Ibdem, p. 28.
MARINHO. Márcia. Natal também civiliza-se: sociabilidade, lazer e esporte na Belle
natalense. Natal: UFRN, 2011, p. 25-26.
18
Époque
22
quase um século. Abaixo vemos os três primeiros momentos das reformas urbanas no
Recife, que de acordo com Moreira, a primeira reforma:
[...] pode ser definida em meados do século XIX quando da
administração do Conde da Boa Vista e da estrada de Vauthier na
cidade. Uma segunda fase ocorreu entre 1909-1915 com um amplo
programa de obras, que compreendeu o Plano de Saneamento do
Recife, de autoria do engenheiro Saturnino de Brito, uma reforma
completa do bairro portuário, o reaparelhamento e modernização do
Porto e um incremento das ações higienistas, com a reorganização da
Inspectoria de Hygiene. Uma terceira etapa pode ser detectada no
período do Governo Sérgio Loreto (1922-1926), marcado por obras de
expansão urbana na periferia de então, como a urbanização da
Campina do Derby, a construção da Avenida Boa Viagem e a
modernização de vários largos e praças nos núcleos suburbanos19.
Desde o século XIX, o Recife passou por diversas transformações em seu
cenário urbano. Na primeira, contou com a presença de profissionais franceses, uma vez
que o Conde da Boa Vista havia realizado estudos na França e trouxe consigo elementos
da reforma parisiense. A segunda reforma, já no século XX, voltou-se para o
saneamento básico da cidade, seguindo as tendências de higiene e a necessidade de
reformar o porto para atender as necessidades econômicas. Por fim, a reforma da década
de 1920, que compreendeu a criação de avenidas, algo presente em outras reformas
urbanas pelo país. Nesse momento, as reformas saem dos espaços privilegiados das
cidades e vai para as zonas periféricas, o que provavelmente causou estranhamento na
população20.
Em Salvador, com a ascensão de José Joaquim Seabra21, ou simplesmente J. J
Seabra, ao Governo da Bahia, a cidade começa experimentar um
processo
modernizador, em 1912. Os melhoramentos davam inicialmente no âmbito da cidade,
nas ruas e depois na população, em seus hábitos e costumes. Porém, apesar das
transformações urbanas da capital baiana terem ganhado um impulso no ano já
especificado, ela já havia experimentado algumas significativas mudanças em sua
estrutura urbana nos anos iniciais das quatro décadas da República Velha, como nos
mostra Leite:
19
MOREIRA, Fernando Diniz. A construção de uma cidade moderna: Recife (1909-1926) In: Anais do
VI Encontro Nacional da ANPUR, Brasília, 1995, p. 788.
20
REZENDE, Antônio Paulo. Op. Cit., p. 26.
21
Seabra participará das festividades do centenário de Sergipe em Aracaju, ao lado do Presidente deste
Estado, seu xará, José Joaquim Pereira Lobo em 1920, quando estava no segundo mandato a frente do
Governo baiano.
23
1º) em 1906, relacionado ao inicio de obras no porto, com a
construção de cais e armazéns, alem da pavimentação de ruas
vizinhas; 2º) em 1910, calçamento de ruas e saneamento do bairro
comercial, como preparo a comemoração dos cem anos da Associação
Comercial; 3º) entre 1912-1916, relativo as varias obras para
alargamento de ruas, abertura de avenidas e construção de novos
edifícios empreendidas no governo de J. J. Seabra; e 4°) em 1924,
com construção do bairro das Nações, em áreas conquistadas ao mar,
na Cidade Baixa22.
Através da citação, veremos que o período do primeiro mandato de Seabra,
consistiu no mais significativo momento da reforma urbana em Salvador, pois foi nesse
momento que demolições foram empreendidas, assemelhando-se às reformas do Rio de
Janeiro, no início do século passado. Vale a pena mostrar que Seabra, nesse período,
ocupou cargos administrativos federais no Governo de Rodrigues Alves, como o
Ministério da Justiça e Negócio interiores, por isso pode assistir as transformações
realizadas na capital federal empreendidas pelo então Prefeito Pereira Passos.
A importância que Salvador detinha como um ponto de confluência para as
outras cidades baianas, por ser a sede administrativa do Estado e sua ligação comercial
com outras cidades europeias e da América do Norte, foram fatores que contribuíram
para pensar na reforma no contexto apresentado pela administração de Seabra. Os
melhoramentos da capital baiana foram justificados, de acordo com Leite, como uma
urgência higiênica e estética. Para que as obras iniciassem, foram realizadas parcerias e
articulações entre o Governo Federal, Estadual e Municipal. Cada uma dessas esferas
atuou de forma conjunta ou assumia uma parte da reforma.
A capital do Estado de São Paulo que “não passaria, antes do século XIX, de
uma vila pobre, sem expressão econômica ou política”23, teve um significativo
crescimento “na segunda metade do século XIX. A capital da Província passou de 11ª
maior aglomeração urbana do Brasil em 1872, para a segunda em 1920, perdendo
apenas para a capital do país”24.
Ferraresi nos mostra como ocorreu essa evolução urbana:
22
LEITE, Rinaldo César Nascimento. E a Bahia civiliza-se...: ideais de civilização e cenas de anticivilidade em um contexto de modernização urbana em Salvador (1912-1916). 1996. 161f. Dissertação
(Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1996, p.
52-53.
23
OLIVEIRA, Maria Luiza Ferreira de. Uma senhora na Rua do Imperador: população e transformações
urbanas na cidade de São Paulo 1870-1890. In: GRINBERG, Keila. SALLES, Ricardo (Orgs). O Brasil
imperial: 1870-1889. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009, p. 159.
24
Idem.
24
A cidade de São Paulo na década de 1920 experimentava
modificações que tendiam a transformar sua feição colonial em um
espaço urbano. Sua paisagem redefinia-se de modo caótico e
desordenado, evidenciando as tensões entre os diferentes fluxos
temporais, culturais, econômicos e políticos que perpassavam a cidade
oitocentista e aqueles que derivavam do atrelamento cada vez maior
da economia citadina ao mercado mundial, cujos múltiplos aspectos
surgem nas pesquisas mais recentes da historiografia da urbanização
paulistana25.
No início do século, principalmente nos anos vinte, a cidade de São Paulo
passou por um processo de urbanização, que tinha por finalidade ordenar a paisagem
urbana, retirando as feições que lembrassem o passado colonial. É necessário ressaltar
que as transformações ocorridas se devem ao crescimento da população, que no ano de
1872 possuía 31.385 habitantes e “a partir de 1890, a cidade de São Paulo teve um
crescimento demográfico acelerado, com o aumento expressivo da população de origem
estrangeira”26. O número de habitantes, nesse período, era de 64.934, um aumento de
106,9% desde a primeira contagem dezoito anos antes27.
O crescimento da população de São Paulo se deu por dois motivos: a abolição da
escravidão e a chegada de imigrantes, que contribuíram para o aumento da população.
No entanto, é necessário lembrar que assim como em outras cidades brasileiras, que
passaram pelo processo de industrialização, a elevação da densidade demográfica se deu
por conta também da necessidade de mão de obra para as nascentes indústrias, que com
suas grandes chaminés, anunciavam a chegada da modernidade à capital paulista. Uma
nova cidade nascia, “com tijolo e ferro, que sobrepujava a antiga cidade de taipa. Outra
São Paulo foi-se fazendo, e não só pela vontade dos que administravam ou tinham poder
sobre ela, mas também por vontade de sua população”28.
Porém, apesar de se transformar em uma metrópole moderna, “ainda guardava
traços coloniais e reminiscências de suas antigas tradições”29. São Paulo não fugiu a
regra do que ocorreu em outras cidades brasileiras: a exclusão de pessoas pobres foi um
efeito das reformas urbanas desencadeadas pela república, pois “a estratégia norteadora
da intervenção dos higienistas sociais na remodelação da cidade consiste, então,
25
em
FERRARESI, Carla Miucci. Papéis normativos e práticas sociais: o cinema e a modernidade no
processo de elaboração das sociabilidades paulistanas na São Paulo dos anos de 1920. 475f. Tese
(Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em História Social, Universidade de São Paulo, São Paulo,
2007, p. 66.
26
Ibdem, p. 67.
27
IBGE, Censos Demográficos: (1872-2010). Disponível em: <http://www.censo2010.ibge.gov.br/>.
Acesso em: 01 nov. 2015.
28
PAULA, Zuleide Casagrande de. A cidade e os jardins: Jardim América, de projeto urbano a
monumento patrimonial (1915-1986). São Paulo: UNESP. 2008, p. 28.
29
FERRARESI, Carla Miucci. Op. Cit., p.75.
25
separar os corpos, designado a cada um deles um lugar específico”30. É interessante
frisar que toda essa transformação, se deu por conta do desenvolvimento econômico que
o Estado de São Paulo passou no final do século XIX e início do XX, graças ao apogeu
da produção cafeeira, que com o declínio do Vale do Paraíba no Estado do Rio de
Janeiro tornou o oeste paulista o novo centro econômico do café no país.
Quando adentramos a esse universo de mudanças nas cidades, nos hábitos e
costumes; trilhamos por um caminho que nos direciona a mais dois conceitos que serão
abordados nessa pesquisa, ou seja, representação e apropriação que Chartier entende
como a forma que os homens constroem intelectualmente seus mundos e sua realidade
circundante31.
Era evidente que os cenários urbanos deveriam passar por modificações em suas
estruturas, para atenderem aos propósitos políticos e a elite dominante, pois “buscou
privilegiar determinados setores da sociedade, efetivando uma modernização de
casta”32, com intuito de dar vida à modernidade tão desejada pelas gerações daquela
época, a fim de que pudessem viver em uma sociedade voltada para os padrões
civilizatórios europeus.
Mas antes de adentrarmos às transformações da Belle Époque, se faz necessário
entendermos o contexto do período abordado, para em seguida, compreendermos a
inserção dos paradigmas modernos na célula citadina. Precisamos também analisar
outros dois conceitos que permeiam esse trabalho: civilização, que segundo Elias está
relacionado a uma grande e variada quantidade de fatos, a exemplo de como os homens
e mulheres vivem, suas maneiras, costumes e práticas, sejam religiosas, sociais ou
culturais33.
O último conceito a ser trabalhado é o de cotidiano que no entender de Certeau: “o
cotidiano é aquilo que nos é dado cada dia (ou que nos cabe em partilha), nos pressiona
dia após dia, nos oprime, pois existe uma opressão no presente” 34.
Durante algum tempo na Europa, era comum associar o fin-de-siècle35 com a Belle
Époque, conferindo a ambos o mesmo significado. Vale ressaltar que são dois
momentos distintos, onde o primeiro serviu de marco transitório para o segundo e que o
30
RAGO, Margareth. Do cabaré ao lar: a utopia da cidade disciplinar e a resistência anarquista, Brasil
(1890-1930). 4. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2014, p. 217.
31
CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: DIFEL, 1990, p. 17.
32
SILVA, Maurício. Op. Cit., p. 19.
33
ELIAS, Norbert. O processo civilizador: uma história dos costumes. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2011, v. 1, p. 23.
34
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 1994, p. 31.
35
Expressão de língua francesa que significa “final do século”.
26
período que antecede a Bela Época foi marcado por muita desconfiança, devido às
promessas de vida melhor ocasionada pelos efeitos da modernidade e seus aparatos.
Observemos que a Belle Époque já estava começando a ser difundida durante o
fin-de-siécle, que foi um momento onde havia uma dualidade, que o conceituava: um
período tido como degenerado, mas, ao mesmo tempo, uma época de esperança e
recomeço. Ainda partindo desse pressuposto, de traçar paralelos que diferenciem ambos
os momentos, Weber nos mostra que:
[...] Depois do término da guerra tornou-se moda chamar os anos que
a precederam de Belle Époque e confundir esse período com fin de
siécle, como se os dois tivessem sido um só. [...] Mas a Belle Époque
que só foi assim chamada quando se olhou em retrospectiva através de
cadáveres e ruínas, representa os dez anos e pouco antes de 1914.
Esses também tiveram seus problemas, mas foram anos relativamente
robustos, otimistas e produtivos. O fin de siècle o tinha precedido:
uma época de depressão econômica e moral, recebendo muito menos a
alegria ou esperança36.
O autor reforça a distinção entre os termos e, ao mesmo tempo, afirma que a
Belle Époque só pôde ser analisada ao término da Primeira Guerra Mundial. Ressalta
também que existiram problemas nesse período, no entanto houve resultados
satisfatórios que o diferenciou do momento que precedera. A visão de Weber pode não
coadunar com a existência da dualidade que outrora pudesse existir durante o fin-desiècle, pois para ele as situações negativas como recessão, miséria e crise na política
foram as que predominaram durante esse momento histórico. Ressaltamos que as
discussões do autor tem como ponto norteador a França, que “pode ser compreendida
como uma espécie de matriz do projeto cultural da modernidade como um verdadeiro
centro irradiador de ideias, tendências políticas e de comportamentos”37.
Logo, percebemos que o fin-de-siècle foi um momento conturbado e que
transfigurou-se em marco transitório culminado na Belle Époque. Nesse período, os
problemas sociais e políticos agitavam a França, que denominou-se como o bastião das
transformações ocorridas nesse período e que inspirou outros países a adotarem os
paradigmas modernos e empreenderem reformas urbanas em suas principais cidades.
No entanto, por mais que a difusão dos ideais progressistas e modernos ocupasse o
centro das discussões, poucas pessoas puderam vivenciar a inserção da Belle Époque e
seus aparatos modernos. Abordaremos essa situação nas páginas sequentes
36
37
WEBER, Eugen. Op. Cit., p. 10.
AZEVEDO NETO, Joachin. Op. Cit., p. 29.
desse
27
trabalho quando analisaremos as transformações das principais cidades brasileiras e
como elas empreenderam essas reformas urbanas, tendo como exemplo Paris e como
ponto norteador o Rio de Janeiro, a capital do Brasil na época e o ponto difusor das
transformações que estavam ocorrendo nos âmbitos político, social e cultural, criando,
dessa forma, uma nova memória para a cidade.
A antiga capital da república influenciou as reformas urbanas ocorridas no
Brasil, levando as principais cidades a seguirem seu exemplo, perscrutarem pelos
caminhos da modernidade e chegarem à Belle Époque de acordo com suas condições e
necessidades. Ao mesmo tempo, assim como tais exemplos, também houve aqueles que,
de alguma forma, foram excluídos e/ou silenciados para que a efervescência
cosmopolita pudesse se fixar nas estruturas da cidade, como por exemplo, a população
pobre que vivia nos grandes centros urbanos brasileiros.
Com o fim da guerra do Paraguai em 1870, as questões como a instauração da
república e a abolição da escravatura voltaram a ser discutidas, pois o conflito fomentou
intensas discussões sobre os entraves que atrasavam a imersão do Brasil no panteão das
nações civilizadas. Um dos principais entraves, como é elencado por Feijão, foi a
mácula da escravidão, pois as civilizações modernas repudiavam o trabalho cativo,
alegando que o mesmo estava ligado às tradições ultrapassadas de um país que ainda
vivenciava paradigmas de seu passado colonial. Outro fator que contribuiu foram os
acontecimentos no cenário político europeu, ajudando a composição dos ideais de uma
suposta modernização política no Brasil, como por exemplo, a revolução ocorrida na
Espanha no ano de 1868 e a queda de Napoleão III na França, que ocasionaram a
instalação de regimes republicanos nesses países e também ajudaram a dar forças ao
movimento republicano brasileiro38.
As agitações políticas no outro lado do Atlântico ajudaram a sociedade brasileira
a pensar em suas estruturas políticas, se ainda era viável manter a economia de um país
sob a nódoa de um sistema escravocrata e um Governo encabeçado por um regime que
era uma exceção no continente americano.
No que se refere ao manifesto lançado na década de setenta do século XIX,
podemos atribuí-lo como um dos primeiros indícios modernos no Brasil. Para isso
retornemos a Berman, quando o mesmo aponta as duas partes que compõe o espírito da
modernidade, ele se refere ao “modernismo” como uma ligação ao universo da arte, da
38
FEIJÃO, Rosane. Moda e modernidade na Belle Époque carioca. Rio de Janeiro: Estação das Letras
e Cores, 2011.
28
cultura e sensibilidade. O autor também se refere, em partes mais à frente da sua obra,
ao Manifesto Comunista de Karl Marx. Para ele esse documento “expressa algumas das
mais profundas percepções da cultura modernista e, ao mesmo tempo, dramatiza
algumas de suas mais profundas contradições” 39.
Apropriando-se dessa percepção do autor para inserirmos na realidade brasileira
do final do século XIX, constataremos que o Manifesto Republicano de 1870, se
comparado à importância modernista divulgada pelo de Karl Marx, foi sem dúvida uma
das primeiras manifestações modernas no Brasil. Confirmando essa assertiva, Velloso
apresenta:
O Manifesto Republicano de 1870 é considerado um dos marcos da
modernização brasileira. Nesse documento enfatizava-se
a
necessidade urgente da abolição da escravidão e da instauração da
República. Essas mudanças eram compreendidas como indispensáveis
para garantir a entrada do Brasil na modernidade. É forte a imagem de
um mundo novo contrastando com as ruínas do antigo40.
A assertiva da autora reforça a consolidação do manifesto como a gênese dos
aparatos modernos que o país almejava. Fazia-se necessário realizar mudanças em
diversos espaços para que as transformações pudessem, de fato, serem efetivadas de
maneira satisfatória, mas naquele momento, a abolição e a implantação do regime
republicano eram de fundamental importância para o encontro do progresso.
O ponto irradiador dos ideais modernistas era justamente a cidade do Rio de
Janeiro, onde vivia um seleto “grupo de escritores conhecidos na época como os
‘mosqueteiros intelectuais’ e, mais tarde, como ‘a geração modernista de 70’”41. Vale
ressaltar que para esses intelectuais, o que os mobilizavam era a busca por uma
“compreensão da identidade”, pois de acordo com Velloso42: “o resgate da diversidade
cultural constituiu-se em impulso decisivo para a modernização”.
Mas, quem foram os componentes da tão afamada Geração de 1870 que muito
influenciou na composição de uma nação moderna? Feijão aponta que os intelectuais
foram:
39
BERMAN, Marshall. Op. Cit., p. 103.
VELLOSO, Mônica Pimenta. O modernismo e a questão nacional. In: FERREIRA, Jorge. DELGADO,
Lucila de Almeida Neves. (Orgs): O Brasil Republicano: O tempo do liberalismo excludente da
Proclamação da República à Revolução de 1930. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008, p.
354.
41
FEIJÃO, Rosane. Op. Cit., p. 29.
42
VELLOSO, Mônica Pimenta. Op. Cit., p. 356.
40
29
Escritores tão diferentes como Machado de Assis, Coelho Neto,
Aluísio Azevedo, Olavo Bilac, Monteiro Lobato e Silvio Romero
envolveram-se em debates nos quais tentavam precisar como inserir a
produção literária brasileira na esfera internacional. Esses intelectuais
desejavam participar dos grandes debates que animavam os círculo
intelectuais europeus, sem deixar, no entanto, de afirmar nossas
especificidades nacionais43.
É importante pensarmos como as manifestações dos intelectuais ajudaram a
compor a ideia de um novo Brasil durante o final do século XIX, ou seja, uma nação de
pessoas livres, inserida em um regime democrático, com um arcabouço cultural
diversificado e que deveria ser apresentado ao mundo moderno. Esses acontecimentos,
nos momentos finais dos oitocentos brasileiro agitaram a sociedade, tendo como um dos
momentos decisivos a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889. Tendo
em vista todos esses acontecimentos, O’Donnell aponta que o fin-de-siècle brasileiro
foi:
[...] marcado pelo advento da República: a manipulação de novos
significantes no jogo social, cuja transformação em novos significados
não se dava no ritmo do golpe que derrubou a monarquia. O
positivismo, a modernidade burocrática, a ordem e o progresso
serviam de berço ideológico para a nova conjuntura política que
invadia o universo do formalismo e da abstração burocrática44.
A autora mostra que o golpe republicano de 15 de novembro de 1889 foi o ápice
do fin-de-siècle brasileiro. Ele representou, junto com a Abolição da Escravatura, um
ano antes, os resultados das ações iniciadas pela Geração de 1870, que impulsionariam a
inserção do Brasil nos parâmetros modernos.
Enfim, chegara a República, através do golpe militar de 15 de novembro de
1889, encabeçado pelo marechal Deodoro da Fonseca. Com ela, as mudanças constantes
na vida social do país. Freyre as descreve através do cotidiano de pessoas que viveram
nesse
período
de
transição
entre
a
monarquia
e
o
regime
republicano.
Concomitantemente, elas foram “figurantes” no interior das transformações
capitaneadas pela nova ordem política. O lema positivista, Ordem e Progresso, estava
na pauta das reuniões em gabinetes de políticos até na mais fugaz das conversas das
praças, cafés, lojas, ruas e etc. No que refere ao tão almejado progresso, Freyre será
enfático ao dizer que:
43
FEIJÃO, Rosane. Op. Cit., p. 29.
O’DONNELL, Julia. De olho na rua: a cidade de João do Rio. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008, p.
32.
44
30
[...] é o relativo, de desenvolvimento, e não o messiânico, de evolução
sempre ou completamente para melhor. Somos inclinados a acreditar
menos em progresso, sempre completo e para melhor, que em
progressos, neutralizados às vezes por tendências em sentido contrário
ao melhorista, quando ao melhorismo se aplica um critério de
avaliação de valores éticos, estéticos, religiosos, intelectuais, paralelo
ao de consagração ou exaltação dos puramente técnicos e mecânicos.
Paralelo, note-se bem; não convergente. Por esse duplo critério de
análise e comparação dos progressos é que nos é possível situar o
conjunto ateniense de valores e estilos de vida, por exemplo, em plano
se não absolutamente, relativamente superior, ao conjunto de valores
de que hoje se orgulha Chicago, na América do Norte; e na do Sul,
São Paulo; e na própria África, Joanesburgo45.
O progresso está ligado umbilicalmente ao processo de evolução e, ao mesmo
tempo, de desenvolvimento. No entanto, podemos perceber que, para o autor, há uma
forma de progresso que visa somente melhorias, enquanto a outra vertente é voltada
para tendências contrárias, que podemos supor que sejam diferentes da realidade da
nação. Logo, é necessário pensarmos na realidade da nação para discutirmos como o
progresso foi implantado em seu seio. Após lançarmos nossos olhares na inserção da
modernidade no Brasil, se faz necessário vermos o palco onde os ideais modernistas
atuaram, ou seja, a cidade. Observaremos como alguns núcleos citadinos se
“revestiram” com seus projetos de modernização para receberem a Belle Époque e todas
as promessas de mudança e progresso prometidas pela república.
Um desses núcleos é o objeto de estudo do presente trabalho intitulado Uma
Mão de Verniz Sobre o Tabuleiro de Pirro: Ecos da Belle Époque em Aracaju
(1918-1926) que tem como proposta principal analisar o processo de inserção da Belle
Époque em Aracaju, através do seu projeto de modernização e urbanização na década de
1920, iniciado na gestão do Presidente do Estado José Joaquim Pereira Lobo e
impulsionado por seu sucessor Maurício Graccho Cardoso.
O recorte temporal tem início no ano de 1918 quando Pereira Lobo assume a
presidência do Estado de Sergipe. A escolha desse período se deu porque foi durante
esse Governo que se intensificou a reforma urbanística de Aracaju, acelerando as obras
de embelezamento da capital sergipana, que já haviam iniciado a curtos passos em
gestões passadas. O processo de modernização e urbanização de Aracaju seguiu os
mesmos preceitos “estruturais, medicinais e educacionais” realizados em outras cidades
que passaram por reformas urbanas a exemplo do Rio de Janeiro, Franca (São Paulo),
Salvador, Natal, Belém e Manaus. O ponto final do recorte temporal é o ano de 1926,
45
FREYRE, Gilberto. Ordem e progresso. 6. ed. São Paulo: Global, 2004. p. 354.
31
quando encerra o Governo de Graccho Cardoso, que realizou reformas sanitaristas e
educacionais na menor possessão da federação e principalmente em Aracaju. Todavia,
esse período caminha para os momentos finais do que a historiografia tradicional
denominou de República Velha.
A metodologia desse trabalho está sendo desenvolvida através de exploração da
documentação referente ao marco temporal analisado. Dentre os documentos podemos
citar os Relatórios e Discursos dos Presidentes do Estado, os Códigos de Postura
Municipal, a Coleção de Leis e Decretos do Estado presentes no Instituto Histórico e
Geográfico de Sergipe (IHGSE), os relatórios manuscritos encontrados no Arquivo
Público do Estado de Sergipe (APES), os decretos e, publicações contidas no Diário
Oficial do Estado que correspondem aos anos dos Governos de Pereira Lobo e Graccho
Cardoso encontrados no Arquivo Público Municipal de Aracaju (APA), alguns
processos crimes oriundos do Arquivo Geral do Judiciário do Estado de Sergipe
(AGJES), os quais ajudarão a conhecer a cidade através de outro olhar, fugindo dos
discursos oficiais e o acervo fotográfico da Biblioteca Pública Epifânio Dórea (BPED) e
do Memorial de Sergipe nos darão a percepção de como era Aracaju nas décadas
iniciais do século XX. Obviamente que, para a leitura das imagens, autores que
trabalham com a temática foram cotejados.
No tocante a vasculhar as transformações ocorridas em Aracaju no período
estudado, os jornais sergipanos que circulavam na época servem como fontes
primordiais de informação, pois alguns deles relatam esse processo de “civilizar-se” na
capital de Sergipe. Podemos analisá-los graças a um dos métodos trabalhados por
Ginzburg onde o mesmo diz que o historiador deve analisar as fontes como evidências e
julgá-las tal como um juiz46.
Nesse contexto, os jornais da época foram analisados e pode-se perceber que O
Correio de Aracaju era o que mais fazia propagandas exageradas sobre os principais
políticos do Estado, ou seja, era um órgão situacionista. O Estado de Sergipe era órgão
do Governo, publicava os decretos e atos da presidência. O Imparcial que circulou até
os anos iniciais do Governo de Pereira Lobo, quando publicou uma matéria que não
agradou ao Presidente e seu dono foi convidado a depor e não suportando as
perseguições fechou o jornal e mudou-se para o Rio de Janeiro47.
46
GINZBURG, Carlo. Controlando a evidência: O juiz e o historiador. In: NOVAIS, Fernando A. SILVA,
Rogério Forastieri da. (Orgs). Nova História em perspectiva. São Paulo: Cosac Naiy, 2011, p. 342-343.
47
DANTAS, José Ibarê Costa. O tenentismo em Sergipe: da Revolta de 1924 à Revolução de 1930. 2.
ed. Aracaju: J. Andrade, 1999, p. 67.
32
Assim como este, o Diário da Manhã também foi empastelado48. O Sergipe
Jornal alegava que não fazia propagandas exageradas ou críticas ferrenhas ao Governo.
Em matéria publicada em 28 de outubro de 1921, o jornal disse que respeitava a
Presidência do Estado e por ser uma sociedade anônima, trabalhava por conta própria,
mas agia igual ao Correio de Aracaju. Segundo consta, ele foi criado por Lobo para
defender o Governo e isso lhe rendeu mais críticas, pois segundo a oposição, estava
“gastando vultuosas somas com sua defesa, num período de desequilíbrio financeiro49”
Esse trabalho está divido em três capítulos, o primeiro intitulado Das terras
pantanosas ao Quadrado de Pirro: as origens de Aracaju e a reforma de Pereira
Lobo (1918-1922), apresentaremos primórdios da criação de Aracaju e a intensificação
das reformas urbanas na capital de Sergipe. Através do Governo de Pereira Lobo, ela foi
embelezada para as celebrações do centenário da independência do Estado, em 1920.
Uma Mão de Verniz Sobre o Tabuleiro de Pirro: O Governo de Graccho Cardoso
(1922-1926) e a Continuação das Obras da Belle Époque Aracajuana como é
intitulado o segundo capítulo, que mostrará a continuidade das obras na capital de
Sergipe, capitaneadas pelo novo Presidente Maurício de Graccho Cardoso, que
prosseguiu com os trabalhos do seu antecessor e ampliou a remodelação, construindo os
imponentes grupos escolares e preocupando-se com a saúde pública. Por fim, o terceiro
capítulo finaliza este trabalho e a ele demos o seguinte titulo Ecos da Belle Époque: o
Cotidiano da Capital de Sergipe com as Reformas Urbanas mostrará como a
população viveu com as mudanças introduzidas na cidade. Apresenta também os
espaços de sociabilidades, onde as pessoas se encontravam, as festas naquela época e
como viviam os excluídos do processo modernizador.
48
AZEVEDO NETO, Joachin. Op. Cit., p. 29.
NASCIMENTO, Sayonara Rodrigues do. Foros de oposicionismo em Sergipe: a relação entre a
imprensa e o Governo de Pereira Lobo (1918-1922). 2005. 125f. Monografia (Licenciatura) –
Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2005, p. 98.
49
33
CAPÍTULO 1
DAS TERRAS PANTANOSAS AO QUADRADO DE PIRRO: AS ORIGENS DE
ARACAJU E A REFORMA DE PEREIRA LOBO (1918-1922)
Aracaju não é cidade. Nem também povoação. Tem casinhas de
palha. Forradinhas de melão50.
Província de Sergipe, ano de 1855, sob o Governo de Dom Pedro II, Inácio
Barbosa governava a pequena possessão do Império. No início de seu Governo, ele
empreendeu um ousado projeto que causou controvérsias na sociedade sergipana dos
oitocentos: a transferência da capital de São Cristóvão para Santo Antônio do Aracaju,
que na época era um pequeno povoado, “localizado à margem direita do rio Sergipe e
não Cotinguiba como se diz erradamente”51, habitado por pescadores e cercado por
pântanos. Para Nunes é um novo momento da história sergipana, pois:
Esse gesto, aparentemente ousado do Presidente Inácio Joaquim
Barbosa, se enquadrava no período de progresso e transformação
estrutural que vivia o Brasil a partir de 1850 [...]. Também resultava
do desenvolvimento que Sergipe vivia na década de 1850 com a
valorização, nos mercados internacionais, do açúcar produzido em
seus 655 engenhos existentes, concentrados, mais na metade, nos
vales férteis do Cotinguiba, e outra grande parte nas vizinhanças do
Rio Real52.
A necessidade de transferir a capital da Província para um local que facilitasse o
escoamento da produção açucareira era de total importância, pois a antiga sede não
possuía tal atributo, logo “o eixo político deveria coincidir com o eixo econômico,
norma dominante na geopolítica da época”53. No que se refere às transformações que
estavam ocorrendo no Brasil durante esse momento, Santos nos mostra que:
No plano nacional, desde a segunda metade do século XIX, várias
cidades brasileiras tinham passado por profundas transformações. A
difusão das idéias do liberalismo econômico e o pensamento
progressista do Barão de Mauá influenciaram muitas atitudes no país e
é contemporânea ao pensamento que funda a cidade de Aracaju. Partia
do entendimento de que o desenvolvimento econômico da província
seria condição primordial para sua melhoria material, para a
50
CALAZANS, José. Aracaju e outros temas Sergipanos. 2. ed. São Cristóvão: UFS; Aracaju: IHGSE,
2013, p. 111.
51
Ibdem, p. 82.
52
NUNES, Maria Thétis. História da educação em Sergipe. 2. ed. São Cristóvão: UFS; Aracaju:
Fundação Oviêdo Teixeira, 2008, p. 87.
53
Idem.
34
modernização das cidades e para transformações sociais, - mesmo que
essas últimas se restringissem às elites, favorecendo sua distinção em
meio aos vários grupos sociais54.
A fundação de Aracaju estava ligada a um momento em que a economia do país
passava por significativos avanços, consolidação econômica do Segundo Reinado e,
nessa ocasião se fazia necessário a criação de um núcleo citadino que correspondesse
com a situação econômica e, concomitantemente pudesse favorecer a mesma. Logo, a
colonial São Cristóvão com seus casarões, igrejas, conventos e praças oriundas do
século XVI, não atendia a tais critérios, uma vez que não havia uma saída para o mar
que ajudasse no comércio.
No entanto, tal atitude do Presidente não agradou a todos, principalmente aos
habitantes da antiga cidade de São Cristóvão de Sergipe Del Rey como nos mostra
Freire:
Admira-se realmente a coragem do Dr. Ignacio Joaquim Barbosa, que
veio consignado para realizar esse attentado. E é para admirar-se que a
deliberação da administração não recuasse perante a grande somma de
interesses particulares que o acto da mudança ia prejudicar; retirando
vida official de uma cidade secular, situada em excellente local, de
excellentes agoas, de saborosas fructas, de abundancia de alimento,
rodeada de 200 sítios de pequena lavoura, com um município de 43
engenhos, 11 alambiques, 12 fazendas de criação de gado, de ricos
bellos edifícios, de clima ameno, para ir atira-la ás praias do Aracajú,
onde intenta edificar, de uma noite para o dia, nova cidade, sobre um
solo arenoso, que em recentes períodos geológicos servia de leito do
Cotinguiba, e que por isto não pôde offerecer base sufficiente para
grande e largas edificações55.
Através dessa assertiva, podemos perceber que o autor faz, digamos, uma
propaganda dos atributos que a antiga capital da Província de Sergipe possuía, no
entanto isso não impediu que Inácio Barbosa e João Gomes de Melo, o Barão de
Maruim, iniciassem o processo de edificação na nova sede sergipana. Vale ressaltar a
importância de realizarmos uma análise nos trabalhos de Felisbello Freire, pois ele
inaugura os estudos sobre a transferência da capital de São Cristóvão para Aracaju.
Ainda sobre a ação do Presidente da Província, em trasladar a sede do poder para
Aracaju, Nunes ressalta que:
54
SANTOS, Waldefrankly Rolim de Almeida. Práticas e apropriações na construção do urbano na
cidade de Aracaju/se. 2007. 144f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em
Desenvolvimento e Meio Ambiente, Área de Concentração: Desenvolvimento Regional, Universidade
Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2007, p. 62.
55
FREIRE, Felisbello Firmo de Oliveira. História de Sergipe. 3. ed. São Cristóvão: UFS; Aracaju:
IHGSE, 2013, p. 370.
35
A atitude ousada e corajosa do Presidente Inácio Joaquim Barbosa
retirava da vestuta e tradicional cidade de São Cristóvão a sede do
governo. Abandonava-se um núcleo urbano de mais de 1.500
habitantes, onde atuavam oito sacerdotes, quatro médicos e dois
advogados com palácio imponente, conventos e igrejas seculares,
belos sobrados residenciais, para um povoado semidesértico, de
rústicas e toscas habitações. “Sem dúvida no Aracaju tudo está por
fazer, mas é justamente o que ele tem de melhor”, dizia, alvissareiro, o
comunicado da mudança da Capital, divulgado no Correio Sergipense,
dois dias após o acontecimento56.
A secular São Cristóvão já possuía um aparato que a caracterizava como uma
das principais cidades da Província e retirá-la de sua condição de núcleo do poder, de
onde emanavam todas as decisões importantes para a sociedade da época, foi
considerado algo inaceitável para seus habitantes e um grupo político que rivalizava
com Inácio Barbosa. Para eles, o que era mais descabido foi a escolha do local que se
transfiguraria no principal núcleo do poder político, uma região inóspita e quase
desabitada onde havia ainda muito a ser feito.
De fato, a futura Aracaju não possuía boas condições para sediar o núcleo do
poder da então Província de Sergipe, no entanto Porto nos mostra que o que valorizou a
escolha do Presidente Inácio Barbosa foi a localização geográfica:
O fator geográfico na fundação de Aracaju foi preponderante. O porto
foi a bandeira desfraldada adeptos da mudança da Capital. Aracaju
possuía um “ancoradouro vasto, profundo e abrigado” dizia o próprio
presidente Barbosa. A Capital foi arrastada pelo porto. “Província
pequena e pobre, Sergipe não se podia de dar ao luxo de fazer uma
capital e um porto marítimo, separadamente, nem era, então, esta a
mentalidade dominante” 57.
Percebe-se nessa assertiva, mais uma vez, que a importância da nova capital está
ligada de forma umbilical a um porto que garantisse o desenvolvimento econômico. Por
não ter condições financeiras elevadas, não foi cogitado construí-lo separadamente, a
exemplo da capital da Província de São Paulo, que por não estar próxima ao mar, tinha
seu porto na cidade de Santos.
Nesse quesito, Aracaju derrotou também outras cidades como Estância,
Laranjeiras e Maruim, que apesar de possuírem portos, os mesmos não comportavam
grandes embarcações. Outro fator significativo foi a proximidade com o vale do
Contiguiba, a região econômica mais poderosa da Província, onde a cana-de-açúcar,
56
NUNES, Maria Thétis. Op. Cit., 2008, p. 93.
PORTO, Fernando. A cidade do Aracaju (1855-1865): ensaio de evolução urbana. 2. ed. Aracaju:
FUNDESC, 1991, p. 17.
57
36
mote da riqueza da aristocracia sergipana, era largamente produzida. Por fim,
“geograficamente Aracaju derrotou interesses políticos e individuais que há muito
desejava a mudança da Capital” 58.
Segundo Calazans, desde 1832, havia um interesse em mudar a capital, pois
“Sebastião Gaspar de Almeida Boto, propôs ao Conselho do Governo a transferência da
Capital para Laranjeiras”59. Para o autor, a ideia era antiga, contudo necessitava de
alguém com coragem à frente do Governo sergipano, ou seja, Inácio Barbosa. Conforme
Calazans:
O presidente ainda acertou na escolha, optando por Aracaju. “Para
mim, assegurava o dr. Barbosa, é incontestável que a Capital deve ser
do lado em que está situado o Povoado do Aracaju, quer porque tem
muito boas aguas, e é muito salubre e ventilado, tendo nos fundos o
fértil Município do Socorro, ao passo que o dos Coqueiros tem clima
ardentíssimo, é falto de águas e tem nos fundos o município de Santo
Amaro que é estéril e decadente, quer porque tem uma mais curta
comunicação por terra com a cidade de Laranjeiras e outros ricos
povoados, sem lhe faltar a comunicação fluvial” 60.
Percebamos através dessa assertiva de Calazans, contendo um trecho do discurso
do Presidente Inácio Barbosa, que existiu um conjunto de situações, que foram
devidamente analisadas pelo governante, ao realizar a transferência da capital, que para
o autor já supracitado foram “as principais causas da mudança”61. A nova capital estava
próxima a importantes cidades do vale do Cotinguiba e de onde saia a maior parte da
produção de açúcar da Província, além disso, a proximidade com o mar favorecia o
escoamento desse e de outros produtos da economia, como também favorecia o uso do
transporte marítimo pelas pessoas.
Outra questão contrária à mudança da capital, que foi apresentada pelos
opositores de Inácio Barbosa e reproduzida por Felisbello Freire, se refere às habitações
existentes no Santo Antônio do Aracaju. Percebemos a existências de casas de palhas,
como nos mostra a epígrafe no início deste tópico. Mas o próprio Freire nos esclarece
tal assertiva:
A falta de habitações era absoluta. O próprio presidente teve de
habitar em uma casa de palha, e a assembléia de reunir-se debaixo de
um pé de cajueiro. Os cofres depositados em albergues, sem a menor
58
PORTO, Fernando. Op. Cit., p. 17.
CALAZANS, José. Op. Cit., p. 95.
60
Ibdem, p. 97.
61
Idem.
59
37
garantia e segurança. As repartições publicas funccionando em
cazebres, feitos á pressa62.
É interessante frisar que, Felisbello Freire, apesar de ser um intelectual sergipano
do século XIX, também era um político e foi o primeiro Presidente de Sergipe após a
instauração da República. Nasce em 1858 em Itaporanga D’Ajuda, ou seja, ele nasce
três anos depois da transferência da capital, em um dos lugares que seria afetado
economicamente, socialmente e politicamente com a mudança de São Cristóvão para
Aracaju. Freire foi um militante político e anos depois da mudança da capital,
permaneceu contrário, pois ele era oriundo de uma família do ramo açucareiro e
residente na região do Rio Vaza Barris, logo as consequências do ato de Inácio Barbosa
prejudicariam os negócios dos seus antepassados. Ao mesmo tempo, ele não apresenta
as fontes que comprovem a veracidade do seu texto sobre a infraestrutura da nova
capital de Sergipe, tornando-a passível a dúvidas.
Como toda cidade em seu processo de fundação, é obvio que a nova capital em
seus primórdios sofreu sérios problemas por conta da falta de infraestrutura, e de fato
“havia muito que se fazer”, de acordo com o Presidente. No entanto, mesmo com a
ausência de habitações e com todas as críticas oriundas dos políticos opositores a
mudança e dos habitantes de São Cristóvão, Inácio Barbosa iniciou o processo de
transferência assinando a Resolução 413, de 17 de março de 1855. Nesse documento ele
eleva à categoria de vila o povoado Santo Antônio do Aracaju, denominando-o a partir
daquele momento como Cidade do Aracaju. Ao mesmo tempo, as reuniões da
Assembleia Legislativa passam a ser realizadas na referida cidade e, por fim, transfere a
capital da Província de São Cristóvão para Aracaju63.
A nova cidade que seria erguida não poderia ter as mesmas estruturas que as
demais cidades da Província, deveria ser portadora da modernidade, sem as mesmas
características das urbes coloniais, ela deveria ser uma novidade, convidativa e passar
uma imagem de lugar com condições favoráveis para se viver, portanto o ideal de um
centro urbano moderno já era pensado na segunda metade do século XIX. Para a função
de desenhar, pensar, planejar e construir a futura Aracaju, o Presidente designa
“Sebastião José Basílio Pirro, capitão dos engenheiros, que aqui se achava, desde 1848,
62
FREIRE, Felisbello Op. Cit., p. 370.
NUNES, Maria Thétis. Sergipe Provincial II: 1840-1889. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006, p.
127.
63
38
foi talvez o primeiro engenheiro brasileiro a receber elevada tarefa de planejar uma
cidade nascente”64.
Pirro criou um plano onde a cidade foi traçada como um tabuleiro de xadrez, um
projeto que estava ligado à estética urbana existente no início do século e que tinha suas
origens na França. Tal modelo estava sendo usado tanto na edificação de novos núcleos
citadinos quanto na remodelação dos já existentes. Santos nos apresenta como foi
pensada a nova capital:
Seu modelo, sua configuração espacial não pode ser encontrado em
nenhuma cidade sergipana, corresponde aos ideais de uma
racionalidade técnica e utópica, de uma nova maneira de entender as
cidades e de operar sobre o espaço, herdada, sobretudo, do
pensamento europeu. Sua condução foi confiada inicialmente ao saber
do engenheiro Sebastião José Basílio Pirro e contou com os serviços
do engenheiro Francisco Pereira da Silva. No projeto de Basílio Pirro,
a cidade foi traçada em estrutura urbana ortogonal bem simplificada:
32 quadras simétricas de 110m x 110m (55 braças de lado), separados
por vias de medidas iguais de 13,20 metros (60 palmos), prevendo
uma extensão do projeto para 1.188 metros (540 braças) iguais nas
direções norte, oeste e sul a partir da atual Praça Fausto Cardoso65.
O ineditismo do projeto da capital era um fator que a tornava diferente das
outras cidades sergipanas e quiçá brasileiras, no entanto, as condições naturais seriam
um fator que impediria as obras de Aracaju, pois o clima, os pântanos e a infestação de
mosquitos “marcaram profundamente sua história e a historiografia que a contempla. A
natureza se tornou uma constante nos relatos sobre a cidade, seja nos relatos de época,
ou mesmo nos que foram reescritos contemporaneamente”66.
Logo, esses fatores ajudaram a proliferação de doenças, principalmente a febre
amarela e a cólera, que vitimizou uma grande parcela da população sergipana nesse
período, inclusive os primeiros habitantes da nova capital sergipana. Na região que
correspondia à Aracaju no século XIX existiam três zonas distintas como vemos no
mapa abaixo:
64
PORTO, Fernando. Op. Cit., p. 30.
SANTOS, Waldefrankly Rolim de Almeida. Op. Cit., p. 64.
66
Idem.
65
39
Figura 01 – Mapa de Aracaju em 1855
Fonte: PORTO, Fernando. A cidade de Aracaju (1855-1865): ensaio de evolução urbana. 2. ed. Aracaju:
FUNDESC, 1991, p. 18.
De acordo com o mapa (Figura 01), encontrado na obra de Fernando Porto, “A
cidade do Aracaju (1855-1865): ensaio de evolução humana”, pode-se ver ao norte o
Santo Antônio, onde “possuía uma pequena povoação e uma capela e se localizava no
alto de uma colina, importante para os primeiros dias da capital”67. No centro vemos a
localidade denominada Olaria, por fim ao sul se encontra a Barra do Rio Poxim. Vale
ressaltar que mesmo possuindo uma significativa importância nos primórdios de
Aracaju, o Santo Antônio não foi escolhido para sediar a capital da Província, “mas o
centro, uma região de planície com características diferentes da anterior” 68. Não seria
tarefa fácil erguer uma cidade em um local inóspito, repleto de pântanos e lugares
encharcados. No entanto, Pirro iniciou os “trabalhos de roçagem, alinhamento das ruas e
67
68
SANTOS, Waldefrankly Rolim de Almeida. Op. Cit., p. 65.
Idem.
40
colocação dos marcos, concomitante com os serviços de aterramento da nova capital”,
assim ele começava a delimitar o Tabuleiro que leva seu nome até os dias de hoje. O
mapa a seguir (Figura 02) mostra como estava organizada a cidade de Aracaju em 1857.
Notemos a existência de algumas repartições públicas, da igreja Católica, locais com o
arruamento irregular, observa-se também que o Rio Caborge foi canalizado. É
importante ressaltar que a oeste desse rio, a população pobre, que não tinha condições
de habitar no Quadrado de Pirro, erguia suas singelas moradias.
Figura 02 – Plano de Aracaju em 1857
Fonte: PORTO, Fernando. A cidade de Aracaju (1855-1865): ensaio de evolução urbana. 2. ed.
Aracaju: FUNDESC, 1991, p. 41.
Através da planta acima, percebemos que dois anos após a transferência da
capital, o Tabuleiro de Pirro69 já começava a despontar, juntamente com algumas
repartições que outrora estavam funcionando em casas de palhas, pois na área central,
onde a cidade estava sendo edificada, o preço dos terrenos estava em alta, tornando
aquele local dos mais valorizados de Aracaju70. A presença das casas de palhas foi uma
constante durante muitos anos na capital sergipana. Funcionários do Governo e
comerciantes se exprimiam nas toscas e rudimentares casebres feitas de palha e barro
como nos apresenta Cardoso:
69
70
Na Historiografia Sergipana, é comum vermos Tabuleiro, Quadro ou Quadrado de Pirro.
SANTOS, Waldefrankly Rolim de Almeida. Op. Cit., p. 67.
41
Nos primeiros anos da cidade, até os mais aquinhoados habitaram em
casas de palha. Talvez por dificuldade de transporte de material ou por
escassez de mão-de-obra especializada em alvenaria, cuja ‘carestia
excessiva’ foi assinalada em 1860 pelo governo. Além de negociantes,
funcionários públicos também passaram por aperreios imobiliários na
cidade de Inácio Barbosa (1823-1855). Em 1856, o presidente da
província relatou que se sentia comovido pela sorte dos empregados
públicos, ‘habitando em pequenos ranchos de palha’. Esta situação se
verificava devido ao alto valor dos aluguéis que corroíam os
salários71.
O alto valor dos aluguéis de uma “casa decente”, ou seja, “habitações
confortáveis e salubres, ou ainda, que não fossem de palha ou cobertas por elas”72 fazia
com que funcionários do Governo e até mesmo abastados comerciantes procurassem
abrigos nas habitações rústicas e insalubres. Outro fator apontado por Porto73, além da
carência econômica, havia também a necessidade de materiais para a construção das
habitações. Na localidade só tinham, à disposição, o barro da taipa, obtido nas
escavações das baixadas. Esse material utilizado na construção de algumas habitações
tornava ainda mais insalubre, além do próprio quadro natural, a estrutura da cidade num
momento em que a “salubridade das habitações era um item muito preocupante, sobre
tudo na época”74 pois, como nos mostra Santana:
Em meado de 1855 a sociedade sergipana foi atingida de forma
violenta pela maior tragédia sanitária de sua história: a primeira
grande epidemia de “Cholera Morbus”, que vitimou perto de 30 mil
almas, em menos de três meses. É evidente que o terror espalhado por
esse acontecimento, numa população de apenas 200 mil habitantes,
não poderia deixar os governantes indiferentes quanto aos riscos de
novas “Pestes”. Após a tragédia, a preocupação com a saúde pública
apareceu na ordem do dia do Poder Público em Sergipe75.
Justamente no ano da transferência, um surto de cólera se alastrou sobre Sergipe,
fazendo vítimas também na sua nova capital que estava se edificando. Um dos que
foram vitimados pelas “Febres do Aracaju” foi justamente o Presidente Inácio Barbosa,
que chegou a falecer em 06 de outubro de 1855 na cidade de Estância, sem se quer
poder ver concluída a cidade que idealizou para ser a sede da Província de Sergipe.
71
CARDOSO, Amâncio. A cidade de palha, Revista do Aracaju, Ano LX, n. 10, Aracaju: FUNCAJU,
2003, p. 112.
72
Idem.
73
PORTO, Fernando. Op. Cit., 1991.
74
Idem, p. 113.
75
SANTANA, Antônio Samarone de. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios. Aracaju: O
Autor, 2001, p. 53.
42
Uma das ações criadas pelas autoridades políticas sergipanas para erradicar os
focos da doença, principalmente em Aracaju, foi a criação de um código de postura, no
qual a população deveria seguir as exigências para controlar a insalubridade das
moradias e minimizar o aparecimento da doença, uma vez que os pântanos e alagadiços
existentes ao redor de Aracaju contribuíram para a disseminação das doenças febris.
Conforme podemos ver, o Código de Postura de 1856 dizia que:
Art 1º. Niguem poderá edificar casa na Capital da Província, e Villas
deste Município, sem previa licença da Camara. Concedida a licença,
a Camara mandará dar o arruamento e alinhamento das casas pelos
seos Fiscaes, devendo esse trabalho ser dirigido na Capital por alguns
dos Engenheiros ao serviço da Província, que para esse fim será
solicitado da Presidência. O contraventor será multado em 10$000
reis, e a casa será demolida é expensas do dono.
Art 2º. Toda casa que se edificar, ou redificar, terá vinte palmos de
vivo de pé direito no primeiro pavimento, dezenove palmos de vivo no
segundo pavimento, dezoito palmos de vivo no segundo pavimento,
dezoito palmos no terceiro, e assim por diante, diminuindo sempre
hum palmo em cada andar, e na frente, junto do telhado, terá huma
cornija, ou platibanda em toda a extensão do edifício. As portas, bem
como as janellas de sacadas, terão treze palmos de vivo em altura, e
cinco de vivo em largura. As janellas de peitoril terão oito palmos de
vivo em altura, e cinco de vivo em largura. As portas decocheiras, e
armasens, terão dez palmos de vivo em alrgura, e quatorze palmos de
vivo em altura até a bandeira, e dezaseis palmos e meio ate ao vivo da
verga. Os contraventores, dodnos, ou administradores da obra serão
multados em 30$ réis, e coadenados á demolirem a mesma obra76.
A função do código de postura, além de intensificar o combate às doenças que
haviam se alastrado em Sergipe, servia também para embelezar a cidade de Aracaju. No
entanto, a grande parte da população era constituída por pessoas desprovidas de
condições financeiras, que pudessem atender aos requisitos necessários para edificarem
suas moradias dentro dos parâmetros exigidos pela lei. Com isso, no entender de Porto:
[...] os menos abastados, e não eram poucos, vendo nas novas
determinações um empecilho à obtenção de moradas ao alcance de
seus limitados haveres, tomaram uma resolução heróica. Gritaram seu
alea jacta est e atravessaram [...] o Caborge, pulando para fora dos
limites do “quadro” 77.
A partir dessa citação, vemos um dos motivos da saída das pessoas pobres que
foram habitar no entorno do Tabuleiro de Pirro, abrigando-se de forma desordenada em
76
POSTURAS da Câmara Municipal da Capital. Collecção de leis, decretos e resoluções da Provincia
de Sergipe. 1850-1859. Aracaju: Typ. Provincial de Sergipe, 1856.
77
PORTO, Fernando. Op. Cit., p. 42.
43
lugares onde o saneamento básico não existia, facilitando assim a proliferação de
doenças. Eis o lado excludente da criação de uma cidade moderna.
Paulatinamente Aracaju vai se consolidando como capital, no entanto a ideia de
construir uma cidade moderna, a exemplo das cidades europeias, não ganhou impulso
no século XIX. Precisaram de meio século e alguns anos para que o alvorecer da
modernidade finalmente tocasse o Tabuleiro de Pirro, algo que foi desejado por Inácio
Barbosa durante a Monarquia, mas só se configurou na República, quando Sergipe
deixa de ser uma Província do Império e se torna um Estado da República Federativa.
1.1 - A Inserção de Aracaju na Belle Époque
Formosa cidade que o murmurante Cotinguiba oscula e as auras do
Atlântico acariciam! Alma de Sergipe, deste Sergipe adorável que dia
a dia caminha fulgurante na larga estrada do progresso e da
civilisação, amado pelo seus probos filhos que não trepidam, nas raias
do digno e da razão, em trabalhar com anfinco, crença e fé, para vel-o
prospero, feliz e grande, collocado altivo na vanguarda das
constellações de que forma esta Patria, opulenta e fecunda que Cabral
sonhou e descobriu78.
Ao lermos a epígrafe, percebemos um sentimento amoroso pela cidade de
Aracaju, que na época desse texto, publicado no Sergipe Jornal, passava por intensas
reformas em sua estrutura urbana, com o intuito de ser titulada como uma cidade
moderna, já que há muito tempo esteve estagnada e atrás de algumas capitais dos
Estados brasileiros. De fato, desde a sua fundação em 1855, Aracaju permaneceu em um
processo lento em suas obras de estrutura urbana que somente meio século depois, em
1910, começou a dar alguns passos a caminho dos ideais modernos. Souza nos mostra
que:
Com a fundação de Aracaju, no governo de Inácio Barbosa, em 1855,
nascia a ideia de construir em Sergipe um núcleo de urbano moderno,
em função de um porto que atendesse às necessidades de escoamento
de produção açucareira do Vale do Cotinguiba. A “Cidade de Inácio
Barbosa”, todavia, enfrentou no seu início os mais diversos
problemas, não conseguindo, até o final do século XIX, realizar
melhoramentos urbanísticos que lhe pudessem imprimir o caráter e
um moderno centro administrativo tornando-se motivo de desencanto
por parte daqueles que a queriam moderna79.
78
PARAGUASSÚ, Anselmo. Aracajú. Sergipe Jornal. Aracaju, 30 jul. 1921, Ano I, n. 6. Collaboração,
p. 02.
79
SOUZA, Cristiane Vitório de. A “República das Letras” em Sergipe (1889-1930): São Cristóvão,
2001. 210f. Monografia (Graduação) – Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe,
São Cristóvão, 2001, p. 6.
44
Além da necessidade econômica, houve outro fator para que a Província
possuísse uma cidade-capital com características modernas e que fosse um ponto de
confluência da região e todo Sergipe. No entanto, Aracaju pode ter nascido com uma
aspiração de “Cidade Moderna”, mas em sua gênese o quesito moderno foi
temporariamente abortado, pois ao findar o século XIX, como vimos na citação anterior,
as melhorias urbanas que eram ansiadas pelos responsáveis pela sua construção que
atribuiriam o status de moderna, não foram concretizadas, pois a construção da cidade
passou por problemas, principalmente financeiros, devido a desvalorização do preço do
açúcar alguns anos depois, que dificultariam na continuidade de suas obras.
Somente nos anos de 1910, foi que Aracaju começou a experimentar os sabores
do mundo moderno, através das tímidas reformas urbanas que estavam sendo realizadas
no Governo do Presidente do Estado, Rodrigues Dória. Nesse período, “a cidade passa a
ocupar a posição de centro privilegiado perante as demais localidades sergipanas,
condição favorecida, sobretudo, pelo desenvolvimento da indústria e do comércio”80. De
acordo com Sousa:
No início da década de 1910 muitas famílias ricas passaram a se
estabelecer na capital sergipana e compartilharam com os existentes
projetos de interferência na organização da sociedade e\ou no espaço
físico da cidade. [...] Foi surgindo paulatinamente um outro ritmo de
vida em Aracaju nas décadas de 1910 e 1920 “embalado” pelas
características das sociedades industrialmente desenvolvidas81.
Com a chegada dessas famílias abastadas à Aracaju, foi necessário transformar a
cidade para atender à “nova burguesia”, logo a vida aracajuana se modificou juntamente
com a sua estrutura urbana. Porém, antes de conhecermos os caminhos que levaram a
“Cidade de Inácio Barbosa” a ser inserida, paulatinamente, em um processo de
modernização e concomitantemente a sua Belle Époque, devemos realizar um incursão
pela história de Aracaju no início do século, onde iremos identificar as poucas, porém
importantes, obras realizadas em sua feição urbana, visando a inserção da mesma na
modernidade.
SANTOS, Fabrícia de Oliveira. “Hygiene, saúde e belleza”: preocupações eugênicas nos periódicos
sergipanos de Aracaju (1910-1920). São Cristóvão, 1999. 110f. Monografia (Curso de Licenciatura em
História) – Departamento de História, Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de
Sergipe, São Cristóvão, 1999, p. 8.
81
SOUSA, Antônio Lindvaldo. Em nome do progresso e da liberdade: 'ordem' e 'rebeldia' no emergente
processo urbano-industrial de Aracaju (1910-1930). 1993. 99f. Monografia (Especialização em Ciências
Sociais) - Núcleo de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Universidade Federal de Sergipe, São
Cristóvão, 1993, p. 24.
80
45
No próximo tópico deste capítulo veremos como se deu a intensificação do
processo de urbanização e modernização de Aracaju, ocorrido em 1920, década que “foi
marcada por uma aceleração no ritmo das mudanças. A convivência entre o antigo e o
novo mostrava-se presente em todos os aspectos da sociedade”82.
Através das próximas páginas, conheceremos os agentes políticos e sociais que
comungando os ideais de modernidade puderam realizar as transformações urbanas na
capital sergipana e assim poder transformá-la em uma cidade moderna e progressista.
1.2 - A Remodelação da Aparência Urbana de Aracaju
Estado de Sergipe, início do século XX. Os representantes do Governo Estadual,
buscando atender aos ideais progressistas enfatizados pela república, procuravam inserir
os parâmetros modernos, também, no menor Estado da Federação, porém o que era ser
moderno? Conforme Berman:
Ser moderno é viver uma vida de paradoxo e contradição. É sentir-se
fortalecido pelas imensas organizações burocráticas que detêm o
poder de controlar e freqüentemente destruir comunidades, valores,
vidas; e ainda sentir-se compelido a enfrentar essas forças, a lutar para
mudar o seu mundo transformando-o em nosso mundo. É ser ao
mesmo tempo revolucionário e conservador: aberto a novas
possibilidades de experiência e aventura, aterrorizado pelo abismo
niilista ao qual tantas das aventuras modernas conduzem, na
expectativa de criar e conservar algo real, ainda quando tudo em volta
se desfaz83.
Estar inserido no mundo moderno era viver um universo dual, regado de
inúmeras contradições, onde valores eram esquecidos e outros eram adotados.
Retomando a Aracaju, o foco principal deste trabalho, vamos perceber que a nova
centúria, juntamente com a República vai possibilitar a sua inserção a modernidade que
tanto ansiava, pois “foi na segunda década do século XX que ocorreu de modo mais
visível a criação de uma estrutura moderna no estado”84.
Desde sua fundação até o início do século passado, a cidade de Aracaju não
havia passado por modificações em sua feição urbana, o que vai ocorrer em dois
momentos transitórios: temporalmente com a passagem do século XIX para o XX e
82
AZEVEDO, Crislane Barbosa de. A modernidade no Governo de Graccho Cardoso e a reforma
educacional de 1924 em Sergipe. Natal: EDUFRN, 2013, p. 13.
83
BERMAN, Marshall. Op. Cit., p. 14.
84
SANTOS, Magno Francisco de Jesus. Ecos da modernidade: a arquitetura dos grupos escolares
sergipanos (1911-1926). São Cristóvão: UFS, 2013, p. 70.
46
politicamente com mudança da Monarquia para o regime republicano. “O processo
modernizador ganha força com a República. Nela, a nova capital floresce e se afirma
como sede do poder político-administrativo e econômico de Sergipe”85.
As primeiras décadas dos novecentos marcariam um período de poucas, porém
significativas, transformações para a capital de Sergipe, dentre elas destacamos: o
calçamento da cidade, em 1900; implantação da água encanada e bondes, em 1908; rede
de esgoto e começo de drenagem, em 1913; ferrovia, em 1914; instalação da energia
elétrica estatal, em 1916; e da rede de telefonia, em 191986. Com essas obras iniciais de
remodelação, Aracaju começa a perscrutar pelos trechos que levam à modernidade.
Somente nesse período foi que a capital sergipana “conseguiu criar monumentos,
embelezar ruas, praças e prédios públicos”87.
As imagens e fotografias que ilustram esse trabalho servirão justamente para nos
mostrar como ocorreram essas mudanças na cidade, mas é necessário ressaltar que não é
interessante utilizá-las “apenas de maneira ilustrativa, sob aspectos que podem parecer
ingênuos, corriqueiros ou ignorantes a pessoas profissionalmente ligadas à problemática
visual”88.
O material fotográfico aqui presente é o que Ginzburg chama de “o fio de
Ariadne”, pois é através desse fio que encontraremos a relação entre os discursos aqui
escritos e as reproduções apresentadas nas imagens, ou seja, os rastros deixados por
aqueles que vivenciaram as transformações empreendidas na capital sergipana durante
sua remodelação no início do século XX. Ao realizarmos uma leitura crítica das
imagens, estaremos também “proporcionando valiosas contribuições à nossa visão do
passado – e do local em que nele está inserido o material visual – usando as imagens de
uma forma sofisticada e especificadamente histórica” 89.
A fotografia apresentada a seguir mostra uma das inaugurações realizadas pelo
Governo do Estado, com o intuito de apresentar a república à população como um
regime onde as coisas andam e provedora da ordem e do progresso amplamente
difundidos nesse momento em que a nova forma de Governo buscava se consolidar nos
anos finais do século XIX e no início do XX.
85
AZEVEDO, Crislane Barbosa de. Grupos escolares em Sergipe (1911-1930): cultura escolar,
civilização e escolarização da infância. Natal: EDUFRN, 2009, p. 28.
86
Idem.
87
SANTOS, Magno Francisco de Jesus. Op. Cit., p. 71.
88
GASKELL, Ivan. História das Imagens. In: BURKE, Peter. (Org.): A escrita da história: Novas
Perspectivas. São Paulo: Unesp, 2011, p. 243
89
GINZBURG, Carlo. O fio e os rastros: verdadeiro, falso, fictício. São Paulo: Companhia das Letras,
2007.
47
Figura 03 – Inauguração dos Jardins Olímpio Campos, 1907
Fonte: Acervo Fotográfico do Arquivo Público Municipal de Aracaju.
A foto (Figura 03), datada de 24 de outubro de 1907, mostra a inauguração dos
Jardins do Palácio Olímpio Campos, que naquele período além de ser sede do poder
executivo sergipano era a residência oficial do Presidente do Estado. O evento foi
realizado no dia do aniversário de 87 anos da emancipação política de Sergipe, como
nos mostra o jornal Correio de Aracaju:
A uma hora da tarde, inaugurou-se, perante compacta multidão, o
“Jardim Olympio Campos”, pronunciando o orador official um longo
discurso adequado ao acto, sendo em seguida aberto á frequência ao
nosso publico, tocando por esta occasião as duas charangas militares90.
Um dia festivo e cercado pela inauguração de um espaço, que através do seu
nome fazia os aracajuanos lembrarem o Monsenhor Olimpio Campos, líder político e
Presidente do Estado, entre 1899 a 1902; Senador da República e Deputado Federal e
provincial durante o Império. O referido político sergipano foi assassinado no Rio de
Janeiro em 9 de novembro de 1906 pelos filhos do Deputado Fausto Cardoso, que
acusaram-lhe de matar seu pai no episódio conhecido por “Revolta de Fausto
Cardoso”91. O nome dado não partiu da população, pois o governante da época era
justamente o irmão do homenageado, Guilherme de Campos. Com esse ato, ele não
90
CORREIO de Aracajú. Aracaju. 27 out. 1907, Ano II, n. 101, p. 1.
Sobre a revolta ver: OLIVA, Terezinha Alves de. Impasses do federalismo brasileiro: Sergipe e a
Revolta de Fausto Cardoso. 2. ed.. São Cristóvão: UFS; Aracaju: IHGSE, 2014.
91
48
apenas inaugurava um jardim, mas tentava manter viva a lembrança do irmão falecido
um ano antes, criando assim o que Nora92 designa como um “Lugar de Memória”, pois
de acordo com o autor:
Os lugares de memória nascem e vivem do sentimento que não há
memória espontânea, que é preciso criar arquivos, que é preciso
manter aniversários, organizar celebrações, pronunciar elogios
fúnebres, notariar atas, porque essas operações não são naturais93.
Os espaços dedicados à memória não surgem do nada, é necessário que haja uma
ação humana para que eles se constituam e sejam usados para lembrar algo, uma pessoa,
uma data ou um lugar. No caso dos “Jardins Olympio Campos”, obviamente temos a
construção de um local forjado pelos interesses políticos, uma vez que a ideia de
construir a área verde partiu do então Presidente Guilherme de Campos, irmão do
homenageado. Vê-se nesse ato, a perpetuação de uma memória ligada a um afamado
político e ao “Olimpismo”, como era chamada a corrente política-ideológica seguida
pelos partidários do Monsenhor Olímpio Campos.
Voltando a inauguração, é interessante apontar que, apesar de alegarem escassez
nos recursos públicos, os Presidentes buscavam através desses atos, que não foram
poucos, apesar da falta de fundos, criarem os seus perfis políticos forjando-os através
dos acontecimentos públicos, regados com “grande pompa, demonstrando a
preocupação em promover a imagem dos líderes políticos”94 e discursos a população.
Essas foram práticas usadas constantemente pelos representantes da nova ordem
política, uma antítese da monarquia. Logo comprovamos que, de fato, a República
necessitava se consolidar com esses eventos, pois, de acordo com Sevcenko, os
momentos iniciais do novo regime foram marcados por:
[...] um amplo processo de desestabilização e reajustamento social, o
advento da ordem republicana foi marcado também por uma série
contínua de crises políticas – 1889, 1891, 1893, 1897, 1904. Todas
elas foram marcadas por grandes ondas de “deposições”, “degolas”,
“exílios”, “deportações”, que atingiram principalmente e em primeiro
lugar as elites tradicionais do Império e o seu vasto círculo de clientes;
mas tendendo em seguida – sobretudo nos seus dois últimos
movimentos – a eliminar também da cena política os grupos
comprometidos com anseios populares mais latentes e envolvidos nas
correntes mais férvidas do republicanismo. Opera-se através delas
como que uma filtragem dos elementos nefastos ao novo regime,
92
NORA, Pierre. Entre história e memória: a problemática dos lugares. Revista Projeto História. São
Paulo, 1993, v. 10, p. 17.
93
Idem.
94
SANTOS, Magno Francisco de Jesus. Op. Cit., p. 74.
50
aqueles que pecavam quer por demasiada carência, quer por excesso
de ideal republicano95.
Os primeiros anos da República caracterizaram-se por momentos de tensão, o
regime se impunha através da força e como resultado, revoltas marcaram o cenário
nacional, a exemplo da Guerra de Canudos ocorrida em 1896. Segundo Schwarcz: “a
rebelião opôs, de um lado, a população de Canudos, arraial que cresceu no interior da
Bahia, e, de outro, o recém-criado Governo da República”96. Os revoltosos eram
sertanejos pobres, esquecidos pelo poder público que preferia modernizar as grandes
cidades e esqueciam os sertões do interior do país, fazendo com que os sertanejos
liderados por Antônio Conselheiro se rebelassem contra o regime e pregassem a volta
da Monarquia. Com isso, vemos um Brasil dividido entre as cidades que se
remodelavam para a modernidade e o sertão esquecido e pobre.
O sul do Brasil também foi palco de movimentos sociais que incomodaram o
Governo Central, a chamada Revolta do Contestado, que iniciou em 1912, finalizando
em 1916. Foi travada em um território limítrofe dos Estados do Paraná e Santa Catarina
e possuía um caráter messiânico. Os integrantes contestavam a doação das terras
daquela região feita pelo Governo Federal para madeireiros e uma empresa estrangeira.
Assim como Canudos, “os revoltosos diziam-se monarquistas e pregavam um reino
escatológico e longínquo da modernidade97”, por isso esses levantes foram combatidos
com violência pela República, pois ameaçavam a sua consolidação, que ainda não havia
alcançado, temendo até nas primeiras décadas do século XX, a restauração da
Monarquia98.
É importante ressaltar que aconteceram outras revoltas que estremeceram os
pilares da República ainda em construção, como a Revolução Federalista (1893),
Revolta da Vacina (1903)99 e a Revolta da Armada (1910)100, todos
95
esses
SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira
República. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 36-37.
96
SCHWARCZ, Lilia Moritz. População e sociedade. In:
. A abertura para o mundo: 18891930. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 54.
97
Ibdem, p. 56.
98
Gilberto Freyre aponta para a possível restauração monárquica nas primeiras décadas do século XX.
Quando as questões sociais se tornaram presentes no cotidiano e ameaçavam a estabilidade do Governo
Republicano. Tal situação acarretou na publicação de dois manifestos, o primeiro de 1909 e segundo em
1913, escritos pelo Príncipe dom Luís de Orléans e Bragança, herdeiro presuntivo ao trono do Brasil,
filho da Princesa Isabel e do Conde D’Eu. Ver: FREYRE, Gilberto. Op. Cit., p. 991-999.
99
Sobre a Revolta da vacina, ver: CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a
República que não foi. 3. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
100
Sobre a Revolução Federalista e Revolta da Armada ver: FLORES, Elio Chaves. A consolidação da
República: rebeliões de ordem e progresso. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida
51
acontecimentos mostram que o novo regime não agradava a todos e precisava tomar
medidas para se estabelecer.
Por isso que as reformas urbanas foram importantes nesse período, serviam para
mostrar um regime de mudança, em constante trabalho, porém “o manto da República
não cobria a todos. As preocupações acerca do embelezamento de Aracaju foram
materializadas com as reformas dos palácios e construção dos jardins nas praças
públicas”101. A necessidade de possuir áreas verdes no interior das cidades, como já foi
apresentada anteriormente, também vigorou em Aracaju durante seu embelezamento,
uma matéria do jornal Diário da Manhã intitulada “Pelos Jardins”, mostra justamente a
remodelação do Jardim Olímpio Campos representado na foto acima (Figura 03).
Vejamos o texto publicado na imprensa:
[...] o dr. Intendente, pretende remodelar os nossos jardins, fornecendo
-lhes os attractivos necessários aos logradouros publicos, mais em
voga nos altos centros. E assim é que, em breve, teremos o jardim
Olympio Campos transformado em um bellissimo parque, havendo
s.s. recomendado á importante casa dos Estados Unidos a remessa
imediata de 60 bancos apropriados. Quanto ao jardim da praça Fausto
Cardoso soubemos que s.s. falou em passar por varios melhoramentos
dando-lhe um aspecto mais agradável e, por conseguinte, tornando-o
um dos primeiros pontos recreativos da nossa querida urbe. Com esses
melhoramentos por que a cidade irá passar em breve, o povo
aracajuense muito terá a lucrar, dada a sua natural expansão102.
A reforma dos jardins aracajuanos, além de propiciar lugares arborizados e
arejados, dentro dos padrões higiênicos em voga, eram apropriados para o
desenvolvimento das teias das sociabilidades entre a população. Dotados de elementos
modernos, oriundos de outros países, os jardins se tornaram locais onde a remodelação
era constante, com o intuito de mostrar aos habitantes as obras que transformariam
Aracaju em uma cidade moderna, civilizada e ajardinada. O conceito de cidade-jardim é
algo tipicamente inglês como podemos observar. É interessante ver que pelo menos
nesse aspecto, as reformas urbanas saíam do contexto de urbanização francês. Os
habitantes de uma urbe arborizada, nesse molde, desfrutariam de uma vida dual, onde os
prazeres campestres estavam ligados às agitações dos grandes centros urbanos.
Simultaneamente, a criação de áreas verdes e arborizadas fazia parte do processo de
embelezamento das cidades, como vimos anteriormente, as cidades de Natal, Belém e
Neves. O Brasil republicano: o tempo do liberalismo excludente, da proclamação da República à
Revolução de 1930. 7. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014.
101
SANTOS, Magno Francisco de Jesus. Op. Cit., p. 72.
102
DIÁRIO da Manhã. Pelos jardins. Aracaju, 27 abr. 1919, Ano IX, n. 2.311, p. 1.
52
Franca103, que ao realizarem suas reformas urbanas, arborizaram áreas principais da
urbe. A arborização das cidades foi reconhecida como “recurso a serviço da salubridade
urbana”104, pois as árvores ajudariam na circulação do ar, evitando a disseminação de
doenças, de acordo com a teoria dos miasmas.
Na imagem da inauguração, perceberemos que além de registrar um dia festivo,
onde há uma determinada aglomeração em torno do palácio, os aracajuanos foram
conferir uma novidade moderna em uma cidade que necessitava de transformações. No
entender de Santos, a transição da cidade “pantanosa” à cidade moderna teve sua gênese
na primeira década do século XX, pois:
[...] a década de 1910 figurava no início desse processo. A partir de
meados de 1900, dá-se a construção de elementos característicos da
modernidade, que na década seguinte começam a ganhar freqüência e
solidez. Isto é, começam a ser incorporados de forma efetiva no
cotidiano da cidade105.
Os primeiros sinais da modernização em Aracaju manifestaram-se no início do
século passado, no entanto, foi nos anos de 1920 que as mudanças na estrutura urbana
começaram a ganhar notoriedade e a inserção aos aparatos modernos foi intensificada.
Antes de adentramos as transformações que mudaram o cotidiano da capital de Sergipe,
devemos entender como estava a situação política e econômica do Estado, todavia
devemos também conhecer os agentes dessas transformações, para entendermos quais
foram os motivos que os levaram a remodelar a outrora cidade pantanosa.
1.3 - Situação Econômica de Sergipe
No que se refere à situação econômica, temos duas vertentes a serem analisadas:
a rural e a urbana, pois de acordo com Oliva, no início do século XX “Sergipe era,
então, o segundo maior produtor de açúcar do Nordeste e a cultura da cana ocupava
parte de seu pequeno território. As finanças estaduais eram inteiramente dependentes
103
Sobre a arborização de Natal ver: MARINHO, Márcia Maria Fonseca. Natal também civiliza-se:
sociabilidade, lazer e esporte na Belle Époque natalense. Natal: EDUFRN, 2011.
Sobre as áreas verdes de Belém, ver: SARGES, Maria de Nazaré. Op. Cit.
Sobre a arborização de Franca, ver: FOLLIS, Fransérgio. Modernização urbana na Belle Époque
paulista. São Paulo: UNESP, 2004.
104
DOURADO, Guilherme Mazza. Belle Époque dos Jardins: Da França ao Brasil do século XIX e
inicio do XX. 214 p. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo,
Área de concentração: Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo, Universidade de São Paulo,
2008, p. 15.
105
SANTOS, Fabrícia de Oliveira. Op. Cit., p. 12.
53
das exportações açucareiras”106. Desde o século XIX que o açúcar tem destaque na
economia sergipana, convém lembrar que a mudança da capital teve como principal
importância o despacho da produção açucareira através do porto. No entanto, a partir
dos anos de 1920, a economia de Sergipe ganha outro destaque como nos mostra
Dantas:
Por mais simples que fosse a organização sócio-econômica das
cidades de Sergipe pelos anos de 1920, vários traços diferenciavamnas da vida rural. Embora todas mantivessem seu comércio, suas
indústrias mais ou menos rudimentares e seu sistema de serviços, em
menores ou maiores proporções, nenhuma cidade se comparava à
capital. Aracaju além de ser o centro político-administrativo onde os
poderes constituídos, fossem quais fossem suas dependências,
engendravam suas decisões, era também o maior centro industrial de
Sergipe107.
A partir de 1920, Aracaju começa a passar por um surto industrial que ajudaria a
alavancar a economia possibilitando assim um conjunto de situações favoráveis para as
transformações que estavam acontecendo na estrutura urbana da capital, desde a
primeira década do século XX. De fato, houve um aumento significativo de indústrias
em Aracaju, entre 1907 a 1920, “de 41 estabelecimentos passava a possuir 237”. No
entanto, não se podiam esperar resultados satisfatórios dessas indústrias, pois apesar de
terem crescido satisfatoriamente, não possuíam grandes estruturas. Contudo, as fábricas
de tecidos foram exceções a serem analisadas108. Sobre a indústria têxtil no Brasil,
Franco e Lago afirmam que:
O Brasil contava com uma indústria têxtil moderna, importante
mesmo em termos internacionais, maior da América Latina e com
dimensão comparável à da China, ainda inferior à indiana. [...] O
número de fábricas têxteis cresceu de 242 em 1921 para 354 em 1927,
enquanto o número total de fusos cresceu 59% e o de teares 32%, com
o emprego crescendo apenas 17% (apesar da adoção da jornada de
oito horas após a greve de 1919) e a produção somente em 8%109.
O crescimento das indústrias têxteis no Brasil nos faz afirmar que Sergipe
andava no mesmo passo que o resto do país, pois era evidente a importância das fábricas
de têxteis para a economia sergipana e brasileira, elas representavam “a segunda grande
106
OLIVA, Terezinha Alves de. Op. Cit., p. 29
DANTAS, José Ibarê Costa. Op. Cit., 1999, p. 45.
108
Ibdem, p. 46.
109
FRANCO, Gustavo H. B.; LAGO, Luiz Aranha do Corrêa. O Processo econômico In: SCHWARCZ,
Lilia Moritz. A abertura para o mundo: 1889-1930. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 222.
107
54
contribuição aos cofres públicos”110. Todavia, em meio ao surto industrial e ao processo
de modernização pelo qual passava Sergipe, a produção de açúcar ainda era a primeira
fonte de renda para o Estado. É importante ressaltar, que os antigos engenhos foram
substituídos pelas usinas, que por sua vez possuíam uma estrutura diferente, deixaram
de usar a tração animal substituindo-a pelo uso de maquinários, logo os locais da
produção açucareira passaram por transformações, adotaram sistemas modernos que
viabilizassem o crescimento da economia. Sobre a implementação das indústrias têxteis
no Brasil, Prado Júnior aponta que:
Outro fator favorável à indústria brasileira será a produção local de
uma matéria-prima de grande importância para ela: o algodão. E
efetivamente a maquinofatura se iniciará no Brasil com a indústria
têxtil que até muito recentemente representará sua parte substancial.
Finalmente, uma última circunstância favorável ao estabelecimento de
indústria será a disponibilidade de mão-de-obra e seu baixo preço111.
A produção de algodão era a segunda maior de Sergipe, sendo superado apenas
pelo açúcar, o que facilitou ainda mais a implantação das fábricas têxteis, tanto no
Estado quanto no país. Outro fator que colaborou para a implantação das indústrias foi a
mão de obra barata, nas fábricas sergipanas, principalmente as da capital, ela era
formada pelos operários oriundos da cidade do interior, que se mudavam para Aracaju
fugindo da seca e da falta de trabalho em suas terras de origem.
Segundo a mensagem proferida pelo então Presidente do Estado, José Joaquim
Pereira Lobo, a Assembleia Legislativa, em 07 de outubro de 1922, das oito fábricas
existentes em Sergipe, duas delas estavam em Aracaju. De acordo com o governante
“Augmenta progressivamente em nosso Estado, já pelo aperfeiçoamento de seus
apparelhos, já pela ampliação de novos ramos, especialmente no que diz respeito a
tecidos”112.
A mensagem presidencial contém um anexo mostrando as fábricas existentes no
Estado, também há uma caracterização de todas elas, por isso podemos constatar que de
fato, as maiores e mais importantes estavam em Aracaju, estamos falando da Sergipe
Industrial e da Fábrica Confiança, o capital de ambas superava os da que existiam no
110
FRANCO, Gustavo H. B.; LAGO, Luiz Aranha do Corrêa. Op. Cit., p. 222.
PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 43. ed. São Paulo: Brasiliense, 1998, 196.
112
SERGIPE. Mensagem do Presidente do Estado de Sergipe José Joaquim Pereira Lobo dirigida a
Assembléia Legislativa de Sergipe em 07 de setembro de 1922, ao instalar a 3ª sessão ordinária da
14ª Legislatura. Aracaju: Imprensa Official, 1922, p. 26.
111
55
interior113. No mapa abaixo (Figura 04), estão circuladas as cidades que possuíam
fábricas de tecidos, além de Aracaju:
Figura 04 – Mapa de Sergipe em 1918
Fonte: Tribunal de Justiça de Sergipe, 1918.
Disponível em:
http://www.tjse.jus.br/arquivojudiciario/images/stories/file/Mapa_Sergipe_1918>.Disponível em: Acesso
em: 26 ago. 2015.
As cidades circuladas no mapa (Figura 04), além de Aracaju, são: Estância,
Propriá, São Cristovão e Villanova (atualmente Neópolis) e com a implantação delas no
interior, a indústria de tecidos se tornou mais importante na economia sergipana,
principalmente com eclosão da Primeira Guerra Mundial, pois os países beligerantes
que eram os nossos principais fornecedores de manufaturas sofrem um grave declínio na
economia e desvalorização na moeda e “superado o primeiro impacto, a indústria
nacional se beneficiou com a interrupção da concorrência externa e com a abertura de
alguns mercados de exportação114”, logo passamos da condição de compradores para
fornecedores. Eis um dos principais motivos que levaram a valorização dos produtos
têxteis na economia sergipana, “a elevação dos preços dos produtos de exportação, por
113
114
SERGIPE. Op. Cit., em 07 de setembro de 1919, p. 40; 48.
FERRARESI, Carla Miucci. Op. Cit., p. 69.
56
sua vez, se refletia na vida interna do Estado, sobretudo em Aracaju”115. Paulatinamente
a importância das manufaturas cresceu e ficou equiparado com a exportação açucareira.
Esses dois fatores alavancaram a balança comercial sergipana e ajudaram a empreender
as transformações na capital. Para Dantas:
Por mais que os lucros se acumulassem em mãos de uma minoria de
proprietários, o incremento de renda gerada permitia um aumento do
poder aquisitivo de outros estratos sociais, resultando na ampliação do
mercado interno que, por sua vez, concorria para um maior dinamismo
econômico, sobretudo no comércio. E esse processo foi-se tornando
cada vez mais positivo, quando as famílias dos grandes proprietários
enriquecidos passavam se estabelecer na capital, quer fosse com o
objetivo e educação dos filhos quer em busca de atrações da vida
urbana. E essa imigração de famílias enriquecidas comumente
fomentava o levantamento de novas construções, cuja a primazia já se
disse que, a partir de 1914, passou a ser disputada em Aracaju entre os
senhores de engenho e os novos ricos116.
A melhora na economia sergipana possibilitou uma migração para a capital, não
apenas de pessoas abastadas que procuraram vivenciar um cotidiano urbano, mas
também de membros de estratos sociais menos favorecidos, que viam em Aracaju um
recomeço para suas vidas. Desde o primeiro recenseamento realizado, ainda no Império
em 1872 até 1920, houve um aumento significativo da população aracajuana como
verificamos no Quadro 01, a seguir:
Quadro 01 – Crescimento populacional de Aracaju 1872-1920
CRESCIMENTO POPULACIONAL DE ARACAJU
Ano
Número de habitantes
1872
9.559
1890
16.336
1900
21.132
1920
37.440
Fonte: IBGE, População nos Censos Demográficos, segundo os
municípios das capitais - 1872/2010.
Disponível em: <http://www.censo2010.ibge.gov.b>.
Podemos perceber, através do Quadro 01, que a população cresceu
significadamente, entre 1900 e 1920, representando um aumento de 78,6% de acordo
115
DANTAS, José Ibarê Costa. História de Sergipe: República (1889-2000). Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 2004, p. 47.
116
Ibdem, p. 47-48.
57
com o IBGE. Devido ao aumento da população, Aracaju foi se “impondo como centro
de atração residencial superando a má fama de cidade de clima inóspito e pontuada de
poças de água onde proliferavam mosquitos causadores de febres”117, era necessário
promover uma reforma que possibilitasse não somente o cotidiano urbano que muitos
desejavam, como também submeter a população às normas e posturas evitando a
proliferação de doenças, pois Aracaju ainda sofria com problemas de saúde pública.
Conter atos tidos como não civilizados, que comprometiam a inserção da capital na
modernidade e vivenciar sua Belle Époque foi um trabalho amplamente realizado pelos
grupos dominantes.
Nesse capítulo vimos como surgiu Aracaju, em meados do século XIX, e os
problemas iniciais que ela teve para ser firmar como centro urbano e capital da
Província de Sergipe. Também conhecemos a economia sergipana no início do século
XX, que através das fábricas de tecidos produziram capital que favoreceu o crescimento
de Aracaju. Nas próximas páginas vamos conhecer um dos agentes dessas mudanças: o
Presidente José Joaquim Pereira Lobo, que, devido à ascensão econômica do Estado,
pôde intensificar, ao seu jeito, o processo de modernização que iniciou no final da
primeira década do século XX.
117
DANTAS, José Ibarê Costa. Op. Cit., 1999, p. 49.
58
CAPÍTULO 2
O GOVERNO DE PEREIRA LOBO E O INICIO DA REMODELAÇÃO
URBANA (1918-1922)
2.1 - O Contexto político e a Reforma de Aracaju
Aracaju, julho de 1918. A Assembleia Legislativa do Estado se reúne em sessão
solene para referendar a eleição ocorrida, em 26 de maio do mesmo ano, como mostra o
jornal O Imparcial:
A Assembléa Legislativa do Estado, reunida em sessão extraordinária
a convocação do governo, procedeu, como determina a constituição,
ao recenssiamento realizada aos 26 de maio último para presidente do
estado no próximo quadriênio. Nessa eleição a quasi unanimidade dos
suffragios – cerca de sete mil votos, o illustre coronel José Joaquim
Pereira Lobo, actual representante de Sergipe no Senado Federal, e
Assemblea tendo apurado esses votos, também reconheceu e
proclamou eleito a s. ex. pela quase unanimidade de seus membros –
vinte e três deputados. O senador Pereira Lobo, assim eleito e
reconhecido pela maioria absoluta da população eleitoral do Estado e
dos representantes do povo, exerce no Senado Federal um logar de
confiança política, fazendo, como faz, parte commisção dirigente dos
seus trabalhos, e é conhecido como um perfeito cavalheiro118.
O texto jornalístico mostra a vitória Pereira Lobo119 à presidência do Estado de
Sergipe. Podemos perceber, que antes de assumir, ocupava uma cadeira no Senado e
suas atribuições como político são também colocadas, talvez como uma forma de
elucidar a satisfação, da maioria, em tê-lo como chefe do executivo estadual. Sobre a
entronização do Coronel Pereira Lobo na presidência, Dantas nos mostra um dos
primeiros desafios que o novo Presidente iria enfrentar:
Pereira Lobo, ainda nas festas da posse, em outubro de 1918, deparouse com um problema gravíssimo. Era o surto de gripe espanhola que
se espalhava por praticamente todas as cidades e vilas do Estado,
118
O IMPARCIAL. Posse de Pereira Lobo. Aracaju, 31 jul. 1918, Ano I, n. 1, p. 2.
Nasceu na cidade de São Cristóvão em 23 de dezembro de 1854, filho do capitão Joaquim José Pereira
e dona Joanna Rosa de Vasconcellos Pereira. Seu pai militou durante o Império no Partido Liberal, ao
lado do Barão da Estância, comendador Almeida Boto e José Faro. Realizou os estudos primários em São
Cristóvão e em 1883 mudou-se para o Rio de Janeiro onde se matriculou na antiga Escola Militar da
Corte. Em 1892 recebeu o título de bacharel em matemática, ciências físicas e naturais. No mesmo ano
foi encarregado das obras militares em Sergipe. Em 1893 foi promovido a capitão, logo obteve uma
licença do exército para ocupar uma cadeira n Assembléia Legislativa do Estado de Sergipe. Através do
Presidente do Estado, o Sr. general Oliveira Valladão, fez-se ocupar uma cadeira no Senado Federal de lá
saiu para ocupar a presidência de Sergipe até 1922. Faleceu no Rio de Janeiro em 24 de fevereiro de
1933. Ver: SILVA, Clodomir. Álbum de Sergipe. Aracaju: Imprensa Oficial, 1920, p. 80.
119
59
sendo registrados 25.910 casos, resultando 997 mortes segundo os
registros oficiais. Tratava-se de mais uma epidemia que deixava
patente a falta de estrutuira de sáude para enfrentar tragédias dessa
natureza120.
Uma das principais tarefas de Pereira Lobo seria erradicar os focos dessa nova
epidemia que assolava a capital e os interiores sergipanos, porém, para que isso fosse
realizado, se fazia necessário empreender reformas que garatissem o saneamento básico
dos habitantes de Aracaju, pois a Diretoria de Higiene e Saúde Pública, criada pelo
Decreto n. 681, de 30 de agosto de 1915, e responsável pelos serviços de profilaxia e
sanitária do Estado121, não estava conseguindo manter um serviço regular entre a
população, “mas era uma uma evolução lenta com pouca ou nenhuma ajuda da esfera
federal”122. Sobre a Diretoria de Higiene e Saúde Pública, no entender de Santana,
servia junto com o Serviço de Assistência Pública, e eram similares aos atuais “Pronto
Socorros, que, por razões não compreendidas, estava a cargo do Setor Policial” 123.
O novo Presidente teve que empreender uma verdadeira força tarefa para
erradicar os focos das doenças como varíola, febre amarela e a cólera, que estavam
assolando Sergipe e Aracaju nos idos de 1918, pois um fator que era importante para a
modernização da cidade era sanear-se e manter-se limpa, no entanto esse problema seria
constantemente evidenciado pelos jornais124, como nos mostra O Imparcial:
A salubridade de Aracajú deve constituir um dos factos tangíveis ao
seu progresso e desenvolvimento. Já não é permitido adiar o seu
estudo e a aplicação das medidas requeridas pela saude em geral. A
população cresce a cada dia a dia, como se pode ajuizar do movimento
das ruas, aumento das construções e deficiência das habitações.
Infelizmente não temos outras fontes de informação; prevalecemo-nos
da observação que nos oferece os movimentos da capital e que está á
vista de todos125.
Com o crescimento da população, graças aos que saiam do interior em busca de
novas condições de vida ou aos que chegavam para vivenciar um ambiente urbano
agitado, os problemas de higiene e saúde pública se desenvolveram intensamente, logo,
como o jornal deixa claro, foi um problema que afetaria o progresso e desenvolvimento
120
DANTAS, José Ibarê Costa. Op. Cit., 2004, p. 37.
SILVA, Clodomir. Op. Cit., p. 84.
122
DANTAS, José Ibarê Costa. Op. Cit, 2004, p. 37.
123
SANTANA, Antônio Samarone de. Op. Cit., p. 134.
124
Os jornais que circulavam na época como o Correio de Aracaju, Estado de Sergipe e Sergipe Jornal,
publicavam matérias mostrando as ações da Diretoria de Higiene para conter a salubridade aracuajana,
com o intuito de mostrar a população os trabalhos que estavam sendo realizados.
125
O IMPARCIAL. Op. Cit., 31 jul. 1918, p. 1.
121
60
na capital. Apesar de ter intensificado o processo de modernização de Aracaju, Pereira
Lobo não conseguiu de forma satisfatória controlar os problemas relativos à saúde
pública. Somente com seu sucessor Maurício de Graccho Cardoso (1922-1926) é que
houve uma reforma sanitária, onde os focos das doenças mencionados anteriormente,
que assolaram a capital e o interior, foram controlados. Retornando ao prelúdio do
Governo do Coronel Pereira Lobo, Nunes vai nos falar das transformações que foram
empreendidas na capital e que foram executadas devido a esse e outros fatores cruciais:
Em 24 de outubro de 1918, assumia a presidência do estado o coronel
Dr. José Joaquim pereira Lobo (24/10/1918 a 24/10/1922), e que ainda
se vai beneficiar da conjuntura econômica favorável. “Realmente as
rendas crescem propiciando à administração pública ensejo para a
realização de melhoramentos que se vão tornando inadiáveis em nosso
Estado”, diria ele acrescentando que, “por sua vez, a fortuna particular
aumenta e com ela o progresso, que se vai acentuando em todos os
ramos de nossa atividade de negócio”. Continua a transformação da
vida aracajuana, que segue modernizando-se, ganhando hábitos
diferentes ante o aparecimento da nova burguesia surgida com a
prosperidade dos anos da Grande Guerra126.
Havia um interesse em Pereira Lobo de realizar mudanças e melhoramentos na
sociedade sergipana, principalmente em Aracaju onde uma nova classe oriunda dos
benefícios gerados pela Primeira Guerra, criou novos hábitos para viver o cotidiano.
Essa burguesia nascente, representada por novos ricos e comerciantes de outras cidades,
teve que se juntar aos antigos representantes da aristocracia rural para conseguirem sua
legitimação no espaço da capital.
Os novos ricos passam a ostentar casas residenciais luxuosas, os
palacetes, automóveis de vários tipos. Identicamente sucedia com os
representantes da velha aristocracia rural, que
superam
os
preconceitos antimercantilistas e se integravam na vida urbana127.
Logo percebemos que o burguês se iguala àqueles que no passado ostentavam
honrarias, terras e títulos. Esse momento não ficou restrito apenas a Sergipe, ou
precisamente Aracaju, pois com a implantação da República, novos paradigmas sociais
estavam sendo disseminados e diversas mudanças no âmbito urbano haviam iniciado.
No entender de Nunes:
O que ocorria em Sergipe era uma réplica da situação brasileira, onde
o austero homem de negócios, do nascente e próspero “alto comércio”
126
127
NUNES, Maria Thétis. Op. Cit., 2008, p. 239.
NUNES, Maria Thétis. Op. Cit., 2008, p. 240.
61
urbano, impunha-se o mesmo código de honra, aspirava aos mesmos
ideais e, se não igualava, suplantava o estilo de vida da aristocracia
agrária (confundindo, na paisagem social em mudança, os dois
mundos mentais, o da “Casa-Grande” e o do “Sobrado”). Seu objetivo
supremo deslocava-se, aos poucos, para a conquista de um status
senhorial (através da nobilização de alguma espécie organizadora de
titulação), que coroasse o “êxito econômico”, sublimando-o e
dignificando-o na escola de prestígio e de valores de uma sociedade
esta mental128.
A partir do momento que a burguesia desenvolve seu comércio no âmbito da
cidade, para serem legitimados e possuírem um status quo dentro da sociedade, os seus
representantes tiveram que se habituar ao modo de viver dos outrora membros da
aristocracia. Por isso que os novos ricos e burgueses “procuraram caricaturar os hábitos
das famílias aristocratas que, vaidosamente, ostentavam os títulos dos avós, barões e
comendadores”129. Um dos fatores que motivaram Pereira Lobo a empreender, com
mais solidez do que seus antecessores à reforma urbana de Aracaju, poderia ser, devido
ao próprio, ter vivenciado a atmosfera das transformações urbanas do Rio de Janeiro,
quando ele exerceu o primeiro mandato de Senador da República entre 1914-1918.
Lobo também conheceu personagens da política e da elite sergipana, a exemplo do
Barão da Estância130, durante sua juventude, uma vez que seu pai havia sido um aliado
desse aristocrata e membro do Partido Liberal, ao mesmo tempo, sua formação militar
de engenheiro no âmbito das obras do exército, o ajudaria a pensar no processo de
remodelação em Aracaju anos mais tarde, mais precisamente em abril de 1919, quando
foi dada a ordem para a reforma da capital, o jornal O Imparcial noticiou esse momento
como veremos no texto a seguir:
128
Idem.
Idem.
130
De acordo com “[...] Antonio Dias Coelho e Mello nasceu nos idos de 1822, na Freguesia de Nossa
Senhora d’Ajuda de Itaporanga, e faleceu a 5 de abril de 1904, em São Cristóvão, aos 82 anos. [...] o
Barão da Estância não era estanciano. O termo que especifica o seu título está relacionado ao engenho
Escurial (São Cristóvão), um dos itinerários da visita de D. Pedro II a Sergipe, transcorrida entre 11 e 21
de janeiro de 1860. Alguns anos mais tarde, o imperador homenageou o proprietário da bela estância
(fazenda), concedendo-lhe o título de barão, em 1867. Filho “legítimo” do Cel. Domingos Dias Coelho e
Mello (Barão de Itaporanga) e Maria Michaella Coelho Dantas e Mello, o Barão da Estância foi um
destacado político sergipano durante o Império. Chefe do Partido Liberal, desde 1863, foi Juiz de Paz e
Vereador Presidente da Câmara Municipal da vila de Itaporanga d’Ajuda; Deputado e Presidente em
várias legislaturas da Assembleia Provincial; Vice-Presidente da Província, chegando a governá-la entre
junho e julho de 1863, fevereiro e junho de 1864 e de janeiro a fevereiro de 1886; Deputado Geral por
três legislaturas e Senador do Império, nomeado por Carta Imperial, de 1885. Ostentava, além do título de
Barão, as comendas da Ordem de Christo e da Ordem da Rosa.” Ver em: ALBUQUERQUE, Samuel
Barros de Medeiros. Antônio Dias Coelho e Mello, o Barão da Estância. In: Revista do Instituto
Histórico e Geográfico de Sergipe, Aracaju, v. 34, 2005a, p. 103-108.
129
62
Foi approvado pelo Presidente do Estado o plano de melhoramentos
urgente e imprescindíveis de que carece a nossa urbs e que o dr.
Director de Obras lhe apresentou em longo e minucioso relatorio.
Avulta sobre todas as obras projectadas, o calçamento e drenagem das
ruas principaes desta capital. Vamos, pois, ter a avenida, Barão do Rio
Branco remodelada e melhor ainda ficaria, se fosse possível alonga-la
até Chica Chaves131.
Entre os jornais aracajuanos que circulavam na época, O Imparcial foi o único a
noticiar a ordem de remodelação, pois seu dono era partidário do Governo. Meses mais
tarde há um rompimento entre eles, e o jornal passa a atacar Pereira Lobo. A partir desse
momento o Correio de Aracaju e mais tarde o Sergipe Jornal passaram a redigir
matérias em apoio ao Governo. Uma das primeiras tarefas do Presidente, no que se
refere à modernização e urbanização de Aracaju, foi justamente a remodelação das
ruas132. O próprio Pereira Lobo ressaltou a importância de calçar as ruas de Aracaju, no
entanto ele também apontou alguns problemas iniciais, como a falta de pedreiras
próximas a cidade que pudesse garantir o fornecimento de pedras e outros materiais
para realizarem as devidas melhorias, o que ocasionou um certo atraso nas obras,
contudo o alargamento e o calçamento foram iniciados com determinada urgência.
A remodelação das ruas da capital sergipana era importante, pois assim como
outras capitais que foram construídas sobre alagadiços e mangues, havia a presença de
águas estagnadas e essa situação era vista como “causa principal de insalubridade”133.
No que se refere ao arruamento e calçamento de Aracaju, o Código de Postura de 1912
na seção 1ª, capítulo IV, artigo 17 dizia que “Todas as ruas e avenidas que forem abertas
no perímetro da cidade, terão a largura de 13 m, 20(m), as primeiras, de 26m, 40(m), as
segundas”134. Através desse documento, vamos perceber que o traçado urbano seguia
normas para a sua composição ou remodelação. Ao mesmo tempo, o Código de Postura
foi um regulador da vida social da cidade. Sobre o calçamento, as Posturas de 1926135
diziam no artigo 27 que: “O calçamento das ruas, avenidas e praças bem como o aterro
das estradas, deverão obedecer ás regras modernas adoptadas – afim de que
131
o
O IMPARCIAL. A reforma da nossa capital. 03 abr. 1919, Ano I, n. 177, p. 2.
SERGIPE. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa em 07 de setembro de 1919, ao
instalar-se a 1ª sessão ordinária da 14ª Legislatura, pelo Coronel Dr. José Joaquim Pereira Lobo,
Presidente do Estado. Aracaju: Imprensa Oficial, 1919, p. 82.
133
SANTOS, Fabrícia de Oliveira. Op. Cit., p. 15.
134
CÓDIGO de Posturas da Cidade de Aracaju. Aprovado pela Lei do Conselho Municipal nº 112 de
16 de abril de 1912. Aracaju: Tipographia do Estado de Sergipe, 1912. p. 11.
135
Os Códigos de Postura de 1912 foram substituídos pelos de 1926, porém de acordo com Santos (2007)
eles possuíam a mesma estrutura, somente os capítulos sobre higienização e atuação dos médicos
diminuíram.
132
63
escoamento das águas pluviaes se dê com efficiencia”136. O Código não explica quais
eram as técnicas utilizadas para que o calçamento das ruas não acumulassem águas
provenientes das chuvas, pois elas poderiam transmitir as doenças já mencionadas nesse
trabalho. Na imagem abaixo, podemos ver uma das principais avenidas de Aracaju em
obras. Percebe-se que não é apenas a rua que está sendo remodelada, mas as calçadas
das casas também.
Figura 05 – Avenida Barão de Maruim em fase de melhoramentos, 1920
Fonte: Acervo Fotográfico do Arquivo Público Municipal de Aracaju – APA.
Observemos na imagem, que ao fundo há pequenos montes de areia ou terra,
entre outros materiais, que serão usados para realizar o calçamento da rua e para
construir as calçadas e ajudar na pavimentação da cidade. Com o início dessas obras, o
jornal Correio de Aracaju noticiou que alguns proprietários de comércios, pediram a
isenção da taxa cobrada a eles pelas obras executadas através da Presidência do Estado,
em parceria com a Intendência Municipal. De acordo com os periódicos, eles alegaram
que a rua era um bem público e que não poderia ser cobrada taxa alguma pelos seus
melhoramentos. Em resposta, o jornal publicou uma nota enfatizando:
Com effeito, a rua é como elles allegam, e desde a mais remota
antiguidade, considerada um bem publico de utilidade geral; mas,
desde a mais remota antiguidade também, rua é considerada por igual
um bem que interessa geralmente á comunidade e especialmente aos
prédios marginaes. E é justamente em razão da existência desse
interesse especial que têm os proprietários dos prédios e terrenos
136
CÓDIGO de Posturas da Cidade de Aracaju. Aprovado pela Lei do Conselho Municipal nº 338 de 6
de setembro de 1926. Aracaju: Regina, 1927, p. 8.
64
marginaes, é em razão disso que, entre o imposto e a taxa
propriamente ditos, vai surgindo uma nova categoria de contribuições
sociaes, denominadas bettuments taxes, na Inglaterra, e special
assements, nos Estados Unidos, contribuições destinadas a cobrir
despezas de certas obras publicas ou melhoramentos que redundam
em vantagem especial de uma determinada classe de pessoas137.
Durante as reformas urbanas em Aracaju, o Decreto de número 238, de 18 de
julho de 1919, foi promulgado pelo intendente municipal Dr. Antônio Baptista
Bittencourt, onde destinava dois terços da renda do imposto e um terço da contribuição
especial exigida aos proprietários138.
No entanto alguns comerciantes insatisfeitos com a lei procuraram protelar essa
contribuição junto à Intendência e a Câmara Municipal, todavia não obtiveram sucesso.
O jornal ainda ressaltou que na “Inglaterra e na França vigoram aquelles mesmos
princípios, e é intuitivo que também aqui devam elles vigorar”139.
Percebamos mais uma vez a presença de elementos europeus para definirem as
leis que arrecadaram subsídios para as reformas. O calçamento das ruas vai se
intensificando, mesmo com as constantes reclamações de alguns comerciantes com
relação aos custos das obras.
A imagem seguinte (Figura 06) mostra uma das praças principais da cidade que
passou por reformas significativas durante o período que estamos vendo. Trata-se da
antiga Praça Benjamin Constant, onde está localizada a Catedral Diocesana de
Aracaju140.
137
CORREIO de Aracajú. Um luminoso exemplo para muitos Estados. Aracaju, 9 jun. 1920, Ano XIII,
n. 2.893, p. 1.
138
. Calçamento da cidade. Aracaju, 16 jun. 1920, Ano XIII, n. 2.898.
139
Idem.
140
Em 1910 é criada a Diocese de Aracaju que ao separar-se da Arquidiocese de São Salvador da Bahia,
tornou-se o primeiro Bispado de Sergipe, tendo como seu bispo Dom José Thomas Gomes da Silva.
Tornou-se Arquidiocese em 1960, quando foram criadas as dioceses de Estância e Propriá. Ver em:
ANDRADE JÚNIOR, Péricles Morais de. Sob o olhar diligente do pastor: a Igreja Católica em Sergipe.
São Cristóvão: UFS, 2010.
65
Figura 06 – Praça Benjamin Constant, atual Praça Olímpio Campos ou da
Catedral, 1921
Fonte: Acervo Fotográfico do Arquivo Público Municipal de Aracaju – APA.
Através da fotografia, veremos três elementos que caracterizaram as cidades
como instrumento de dominação, desde o período Colonial, e que persistiram nas
construções urbanas durante o Império. Estamos nos referindo a presença dos poderes
político, religioso e jurídico presentes na antiga Praça Benjamin Constant, atualmente
chamada de Praça Olímpio Campos. Esses três órgãos de poder representam a busca
pela legitimidade em um espaço privilegiado, pois a praça possuiu importância no
surgimento dos núcleos citadinos como nos mostra Holanda:
A construção da cidade começaria sempre pela chamada praça maior.
Quando em costa ao mar, essa praça ficaria no lugar e desembarque
do porto; quando em zona mediterrânea, ao centro da povoação. A
forma da praça seria a de um quadrilátero, cuja largura correspondesse
pelo menos a dois terços do comprimento, de modo que, em dias de
festa, nelas pudessem correr cavalos [...]. A praça servia de base para
o traçado das ruas: as quatro principais sairiam do centro de cada face
da praça. De cada ângulo sairiam mais duas, havendo o cuidado de
que os quatro ângulos olhassem para os quatro ventos141.
A construção de Aracaju assemelha-se ao modelo de cidade difundido pelos
ibéricos, eles erguiam suas urbes tendo como ponto principal uma grande praça que
deveria ser arquitetada próxima ao mar, caso o local escolhido ficasse próximo à costa.
141
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p.
97.
66
A capital sergipana, por ter saída para o oceano através do Rio Sergipe, teve sua praça
principal construída em suas margens. Na verdade, foram feitas três praças que
atualmente são nomeadas como: Praça Fausto Cardoso (a mais próxima ao rio), Praça
Almirante Barroso e a Praça Olímpio Campos (a maior), uma interligando a outra. Mas,
a praça em questão é a que foi reproduzida na imagem. No seu lado esquerdo, veremos
a catedral diocesana; ao fundo, o Palácio da Relação, representando o Poder Judiciário;
do lado esquerdo e ainda em obras, o Palácio Inácio Barbosa, sede do poder municipal,
a partir de 1923.
Dentre as ruas e avenidas que ganharam destaque, durante a reforma urbana de
Pereira Lobo, a Avenida Rio Branco chamou a atenção da população aracajuana. Nesse
local¸ às margens do Rio Sergipe, foi construído um “cais de proteção, com balaustrada
e passeio em grande extensão da Avenida Ivo do Prado, e também da Avenida Rio
Branco”142. O próprio Pereira Lobo, em mensagem à Assembleia Legislativa elucida a
importância de Aracaju possuir uma avenida bela e charmosa, no momento em que ela
passa por um momento de remodelação urbana:
Os trabalhos de remodelação e embellezamento da avenida Barão do
Rio Branco vão bastantes adiantados. Aracajú, como capital de um
Estado que se desenvolve, não podia, por mais tempo, conservar a
praia desforme que possuía, sem hygiene e sem regularidade. Assim é
que auctorixei a Directoria de Obras a emprehender a construcção do
caes de saneamento e protecção, acompanhando as bellas curvas do
rio Cotinguiba. Essa construção, que já attinge a mil metros, segue o
projecto de melhoramentos da avenida Barão do Rio Branco,
confeccionando pela Directoria de Obras e approvado pelo governo. O
caes em construção, alem de sanear a margem do rio, fazendo com
que as suas águas lhe estejam em contacto e eliminando os detrictos
que se aglomeram nas praias, embelleza-a e protege o grande aterro
necessário á avenida143.
Nas reformas urbanas das cidades brasileiras, houve a importância de grandes e
largas avenidas serem “rasgadas” nas entranhas das urbes, realizando assim, uma
compilação das transformações capitaneadas por Haussmann em Paris. Em Aracaju, tais
situações foram realizadas de acordo com suas condições, ou seja, devido às suas
proporções urbanas, ao tamanho da cidade. No entanto, a necessidade de construir
grandes avenidas na capital de Sergipe já havia sido defendida, ou até mesmo ampliá-las
142
WYNNE, José Pires. História de Sergipe (1575-1930). Rio de Janeiro: Ponguetti, 1970, p. 426.
SERGIPE. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa em 07 de setembro de 1919, ao
instalar-se a 1ª sessão ordinária da 14ª Legislatura, pelo Coronel Dr. José Joaquim Pereira Lobo,
Presidente do Estado. Aracaju: Imprensa Oficial, 1919, p. 78.
143
67
e unir avenidas a outras, como vimos na matéria do jornal O Imparcial sobre a
remodelação da cidade, onde havia um trecho em que opinava pelo alongamento da
Avenida Rio Branco com a Chica Chaves após sua remodelação. A referida avenida é
representada na imagem a seguir.
Figura 07 – Avenida Barão do Rio Branco, S/D
Fonte: Acervo Fotográfico da Biblioteca Pública Epifânio Dória .
Ao vermos a imagem (Figura 08), percebemos de fato o embelezamento referido
por Wynne, a avenida de fato era ampla e, ao mesmo tempo, possuidora de algumas
árvores e canteiros. Vemos mais uma vez, a necessidade em arborizar e criar jardins na
cidades. Além de embelezar, torna o ambiente propício para a circulação de pessoas que
realizavam seus passeios à beira do rio Sergipe. A Avenida Barão do Rio Branco,
segundo Porto144, foi a primeira a ser pensada pelo Engenheiro Pirro. Sua primeira
denominação foi Rua da Aurora, por dois motivos: o primeiro, por receber o sol
nascente todas as manhãs; e o segundo, em alusão a uma rua no Recife que recebe o
mesmo nome e os raios solares todas as manhãs. Mas era comumente chamada como
Rua da Frente, “por estar na frente de uma cidade voltada para o rio, onde estava o porto
que ela procurava145”. Mudou para o nome atual, em 1912, devido à morte do diplomata
José Maria da Silva Paranhos Júnior, Barão do Rio Branco. Inicialmente, ela foi
pensada para não possuir edificações do Governo, pois Inácio Barbosa desejava usar o
terreno como concessões para aqueles que desejassem residir em Aracaju. Existia em
144
145
PORTO, Fernando de Figueiredo. Alguns nomes antigos de Aracaju. Aracaju: J. Andrade, 2011.
Idem, p. 79.
68
alguns trechos da rua, feiras livres, um comércio diversificado, trapiches, quiosques,
bancos, escritórios de advogados e lojas, além de ter sido a primeira a ter a linda de
bondes de tração animal, todos esses elementos atribuíam à rua uma grande importância
que de acordo com Porto:
Desde seus primórdios até o início dos anos 20, os três primeiros
trechos da Rua da Aurora foram o centro da vida comercial e social do
Aracaju. Por sua localização e pelo sistema de comunicações então
reinante, tudo para ela se encaminhava; lojas teatros, cinemas, bares,
restaurantes, hotéis, pensões, desfiles militares etc., coisas que atraíam
pessoas e que fizeram dela palco de acontecimentos marcantes do
passado. O maior espetáculo encenado na Rua da Frente era, sem
dúvida, a procissão de Bom Jesus dos Navegantes, que, sobre uma
embarcação, percorria o estuário do rio Sergipe, no primeiro dia do
ano146.
Podemos perceber através da assertiva, a importância que a avenida tinha para a
cidade, pois além de possuir uma quantidade simbólica de serviços, dava-se para assistir
uma das principais celebrações da Aracaju que se modernizava. Além disso, a Rio
Branco também possuía bonitas residências pertencentes a comerciantes, funcionários
do alto escalão do Governo e de políticos. O próprio Pereira Lobo vai residir, em 1919,
no número 67 daquela avenida.
O Presidente Pereira “preparando a cidade para as festas de 1920, desapropriou e
demoliu os quiosques, as lojas e até o Trapiche Oliveira147” presentes na Avenida Barão
do Rio Branco, iniciando os trabalhos de melhoramentos da mesma, que consistiu em
construir o cais de proteção da balaustrada, arborização e calçamento. Ao realizar essas
e demais remodelações, surgiram críticas com relação às reformas empreendidas por
Pereira Lobo. Uma dessas críticas foi publicada no Jornal Século XX. De acordo com o
periódico:
[...] como pode embellezar a cidade se esta continuava um viveiro de
mosquitos? Sabemos que há perto de mil contos em cofre público para
hygienizar a cidade. Mas hygienizar como? Construindo um bello caes
e fazendo uma linda avenida na frente da cidade? Desperdício do
dinheiro público com obras superfluas148.
De acordo com o jornal, embelezar a cidade não minimizaria a proliferação de
mosquitos, era um gasto desnecessário realizar tais empreendimentos. No entanto, a
reforma urbana durante o Governo de Pereira Lobo não estava restrita apenas
146
PORTO, Fernando de Figueiredo. Op. Cit., 2011, p. 94.
Ibdem, p. 93
148
SÉCULO XX. Aterro da cidade. Aracaju, 06 jul. 1919, ano I, n. 166, p. 1.
147
a
69
construir novas avenidas, erguer novas edificações ou calçar ruas. O Presidente
procurou apressar o trabalho dos aterros, que deveria realizar, com intuito de abrir novas
ruas, realizar construções e de evitar um surto de endemias na capital, pois Aracaju,
nesse período, era uma cidade dominada pelos pântanos que ainda existiam e era um
entrave para a saúde pública, como também por uma capital que progride de forma
sensível149. Sobre essa questão, o próprio Presidente relata, na mensagem presidencial,
as formas que estão sendo tomadas para diminuírem com as áreas pantanosas de
Aracaju:
Os serviços de saneamento da capital, no que concerne
particularmente aos aterros e drenagem, têm sido por mim
considerados com especial attenção. Um dos principaes serviços de
aterro executados na capital é, sem duvida, o da grande área situada ao
norte da cidade, e onde se acha localizada a Estação da Estrada de
Ferro. Ponto grandemente freqüentado, da maior communicação com
os diversos locaes da cidade, a Estação da Estrada de Ferro, até então
era um dos de mais difficil accesso, principalmente nos tempos
invernosos, pela immensa lagoa que se formava nos terrenos de
apicum, que separam a rua de Japaratuba do bairro Industrial150.
Para realizar os aterros, foi necessário desapropriar casas de palha que ainda
existiam nessas regiões, pois não tinham como atender às exigências prescritas nos
Códigos de Postura, que mesmo no século XX, apresentavam algumas características
similares às que foram utilizadas no século anterior, tais como a construção de casas
com claraboias para tornar o ambiente iluminado e ventilado. Canto e Mello publicou
um livro em 1921 intitulado “Novo Sergipe: depoimento para a verdade histórica sobre
a administração Pereira Lobo”, que apesar de ser uma obra apologética, onde o autor
enaltece o Governo e o seu representante, chegando a comparar as obras de
remodelação de Aracaju com as que ocorreram no Rio de Janeiro de Pereira Passos,
obviamente que dentro de suas proporções. O autor confirma que o Governo de fato
realizou desapropriações:
Por meio de desapropriações, ainda o governo rasgou novas ruas,
regularmente traçadas, largas e bellas avenidas, que vieram substituir
a intricada rêde dos antigos beccos e vielas. Um enorme amontoado de
casa velhas e inhabitaveis, que impediam a ligação da cidade com o
149
SANTOS, Fabrícia de Oliveira. Op. Cit., 1999, p 17.
SERGIPE. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa em 07 de setembro de 1919, ao
instalar-se a 1ª sessão ordinária da 14ª Legislatura, pelo Coronel Dr. José Joaquim Pereira Lobo,
Presidente do Estado. Aracaju: Imprensa Oficial, 1919, p. 79.
150
70
Bairro Industrial, veio abaixo. E, nessa região extensos pântanos
foram drenados e saneados151.
Esse acontecimento, apresentado na citação, de fato assemelha ao processo de
reforma urbana do Rio de Janeiro, no início do século XX, no episódio chamado Bota
Abaixo, onde pobres foram expulsos dos antigos casarões do centro da capital federal e
esses, por sua vez, foram demolidos. Obviamente, por escrever as benesses do
Presidente Pereira Lobo, o autor não procurou especificar para onde foram destinados
os moradores das habitações velhas citadas por ele. Por mais que ele as tenham
especificado como casas desabitadas, é possível que pessoas pobres as utilizassem como
moradias, uma vez que nesse período, Aracaju recebeu um número de migrantes que
saiam de suas cidades, no interior, em busca de novas condições de vida na capital e por
não terem onde se abrigar, faziam desses lugares suas moradias.
O Presidente poderia não ter se preocupado com a moradia dos populares, mas a
residência oficial do governante sergipano passou por intensas transformações em sua
estrutura durante as reformas urbanas de Aracaju. O Palácio do Governo ganhou novos
elementos em sua arquitetura, como por exemplo, estátuas, pinturas nas paredes e
esculturas de bronze. A construção do antigo Palácio Provincial está atrelada à fundação
e edificação de Aracaju. Erguido por ordem do então Presidente da Província, Salvador
Correia de Sá, em 1863, o edifício funcionou como sede do Governo e residência do
Presidente. Os planos iniciais do prédio foram feitos pelos engenheiros que
empreenderam a construção de Aracaju, Francisco Pereira da Silva e Sebastião Pirro, no
entanto o palácio passou por algumas modificações em sua estrutura até sua reforma em
1919. A imagem a seguir (Figura 09) mostra como era o edifício antes das obras de
remodelação, percebamos que a sede do Governo possuía uma singela estrutura que
após as reformas mudará completamente.
151
CANTO E MELLO. Novo Sergipe: depoimento para a verdade histórica sobre a administração de
Pereira Lobo. Rio de Janeiro: Villas Boas, 1921, p. 71.
71
Figura 08 – Palácio do Governo de Sergipe
Fonte: Acervo Fotográfico do Arquivo Público Municipal de Aracaju – APA.
De acordo com a mensagem presidencial, as obras se iniciaram em julho de
1919 e os trabalhos de alvenaria, carpintaria e marcenaria, foram realizados por José
Alcides Leite e Firmino Barreto. Por fim, segundo o documento, as instalações elétricas,
de águas e sanitárias já estavam prontas antes do término completo dos trabalhos de
reforma do palácio, em 1920152. Percebe-se que houve um empenho considerável para
que o centro do poder político sergipano fosse devidamente restaurado, a inserção de
novos elementos no palácio representou também a busca por novos valores
arquitetônicos e artísticos. Lima Neto apresenta com detalhes por qual motivo se deu a
reforma do palácio e a composição completa da equipe que a realizou:
Assumindo o Govêrno do Estado em 24 de outubro de 1918 o Cel. Dr.
José Joaquim Pereira Lôbo tratou de levar avante a remodelação do
velho palácio, a fim de que o mesmo pudesse ficar pronto para as
suntuosas festas que se fizeram em 1920, comemorando a passagem
do primeiro centenário da emancipação política de Sergipe. Não tendo
sido aceita nenhuma proposta, [...] na concorrência pública na
administração antecedente, resolveu o Govêrno trazer a Sergipe uma
equipe de artistas italianos que naquela época se encontrava na Bahia:
Belando Belandi, pintor. Oresti Cercelli; arquiteto e pintor; Bruno
Cercelli, pintor; Oresti Gatti, escultor, fundidor e pintor; Fiori,
fundidor e Frederico Gentil, que trabalhava em serviços de
assentamento153.
152
SERGIPE. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa em 07 de setembro de 1919, ao
instalar-se a 1ª sessão ordinária da 14ª Legislatura, pelo Coronel Dr. José Joaquim Pereira Lobo,
Presidente do Estado. Aracaju: Imprensa Oficial, 1919, p. 77.
153
LIMA NETO, Urbano de Oliveira. O Palácio Olímpio Campos (1855-1964). Revista do Instituto
Histórico e Geográfico de Sergipe, Aracaju, v. XXII, n. 26, 1961, p. 92.
72
A equipe de artistas italianos, que veio para Aracaju com a missão de remodelar
o palácio, se encontrava em Salvador realizando as reformas na cidade, durante o
primeiro mandato de J. J Seabra (1912-1916) no Governo da Bahia, porém esses artistas
participaram também da modernização da capital paulista154, pois naquele momento
“São Paulo era o grande exemplo de cidade brasileira moderna, sobretudo a partir da
segunda década do século”155. Porém, apesar desse exemplo de urbe moderna,
percebemos que as comparações da remodelação de Aracaju eram realizadas tendo o
Rio de Janeiro como exemplo, como atestam os jornais, mensagens presidenciais e
publicações, como a de Canto e Mello. É interessante frisar que os trabalhos dos artistas
não ficaram limitados apenas ao Palácio do Governo e outros prédios públicos.
Algumas residências de particulares abastados também foram remodeladas pela missão
italiana.
Ao checar os relatórios presidenciais do Governo de Pereira Lobo, vamos
encontrar dados que mostram que as obras iniciaram em 1919, porém Belando Belandi
já havia começado a ornamentação externa do palácio em 1918, ainda no mandato de
Manoel Prisciliano de Oliveira Valadão, antecessor e sogro de Lobo. As obras de
remodelação seguiram com rapidez, pois o prazo de conclusão era dois anos. Em meio
às obras, houve um acidente ocorrido na tarde de 10 de maio de 1919 com um dos
operários chamado Estevam Paulino, que de acordo como o jornal O Imparcial foi
“fulminado por uma syncope, cahiu e rolou pela escadaria interior, onde se encontrava
ocupado”156.
De acordo com o periódico o operário foi levado para o Hospital Santa Isabel
com lesões internas e a luxação dos quadris, o que impossibilitou o trabalhador de
retornar à remodelação. O jornal também lançou um pedido a Firmino Barretto,
empreiteiro das obras, que pagasse o trabalhador enquanto ele estivesse impossibilitado,
baseando-se em leis já sancionadas sobre acidentes de trabalho, pois a família de
Estevam poderia passar por necessidades por conta da incapacidade do mesmo157.
Não foram encontradas matérias em edições posteriores, se o pedido foi acatado
ou não pelo empreiteiro. O que se sabe é que as obras continuaram, mesmo com esse
154
FIGUEREDO FILHO, Godofredo Rebello de. A influência do ecletismo na arquitetura baiana. Revista
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, n. 19, 1984, p. 15.
155
PUPPI, Suely de Oliveira Figueirêdo. Profissionais italianos na Salvador. In: VALLE, Arthur. DAZZI,
Camila. Oitocentos: arte brasileira do Império à República. Rio de Janeiro: EDURUFRRJ/DezenoveVinte, 2010. Tomo 2, p. 641.
156
O IMPARCIAL. Nas obras do palacio, deu-se hontem um desastre. Aracaju, 10 de maio de 1919,
Ano I, n. 204, p. 1.
157
. O desastre de sexta-feira nas obras do palacio. Aracaju, 12 maio 1919, Ano I, n. 205, p. 2.
73
acidente, pois em agosto do mesmo ano, o Diretor de Obras, Agricultura, Indústria e
Viação, Dr. Alfredo de Paiva Mello apresentava ao Presidente Pereira Lobo um
relatório, onde informava a conclusão das obras de revestimento das fachadas do
palácio realizadas por Belandi. Ao mesmo tempo, ele mostra que os serviços internos
ainda estão em andamento e mostrou-se insatisfeito com a desproporção de enfeites: ele
acreditava que já possuía muitos. Todo esse trabalho, segundo Paiva Mello158, era “para
que o edifício preenchesse as necessidades de um Palacio”. Lima Neto descreve com
detalhes as vicissitudes das obras de remodelação do Palácio do Governo:
O projeto da reforma externa foi trabalho de Oresti Cercelli, que
segundo Frederico Gentil, se inspirou em um palácio de Florença. As
estátuas da platibanda foram modeladas aqui pelo escultor, também
italiano, Pascoal del Chirico, autor do monumento a Rio Branco na
cidade do Salvador, nesse tempo diretor da Escola de Belas Artes da
Bahia. Estas estátuas foram fundidas por Fiori. As grinaldas, capitéis,
balaústre e demais ornamentos, tanto do exterior, como do interior,
tiveram sua execução a cargo de Belandi e de Gatti. Da Pintura se
encarregou Oresti Cercelli, auxiliado por seu filho Bruno, então
recém-chegado do front na 1ª Guerra Mundial e pelo Gatti, que
produziram magníficos trabalhos159.
No século XIX, durante o Império, na “construção simbólica da figura pública
do imperador D. Pedro II, a representação de seus suntuosos palácios é uma
constante”160 e ao que parece, nos anos iniciais da República não foi diferente, pois
como podemos ver na citação, o palácio passou por um amplo processo de remodelação
com o intuito de tornar o simples prédio de feições neoclássicas em um suntuoso centro
de poder político, que pudesse chamar a atenção das pessoas e que construísse a
imagem dos governantes que por ali passassem. Além desses trabalhos, o prédio passou
por outras obras, como o revestimento da escadaria, oriunda do ano de 1863; os tetos
dos salões principais foram ricamente decorados e ao lado do salão de jantar, terraços
em concreto armado foram erguidos. Percebemos que o edifício além de ter sido
remodelado, teve sua estrutura também modificada, algo que não ocorreu nas duas
reformas que aconteceram antes dessa. Para Lima Neto, o trabalho dos italianos obteve
êxito, pois:
158
SERGIPE. Relatório Apresentado ao Exmº. Sr. Coronel Presidente do Estado pelo Director de
Obras, Agricultura, Industria e Viação. Aracaju: Imprensa Oficial, 1919, p. 25.
159
LIMA NETO, Urbano de Oliveira. Op. Cit., p. 92.
160
SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do imperador: Dom Pedro II, um monarca dos trópicos. 2 ed.
São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 207.
74
O Cercelli conseguiu dar ao velho casarão um belo e majestoso
aspecto que muito melhor teria ficado se possível fosse ter-lhe
aumentado um pouco mais de altura, com o que se teriam melhorado
sensivelmente as proporções. O notável esforço que o autor do projeto
fez nesse sentido levou-o a fazer subir as paredes externas cerca de
quatro metros do nível das bicas. Os italianos realizaram
inegavelmente um grande trabalho161.
Mesmo elogiando o trabalho dos italianos, o autor sugere mudanças em sua
arquitetura, o que não contraria o comentário inicial dele sobre a conquista da missão
italiana na remodelação do Palácio. Vale a pena ressaltar que a denominação “Palácio
Olímpio Campos” foi dada ao edifício através da Lei de nº 575, de 12 de julho de 1954,
durante o mandato de Arnaldo Rollemberg Garcez162. A beleza e a majestade descritas
por Urbano Neto podem ser vistas na imagem a seguir. Nela vemos o após as reformas.
Figura 09 – Palácio do Governo de Sergipe após a remodelação.
Fonte: Governo de Sergipe.
Disponível
em:
<http://www.palacioolimpiocampos.se.gov.br/o-palacio/historia>.
Acesso em: 27 out. 2015.
Ao compararmos a imagem da Figura 09 com sua antecessora, constataremos
que de fato aconteceram grandes mudanças na fisionomia do Palácio, que não foram
apenas simples retoques, mas acréscimos consideráveis que modificaram sua antiga
estrutura neoclássica, transformando-a em uma arquitetura eclética. O ecletismo esteve
presente durante a Belle Époque, principalmente nas reformas urbanas, quando prédios
públicos, residências particulares e monumentos se adequaram ou foram
161
162
LIMA NETO, Urbano de Oliveira. Op. Cit., p. 93.
Idem.
construídos,
75
tendo esse estilo arquitetônico por base. A imagem, também, evidencia de fato a
alteridade do edifício, o quanto os elementos acrescidos a ele retiram-lhe a sua
aparência singela, criando, como já foi dito, as representações e o simbolismo dos
Governadores que por ali passaram. Ainda sobre o ecletismo Tirapeli explica que:
O fim do período imperial foi marcado pelo início do ecletismo, que,
no Brasil, reúne elementos dotados das linhas curvas do barroco,
paredes lisas e ornamentos com o pouco dourado do rococó e colunas
e arcos típicos do estilo neoclássico. O eclético pode ser visto, por
exemplo, nos teatros municipais das cidades de Manaus, São Paulo e
Rio de Janeiro. O emprego de ferro fundido para as estruturas de
construções como o Theatro José de Alencar, em Fortaleza, dos
mercados de Manaus e do Ver-o-Peso, em Belém do Pará, e da
Estação da Luz, em São Paulo, são exemplos significativos daquela
nova maneira industrial de construção civil. As cidades recebem
saneamento básico e reurbanização, à moda dos franceses e italianos.
Aos arquitetos franceses e alemães que aqui atuavam vieram se juntar
os italianos, que passaram a projetar os edifícios construídos pelos
mestres-de-obras, também em sua maioria italianos ou descendentes.
[...] A República proclamada em 1889 adotou o estilo eclético e em
1903 fez a remodelação da capital federal abrindo a Avenida Rio
Branco, como o mais significativo conjunto urbanístico, para dar á
cidade ares da capital francesa. Por todo o país foram construídos
estabelecimentos de ensino, como um programa construtivo de uma
nova nação progressista e positivista163.
O ecletismo pode ser visto como uma fusão de vários elementos de outros
movimentos artísticos, que constituiram os fazeres arquitetônicos durante a Primeira
República e a Belle Époque dos trópicos. Ao mesmo tempo, trazia consigo a inovação
do uso do ferro fundido, que além de se fazer presente nas estruturas, também
ornamentava as residências com os portões e gradis. É perceptível vermos que a
arquitetura eclética foi difundida no Brasil, através de artistas vindos da Europa, o que
mais uma vez nos leva a ver como os ideais de civilização europeus foram apropriados
na edificação da arquitetura que representaria o regime republicano. Diferente do Velho
mundo, onde o “o ecletismo é o estilo próprio de uma modernidade que lida sem
problemas com o passado164”, no Brasil ele foi caracterizado como uma forma de
negação do passado colonial. Mas, “não se pode esquecer que igualmente importante é
o critério de gosto da elite dirigente, que deseja reproduzir no Brasil tipos e modelos
admirados na Europa165”.
163
TIRAPELI, Percival. Arte imperial: do neoclássico ao ecletismo: século 19. São Paulo: Nacional,
2006, p. 31-32.
164
FABRIS, Annateresa. Arquitetura eclética no Brasil: o cenário da modernização. In: Anais do Museu
Paulista, Anais do Museu Paulista, n. 1, v. 1, 1993, p. 134.
165
Ibdem, p. 136.
76
As reformas realizadas, por Pereira Lobo, na capital de Sergipe não ficaram
restritas apenas nas reformas dos prédios públicos ou em calçamento das ruas, os olhos
do Presidente se voltaram para um monumento de relevância histórica para os
aracajuanos, quiçá para os sergipanos: a ponte do Imperador. Monumento construído
para receber a visita do Casal Imperial, Dom Pedro II e Dona Teresa Cristina, em 1860,
ou seja, cinco anos após a transferência da capital. No entanto, não é de fato uma ponte
e sim um atracadouro, que na época da ilustre visita era rude e não possuía as estruturas
que vemos na atualidade. De acordo com Medina:
A Ponte do Imperador, ao longo da sua história, foi submetida a
diversas reformas e conforme o regime político vigente, ela mudava o
seu nome. Chamou-se Ponte do Desembarque, Ponte do Governador,
ponte Metálica ou Ponte do Presidente e, a partir de 1939, por decreto
lei do Interventor Federal Dr. Eronides Carvalho, passou a se chamar
definitivamente Ponte do Imperador II166.
Desde a visita dos monarcas brasileiros até o século XX, a ponte havia passado
por duas reformas. Segundo Medina: uma em 1904 e outra em 1920. Vale ressaltar que
a última reforma foi para as comemorações do centenário da independência de Sergipe,
que foi celebrado com diversas atividades que falaremos mais a frente. Na verdade, a
maioria das obras capitaneadas pelo Presidente Pereira Lobo tiveram justamente essa
finalidade: preparar a cidade de Aracaju para as celebrações da efeméride. Nas
estruturas da ponte, havia a presença de madeira na constituição do material que a
compôs, situação que mudaria após a reforma realizada em 1920. Sobre esse trabalho,
Pereira Lobo fala na mensagem presidencial:
A velha Ponte do Imperador soffreu reformas geraes, tendo sido
substituído o lastro de madeira, que constantemente exigia trabalhos
de reparação, por um lastro de cimento armado, sendo também
reconstruídas as escadas de ferro. Esses trabalhos de reconstrução do
lastro, reforma das escadas e pintura geral, forma contractados em
virtude de concurrencia publica, tendo sido já o contractante pago do
preço do contracto, que foi na importância de 9:848$800. Com a
construcção do novo caes de saneamento e protecção de terras da
avenida Rio Branco, à margem do rio Cotinguiba, verificou-se que o
alinhamento do velho arco da ponte estava afastado para dentro da
praça num extensão de 2m,80. Tal anomalia não podia subsistir ferindo
a esthética. Assim, tendo a Directoria de Obras officiado ao Governo
sobre a conveniência da substituição do referido arco por duas
columnatas artisticas, foi auctorizada a fazer as obras indicadas. Com
essa transformação lucrou a cidade duplamente, não só concorrendo
para a esthética da avenida, como substituindo o velho massiço de
166
MEDINA, Ana Maria Fonseca. Ponte do Imperador. Aracaju: J. Andrade. 1999, p. 27.
77
alvenaria em que se não divisavam os menores traços de estylo
architetonico, por essas columnatas onde a arte vem de par com a
opportunidade historica do Centenario da nossa Independencia
Politica167.
Na reforma de 1920, a ponte ganhou novos elementos em sua arquitetura: a parte
de madeira foi retirada, sendo substituído por um de cimento e ferro, pois o uso desse
último material nas construções era tido como moderno. Outro fator a ser analisado é
que a reforma da ponte do Imperador foi realizada quando estava sendo construído o
novo cais que embelezou a Avenida Rio Branco. Ao final da mensagem, é perceptível a
satisfação do Presidente, quando diz os benefícios que Aracaju teve como os trabalhos
reformistas que estavam acontecendo. Para realizar as obras de restauração da ponte, o
engenheiro Hugo Bozzi foi contratado através de licitação, e nesse momento, foram
acrescentadas à estrutura as estátuas representando os índios nas colunas
do
monumento.
Figura 10 - Estátuas dos índios
Fonte: Acervo fotográfico de Jeferson Augusto da Cruz, 2016.
167
SERGIPE. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa em 07 de setembro de 1919, ao
instalar-se a 1ª sessão ordinária da 14ª Legislatura, pelo Coronel Dr. José Joaquim Pereira Lobo,
Presidente do Estado. Aracaju: Imprensa Oficial, 1919, p. 78.
78
As esculturas dos índios representam os primeiros povos que habitaram o
território sergipano e que foram mortos durante a guerra de colonização. O uso das
estátuas dos indígenas era uma tentativa de construção da identidade nacional, ao
mesmo tempo, uma representação do brasileiro nativo e da identidade sergipana através
da resistência dos índios dizimados na conquista. Podemos observar nos pórticos que
foram colocadas placas com dois anos: 1820, relacionado à independência política de
Sergipe com a Bahia e 1920, ano do centenário desse acontecimento.
Durante o processo da remodelação de Aracaju, o Presidente teve uma audaciosa
ideia, construir um teatro168 com uma estrutura grandiosa “com capacidade para 1.000
pessoas.169” Pereira Lobo relata a intenção de construir o “Theatro São Christóvão” na
mensagem a Assembleia Legislativa em 1920:
Em 1 de Setembro corrente foram recebidas, no Conselho
Administrativo Estadual, proposta para a construcção do Theatro S.
Christóvão, nesta capital. A construção de um theatro moderno em
Aracajú, em face do grande desenvolvimento que se notando em todos
os ramos da nossa actividade, era já uma necessidade palpitante. O
Theatro entre nós não é um edifício que se execute para um limitado
numero de annos. A sua construcção deve attender ao
desenvolvimento da população que se avantaja sensivelmente. O
projecto do nosso theatro é de estylo gothico-arabe, com as
modificações da época actual, especificando accommodações para mil
pessoas170.
A construção do teatro, como enfatizou o Presidente, não seria para curto prazo,
as obras deveriam atender a condição financeira da população que, segundo ele, crescia
de forma satisfatória e sensível. É importante pensar que a população queria um teatro,
uma vez que o cidadão da Belle Époque era aquele que possuía recursos, que estava
ligado aos novos ditames da moda de Paris, que seguia os padrões de higiene e que
pudesse viver de fato a modernidade que as cidades apresentavam. O inverso era o
pobre que residia nas periferias, que possuía trabalho mal remunerado e que talvez não
sabia a importância de um teatro para Aracaju. Através da imagem abaixo, veremos
como foi pensada a estrutura do prédio.
168
Para a construção do teatro, o Governo fez um empréstimo de 1.500:000$000 (mil e quinhentos contos
de réis), por meio de apólice nominativas com juros de 7% ao ano, sendo pego a cada primeiro semestre
de cada ano. Ver: COLLECÇÃO de Leis e Decretos de 1919. Aracaju: Imprensa Official, 1920, p. 266.
169
NUNES, Maria Thétis. Op. Cit., 2008, p. 240.
170
SERGIPE. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa em 07 de setembro de 1920, ao
instalar-se a 2ª sessão ordinária da 14ª Legislatura, pelo Coronel Dr. José Joaquim Pereira Lobo,
Presidente do Estado. Aracaju: Imprensa Oficial, 1920, p. 84.
79
Figura 11 - Projeto do Theatro S. Christóvão
Fonte: SILVA, Clodomir. Álbum de Sergipe. Aracaju: Imprensa Oficial, 1920, p. 161.
A construção de um teatro moderno atendia ao desejo da elite burguesa e dos
antigos representantes da aristocracia sergipana, que gostariam de vivenciar um
ambiente cosmopolita regado a atrações culturais nacionais ou estrangeiras,
principalmente europeia. A construção de teatros foi mais um fator que vigorou durante
as reformas urbanas. Aracaju não queria seguir apenas o exemplo do Rio de Janeiro
(Teatro Municipal), mas também o de Belém (Teatro da Paz), Manaus (Teatro
Amazonas), Natal (Teatro Alberto Maranhão), Salvador (Teatro Castro Alves), Recife
(Teatro Santa Isabel) e Fortaleza (Teatro José de Alencar), pois era o lugar requerido
pela elite para o desfrute pessoal.
Sobre a construção do teatro, a edição do dia 04 de julho do jornal Correio de
Aracaju publicou uma matéria falando da intenção do Presidente em edificar um
monumento grandioso, dirigido ao engenheiro recém chegado do Rio de Janeiro, Bruno
Sercelli:
O exmo sr. dr. Pereira Lobo, sem favor, o mais operoso dos últimos
presidentes de Sergipe resolve tomar ao hombros o patriotico encargo
da construcção de um theatro moderno. E Sercelli se não faz esperar
com a exposição de uma planta e respectiva maquette, numa das ruas
mais publicas de nossa capital171.
No entanto, mesmo com o desejo dos estratos mais abastados da sociedade
aracajuana e a empolgação do Presidente, a construção do teatro não saiu do papel, nem
de sua maquete feita por Bruno Cercelli, pois “as dificuldades financeiras que começam
a surgir em Sergipe, fizeram que esse teatro ficasse apenas no projeto largamente
CORREIO de Aracajú. Projecto para a construcção do theatro “S. Christóvão” nesta capital.
Aracaju, 04 jul. 1920, Ano XIII, n. 2.910, p. 2.
171
80
divulgado. Livrou-se desse modo, Sergipe, de ver erguido um edifício característico de
uma época de esnobismo”172.
A reforma urbana de Aracaju, no Governo de Pereira Lobo, ganhou destaque nos
jornais de Sergipe. Segundo mostra o Correio de Aracaju, em um artigo datado em 25
de setembro de 1920, intitulado A Capital de Sergipe, o embelezamento da capital só
poderia ser empreendido por “um homem adiantado como é s. ex. o sr. dr. Pereira
Lôbo”. O periódico173 enfatizou:
Traçando-se, como se traçara s. ex., o programma de remodelar a
capital, aformoseando-a e hygienisando-a tanto quanto possível tanto
quanto possível dentro dos recursos Estado, s. ex. com esses sós
recursos tem já empreendido executado uma obra collossal, que ahi
está patente aos olhos pasmos e jubilosos dos sergipanos. A modéstia
relativa dessa obra si a quizessemos comparar com as que realisaram
Haussmann, em Paris; Lauro Muller, Pereira Passos e Paulo Frontin,
no Rio – O que é impossível – transforma-se, todavia, em grandeza
admirável quando a consideramos em face dos diminutos recursos
com que s. ex. o dr. Pereira Lôbo a emprehendeu e a realizou.
Através do texto jornalístico, podemos perceber que as comparações com as
reformas empreendidas em Paris e no Rio foram feitas na reforma de Aracaju, no
entanto, diferente das primeiras, onde havia recursos maiores, os trabalhos de
embelezamento da capital de Sergipe foram de acordo com seu tamanho e necessidade,
porém carregados de uma grande importância, pois depois de mais meio século, a
cidade passava por um processo de embelezamento que a levaria para a tão desejada
modernidade.
É importante destacar, que assim como nas reformas urbanas de Salvador, já
mostradas nesse trabalho, em que houve uma parceria entre os Governos Municipal,
Estadual e Federal, onde cada um realizou trabalhos em diferentes lugares da capital
baiana, em Aracaju não foi diferente. Podemos perceber que houve uma parceria entre
essas esferas, através das matérias publicadas na imprensa. Os jornais possuem na sua
escrita, o que Ginzburg chama de indícios e que necessitam de “um método
interpretativo centrado sobre os resíduos, sobre os dados marginais, considerados
reveladores” 174.
Através dos indícios deixados pelos jornais, podemos constatar que houve uma
parceria entre as esferas do Poder Executivo Municipal, Estadual e Federal para que a
172
NUNES, Maria Thétis. Op. Cit., 2008, p. 242.
CORREIO de Aracajú. A capital de Sergipe. Aracaju, 25 set. 1920, Ano XIII, n. 2.969, p. 1.
174
GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo: Companhia das
Letras, 1989.
173
81
remodelação de Aracaju fosse realizada. Obviamente que os recursos obtidos pela
Intendência partiram das finanças estaduais, pois o intuito do Presidente Pereira Lobo
era de dividir as funções com o intendente Antônio Batista Bittencourt e juntos
galgarem os elogios dos aracajuanos.
Por isso, podemos afirmar quais foram as funções de cada um, baseando-se nos
indícios deixados pelos jornais. Coube à Intendência realizar a reforma de algumas
praças e jardins públicos, a exemplo do localizado na Praça Fausto Cardoso, o
calçamento das ruas e a manutenção da limpeza pública que, de acordo com o jornal
Correio de Aracajú, este último serviço era “necessario á hygiene publica e á saude da
população”175. Ao Estado coube a reforma dos monumentos e prédios públicos, como
também o aterro das áreas pantanosas e o combate às epidemias, que castigavam a
capital e o interior. E a União? Quais as incumbências do Governo Federal no processo
de remodelação e na modernização de Aracaju? Assim como Salvador, coube ao
Executivo Federal realizar as obras do porto da capital sergipana, como nos mostra o
jornal Diário da Manhã176:
[...] é preciso não esquecer que, parte que é das obras do porto de
Aracajú, a construção do caes de que tratamos está na alçada do
governo federal, que já tinha começado a levantal o, suspendendo os
trabalhos, depois de preparados cerca de cem metros, por causa da
grande crise produzida pela guerra.
De acordo com a matéria publicada no jornal, as obras do porto já haviam sido
iniciadas pelo Governo Federal, porém com o deflagrar da Primeira Guerra e a crise que
a sucedeu, as reformas foram interrompidas e postergadas para outro momento. O jornal
iniciou essa matéria, fazendo uma crítica à decisão da Presidência do Estado em
substituir a União no comando das obras do porto, devido ao atraso para concluir as
obras, porém o jornal diz que naquele momento o Governo de Sergipe deveria pensar
nas condições sanitárias de Aracaju, que eram motivos de reclamações pela população,
pois por mais que o Presidente estivesse empreendendo uma luta contra as doenças, que
constantemente vitimavam a capital, tais esforços não foram o bastante para erradicar os
focos das doenças já mencionadas. Mesmo assim, as obras de remodelação continuaram
e pouco a pouco, Aracaju deixava as feições do século XIX e o Tabuleiro de Pirro
ganhava mais notoriedade durante as obras. A planta abaixo mostra o como ele ficou.
175
CORREIO de Aracajú. A obra patriotica do Intendente de Aracajú. Aracaju, 25 abr. 1920, Ano
XIII, n. 2.860. p. 1.
176
DIÁRIO da Manhã. Obra de Saneamento. Aracaju, 27 jul. 1919, Ano IX, n. 2.377, p. 1.
82
Figura 12 – O Tabuleiro de Pirro, algumas repartições públicas e a Sé
católica
Fonte: BARBOZA, Naide. Em busca de imagens perdidas: centro histórico de Aracaju (19001940). Aracaju: Fundação Cultural Cidade de Aracaju, 1992, p. 38.
Podemos observar o tabuleiro de Pirro e sua configuração, após a reforma Essa
parte da cidade recebeu uma grande importância, pois como podemos ver, lá estavam
localizados os poderes político e religioso do Estado de Sergipe. Foi nesse local que
Aracaju começou a dar seus primeiros passos como capital e também onde diversos
acontecimentos importantes da história sergipana transcorreram. Percebamos que os
poderes religioso, judiciário, legislativo, executivo estão todos centralizados no
Tabuleiro de Pirro, uma representação da união dessas instituições. Lembramos que a
remodelação da cidade, apresentada pelo Cel. José Joaquim Pereira Lobo, tinha uma
finalidade: além de inserir a capital no progresso e na modernidade, revesti-la para as
celebrações do centenário da independência política de Sergipe, assunto que trataremos
nas próximas páginas.
83
2.2 - “Que a Sergipe Honra e Decora”: Celebrações do Centenário da
Independência do Estado
No ano de 1920 foi comemorado pelos sergipanos, o ano do centenário da
independência política177. Há muito tempo esses festejos foram aguardados pela
população e por seus políticos, que desejavam realizar diversas inaugurações e enfim
apresentar a cidade de Aracaju depois das reformas feitas por Pereira Lobo. De acordo
com Nunes:
Aracaju, com seus 37.444 habitantes comemorou festivamente o
centenário da emancipação política de Sergipe da Capitania da Bahia
por carta Régia de D. João VI, de 8 de julho de 1820. Entre as
atividades realizadas, destacou-se a publicação do Álbum de Sergipe,
valioso documentário da História de Sergipe organizado por Clodomir
Silva. Também foram transladados de Recife os restos mortais de
Tobias Barreto, sendo depositados no monumento da praça que leva
seu nome178.
A carta que emancipava Sergipe do julgo baiano, como mostra a autora, foi
assinada em 8 de julho de 1820. Logo, as festas comemorativas deveriam ocorrer nessa
data todos os anos, no entanto devido a uma confusão historiográfica que segundo
Nunes179, ninguém sabe como e quando começou a tradição de comemorar a
independência do Estado no dia 24 de outubro, e foi de fato nessa data que as
comemorações da efeméride aconteceram.
O Jornal Correio de Aracaju180 relatou algumas das atividades que foram
realizadas durante as celebrações do centenário, por exemplo, no dia 23 de outubro
ocorreu a Inauguração da Exposição-Feira e produtos indígenas, na qual se fizeram presentes
todos os municípios de Sergipe. Também ocorreram festejos populares nas praças Pinheiro
Machado e da Estrada de Ferro, com cinema ao ar livre, fogos de artifício e concertos
públicos executados por bandas de música.
Para além do campo político, pensar nas celebrações do centenário da
emancipação política de Sergipe foi também uma tarefa de instituições culturais e
177
Para a realização das festividades do centenário da Independência de Sergipe, a Presidência do Estado
solicitou junto a Assembleia Legislativa um empréstimo no valor de 150:000$000 (cinquenta contos de
réis). Diferente do que foi feito para a construção do teatro, o decreto promulgado pelo desembargador
Simeão Telles de Menezes Sobral, Presidente do Legislativo Estadual, não esclarece como será pago o
empréstimo para as festas da emancipação. Ver em: COLEÇÕES de Leis e Decretos de 1920. Aracaju:
Imprensa Official, 1921, p. 12.
178
NUNES, Maria Thétis. Op. Cit., 2008, p. 241.
179
NUNES, Maria Thétis. Qual o significado do 24 de outubro?. Revista do Instituto Histórico e
Geográfico de Sergipe, v. 1, n. 27. Aracaju: IHGSE, 1965.
180
CORREIO de Aracajú. Aracaju, 21 set. 1921, Ano XIV, n. 2.994.
84
intelectuais, por isso que o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe se somou ao
Presidente do Estado, a fim de que fosse criada uma comissão composta por sócios do
Instituto, membros do Governo, da Intendência e do clero, para pensarem na
programação da efeméride. Podemos ver a referida comissão na fotografia que segue.
Figura 13 – Comissão Executiva das festas do 1º Centenário da Emancipação
Política de Sergipe, 1919
Fonte: Revista do IHGSE, n. 9, 1920, p. 42.
A comissão representada da imagem foi formada na primeira sessão
extraordinária do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, no dia 09 de fevereiro de
1919, na presença dos sócios da Casa de Sergipe, do Presidente do Estado, do Bispo de
Aracaju, representantes do Governador de Mato Grosso e do Ministro da Marinha,
autoridades civis e algumas senhoras e senhoritas. O seleto grupo era composto pelos
seguintes membros:
Coronel dr. José Joaquim Pereira Lôbo, presidente; dr. Alvaro Fontes
da Silva, secretario geral; coronel José da Silva Ribeiro, thesoureiro;
d. José Thomaz Gomes da Silva, dr. Deodato da Silva Maia,
desembargador Evangelino de Faro, desembargador Antônio Teixeira
Fontes, major Manoel Joaquim Pereira Lôbo; dr. Antônio Baptista
Bittencourt, dr. Gentil Tavares da Motta e dr. Luiz José da Costa
Filho181.
A primeira reunião realizou-se no salão nobre do Palácio do Governo, no dia 16
de abril de 1919, e contou com a presença de todos os membros e com uma assembleia
181
REVISTA do IHGSE. Acta da primeira sessão extraordinária do anno de 1919. n. 9, 1920, p. 17.
85
de intelectuais, magistrados, funcionários do Governo, membros do clero e da sociedade
civil. A pauta da reunião centrou-se no que deveria ser as celebrações do centenário. A
programação do evento abrangeu os seguintes pontos: A) Traslado dos restos mortais do
intelectual sergipano Tobias Barreto; B) Distribuição das medalhas de bronze, como
lembrança das do 1º centenário de emancipação política de Sergipe; C) Pedido de
colaboração aos intelectuais sergipanos, residentes ou não no Estado, com a escrita de
artigos sobre o centenário e que seriam publicados posteriormente na Revista do
IHGSE; D) Exposição dos produtos industriais sergipanos; E) Confecção da Bandeira
Oficial de Sergipe; F) Aumento do número dos membros da comissão; G) Publicar o
Álbum Ilustrado de Sergipe e por fim, os pontos mais controversos da reunião: H)
Definição da carta geográfica do Estado e I) Mudança da data do centenário182.
A carta geográfica de Sergipe, colocada no ponto de pauta da reunião referia-se
aos limites entre o Estado e a sua vizinha Bahia. Se retornarmos ao Mapa da Figura 04
(Página 55) veremos que a oeste, há uma parte do território que foi contestado pelo
Estado vizinho e que pertencia aos sergipanos. Esse problema persistia desde o século
XIX ainda no Império, principalmente nos limites do município de Simão Dias, que
teve uma parte do seu território anexado à Província da Bahia. A situação piorou em
1864, quando “o município de Coité foi deslocado para a jurisdição da Bahia183”. Os
Presidentes da Província começaram a externar suas insatisfações nas mensagens
presidenciais, porém foi em vão e o caso adentrou a República.
Os intelectuais do IHGSE, a exemplo de Manoel dos Passos Oliveira Telles,
Francisco A. de Carvalho Lima Júnior, Elias Montalvão e Ivo do Prado, desde 1913
estiveram envolvidos em pesquisas, análises documentais e viagens aos limites do
Estado, com intuito de aprofundarem o debate e para que pudessem solucionar essa
questão que incomodava ambos os governantes da Bahia e Sergipe, quanto sua
população. Além de todas as atividades mencionadas Ivo do Prado, em companhia de
Manoel dos Passos Oliveira Telles, se destacaram quando participaram do VI
Congresso de Geografia em Belo Horizonte184. Prado foi nomeado Delegado do Estado
e agiu com competência e brilhantismo. Mas, o problema estava longe de
182
ser
REVISTA do IHGSE. Acta da 1ª reunião da Commissão Executiva do centenario da emancipação
política de Sergipe. n. 9, 1920, p. 19.
183
DANTAS, José Ibarê Costa. História da Casa de Sergipe: os 100 anos do IHGSE (1912-2012). São
Cristóvão: UFS; Aracaju: IHGSE, 2012, p. 73.
184
O Presidente Pereira Lobo mencionou a participação de ambos na mensagem de 1919. Ver: SERGIPE.
Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa em 07 de setembro de 1919, ao instalar-se a 1ª
sessão ordinária da 14ª Legislatura, pelo Coronel Dr. José Joaquim Pereira Lobo, Presidente do
Estado. Aracaju: Imprensa Oficial, 1919, p. 7-8.
86
solucionado, com isso, o “Ministério da Justiça agendou outro Congresso Interestadual
em Ouro Preto, em 1920, com a presença do Presidente da República, mas não houve
solução185.” Segundo Dantas:
Nas comemorações do centenário de emancipação política de Sergipe,
em 1920, quando o governante da Bahia J.J. Seabra, compareceu às
festividades em Aracaju, o presidente do Estado de Sergipe, J.J.
Pereira Lobo, tratou do assunto e propôs uma espécie de “convênio”
na busca de uma solução amistosa. O documento foi firmado pelos
dois chefes do Executivo, que combinaram então escolher um árbitro
para decidir a questão. Contudo, no momento de entrega dos papéis, a
Bahia recusou o arbitramento e tudo voltou ao ponto zero. Mas os
intelectuais de Sergipe não desistiram e continuaram estudando e
debatendo o tema. Em 1920, saiu o estudo de mais um sócio do
IHGSE, Pereira Barreto, mas pouco acrescentou à temática. O impasse
persistiu com a intransigência da Bahia. Os sergipanos amenizaram
sua reivindicação da grande parte do território que hoje pertence à
Bahia, mas os avanços sobre a área de Simão Dias persistiram
secularmente186.
Com a presença do governante baiano nas comemorações do centenário de
emancipação política, surgiu uma esperança para que pudessem solucionar a questão
territorial, mas não foi o que aconteceu como mostra a citação. No entanto, o mérito foi
para os intelectuais da Casa de Sergipe, que com afinco, se debruçaram sobre pesquisas
que ajudaram a compreender a formação territorial do Estado, como também “à
construção da memória e da identidade dos sergipanos187”, porém o governante baiano
não cumpriu o acordo e a questão persiste até os dias atuais.
O outro ponto que foi amplamente discutido durante a reunião foi exposto pelo
Presidente do IHGSE, Manoel Caldas Barreto Netto, que na comissão havia sido
indicado para o cargo de Vice-Presidente. Ele defendeu que a data das comemorações
deveria ser o 08 de julho, data do Decreto assinado por Dom João VI, separando
Sergipe da Província da Bahia188. Porém, a ideia não agradou ao autoritário Presidente
Pereira Lobo como nos mostra Dantas:
Dois meses depois, na primeira reunião daquele grupo, o presidente do
Estado, J. J Pereira Lobo, cioso de suas prerrogativas, decidiu que o
governo comemoraria em 24 de outubro, uma data de festas
tradicionais, quando se supunha que teria chegado em Sergipe a
185
DANTAS, José Ibarê Costa. Op. Cit., 2012, p. 76.
Ibdem, p. 77.
187
Idem.
188
REVISTA DO IHGSE. Acta da 1ª reunião da Commissão Executiva do Centenario da
Emancipação Política de Sergipe. n. 9, 1920, p. 20.
186
87
notícia da emancipação. Apesar do mal estar gerado, assim
transcorreu as comemorações189.
Munindo-se do seu autoritarismo e, talvez, zeloso por manter a tradição festiva
no dia 24 de outubro, Pereira Lobo mostrou-se contrário ao dia 8 de julho, por isso os
festejos do campo político não foram realizados com os do campo intelectual, pois as
cerimônias do Governo, de fato, realizaram-se no dia desejado pelo Presidente. Porém o
Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, “firmando na opinião de historiadores,
como o criterioso Lima Júnior190” realizou as comemorações na data da assinatura do
Decreto de Dom João VI. Na sessão realizada pelo instituto compareceram “várias
autoridades, inclusive representando figuras estaduais e federais, além de numerosos
sócios191”. O Presidente do Estado não compareceu à solenidade192, enviando um
representante, demonstrando que havia um mal estar entre o governante e os intelectuais
da referida instituição. Interessante apontar, que a solenidade realizada no IHGSE não
foi intitulada “Centenário da Emancipação Política de Sergipe” e sim “1º Centenário da
Assinatura do Decreto de 1820”193. Ao nomear assim as suas celebrações os sócios do
instituto evitariam mais celeumas com o “impoluto” Pereira Lobo.
No dia 24 de outubro, momento principal das comemorações para o campo
político, a população foi acordada às 05h00min com uma alvorada festiva em frente à
residência do Presidente do Estado. Mais tarde um Te Deum foi entoado na catedral em
ação de graças pela comemoração do primeiro Centenário da Emancipação Política de
Sergipe. A celebração ficou a cargo do bispo de Aracaju Dom José Thomas Gomes da
Silva e representava uma louvação a Deus, uma maneira de agradecer por algum
acontecimento especial. No início da tarde, a Praça Fausto Cardoso foi tomada por
pessoas que foram assistir ao desfile das forças armadas, que prestavam continências
para o Coronel e Presidente Pereira Lobo, representando a obediência ao poder
executivo do Estado. Nesse mesmo dia, foi inaugurada a estátua do intelectual sergipano
Tobias Barreto, como também o traslado dos seus restos mortais, que foram depositados
na praça que hoje leva seu nome. Esse momento foi tido como um culto à memória de
um dos principais intelectuais sergipanos. Sobre esse momento, Dantas relata que:
189
DANTAS, José Ibarê Costa. Op. Cit., 2012, p. 83.
Idem.
191
Idem.
192
REVISTA do IHGSE. Acta da Sessão Magna do dia 8 de julho de 1920, n. 9, 1920, p. 35.
193
Ibdem, p. 36.
190
88
Os restos mortais de Tobias Barreto que se encontravam no Cemitério
de Santo Amaro, em Recife, foram entregues pela família ao IHGSE
que os velou por alguns dias até serem transportados para o supedâneo
de sua estátua em meio à grande romaria cívica. E os sócios do
Instituto, que há mais de ano vinham planejando a cerimônia,
participando das subscrições para construção do pedestal,
submeteram-se ao cerimonial do governo e elogiaram-no pela sua
contribuição na homenagem ao grande filósofo sergipano, ícone dos
intelectuais que fundaram o IHGSE194.
Percebamos mais uma vez a presença do IHGSE nas comemorações do
centenário, mesmo estando subordinado ao Cerimonial do Governo e tendo que aplaudir
o Presidente Pereira Lobo, haja vista a relação do governante com a casa de Sergipe,
não foram satisfatórias, o que o difere do seu antecessor Oliveira Valadão, que mantinha
constantes contatos com os intelectuais do instituto. Os sócios do instituto mantiveramse quietos durante a cerimônia, receosos em causar algum mal estar ao Governo. Afinal,
era um momento festivo em que os restos mortais de um dos intelectuais construtores da
sergipanidade retornavam ao seu Estado de origem e o IHGSE com seus membros e
cabeças pensantes, além de terem ajudado a orquestrar aquele momento, foram
responsáveis pela emancipação cultural de Sergipe195. Retornando às comemorações, a
noite, um banquete foi servido no palácio, seguido por um baile que virou a madrugada.
Enquanto a elite e os políticos brindavam aos moldes da civilização europeia, nas ruas
aconteciam os festejos populares: as pessoas comuns se divertiam a sua maneira. Sobre
o restante da programação, o Diário Official do Estado nos apresenta:
DIA 25 - Garden-Party no Posto Zootechnico de Ibura e inauguração
dos novos departamentos recentemente construídos neste posto, ás 15
horas. - Baile popular no <Cinema Rio Branco>, a convite, ás 21
horas. - Continuação dos festejos populares. DIA 26 - Cerimonia de
assentamento da pedra fundamental do edifício do theatro <S.
Christovam> ás 15 horas. - Inauguração da secção de pecuária da
Exposição-feira, no Deposito Municipal, à rua de Siriry, ás 10 horas.
- Batalha de confetti na praça Fausto Cardoso, ás 15 horas. - Recepção
de gala no <Club dos Diários>, ás 21 horas. DIA 27 Regatas, ás 13
horas, com disputa da <Taça do Centenário>. - Five-ó-clock-tea na
Exposição. - Soirée chic no <Recreio Club>, ás 21 horas196.
É importante ressaltar que todos os meios de comunicação do Estado divulgaram
amplamente essa programação, a fim de que a população não ficasse de fora desses
acontecimentos. Os jornais anunciavam onde a população poderia comprar as roupas
194
DANTAS, José Ibarê Costa. Op. Cit., 2012, p. 85.
ALBUQUERQUE, Samuel Barros de Medeiros. Emancipação Cultural, Jornal da Cidade, Aracaju,
08 jul. 2012, Caderno B, p. 7, coluna Opinião.
196
DIÁRIO Official do Estado de Sergipe. Aracaju: Imprensa Official, 1920, p. 256.
195
89
“chics” para usarem nos festejos, eles apontavam as lojas que traziam as novas
tendências da moda de outros lugares, como vemos nesse anúncio encontrado no
Correio de Aracajú:
Figura 14 – Anúncio de venda de roupas
Fonte: CORREIO de Aracajú. Aracaju, 11 mar. 1920, Ano XIII, n. 2.826.
O anúncio apresenta uma loja que, segundo diz, é especializada em roupa chic
para determinados eventos e as festividades do centenário constituíam em um deles. As
pessoas iriam desfilar com suas roupas elegantes, mostrando assim seu status na
sociedade, pois “o vestuário caracterizava aqueles que compensavam a aposta perdida
na República como uma atitude fantasiosa197”, ou seja, se o regime republicano não
realizou, para alguns, as promessas de criar um país civilizado ao molde europeu, pelo
menos se vestir a inglesa e a francesa poderia transformar essa fantasia em uma
realidade momentânea. Sobre o primeiro dia dos festejos, o jornal Correio de Aracaju
divulgou um matéria sobre a Exposição-Feira que tinha por finalidade mostrar produtos
sergipanos oriundos dos municípios.
Ás duas horas da tarde de hontem, quase todo movimento da capital se
fazia especialmente sentir para o lado sul da cidade. Automoveis
197
SALIBA, Elias Thomé. Cultura. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz. A abertura para o mundo: 18891930. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 252.
90
ruidosamente fonfonnavam, bonds velozmente corriam cheios do que
de melhor tem a nossa alta e media sociedade. Innumeros eram os que
açodadamente a para aquelle ponto se dirigiam. É que ás 15 horas ia
ter lugar a inauguração da Exposição-feira. E precisamente à hora
officialmente determinada, ss.exs. o dr. Pereira Lobo acompanhado de
sua exma. esposa, e dr. José Joaquim Seabra, governador da Bahia,
davam entrada no edifício da Exposição-Feira, seguidos de suas
illustres comitivas, onde o elemento feminino brilhava pelo esplendor
do vestuário e requinte de elegância. Recebidos ao som dos hynos de
Sergipe e Bahia e após, devidamente collocados em lugar de honra,
como de educação e dever, os presidentes e seus sequitos, a distincta
Comissão encarregada das festas do Centenário, pela palavra forte e
fluente do dr. Hunald Cardoso, fez entrega do extraordinário trabalho
da Exposição-feira ao benemerito dirigente dos destinos de Sergipe198.
Nota-se, através desse texto jornalístico, a movimentação nas ruas de Aracaju, a
fim de que as pessoas pudessem garantir presença naquele concorridíssimo evento.
Segundo Medina199, os Presidentes dos outros Estados também foram convidados para
os eventos alusivos ao centenário, no entanto a presença do Presidente do Estado da
Bahia foi importante, pois como já vimos, naquele momento havia uma intensa disputa
entre os territórios que ficavam nos limites entre os dois Estados. Sobre o significado
das exposições, Schwarcz diz que elas eram:
Apresentadas como uma espécie de parque de diversões para adultos,
as exposições compreendiam, [...] lógicas diferentes: saciavam a
simples curiosidade, exibiam o exótico, mas também revelavam o
progresso. Eram até mesmo um grande negócio, em razão não só do
número de visitantes como também dos acordos que lá se realizavam,
sobretudo nas sessões de maquinarias e matéria-prima200.
A Exposição-Feira realizada na Praça Fausto Cardoso serviu justamente para as
lógicas exemplificadas pela autora: além de apresentar os produtos sergipanos, ela
também revelou o momento de progresso que o Estado vivia e o embelezamento da
cidade era uma prova edificada disso. Apresentar os produtos significava a procura de
fechamento de bons negócios no futuro, era uma forma de procurar consumidores fora
do Estado que se interessasse pelo que Sergipe produzia e assim poder expandir os
negócios, aumentando a exportação e contribuindo para a economia. A foto abaixo
(Figura 15) evidencia os festejos realizados na Praça Fausto Cardoso, próximo ao local
da exposição.
198
CORREIO de Aracajú. Festa do centenário: inauguração da exposição-feira. Aracaju, 24 out. 1920,
ano XIV, n. 2.993, p. 1.
199
MEDINA, Ana Maria Fonseca. Op. Cit.
200
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Op. Cit., 1998, p. 389.
91
Figura 15 – Praça Fausto Cardoso, celebração da independência de Sergipe,
24/10/1920
Fonte: Acervo do Arquivo Público Municipal de Aracaju – APA.
Os aracajuanos saíram às ruas de sua capital para celebrar a independência do
Estado. É importante ressaltar, que todos os eventos ocorreram nas praças centrais da
cidade. A aglomeração vista na imagem foi assistir ao desfile das forças armadas e, em
seguida, ouviu o discurso do Presidente, que estava na sacada do Palácio Fausto
Cardoso, sede do poder legislativo. Em seu discurso, Pereira Lobo exaltou a alegria de
poder ter proporcionado aquele festivo acontecimento aos sergipanos:
Falo-vos, senhores Deputados, sobre esse acontecimento feliz com a
maior vibração de enthusiasmo que filho desta terra poderia
experimentar, desde que o seu coração não fala pelo feio sentimento
do despeito, ou do mau veso de tudo deprimir e tisnar. Orgulho-me em
poder ter gravado no vasto panorama que é a história os quadros que
aqui presenciaram os nossos olhos, attestando o grandioso futuro que
aguarda o nosso caro torrão, quadros que não poderão mais ser
apagados porque supplantarão sempre em toda a sua grandeza e
esplendor, a força augmentativa das mais poderosas, lentes dos
grandes telecópios201.
A figura de Pereira Lobo foi diversas vezes enaltecida durante as celebrações do
centenário até o fim do seu mandato. Como podemos observar ao longo do texto, ele foi
intitulado como um dos únicos governantes, para não dizer o único, que realizou
reformas de tamanha importância para a capital sergipana, inserindo-a no panteão das
cidades modernas, urbanizadas e embelezadas. A imagem abaixo reflete essa devoção
ao Presidente-Construtor.
201
SERGIPE. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa em 07 de setembro de 1921, ao
instalar-se a 3ª sessão ordinária da 14ª Legislatura, pelo Coronel Dr. José Joaquim Pereira Lobo,
Presidente do Estado. Aracaju: Imprensa Oficial, 1921, p. 23.
92
Figura 16 – Ilustração em honra a Pereira Lobo, 1920
Fonte: CORREIO de Aracaju, Ano XIV, n. 2.993, 24 out. 1920.
Veem-se na imagem (Figura 16), fotos de José Joaquim Pereira Lobo, da sua
infância até a sua fase adulta. A ilustração ao meio mostra as chaminés das indústrias,
representando o desenvolvimento econômico de Sergipe. O trem, o avião e barco,
símbolos das comunicações rápidas, fator importante da modernidade, e por fim, a tocha
representando a liberdade, iluminando os caminhos do pequeno Estado da Federação.
Essa imagem foi impressa também no Diário Oficial do Estado, com a finalidade de
celebrarem o centenário de emancipação de Sergipe.
No entanto, os elogios ao Presidente não partiam apenas dos jornais do Estado,
eles também foram feitos por diversos periódicos nacionais, como por exemplo, a
Revista Fon-Fon202, um dos veículos de informação carioca mais importantes durante a
Belle Époque. O jornal Correio de Aracaju203 fala sobre uma matéria publicada pela
revista em alusão às festas do centenário e com elogios ao Presidente:
O “Fon-Fon”, commemorando o Centenário de Sergipe, presta
significativa homenagem ao Presidente Pereira Lobo, retratando-o na
pagina principal e outras vão dedicadas ao texto e photographias,
evidenciando o progresso e o desenvolvimento atingidos pelo Estado
202
REVISTA Fon-Fon. O Estado de Sergipe: exemplo a imitar, uma obra profícua. Rio de Janeiro, n. 43,
23 out. 1920, p. 19-21.
203
CORREIO de Aracajú. A Fon-Fon publica matéria sobre o centenário a emancipação de Sergipe.
Aracaju, 21 set. 1920, ano XIV, n. 2994, p. 2.
93
nestes últimos tempos, notadamente do actual governo a esta parte. As
gravuras representam a construção do caes, avenida Rio branco,
jardim Olympio Campos, o aspecto da praça 24 de outubro, o
monumento Ignácio Joaquim Barboza, theatro etc. Alem do presidente
são ainda se vêem o secretario geral dr. Alvaro Silva; o chefe de
Policia, dr. Wenceslau Guimarães; o presidente da Assemblea, dr.
Simeão Telles de Menezes Sobral; e o intendente dr. Baptista
Bittencourt.
Sobre a divulgação em periódicos de circulação nacional, segundo Medina204 “a
programação das festividades foi divulgada como matéria paga em revistas e jornais
do Sul do país. Do Rio veio uma firma para filmar toda cidade e as festas”. É
importante mencionar que a Revista Fon-Fon possuía escritórios em diversas cidades
do país, que agiam como seus representantes e realizavam matérias sobre outros
lugares do Brasil, nos mostrando que ela não estava restrita apenas ao seu local de
origem. A intenção era, de fato, imortalizar esse momento da história de Sergipe para
a posteridade, pois os festejos da emancipação política não foram apenas para celebrar
a data de libertação do julgo baiano, mas também para comemorar a inserção de
Aracaju aos padrões modernos que outras cidades brasileiras já haviam experimentado
no início do século XX. A imagem seguinte mostra a imagem do Presidente Pereira
Lobo na capa do número especial da Revista Fon-Fon, que falava sobre as celebrações
do centenário e teciam elogios ao Governo. Há uma quantidade de números dessa
revista que dedicam suas capas e matérias a nomes da política e da diplomacia
brasileira, o que nos faz afirmar que os artigos sobre Aracaju foram pagos, uma vez
que ninguém os assinou.
Figura 17 – Foto de Pereira Lobo
Fonte: Capa da Revista Fon-Fon. 23 de outubro de 1920.
204
MEDINA, Ana Maria Fonseca. Op. Cit., p. 39.
94
Joaquim José Pereira Lobo foi um personagem contraditório, durante a Primeira
República em Sergipe. Sua carreira militar o rendeu determinados êxitos, ao contrário
de sua vida política que foi regada de controvérsias, todavia isso não retira a
importância do seu papel durante transformações empreendidas em Aracaju, que devido
aos problemas e a pouca condição encontrados durante a realização do embelezamento
da capital, algumas obras não foram concluídas. Porém, apesar de realizar valorosos
trabalhos, “governou de forma autocrática, a ponto de vários de seus correligionários
bandearem-se em 1921 para o movimento oposicionista denominado Reação
Republicana205”.
Em 1922 entregou o Governo a Graccho Cardoso, sobre constantes vivas da
oposição, que, segundo Nascimento206, contou os dias para a saída de Pereira Lobo do
poder, chegando a parodiar o Hino de Sergipe da seguinte maneira “Está por terra a
árvore daninha do despotismo: Alegrai-vos sergipanos! Pereira Lobo já não nos
governa207”. Mesmo fora do Governo, Lobo continuou sendo criticado pela oposição,
principalmente quando ganhou as eleições para o Senado, para ocupar a vaga deixada
por Oliveira Valadão e que Graccho havia ocupado apenas por um ano. Em 21 de
fevereiro de 1923, partiu para o Rio de Janeiro com toda a família no paquete Íris208. Na
capital federal, voltaria a exercer suas funções na Câmara Alta do Legislativo brasileiro.
Residiu na casa de número 225, da Rua Barão de Mesquita, bairro Tijuca209 e lá
permaneceu até o derradeiro dia de sua vida em 24 de fevereiro de 1933.
O Governo de Pereira Lobo pode ser dividido em dois momentos, o primeiro
entre 1918 e 1920, caracterizado pelo otimismo da economia sergipana, ocasião em que
as indústrias de tecidos e o açúcar estavam em alta, o que possibilitou dar continuidade
aos trabalhos do seu antecessor e ao mesmo tempo realizar reformas significativas no
Estado e na capital. Provavelmente o que influenciou o mandatário sergipano a
realizar tais reforma, foi o contato dele com o Rio de Janeiro no início do século
passado, quando a capital vivia um momento de transformações em seus cenários,
lembrando que antes de assumir o Governo sergipano, Pereira Lobo era um Senador da
República e figura presente em diversos periódicos da época, pois se folhearmos alguns
205
DANTAS, José Ibarê Costa. Os partidos políticos em Sergipe (1889-1964). Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1989, p. 87.
206
NASCIMENTO, Sayonara Rodrigues do. Op. Cit., 2005.
207
JORNAL do Povo, 24 de outubro de 1922, p. 1.
208
SERGIPE Jornal. Despedida. Aracaju, 22 fev. 1923, Ano II, n. 454, p. 1.
209
Idem
95
números da Revista Fon-Fon210, vamos encontrar diversas matérias sobre ele. Assim
como Haussmann e as reformas em Paris influenciaram Pereira Passos e as reformas no
Rio de Janeiro, esse último pode ter ajudado a compor o ideal reformista em Pereira
Lobo quando decidiu embelezar Aracaju dentro dos mesmos paradigmas.
O segundo momento, entre 1921-1922, está relacionado com a crise financeira
que surpreendeu Sergipe, com isso algumas obras ficaram inacabadas como o cais do
porto. De acordo com Presidente, o saneamento consumiu as verbas estaduais211, ou
seja, os trabalhos para erradicar as doenças, como aterros e drenagens, fizeram o Estado
gastar mais do que o esperado, mas mesmo com todo esse empenho, as doenças
continuaram e diversas obras ficaram inacabadas. Coube a Maurício de Graccho
Cardoso, seu sucessor na presidência, dar continuidade aos melhoramentos, reformas e
remodelações.
Conhecemos nesse capítulo o Governo de Pereira Lobo, que aproveitando-se da
situação favorável da economia do Estado, por conta das fábricas de tecidos, realizou as
obras de reforma urbana da cidade de Aracaju, com intuito de prepará-la para os festejos
de 1920. Nesse período, a capital sergipana passou por um processo de transformação,
que mudaria por completo o cotidiano da cidade. Por fim, fomos levados a conhecer os
festejos do centenário da emancipação política de Sergipe e as instituições políticas e
intelectuais que ajudaram a organizar as celebrações. Esse capítulo nos ajudou a
compreender quais os motivos que levaram o processo de modernização e urbanização
de Aracaju a ser impulsionado a partir de 1918 e como esse processo continuaria a partir
de 1922, no Governo de Graccho Cardoso que discutiremos no segundo capítulo.
210
Os números da Revista Fon-Fon que vamos encontrar menção a Pereira Lobo, antes, durante e depois
de exercer a Presidência do Estado são os seguintes: 12,39, 43, 40, 44.
211
SERGIPE. Mensagem do Presidente do Estado de Sergipe José Joaquim Pereira Lobo dirigida a
Assembléia Legislativa de Sergipe em 07 de setembro de 1922, ao instalar a 3ª sessão Ordinária da
14ª Legislatura. Aracaju: Imprensa Official, 1920, p. 54.
96
CAPÍTULO 3
UMA MÃO DE VERNIZ SOBRE O TABULEIRO DE PIRRO:
O GOVERNO DE GRACCHO CARDOSO (1922-1926) E A CONTINUAÇÃO
DAS OBRAS DA BELLE ÉPOQUE ARACAJUANA
A administração Graccho Cardoso, em Sergipe, está fazendo de
Aracajú a legítima “joia do Cotinguiba” [...] a joia do Cotinguiba
estará num escrínio de perfeição – perfeição de belleza e
commodidade212.
O ano de 1922 foi marcado por diversos acontecimentos significativos e que
repercutiram no cotidiano da sociedade brasileira. No âmbito cultural podemos citar a
Semana de Arte Moderna em São Paulo, que erroneamente foi designada “como marco
do nosso modernismo, tornando-se uma espécie de seu sinônimo213”. Na verdade, esse
evento revelou as novas tendências artísticas modernas do país, uma vez que em meados
do século XIX já havia uma corrente literária que se designou como modernismo. O
evento foi também uma forma de pensar a sociedade na esfera cultural como um todo,
não apenas na literatura. No âmbito político ocorrerá a fundação do primeiro partido
comunista no país – O PCB. Também é interessante apontar outro acontecimento que
foi gestado no âmbito militar, estamos nos referindo ao Movimento Tenentista, que
levou o Brasil a uma crise política sem precedentes214. Em Sergipe, de acordo Dantas215:
[...] essa inquietação cultural e política de algum tempo vinha se
gestando com o surgimento do Centro Socialista Sergipano (1918) e
da Liga Sergipense contra o Analfabetismo, na qual expressões
femininas como a farmacêutica Cezartina Régis e a médica Ítala Silva
e Oliveira se engajaram de forma decidida através da imprensa.
212
REVISTA Fon-Fon. A joia do Cotinguiba, Rio de Janeiro, 14 mar. 1925, Ano XIX, n. 11.
VELLOSO, Mônica Pimenta. O modernismo e a questão nacional. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO,
Lucila de Almeida Neves. (Orgs): O Brasil republicano: o tempo do liberalismo excludente da
Proclamação da República à Revolução de 1930. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008, p.
354.
214
De acordo com Lanna Júnior : “O tenentismo surgiu na década de 1920. Desde o início, despontou para
a história como um marco relevante para explicar a crise da Primeira República, a revolução de 30 e as
Forças Armadas, em especial a participação do Exército na política. Para os dicionários brasileiros e
língua portuguesa, “tenentismo” pode se referir tanto a uma determinada ação política ou à ideologia
dessa ação. No primeiro caso, o tenentismo tem seu tempo delimitado: da década de 1920 até o início da
de 1930. No segundo caso, não existiria propriamente um tempo; seriam ideias que movimentam um
aspecto da história do país. Existem aqui dois tipos de tenentismo: o movimento e a ideologia.” Ver:
LANNA JÙNIOR, Mário Cléber Martins. Tenentismo e crises políticas na Primeira República. In:
FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. (Orgs): O Brasil republicano: o tempo do
liberalismo excludente – da Proclamação da República à Revolução de 1930. 7. ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2014. p. 315.
215
DANTAS, José Ibarê Costa. Op. Cit., 2004, p. 39.
213
97
Foi dentro desse contexto de efervescência cultural, política e militar, que em 24
de outubro de 1922, Maurício de Graccho Cardoso216 toma posse da presidência do
Estado de Sergipe. É importante apontar que durante algum tempo, entre 1909 a 1921,
havia uma ausência de oposição nas eleições em Sergipe217, o Partido Conservador
liderado pelo Senador Oliveira Valadão e pelo então Presidente Pereira Lobo gozavam
de plenos poderes na política sergipana, porém, o autoritarismo do antecessor de
Graccho Cardoso gerou um grupo dissidente dentro do partido criando assim a Reação
Republicana, que no pleito de 1922 lançou a candidatura do aristocrático Senador
Gonçalo de Faro Rollemberg, casado com Aurélia218, uma das filhas do Barão da
Estância. Todavia, mesmo com a investida da dissidência, o Partido Conservador saiu
mais uma vez vitorioso nesse pleito: Graccho Cardoso obteve 8.693 votos, já o neto do
Barão de Japaratuba219, Gonçalo Rollemberg angariou apenas 366. Mas, de acordo com
Azevedo:
A vitória de Graccho Cardoso sobre Rollemberg foi expressiva.
Apesar da inexistência no país de uma fiscalização apurada dos
processos eleitorais e do reduzido número de eleitores, a diferença na
quantidade de votos entre os candidatos evidenciava a aceitação da
sua candidatura. Ainda assim, porém, no momento de sua posse, em
1922, apesar do seu próprio entusiasmo, perceptível na sua plataforma
de governo, Graccho Cardoso não conseguiu ocultar sentimentos de
incerteza e de medo220.
Mesmo com a falta de lisura no resultado das eleições, a quantidade de votos
recebida pelo então Presidente eleito revela a sua aceitação pelos eleitores sergipanos
216
Nascido na cidade de Estância-SE, em 9 de Agosto de 1874, em uma família já caracterizada pelas
atividades no campo educacional, filho de Mirena Cardoso e Brício Cardoso, um conceituado professor
do Atheneu sergipense quem teve como seu primeiro mestre. Seu avô Joaquim Maurício Cardoso, foi,
além de advogado, professor e escritor. José de Alencar Cardoso, de quem Graccho era primo, foi
fundador do Colégio Tobias Barreto e Diretor de Instrução no Governo Pereira Lobo (1918-1922). Os
estudos de Graccho Cardoso, iniciados em Estância, prosseguiram em Aracaju, depois Rio de Janeiro,
onde estudou na Escola da Praia Vermelha. Finalmente, ingressou na Escola Militar do Ceará, estado
onde depois, em 1907, concluiu o curso de Direito. Após viver alguns anos no Ceará, onde foi jornalista,
professor e político vinculado aos Accioly, diante da derrocada política deste grupo, em momento de
dificuldades foi para o Rio de Janeiro, aproximou-se de figuras influentes, integrou-se no esquema
Valadão-Lobo, sendo em 1922 eleito Presidente do Estado. Ver: AZEVEDO, Crislane Barbosa de. A
modernidade no Governo de Graccho Cardoso (1922-1926) e a Reforma Educacional em 1924 em
Sergipe. Natal: EDURFN, 2013. p. 26.; DANTAS, José Ibarê Costa. Op. Cit., 2004, p. 39.
217
DANTAS, José Ibarê Costa. Op. Cit., 2004, p. 46.
218
Sobre Gonçalo de Faro Rollemberg e Aurélia Dias Rollemberg, ver: ALBUQUERQUE, Samuel Barros
de Medeiros. Memórias de Dona Sinhá. Aracajú: Scortecci, 2005b; ALBUQUERQUE, Samuel. Nas
memórias de Aurélia: cotidiano feminino no Rio de Janeiro do século XIX. São Cristóvão: UFS, 2015.
219
ALBUQUERQUE, Samuel Barros de Medeiros. Aspectos do baronato sergipano, Revista do IHGSE,
Aracaju, n. 28, 2004, p. 105-127.
220
AZEVEDO, Crislane Barbosa de. A modernidade no Governo de Graccho Cardoso e a reforma
educacional de 1924 em Sergipe. Natal: EDUFRN, 2013, p. 30.
98
nos anos iniciais da década de 1920, mas, é válido destacar que Graccho chega à
presidência do Estado sob a sombra da gestão de seu antecessor, o que gerou uma
determinada desconfiança na sociedade, inclusive naqueles que votaram nele,
acreditando em sua tão bem elaborada Plataforma de Governo. Por isso, ao assumir o
Governo ele sabia da necessidade de apaziguar os ânimos tanto da população quanto da
classe política, pois “a vivência política no Ceará junto aos Accioly, inclusive no
momento da queda destes, contribuía para a consciência da necessidade do
apaziguamento de comportamentos e práticas políticas221”. Em sua posse, ele deixou
claro que:
[...] No estado de civilisação social moderna, não se comprehende
governo que não seja obra de collaboração cordeal e solidariedade
commum. [...] Só me resta fazer votos por que as relações entre os
políticos e os partidos, no Estado, se humanisem e percam dia a dia o
caracter aggressivo que as distiguem, tornando, dest’arte, mais fácil e
menos esterial a tarefa do governo222.
Apaziguar os ânimos no âmbito político era necessário, principalmente em um
Estado onde as oligarquias estavam à frente do poder e a violência era utilizada para
intimidar os grupos políticos, fossem da oposição ou situação. Inicialmente foi isso que
o Presidente Graccho passou para a população nas celebrações de sua posse, que por
sinal contou com uma vasta programação e eventos concorridos, como a alvorada
realizada pela “banda de música do Batalhão Policial, Missa Campal celebrada pelo
Bispo de Aracaju, inauguração de uma ponte no Bairro Industrial, a tarde houve a
cerimônia de posse e a noite um baile no Palácio do Governo recém-reformado223”.
Sobre a cerimônia de posse, o Sergipe Jornal registrou:
Às treze horas, solennemente reonida a Assembléia Legislativa do
Estado, deu nella entrada s. ex. o dr. Mauricio Graccho Cardoso que,
depois de prestado o compromisso a que é obrigado perante a Lei,
começou de fazer a leitura de sua Plataforma Presidencial (...). Após a
leitura da Plataforma s. ex. dirigiu-se ao Palacio do Governo,
recebendo á sua passagem as continências do estylo que lhe foram
prestadas por uma Companhia do Batalhão Policial. Ali o aguardava s.
ex. o dr. José Joaquim Pereira Lobo para investir na posse de novo
Governo em Sergipe. À sua entrada fez-se ouvir uma salva de palmas
findo o ruído das quaes, s. ex. o dr. Pereira Lobo pronunciou uma
oração de grande valor, seguindo-lhe com a palavra o dr. Graccho
221
AZEVEDO, Crislane Barbosa de. A modernidade no Governo de Graccho Cardoso e a reforma
educacional de 1924 em Sergipe. Natal: EDUFRN, 2013, p. 30.
222
DIÁRIO Official do Estado de Sergipe. Aracaju: Imprensa Official, 1922, p. 13-14.
223
SERGIPE Jornal. A posse do novo Governo. Aracaju, 26 out. 1922, Ano II, n. 360, p. 1.
99
Cardoso em resposta e que também fez ouvir discurso não menos
merecedor de justos applausos224.
As transições de Governo são carregadas de representações políticas. É nesse
momento que os interesses dos grupos dominantes são expostos, como também o anseio
de mudança da população. Nesse caso, o que mudou foi o governante, pois o partido se
manteve, demonstrando que não houve manutenção no poder, porém o mandato que se
iniciava poderia ser diferente do seu antecessor. As cerimônias de posse também são
carregadas de capitais simbólicos, como nos mostra Bourdieu:
A aquisição de um capital delegado obedece a uma lógica muito
particular: a investidura – acto propriamente mágico de instituição
pelo qual o partido consagra oficialmente o candidato oficial a uma
eleição e que marca a transmissão de um capital político, tal como a
investidura medieval solenizava a “tradição” de um feudo ou de bens
de raiz – não pode ser senão a contrapartida de um longo investimento
de tempo, de trabalho, de dedicação, de devoção à instituição225.
A posse representou para Graccho Cardoso um rito de passagem, momento em
que o resultado obtido nas urnas se transfigurou na ascensão do mesmo ao poder
executivo do Estado. Ao mesmo tempo, oficializou a continuidade da oligarquia
iniciada por Oliveira Valadão que naquele momento estava sob o comando do Senador
Pereira Lobo. O que pesava sobre as costas do novo Presidente era justamente o fato de
pertencer a esse grupo político, pois para alguns ele poderia “herdar” as mesmas
atitudes autoritária e centralizadora do seu antecessor, haja vista que “o campo político,
entendido ao mesmo tempo como campo de forças226”e agindo da mesma forma que
Pereira Lobo, ele poderia angariar críticas da oposição e provocar novos embates.
O novo Presidente deu continuidade às obras deixadas, principalmente por
Pereira Lobo, justamente em um momento em que Aracaju enquadrava-se nos mesmos
parâmetros de cidades modernas e ele reforçou as obras de remodelação da capital, visto
que “em sua plataforma de administração, Graccho Cardoso já demonstrava ideias
bastante articulada com relação a problemas cruciais227”. De acordo com Azevedo, o
Presidente centrou seus esforços através de:
Criação e reformas de instituições, inaugurações e melhoramento de
serviços, reordenamento e racionalização dos processos
administrativos mediante regulamentação podem ser consideradas
224
SERGIPE Jornal. A posse do novo Governo. Aracaju, 26 out. 1922, Ano II, n. 360, p. 1.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 7. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004, p. 193.
226
Idem, p. 164.
227
DANTAS, José Ibarê Costa. Op. Cit., 2004, p. 39.
225
100
marcas do governo de Graccho Cardoso em Sergipe. Nos discursos e
pronunciamentos oficiais do administrador, eram constantes as
referências ao moderno e à necessidade deste no estado228.
De acordo com Azevedo, a atuação do Presidente Graccho não se limitou apenas
em um setor do Governo, ele esteve interligado com outros setores da sociedade como
saúde, educação e a viação pública, que eram primordiais naquele momento, quando o
discurso modernizador estava em voga, por isso que seus discursos possuíam a
necessidade de citar o moderno, o que mostra a vontade que ele tinha de inserir Sergipe
na modernidade. A imagem seguinte (Figura 18) representa o governante de Sergipe em
seu gabinete. Interessante frisar que a fotografia nesse período era utilizada para
apresentar detalhes relevantes da vida de governantes em seus ambientes de trabalho e
em público, como também “se tornaram um mecanismo de grande relevância na difusão
das imagens de uma cidade que almeja ser vista com seus traços racionais e construções
imponentes229”, como era o caso de Aracaju da Belle Époque.
Figura 18 - Graccho Cardoso em seu
gabinete no Palácio Olímpio Campos, 1926
Fonte: Governo de Sergipe.
Disponível em:
<http://www.palacioolimpiocampos.se.gov.br/opalacio/historia>. Acesso em: 27 out. 2015.
A imagem (Figura 18) revela o Presidente em seu ambiente de trabalho. É claro
que era dessa forma que os políticos, desde a época do uso da fotografia no Império até
228
229
AZEVEDO, Crislane Barbosa de. Op. Cit., 2013, p. 31.
SANTOS, Magno Francisco de Jesus. Op. Cit., p. 73.
101
a República, gostariam de ser registrados, passando para o povo a noção de
compromisso com seu trabalho. A pose também é reveladora, aliás, as imagens que
compõem esse trabalho e que possuem determinadas poses, representam de forma sutil
as expressões e os comportamentos de um período que foram levados para outro, nesse
caso nos referimos ao final do século XIX e o início do XX, pois no entender de
Turazzi:
A pose é o próprio símbolo da fotografia no século XIX, atravessando
toda a sua história como um elo de ligação entre as imagens obtidas,
os recursos tecnológicos existentes e os agentes sociais envolvidos. A
pose é o ponto de partida e de superação o aparente paradoxo que se
estabelece nas imagens estáticas de uma sociedade que vive na era do
movimento. Onde os homens trilham, cada vez mais, o caminho da
velocidade que impulsiona os meios de transporte, a fabricação de
mercadorias e as próprias relações sociais230.
Apesar de ser uma invenção do século XIX, a fotografia legou ao século
seguinte às mesmas características: como a forma de posar, o cenário e a classe social
do fotografado, uma vez que era um recurso para poucos, todavia através dela podemos
conhecer como eram engendradas as representações no cotidiano de uma sociedade
mutável e que estava buscando se modernizar. Os personagens registrados nas imagens
deste trabalho nasceram nos oitocentos, ou seja, são contemporâneos da inserção da
fotografia no Brasil, responsáveis pela construção da história das décadas iniciais do
século XX e que difundiram as vicissitudes do seu tempo através do testemunho
iconográfico. O uso da fotografia estava atrelado ao moderno, este por sua vez era
enfatizado nos discursos de Graccho Cardoso como veremos nas páginas que se
sucedem.
3.1 - A Belle Époque da Educação: Os Grupos Escolares
Uma das principais ações do Presidente Graccho Cardoso foi a construção ou
implantação de grupos escolares em suntuosos palacetes e prédios. Todavia é
importante frisar que a incursão nesse assunto não será algo amplo231. Devido aos
discursos de modernidade, civilização e progresso estarem ligados com as
230
construções
TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo (18391889). Rio de Janeiro: Rocco, 1995, p. 13.
231
Autores a exemplo de Crislane Azevedo (2009) e Magno Santos (2013) desvelaram em seus
conceituados trabalhos aspectos importantes como a formação dos grupos e sua arquitetura.
102
desses “Templos da Civilização232”, a análise dos mesmos não pode ser negligenciada
neste trabalho. Logo, reiteramos que as obras desses autores nos ajudaram a compor a
atmosfera de Aracaju durante sua Belle Époque.
No Brasil, durante a transição da Monarquia para a República, o acesso à
educação secundária era destinado às famílias abastadas, porém com os ideais de
modernização na instrução pública essa situação começa a mudar pouco a pouco, como
esclarece Needell:
Com o passar do tempo, um número crescente de filhos de
negociantes, burocratas do escalão inferior e profissionais liberais
conseguiram acesso aos colégios, mas maioria dos nascidos fora do
circulo das elites eram iletrados ou autodidatas. Os motivos não
chegam a ser surpreendentes. Os tutores e os poucos colégios
existentes custavam caro, eram tradicionalmente considerados
privilégio dos ricos e, claro, tirariam jovens do campo, da loja ou de
qualquer outro local onde estivessem contribuindo para a
sobrevivência econômica de suas famílias233.
Como vemos na citação, a instrução era destinada às classes abastadas, ou seja,
para aqueles que podiam pagar altos valores pela educação dos filhos, em escolas
renomadas ou contratar preceptores (geralmente mulheres e europeias)234. Em Aracaju,
a instrução de moças da elite, por exemplo, estava sob a obrigação do Colégio Nossa
Senhora de Lourdes235, enquanto os rapazes eram enviados para outros Estados como
Pernambuco, Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, principalmente para realizar seus
estudos nas renomadas faculdades de Direito e Medicina da época. As crianças de
outros extratos sociais foram inseridas na escola, mas, o serviço ainda não contemplava
a todos. Com o advento da República e a difusão dos ideais de modernidade, o campo
educacional foi inserido no contexto da modernização que vinha ocorrendo no Brasil,
232
Vamos encontrar esse termo na obra de: SOUZA, Rosa Fátima de. Templos de civilização: a
implantação da escola primária graduada no Estado de São Paulo (1889-1910). São Paulo: UNESP, 1998.
233
NEEDELL, Jeffrey D. Belle Époque tropical: sociedade e cultura de elite no Rio de Janeiro na virada
do século. São Paulo: Companhia das Letras, 1993, p. 74.
234
Sobre a preceptoria no estado, Samuel Albuquerque (Op. Cit. 2005a; 2015) mostra como foram
executados os trabalhos de preceptoras alemãs no Sergipe oitocentista.
235
De acordo com Costa: “O Colégio Nossa Senhora de Lourdes foi criado pelas Irmãs Sacramentinas
para instruir as jovens nos princípios fundamentais da doutrina religiosa católica, dando prioridade à
formação das moças da elite do Estado de Sergipe. Gerações de mulheres, muitas de uma mesma família,
passaram pelo colégio das freiras. [...]) Quando o Colégio Nossa Senhora de Lourdes foi criado, os
intelectuais sergipanos haviam se mobilizado em defesa da educação. A difusão da instrução era vista
como uma possibilidade de inserir o Estado no rol das sociedades civilizadas, demanda presente nos
discursos das primeiras décadas do século XX.” Ver: COSTA, Rosemeire Marcedo. Fé, civilidade e
ilustração: as memórias de ex-alunas do Colégio Nossa Senhora de Lourdes (1903-1973). 2003. 129 f.
Dissertação (Mestrado em Educação) - Núcleo de Pós-Graduação em Educação, Pró-Reitoria de PósGraduação e Pesquisa, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2003.
103
pois a instrução era a chave para a inserção das pessoas nos padrões civilizatórios.
Logo, o acesso à educação começa a atingir todos os níveis sociais.
Em Sergipe, o surgimento de grupos escolares modernos começa a partir de
1911236, quando a capital começava a dar os primeiros passos em busca da sua
modernização, já que “a urbanização figura como elemento importante a considerar
quando tratamos de educação237”, pois quando uma cidade passa por transformações,
toda sociedade responde aos ritmos modernos inseridos no contexto citadino,
obviamente porque a educação foi a principal forma de difundir as ideias civilizatórias e
progressistas. A partir desse momento, a Aracaju daquele período representou isso, pois
de acordo com Azevedo:
A cidade, nesse período, transformou-se adquirindo contornos de
cidade ‘moderna’, tendo instalado os serviços de luz elétrica, rede
telefônica, bondes elétricos, serviços de água e esgotos, construção de
hospitais, arquivo público, casas bancárias e comerciais, e o
embelezamento e ajardinamento de ruas e praças. Apesar desta
remodelação atingir inicialmente apenas a área do “quadrado de
Pirro”, nesse processo modernizador os grupos escolares
desempenharam papel fundamental, á medida que contribuíram tanto
para o embelezamento da cidade e a divulgação de ideais cívicos
quanto para o seu asseio, através, por exemplo, da exigência de
vacinação das crianças para a realização das matrículas238.
Podemos perceber que a finalidade dos grupos escolares extrapolava os limites
das salas de aula, sua arquitetura ajudou a embelezar a cidade, pois “o perfil majestoso
dos prédios que se impunham na paisagem urbana [...] criando ao mesmo tempo
imagens de escola pública como prédio público e de cidade moderna, que progredia
com os avanços da educação239” e também atendendo aos preceitos higienistas e de
saúde pública, intensamente debatidos desde o século XIX240. Com isso, percebemos
que os grupos escolares não foram meros coadjuvantes na busca compulsória pela
De acordo com Santos: “A emergência dos grupos escolares em Sergipe ocorreu no governo de
Rodrigues Dória (1908-1911). Foi nesse período que foi formulado um novo regulamento de instrução
pública e tiveram incrementos as obras de construção do novo prédio da Escola Normal de Aracaju. Com
essas duas ações, a implantação dos grupos estava sendo encaminhada. A modernidade no campo do
ensino primário aos poucos seria edificada.” Ver: SANTOS, Magno Francisco de Jesus. Op. Cit., p. 76.
237
AZEVEDO, Crislane Barbosa de. Grupos escolares em Sergipe (1911-1930): cultura escolar,
civilização e escolarização da infância. Natal: EDUFRN, 2009, p. 67.
238
Ibdem, p. 67-68.
239
SANTOS, Magno Francisco de Jesus. Op. Cit., 2013, p. 90.
240
Para Azevedo: “As práticas higienistas objetivavam evitar doenças, bem como criar hábitos saudáveis
para a sociedade. Estes deviam ser cultivados desde a infância, por isso, atribui-se à escola primária o
papel de disseminação dos bons hábitos higiênicos. A escola primária, objeto de transformações no início
da República, vai através de uma nova modalidade escolar – grupos escolares – difundir tais
comportamentos.” Ver: AZEVEDO, Crislane Barbosa de. Op. Cit., 2009, p. 187.
236
104
modernidade, pois eles atuaram como peças fundamentais para difusão das práticas
modernas.
É necessário esclarecer que, apesar da construção dos grupos escolares terem seu
início a partir de 1911, tomaremos por base o ano de 1924, quando são inaugurados os
primeiros grupos em Aracaju, sob a batuta de Graccho Cardoso, afinal o Governo do
mesmo “marcou o apogeu e o declínio da difusão dos grupos escolares241” e após o seu
mandato as características peculiares dos mesmos desapareceram. Em sua primeira
mensagem como Presidente do Estado, Graccho externou preocupação com a instrução
pública em Sergipe:
A instrucção publica, com a qual o estado despende cerca da sexta
parte do que arrecada, ainda está longe de corresponder aos resultados
que taes sacrifícios impõem. Com o muito que gastamos ainda
produzimos pouco. Ao lado da incapacidade pelo insufficiente preparo
normal, do automatismo esterilizador dos programmas, do ensino mais
pedantesco que efficiente, da ausência visível do espírito pedagogico,
da pouca comprehensão dos deveres e necessidades do magistério,
antes sacerdócio que emprego, havemos de collocar outros factores
que accarretam o desalento e a decadência, nada obstante um certo
brilho apparente, notadamente nas escolas da capital242.
A mensagem mostra que o Presidente estava preocupado, a princípio, com o
sistema de ensino. Para ele havia muito a investir, pois os resultados ainda não eram
satisfatórios. Era necessário além de uma reforma em seus recursos humanos e
educacionais, promover também uma remodelação da arquitetura dos grupos, afinal era
o momento em que as cidades adotavam grandes monumentos que pudessem enaltecer
o regime republicano e os grupos com suas imponentes sedes faziam parte da paisagem
urbana. Porém, mesmo com essa aparente preocupação, com a área educacional,
existiam dois aspectos que caracterizavam o descaso da república para com a educação
no início do século XX, como nos mostra Saliba:
Não havia sequer um órgão ministerial que tratasse da educação e da
cultura de forma autônoma. Toda área educacional, como no Império,
era incumbência do Ministério da Justiça e Negócio Interiores – de
cunho nitidamente político, articulado com a oligarquia dos estados.
Dados de 1920 mostram que a matrícula nas escolas primárias atingia
29% da população em idade escolar no país! 243
241
SANTOS, Magno Francisco de Jesus. Op. Cit., p. 90.
SERGIPE. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa, em 07 de setembro de 1923. Ao
instalar-se a 1ª sessão ordinária da 15ª Legislatura, pelo Presidente do Estado Dr. Maurício
Graccho Cardoso. Aracaju: Imprensa Oficial, 1923, p. 6.
243
SALIBA, Elias Thomé. Cultura. Op. Cit., p. 25.
242
105
Vemos que não havia uma pasta determinada do Governo Federal pela educação
no país: o processo de ensino era de responsabilidade dos Estados e das oligarquias que
os dominavam, por isso que em alguns havia a precariedade na área da educação. Em
Sergipe, vemos que, a todo momento, surgia uma instituição. Graccho Cardoso
construiu três grupos escolares em Aracaju: General Valladão244, Dr, Manoel Luiz e
José Augusto Ferraz245. Ele também direcionou sua atenção aos grupos já existentes na
época, a exemplo dos grupos Modelo (construído por Rodrigues Dória), Central
(construído por Siqueira de Menezes), Barão de Maroim e General Valladão
(construídos por Oliveira Valadão) e expandiu os grupos pelos interiores e, se formos
notar alguns deles estão nas cidades que possuíam fábricas e tecidos, destacadas no
Mapa da Figura 04. Sobre essa questão, Santos explica:
Partindo dessa constatação, podemos deduzir que a criação dos grupos
escolares em Sergipe também esteve associada à instalação das
fábricas, como uma possibilidade de preparar os futuros operários.
Contudo, é preciso atentar-se para o fato de que nem todas as cidades
que tiveram grupos escolares instalados nesse período estavam
atreladas à questão fabril. Cidades como lagarto, Boquim, Capela e
Simão Dias não possuíam fábricas de tecidos e, no entanto, tiveram
grupos escolares. O que isso poderia estar denotando? Seria uma
contradição da época? Aparentemente não. A criação das escolas
graduadas refletia os interesses e lideranças políticas e econômicas de
Sergipe e por esse motivo é evidente que personalidades ligadas ao
setor industrial tentassem fortalecer seus nomes estimulando a criação
de instituições educativas246.
A construção de grupos escolares na capital e no interior atendeu às vontades das
classes políticas e econômicas, que desejando legitimidade dentro da sociedade,
ajudaram a implantar os grupos nas cidades que exerciam influência. Podemos dizer que
a legitimidade ocorreu quando a ideia de expansão dos grupos escolares foi acolhida,
pois a difusão dos mesmos levou o Presidente Graccho a “ser considerado um grande
Presidente247” e por ter realizado “a administração mais modernizadora do século XX
em Sergipe248”. Ao impulsionar o modelo dos grupos escolares em Aracaju, o
Presidente preparava a população para a modernidade que constantemente era citada em
seus discursos. É válido apontar que, apesar das implantações dos grupos terem sido
244
Presidente do Estado de Sergipe em dois momentos, o primeiro em 1894 a 1896 e o segundo em 1914 a
1918. Também foi Senador de 1907 a 1914. Ver: DANTAS, José Ibarê Costa. Op. Cit., 2004, p. 27.
245
Como o terreno para a construção desse grupo foi doado pelo industrial Thales Ferraz, o nome da
instituição recebeu o nome do pai dele, que também era um industrial. Ver: SANTOS, Magno Francisco
de Jesus. Op. Cit., p. 92.
246
SANTOS, Magno Francisco de Jesus. Op. Cit., p. 100.
247
NUNES, Maria Thétis. Op. Cit., 2008, p. 249.
248
DANTAS, José Ibarê Costa. Op. Cit., 2004, p. 39.
106
apoiadas por industriais, usineiros e pela elite política, eles não foram criados para
atender apenas as classes abastadas. Alunos pobres também frequentaram essas
instituições de ensino primário, graças as Caixas Escolares, que de acordo com
Azevedo:
[...] forneciam aos alunos pobres roupas, calçados, livros e outros
acessórios escolares. O seu patrimônio poderia ainda ser aplicado na
assistência médica e merenda escolar para os alunos pobres dos
grupos249.
A finalidade das caixas escolares era de ajudar os alunos pobres, cujos pais não
tinham condições financeiras para mantê-los na escola e não seguiam as normas
higiênicas prescritas, por isso, era necessário ensiná-los a adquirir, através da educação,
práticas de higiene primordiais para a convivência em uma cidade que se tornava
moderna. Os recursos das caixas escolares vinham da sociedade civil e do Governo do
Estado, por isso, com a queda na economia sergipana em 1921, a prioridade da
educação não foi mais comentada, fazendo com que o Presidente do período, Pereira
Lobo, se retratasse na mensagem presidencial de 07 de setembro de 1921. Nela, ele
lamenta a falta de recursos para viabilizar as obras que havia pensado para o Estado 250,
com isso a arrecadação das caixas escolares também diminuiu.
Quando Graccho Cardoso assumiu a presidência do Estado, não encontrou a
instrução pública como desejava, mas, a economia sergipana voltou a crescer, como
mostra o Quadro 02 a seguir, o que possibilitou a retomada dos projetos educacionais
que o mesmo defendia, desde a época de Deputado.
Quadro 02 – Exportações sergipanas
ANO
RECEITA
ANO
RECEITA
1919
21.334:763$582
1923
43.003.580$275
1920
19.418:536$747
1924
39.758:102$013
1921
17.687:381$561
1925
39.393:394$503
1922
20.387:153$419
1926
33.882:199$164
Fonte: NUNES, Maria Thétis. História da educação em Sergipe. 2.ed. São
Cristóvão: UFS; Aracaju: Fundação Oviêdo Teixeira, 2008, p. 250.
249
AZEVEDO, Crislane Barbosa de. Op. Cit., 2009, p. 99.
SERGIPE. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa em 07 de setembro de 1921, ao
instalar-se a 3ª sessão ordinária da 14ª Legislatura, pelo Coronel Dr. José Joaquim Pereira Lobo,
Presidente do Estado. Aracaju: Imprensa Oficial, 1921, p. 21.
250
107
Como podemos constatar as exportações de açúcar, tecidos de algodão, algodão
em rama, arroz e de outros produtos ligados à economia agrícola251 voltaram ao ritmo
de crescimento perdido durante o Governo de Pereira Lobo. É importante frisar que,
nesse momento, o Brasil era um país predominantemente agrícola: a agricultura
correspondia a uma boa parte da economia, sendo seguida pela indústria e pelos
serviços252. Após a Primeira Guerra, o câmbio mundial passou a ser inconstante, ora
aumentava, ora diminuía. Tal situação insidia fortemente nas exportações, contudo a
situação começou a se normalizar, a partir da década de 1920253, por isso que no ano de
1923, quando Graccho assumiu, a receita havia crescido consideravelmente. Importante
salientar que, além disso, cresceram também as receitas dos cofres públicos:
A relação entre receitas e despesas na administração Graccho Cardoso
demonstrava no início do seu governo uma situação econômica
promissora. A receita orçada para 1923 era de 4.995:434$400,
entretanto produziu 9.061:690$007. A despesa, por sua vez, fixada em
4.995:049$740, elevou-se a 7.733:370$324254.
Aproveitando-se desse momento de estabilidade na economia, o Presidente
Graccho pode efetivar as mudanças necessárias no campo educacional. Uma das
primeiras ações foi construir a sede do Grupo Escolar Oliveira Valladão, que desde a
sua fundação, em 1918, ainda não possuía uma estrutura física. A imagem a seguir
(Figura 19) mostra como era o referido grupo.
Figura 19 – Grupo Escolar General Valladão
Fonte: Acervo Fotográfico do Memorial de Sergipe.
251
SERGIPE. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa, em 07 de setembro de 1923. Ao
instalar-se a 1ª sessão ordinária da 15ª Legislatura, pelo Presidente do Estado Dr. Maurício
Graccho Cardoso. Aracaju: Imprensa Oficial, 1923, p. 62.
252
FRANCO, Gustavo H. B.; LAGO, Luiz Aranha do Corrêa. Op. Cit., p. 220.
253
Ibdem, p. 210.
254
AZEVEDO, Crislane Barbosa de. A modernidade no governo de Graccho Cardoso e a Reforma
Educacional de 1924 em Sergipe. Natal: EDUFRN, 2013, p. 35.
108
A imagem (Figura 19) é reveladora, pois podemos compará-la à Figura 09 e
vamos perceber que há semelhanças arquitetônicas com o Palácio do Governo, por isso
que os grupos escolares foram denominados “Palácios da Sabedoria”, porque seus
prédios eram suntuosos e seguiam os parâmetros da arquitetura vigente naquele período,
ou seja, o ecletismo. Na gestão de Graccho Cardoso, os engenheiros responsáveis pelas
construções dos grupos foram Arthur Araújo, Alfredo Aranha e o já mencionado Hugo
Bozzi, o mesmo que realizou a reforma da Ponte do Imperador, esses profissionais
procuraram criar uma identidade na arquitetura que identificasse o Governo Graccho,
“com um estilo diferenciado do que vinha sendo estabelecido por seus antecessores255”,
deixando de lado o traçado neoclássico e gótico, por isso esses prédios com suas
imponentes fachadas repleta de adornos, tinham pousadas em seus pórticos as águias,
que simbolizavam voos mais altos e visão futura para Aracaju e Sergipe. Tais aves
designaram os edifícios construídos ou remodelados na administração de Graccho
Cardoso, uma forma também de criticar seus antecessores, mostrando que seu Governo
abria suas grandes asas, feito águias, prontas para voar rumo às novas possibilidades.
É necessário salientar que os grupos escolares tiveram início no Estado de São
Paulo, nas décadas finais do século XIX, “ainda no seio das agitações da queda da
Monarquia256”, em um momento onde a campanha monarquista ainda se fazia presente
no país, por isso a República começava a edificar a modernidade, através desses e de
outros monumentos. Além de seguirem a Pedagogia Moderna257, adotada pelos grupos
paulista, verificamos que:
Os primeiros grupos edificados em Sergipe seguiram a tendência
arquitetônica dos grupos paulistas, criando-se uma discrepância no
cenário urbano das cidades em que eram construídos. A modernidade
arquitetônica deveria ser acompanhada pela adequação pedagógica,
incrementada pelas mestras oriundas da Escola Normal e pelo uso de
novos recursos pedagógicos, muitos dos quais importados dos Estados
Unidos e da Europa258.
255
SANTOS, Magno Francisco de Jesus. Op. Cit., p. 152.
Ibdem, p. 74.
257
De acordo com Valença: “O programa educacional da Pedagogia Moderna acionava a necessidade de
moralizar os costumes, de civilizar. Para os reformadores, se fazia necessário dar uma formação mais
completa de conhecimentos. Iniciou-se, então, a construção de um novo projeto que articulava idéias de
uma educação direcionada para a formação de um homem novo, e esta formação deveria ser
operacionalizada pela escola.” Ver: VALENÇA, Cristina de Almeida. Civilizar, Regenerar e Higienizar:
as palavras de ordem da Pedagogia Moderna em Sergipe.(1900-1935), Revista do IHGSE, n. 34, 2005,
p. 171.
258
SANTOS, Magno Francisco de Jesus. Op. Cit., p. 76.
256
109
O modelo arquitetônico dos grupos escolares, erguidos em Aracaju, seguiu o
mesmo criado em São Paulo. Uma constatação interessante, pois enquanto a cidade que
se remodelava e se modernizava no entorno desses grupos e que buscou inspirar-se nas
reformas urbanas do Rio de Janeiro, então capital federal e centro político da nação,
suas escolas encontraram na Belle Époque, do centro econômico do Brasil, elementos
que a constituíssem como modernas, por isso é cabível afirmar que a modernidade da
capital sergipana procurou seguir o exemplo do Rio de Janeiro no âmbito urbano,
enquanto no campo educacional buscou em São Paulo suas referências.
Havia diversas necessidades para que Graccho Cardoso inaugurasse grupos
escolares em Aracaju, uma delas era que a maioria ficava próximo um do outro, no
centro da cidade259, isso dificultava o traslado das crianças que residiam longe desses
estabelecimentos de ensino. Por isso que o Presidente, atendendo aos anseios da
população e da imprensa260, construiu outras instituições fora desses limites, para que
pudesse atender ao alunado que residia longe dessas áreas e consequentemente de suas
escolas.
Um desses novos grupos que não estava situado na zona central da cidade foi o
Grupo Escolar Manoel Luiz, construído em 1924. A seguinte imagem retrata os traços
arquitetônicos do referido prédio.
Figura 20 – Grupo Escolar Manoel Luiz
Fonte: Acervo Fotográfico do Memorial de Sergipe.
259
SANTOS, Magno Francisco de Jesus. Op. Cit, p. 88.
O Sergipe Jornal, em matéria publicada em 26 de abril de 1923, evidenciou o traslado demorado que
os alunos residentes na zona norte realizavam para chegar à zona sul, onde os grupos escolares estavam
localizados. Ao mesmo tempo, o jornal também enfatizou a ação do Presidente em construir essas
instituições fora do perímetro do Tabuleiro de Pirro. Tal ação do governante foi recebida com entusiasmo
pela população. Ver: SERGIPE Jornal. Outro grupo escolar em Aracajú: mais uma realização. 26 abr.
1923, Ano II, n. 503, p. 1.
260
110
A imagem (Figura 20) mostra a grandiosidade do prédio em contraste com a rua
que não havia sido calçada, porém tal detalhe não retira do grupo a grandiosidade e
beleza que lhes são peculiares. O Manoel Luiz foi construído na Avenida Pedro
Calazans, distante há poucos quilômetros do Centro de Aracaju, onde estavam
localizados a maioria dos grupos escolares. As suas obras iniciaram em 1923261 e
terminaram no ano seguinte juntamente, com os grupos General Valladão e José
Augusto Ferraz. Ao mesmo tempo, concluíram-se as obras dos grupos de outros
municípios sergipanos262. Sobre essa questão, Santos afirma que:
[...] Graccho Cardoso buscou inaugurar uma série de prédios que
atenderiam ao ensino primário. No total foram onze edifícios
construídos na sua gestão, quase todos com um mesmo traçado
arquitetônico, marcados pela imponência da fachada e presença de
águias. Com isso, na era dos grupos escolares sergipanos, Graccho
Cardoso foi o presidente que mais difundiu esse tipo de instituição, a
modalidade de escola primária graduada. O perfil majestoso os
prédios que se impunham na paisagem urbana das principais cidades
sergipanas, criando ao mesmo tempo imagens de escola pública como
prédio público e de cidade moderna, que progredia como os avanços
da educação. O imaginário republicano foi exposto nas paredes dos
prédios escolares. Os projetos dos grupos não eram apenas de uma
escola racionalizada, mas também um desígnio de um país que
buscava exasperadamente a civilização263.
A construção dos grupos escolares, de fato, rendeu a Graccho Cardoso, prestígio
e reconhecimento da população aracajuana e sergipana, além disso, os prédios ajudaram
a compor a paisagem urbana de Aracaju que, naquele momento passava por um
processo de remodelação, que já havia sido iniciado em gestões passadas. Ao mesmo
tempo, em que os grupos escolares ajudavam na imagem do Presidente e na fisionomia
da cidade, eles também solidificavam os ideais de progresso, civilização e modernidade
que o regime republicano prometera. Freyre264 analisa esse momento de Ordem e
Progresso da Primeira República como um período de incertezas, afinal a dominação do
mais forte com o mais fraco permaneceria, ou seja, as mesmas estruturas que vigoraram
no Império se fariam presentes nas décadas iniciais da República, aumentando ainda
mais o questionamento se o regime poderia se estender a todos.
261
SERGIPE. Mensagem do Presidente do Estado de Sergipe Maurício de Graccho Cardoso dirigida
a Assembléia Legislativa de Sergipe em 07 de setembro de 1923, ao instalar a 1ª sessão Ordinária da
15ª Legislatura. Aracaju: Imprensa Official, 1923, p. 6.
262
SERGIPE. Mensagem do Presidente do Estado de Sergipe Maurício de Graccho Cardoso dirigida
a Assembléia Legislativa de Sergipe em 07 de setembro de 1924, ao instalar a 2ª sessão Ordinária da
15ª Legislatura. Aracaju: Imprensa Official, 1924, p. 22.
263
SANTOS, Magno Francisco de Jesus. Op. Cit., p. 90.
264
FREYRE, Gilberto. Op. Cit., p. 873.
111
A busca pela civilização no âmbito dos grupos escolares, além de ser concebida
através das aulas e das diversas práticas pedagógicas, era também realizada pelas festas
e atos cívicos realizados por essas instituições. Azevedo nos apresenta como eram
realizados esses eventos:
Conforme as descrições, todos os eventos ocorridos na instituição
processavam-se dentro da mais perfeita disciplina, exatamente da
forma pregada pelo novo Regime político: tudo deveria reinar
ordenadamente, demonstrando o progresso, a civilidade. Estas em que
alunos, professoras, porteiros e serventes mantinham-se em ordem, a
postos, contando como o toque musical da banda de música da Força
Pública do Estado, geralmente presente em todas as festas cívicas265.
As datas comemorativas, a exemplo do 7 de setembro, 13 de maio, 15 de
novembro, entre outras, eram carregadas de simbolismos e rituais pelos grupos
escolares, pois eram nesses momentos que os alunos deveriam mostrar a civilidade, a
ordem e o respeito a essas celebrações solenes, que além de contar com a participação
da população tinha a presença do Presidente do Estado e de membros do Governo. A
imagem seguinte (Figura 21) representa a organização das alunas da Escola Normal de
Aracaju, instituição responsável por formar futuras professoras e que também
aprimorava suas técnicas de ensino nos grupos escolares, como por exemplo, no Grupo
Modelo que ficava anexo ao prédio da referida escola266 e que servia como um estágio
para as alunas.
Figura 21 – Grupo de alunas da Escola Normal de Aracaju
Fonte: REVISTA Fon-Fon, n. 35, 1925.
265
266
AZEVEDO, Crislane Barbosa de. Op. Cit., 2009, p. 223.
SANTOS, Magno Francisco de Jesus. Op. Cit., p. 78.
112
A imagem (Figura 21) encontrada na Revista Fon-Fon nos mostra a organização
das alunas durante o ato do registro, vê-se também como a pose é importante para
caracterizar a ordem e disciplina. Ao mesmo tempo, vemos que o ato de posar “é
recorrente e ocupa lugar de destaque267” no momento de fotografar. Um fator é
interessante na imagem: a quantidade de alunas negras é expressiva em uma época onde
os preconceitos raciais eram constantes e em determinados espaços públicos, limitada.
A educação era, talvez, a única chance de trabalho para essas moças no futuro.
As ações de Graccho Cardoso voltadas para a educação também lhe renderam
artigos na imprensa, dentro e fora do Estado. Para um dos periódicos “uma das cousas
para que mais olha a actual administração de Sergipe é, indiscutivelmente, a intrucção
pública268”. A Revista Fon-Fon, em seu número 35, dedicou diversas páginas para
retratar a situação de progresso que vivia Aracaju e Sergipe durante a gestão do
Presidente Graccho. Sobre a instrução pública o periódico escreveu:
A instrucção é uma verdade no Estado de Sergipe, pois está
disseminada por todos os cantos, mesmo pelos mais longiquos, graças
á tenacidade de um governo conscio de seus deveres como é o do dr.
Graccho Cardoso. Antes da entrada do actual governo, o que havia em
Sergipe, com relação á instrucção, deixava muito a desejar. As escolas
primarias funcionavam principalmente no interior, em salas antigas,
onde o ar e a luz nunca penetraram. Em ambiente assim, era natural
que as crianças não sentissem a alegria que só ultimamente vieram a
conhecer269.
A gestão de Graccho Cardoso ganhava cada vez mais notoriedade devido a sua
intensa atuação na área educacional. Para o Presidente, a educação, além de tornar o
indivíduo ciente de suas obrigações e ajudá-lo a adentrar na modernidade e na
civilização, era responsável, também, pelo desenvolvimento econômico e social do
Estado, por isso, para além dos grupos escolares, ele também criou escolas
profissionalizantes, como o Patronato de São Maurício, representado na imagem que
segue (Figura 22).
267
TURAZZI, Maria Inez. Op. Cit., p. 14.
SERGIPE Jornal. A Instrucção Publica em Sergipe. Aracaju, 27 jan. 1923, Ano II, n. 457, p. 1.
269
REVISTA Fon-Fon. A instrucção pública em Sergipe. Rio de Janeiro, 29 ago. 1925, Ano XIX, n. 35,
p. 56.
268
113
Figura 22 – O edifício do Patronato de São Maurício
Fonte: REVISTA Fon-Fon, n. 35, 1925.
O Patronato foi uma escola agrícola, que recebia meninos desamparados e tinha
capacidade para duzentas crianças. A criação desses espaços ocorria no Brasil desde o
Império. Servia para incluir, de alguma forma, crianças descendentes de ex-escravos e
pobres, para evitar vadiagem. Era como uma forma de controle e assegurava a formação
de mão de obra para as empresas, portanto, não era um simples ato de benevolência
como os registros oficiais transmitiam. Nessa instituição, além de estudarem270, os
alunos aprendiam como trabalhar com a agricultura, num momento em que esse setor da
economia estava em alta, devido aos investimentos e trabalhos do Governo do
Estado271.
Com a criação da escola agrícola, Graccho Cardoso demonstrou que estava
interessado em trabalhar com todos os níveis de ensino, não apenas com a educação
primária e o ensino profissionalizante, ele também teve a iniciativa de pensar no ensino
superior no Estado, que de acordo com Souza272:
[...] as primeiras tentativas de implantá-lo nas plagas sergipanas
remonta aos decênios iniciais da República. Em 1898, Daniel Campos,
presidente interino do Estado, nomeou uma comissão para elaborar o
plano de fundação de uma academia de direito. Em 1907, o presidente
Guilherme Campos concedeu uma subvenção à sociedade que criasse
uma faculdade de direito na capital. Todavia, nenhuma dessas
iniciativas surtiu efeito.
270
REVISTA Fon-Fon. O patronato de menores. Rio de Janeiro, 29 ago. 1925, Ano XIX, n. 35, p. 66.
SERGIPE. Mensagem do Presidente do Estado de Sergipe Maurício de Graccho Cardoso dirigida
a Assembléia Legislativa de Sergipe em 07 de setembro de 1923, ao instalar a 1ª sessão Ordinária da
15ª Legislatura. Aracaju: Imprensa Official, 1923, p. 37-38.
272
SOUZA, Cristiane Vitório de. Op. Cit., 2001.
271
114
Podemos perceber, que as tentativas de implantação de uma Faculdade de
Direito em Sergipe começam nos anos finais do século XIX e adentra ao XX com
resultados infrutíferos. É interessante nos questionarmos, por que Direito? Obviamente
que o Estado gostaria de entrar no seleto grupo de instituições voltadas para essa ciência
jurídica, a exemplo de Recife e São Paulo. Em 1925, Graccho Cardoso anuncia, na
mensagem presidencial, a fundação da referida instituição, tão almejada pelos
governantes sergipanos que o antecederam:
Festividade de intenso jubilo, pelas esperanças que suscitou, traduziu
a installação da Faculdade de Direito Tobias Barretto, estabelecimento
superior de letras juridicas, a cujo salutar influxo Sergipe vae dever
amanhã pujantes e profícuas conquistas no campo das instituições
sociaes e políticas. Tomando logar ao lado das Academias congêneres
do paiz, o novel instituto cumula lacuna sensibilissima nas aspirações
da mocidade conterranea e, do mesmo passo, rende tributo de
immortal admiração ao patricio notavel que pelo seu esforço genial
tanto soube accrescer o patrimônio philosophico e jurídico da patria e
da humanidade273.
A mensagem do governante externa a alegria do mesmo ao fundar uma
instituição de ensino superior no Estado, desejando que a mesma seja comparada às
grandes Faculdades de Direito do país. Para Graccho Cardoso, os jovens sergipanos que
aspiravam se tornar advogados não precisariam sair de sua terra para estudar em outros
lugares do país. Inicialmente, a faculdade direito funcionaria no prédio do Grupo
Escolar Barão Maroim, representado na próxima imagem.
Figura 23 – Grupo Escolar Barão de Maroim
Fonte: Acervo Fotográfico do Memorial de Sergipe.
273
SERGIPE. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa, em 07 de setembro de 1925. Ao
instalar-se a 3ª sessão ordinária da 15ª Legislatura, pelo Presidente do Estado Dr. Maurício
Graccho Cardoso. Aracaju: Imprensa Oficial, 1925, p. 6.
115
O imponente prédio, localizado na Avenida Ivo do Prado, não foi construído na
administração de Graccho Cardoso, percebe-se pela ausência da águia em seu pórtico.
Erguido em 1917, na gestão do General Oliveira Valadão, intencionou-se que o curso de
Direito funcionasse em suas dependências, o que não ocorreu, pois mesmo tendo
professores, estatutos aprovados, diretor e vice-diretor já definidos274, a instituição não
obteve êxito, por falta de equipamentos não concedidos pelo Governo Federal. Como
consequência disso, não atraiu um número considerável de matrículas e desestimulou o
início das aulas275. Outro fator que pode ter incidido sobre as matrículas foi a falta de
condições dos jovens, uma vez que o curso de Direito era caro, apesar da maioria do seu
corpo discente ser formado por filhos da elite. Contudo, a Faculdade de Farmácia e
Odontologia, criada no mesmo ano pelo Governo de Graccho, não seguiu em frente por
muito tempo, durou apenas um ano276. Por fim, a ida de jovens da elite para as
faculdades de outros Estados poderia também ter influenciado no número baixo de
matrículas, pois, quem, com situação econômica favorável, deixaria de frequentar as
renomadas instituições da época?
O Instituto de Química também foi outro investimento importante na educação
sergipana, durante o mandato de Graccho e assim como as outras instituições que “eram
criadas com o objetivo de prover o Estado de profissionais habilitados277”, podemos
notar que havia uma falta de mão de obra qualificada em Sergipe, que pudesse atender
aos anseios modernistas do Governo. Em seguida, vemos na imagem a fachada do
Instituto.
274
NUNES, Maria Thétis. Op. Cit., 2008, p. 263.
SERGIPE. Mensagem do Presidente do Estado de Sergipe Maurício de Graccho Cardoso dirigida
a Assembléia Legislativa de Sergipe em 07 de setembro de 1926, ao instalar a 1ª sessão Ordinária da
16ª Legislatura. Aracaju: Imprensa Official, 1926, p. 12-13.
276
SOUZA, Cristiane Vitório de. Op. Cit., p. 46.
277
AZEVEDO, Crislane Barbosa de. Op. Cit., 2013, p. 47.
275
116
Figura 24 – Instituto de Cuimica
Fonte: REVISTA Fon-Fon, n. 36, 1925.
De acordo com a mensagem presidencial de 1925, o instituto foi edificado todo
em cimento armado e media 12x20,8m totalizando aproximadamente 250m² e era
distribuído em dois andares278. Assim como nos demais edifícios erguidos por Graccho
Cardoso, a águia também estava pousada sobre o Instituto de Química. No artigo
publicado pela Fon-Fon a instituição iria “fornecer ao Estado analystas capazes de
prover as necessidades dos laboratorios das usinas e das estações experimentaes279”,
porém, assim como nas outras instituições houve um baixo número de matrículas. Outra
instituição, que ganhou um novo prédio na gestão de Graccho Cardoso, foi o Ateneu
Sergipense, existente em Sergipe desde o período Imperial, com sua fundação em 3 de
fevereiro de 1871, que, nas palavras do Presidente Graccho era “o único órgão com
caracter official, que ha mais de meio seculo se devota no Estado a melhorar a qualidade
e augmentar a quantidade dos conhecimentos adquiridos na escola280.” Para essa
instituição, o Governo construiu um novo prédio que está representador na imagem
seguinte (Figura 25).
278
SERGIPE. Mensagem do Presidente do Estado de Sergipe Maurício de Graccho Cardoso dirigida
a Assembléia Legislativa de Sergipe em 07 de setembro de 1925, ao instalar a 3ª sessão Ordinária da
15ª Legislatura. Aracaju: Imprensa Official, 1926, p. 114.
279
REVISTA Fon-Fon. O Instituto de Chimica. Rio de Janeiro, 29 ago. 1925, Ano XIX, n. 35, p. 63.
280
SERGIPE. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa, em 07 de setembro de 1923. Ao
instalar-se a 1ª sessão ordinária da 15ª Legislatura, pelo Presidente do Estado Dr. Maurício
Graccho Cardoso. Aracaju: Imprensa Oficial, 1923, p. 9.
117
Figura 25 – Prédio do Atheneu Pedro II
Fonte: Museu da Gente Sergipana.
Disponível em:
<http://www.museudagentesergipana.com.br/wps/portal/inicial/restauracaoemuseografia/opredio>.
Acesso em: 27 out. 2015.
No dia 13 de agosto de 1926, o palacete que abrigaria a instituição escolar foi
inaugurado. Na ocasião se fez presente o então Presidente eleito da República,
Washington Luís. A partir daquela data, a escola seria chamada por Atheneu Pedro II,
em homenagem ao centenário de nascimento do monarca que ocorreu naquele ano e que
nas palavras de Graccho uma forma de “gratidão ao monarcha que tanto fizera pelo
progresso do ensino no Brasil281”. Interessante como mesmo após 38 anos da abolição
da monarquia, como a representação e o poder simbólico do último Imperador do Brasil
se faziam presentes no regime republicano. É importante ressaltar que a mudança do
nome da instituição escolar, se deu após a Lei do Banimento da Família Imperial ser
revogada em 1920, pelo então Presidente Epitácio Pessoa282. Antes disso, nada que
remetesse à memória da Monarquia poderia ser utilizado em público, pois com o 15 de
novembro de 1889, o novo regime impôs seus preceitos, apagando a memória deixada
pela família imperial. Ruas que homenageavam o imperador e a imperatriz mudaram de
nome, enaltecendo figuras republicanas, uma forma de criar novos heróis para o
nascente regime. Estátuas e quadros dos mesmos desapareceram das repartições e
lugares públicos. Na residência do Monarca, o Palácio de São Cristóvão, ocorreram
281
SERGIPE. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa, em 07 de setembro de 1926. Ao
instalar-se a 4ª sessão ordinária da 15ª Legislatura, pelo Presidente do Estado Dr. Maurício
Graccho Cardoso. Aracaju: Imprensa Oficial, 1926, p. 22.
282
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Op. Cit., 1998, p. 499.
118
leilões de objetos e móveis pertencentes à realeza brasileira283. Em 1907, o príncipe
Dom Luís, segundo filho da Princesa Isabel e do Conde D’Eu foi impedido de
desembarcar em solo brasileiro284. Era a República brasileira temendo a restauração da
Monarquia, mas em 1925, com as celebrações do centenário de nascimento do
imperador Pedro II, parece que o regime republicano fez as pazes, comemorando o
nascimento daquele que ele próprio baniu.
Ao adentrarmos ao universo da educação sergipana no Governo de Graccho
Cardoso, vamos perceber que, segundo o Presidente do Estado, a educação traria
desenvolvimento para Sergipe e inseria ainda mais Aracaju nos padrões de civilização e
modernidade que a mesma vinha se inserindo com suas reformas urbanas. O
pensamento do mandatário não poderia ser diferente, afinal o mesmo era oriundo de
uma “família da pequena burguesia urbana ligada ao magistério285” e foi através da
instrução pública com os seus imponentes grupos escolares, que Aracaju vivenciou uma
Belle Époque em seu sistema educacional.
3.2 - O Tabuleiro em Obras
Como foi abordado anteriormente nesse trabalho, as obras de remodelação
iniciadas no mandato do Presidente Pereira Lobo (1918-1922) não foram concluídas,
devido à crise que se abateu nas finanças estaduais, a partir de 1921, por isso os
trabalhos foram postergados e ao assumir o Governo, Graccho Cardoso deveria
continuá-los. Os trabalhos voltados para a educação foram relevantes, pois ajudariam na
escolarização dos sergipanos, em período onde existiram dificuldades de ensino com as
escolas isoladas, porém Azevedo aponta outras obras que mereceram destaque durante a
gestão do referido Presidente:
Contam-se muitas iniciativas do governo Graccho Cardoso, tais como:
Regularização da propriedade fundiária; continuação de aterros e
calçamento em Aracaju e diversos melhoramentos no interior do
Estado; melhora dos sistemas de esgotos e de fornecimento de água;
organização dos serviços sanitários e edição de um Colégio Sanitário;
criação do instituto Parreiras Horta para pesquisa e práticas médicas e
do Instituto de Química; contribuição à construção do Hospital de
283
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Op. Cit., 1998, p. 486.
Sobre a vinda do Príncipe Dom Luís ao Brasil, em prol de uma possível restauração, ver: MALATIAN,
Teresa. Dom Luís de Orléans e Bragança: peregrino de impérios. São Paulo: Alameda Casa Editorial,
2010.
285
NUNES, Maria Thétis. Op. Cit., 2008, p. 251.
284
119
Cirurgia; início, em parceria com o Ministério da agricultura, das
pesquisas sobre a possível existência de petróleo em Sergipe;
construção da Penitenciária, do Mercado e do Matadouro em Aracaju;
criação do Banco Estadual de Sergipe; substituição dos bondes de
tração animal por carris elétricos e regulamentação da inspetoria de
veículos286.
As obras apresentadas, pela autora, foram realizadas na capital sergipana, o que
não significa dizer que o interior ficou aquém dos trabalhos iniciados pelo Presidente,
porém isso não nos impede de citar algumas obras em outros municípios de Sergipe,
como por exemplo: “instalação de energia elétrica em cidades do interior, como
Estância, Lagarto e Nossa Senhora das Dores; construção de estradas; incentivo ao
cultivo do algodão, à criação de gado, bem como à indústria [...]287”.
Em parceria com a Intendência Municipal, que a partir de 1925 estava sob a
administração de Hunald Santaflor Cardoso, indicado pelo Presidente Graccho288 para
liderar o poder executivo de Aracaju, o Governo deu continuidade às obras inacabadas
nas gestões passadas, como o calçamento da cidade imprescindível para uma urbe que
se modernizava.
No calçamento realizado pelos atuais Governos Estadual e Municipal houve uma
diferença dos que foram realizados por Pereira Lobo: dessa vez era feito com
paralelepípedos, o que impossibilitava a formação de poças nas ruas da capital. Não se
sabe ao certo qual material foi utilizado na pavimentação da cidade feita pela gestão
anterior, porém, como era comum naquele período, o uso de pedras irregulares poderia
ter sido uma opção utilizada por seu antecessor. As obras de calçamento podem ser
observadas na imagem:
286
AZEVEDO, Crislane Barbosa de. Op. Cit., 2009, p. 104.
Idem.
288
Com a instauração da República, os chefes dos executivos municipais eram designados pelos
Presidentes dos Estados, sem que houvesse eleições para o cargo. Ao assumir o governo em 1922,
Graccho contou com a ajuda de dois intendentes: Antônio Batista Bittencourt e Adolfo Espinheira Freire
de Carvalho, até 1925, quando exonerou esse último e empossou Hunald Santaflor Cardoso, seu irmão e
então bacharel e diretor do Banco Estadual de Sergipe. Ver: SERGIPE. Mensagem do Presidente do
Estado de Sergipe Maurício de Graccho Cardoso dirigida a Assembléia Legislativa de Sergipe em
07 de setembro de 1925, ao instalar a 3ª sessão Ordinária da 15ª Legislatura. Aracaju: Imprensa
Official, 1925, p. 9-10.
287
120
Figura 26 – O novo calçamento de Aracaju – Rua de Itabaiana, calçada a
paralelepípedos
Fonte: REVISTA Fon-Fon, n. 35, 1925.
A imagem (Figura 26) apresenta as obras de calçamentos realizadas nas ruas de
Aracaju. É interessante notarmos, no registro fotográfico, a presença dos trilhos de
bondes elétricos que logo seriam implantados na capital em substituição aos bondes de
tração animal. De acordo com a mensagem presidencial, foram realizados na Rua
Itabaiana (mostrada na fotografia), 8.664 metros de calçamento com paralelepípedos e
ao todo:
Foram assentados 20.951 metros quadrados, sendo [...] 1.193 na rua
de Pacatuba, 4.767 na Avenida Barão do Rio Branco, 2.271 na
Avenida Ivo do Prado e 4.056 na Praça Fausto Cardoso. Desse total, é
preciso notar que 11.111 metros foram executados em 1924 e os
restantes, isto é, 9.840, no corrente anno, proseguindo presentemente
as turmas encarregadas desse serviço a trabalhar na Avenida Ivo do
Prado e rua de Itabaiana. Á pedra irregular, tendo somente a face
superior apparelhada foram assentados 525 mestros quadrados, na
Praça de Santa Izabel289.
A partir da mensagem presidencial, podemos perceber que ainda havia um
trecho em que as pedras irregulares eram utilizadas para calçamentos e que os
paralelepípedos foram colocados nas principais ruas da cidade. Para embelezar o
calçamento, 1.377 metros lineares de meios fios de granito foram colocados no trecho
entre as Avenidas Barão do Rio Branco e Ivo do Prado, como também na Rua de
289
SERGIPE. Mensagem do Presidente do Estado de Sergipe Maurício de Graccho Cardoso dirigida
a Assembléia Legislativa de Sergipe em 07 de setembro de 1925, ao instalar a 3ª sessão Ordinária da
15ª Legislatura. Aracaju: Imprensa Official, 1925, p. 10.
121
Pacatuba290. As transformações no calçamento renderam comentários dignos de nota
pela Revista Fon-Fon:
O calçamento que era o mais antiquado possível, está sendo
substituído pelo de parrallelepipedos de granito ou de macadame
alcatroado, achando-se já nas ruas e praças calçadas. O serviço de
calçamento custa á municipalidade enormes sommas, pois, não
havendo em Sergipe pedra em quantidade sufficiente, é ella trazida de
fóra do Estado291.
Essa assertiva encontrada no periódico carioca nos revela que de fato o
calçamento de Aracaju era rústico, mas não informa qual material foi utilizado, ao
mesmo tempo, mostra que para conseguir pedras como granito, a Intendência, que era
responsável pelas obras de pavimentação, buscou em outros Estados o que custou
enormes valores à municipalidade. De acordo com a mensagem presidencial, o valor
somado com as obras públicas de Aracaju, que foram repassados para a administração
municipal, era de 58:997$881. Logo, no entender de Azevedo:
Os investimentos do governo em obras públicas denunciavam um
projeto modernizador em que, além da atenção aos serviços de
instrução, tinha lugar de destaque os serviços embelezamento e
higienização dos espaços públicos292.
Além de grandes investimentos da educação com os grupos escolares, escolas
agrícolas e até com ensino superior, Graccho Cardoso mostrou-se preocupado com as
obras públicas, por isso que, assim como seu antecessor, ele promoveu reformas das
praças e jardins, a exemplo da Praça Pinheiro Machado, onde os restos mortais de
Tobias Barreto foram depositados em um monumento em homenagem ao mesmo293. A
Praça Fausto Cardoso, localizada no centro do já mencionado “Tabuleiro de Pirro”,
também recebeu melhoramentos, novas árvores foram plantadas. A construção de áreas
verdes ajudava a combater os miasmas segundo os sanitaristas. A Praça ganhou também
novos coretos, como o que a imagem seguinte representa.
290
SERGIPE. Mensagem do Presidente do Estado de Sergipe Maurício de Graccho Cardoso dirigida
a Assembléia Legislativa de Sergipe em 07 de setembro de 1925, ao instalar a 3ª sessão Ordinária da
15ª Legislatura. Aracaju: Imprensa Official, 1925, p. 10.
291
REVISTA Fon-Fon. Aracaju remodelada. Rio de Janeiro, 29 ago. 1925, Ano XIX, n. 35, p. 75.
292
AZEVEDO, Crislane Barbosa de. Op. Cit., 2013, p. 36.
293
REVISTA Fon-Fon. Jardins de Aracajú. Rio de Janeiro, 29 ago. 1925, Ano XIX, n. 35, p. 79.
122
Figura 27 - Coreto da Praça Fausto Cardoso
Fonte: Acervo Fotográfico de Jeferson Augusto da Cruz, 2016.
Os coretos seguem os preceitos da arquitetura eclética e que, paulatinamente,
começava a se impor sobre a paisagem urbana de Aracaju, no início do século XX,
como também a de outras cidades brasileiras, deixando de lado a arquitetura
neoclássica, que figurou no Brasil durante o período monárquico.
Para abrir novas ruas e avenidas, “artérias da cidade moderna”, a exemplo da
Artur Bernardes que, segundo o Presidente era a maior da cidade, pois começava “a
partir da Estação Estrada de Ferro E’ste Brasileiro [...] até o triangulo de entroncamento
das linhas ferreas no bairro Aribé294”. Desapropriações foram feitas para que outras ruas
e avenidas surgissem no Bairro Santo Antônio e no Centro da cidade. De acordo com a
mensagem presidencial elas foram de utilidade pública e os proprietários foram
indenizados295. Interessante notar que foi a primeira vez que atos de desapropriação
foram citados nos documentos presidências de Graccho Cardoso, porém o paradeiro das
pessoas, sua condição social e econômica são desconhecidos. A remodelação de
avenidas que já haviam passado por obras em gestões passadas, a exemplo da Avenida
Barão do Rio Branco, também foi realizada, o que demonstra a insatisfação
294
do
SERGIPE. Mensagem do Presidente do Estado de Sergipe Maurício de Graccho Cardoso dirigida
a Assembléia Legislativa de Sergipe em 07 de setembro de 1925, ao instalar a 3ª sessão Ordinária da
15ª Legislatura. Aracaju: Imprensa Official, 1925, p. 11.
295
. Mensagem do Presidente do Estado de Sergipe Maurício de Graccho Cardoso dirigida a
Assembléia Legislativa de Sergipe em 07 de setembro de 1925, ao instalar a 3ª sessão Ordinária da
15ª Legislatura. Aracaju: Imprensa Official, 1925.
123
Presidente Graccho com os investimentos em obras públicas realizados por seus
antecessores, ou a criação de uma nova memória e o apagamento da anterior. Como
todo político, ele também demarcou seu território, por isso que as remodelando, mais
uma vez, ele ganharia mais notoriedade e destaque na população aracajuana. A imagem
(Figura 28) mostra como ficou a avenida referida acima:
Figura 28 - Um trecho da Avenida Rio Branco, depois do calçamento e
da nova ajardinação
Fonte: REVISTA Fon-Fon, n. 35, 1925.
Além de acrescentar mais árvores e um novo calçamento na
avenida
representada na imagem (Figura 28), o Presidente terminou as obras da balaustrada do
cais do Rio Cotinguiba (atualmente chamado Rio Sergipe), “Foram construidos 517,81
metros lineares, sendo 274,71 na Avenida Rio Branco e 243,10 na Avenida Ivo do
Prado296”.
As obras do porto foram deixadas inconclusas por Pereira Lobo, que por falta de
apoio do Governo Federal e pelas críticas da imprensa, não deu seguimento aos
trabalhos de revitalização da zona portuária. Com isso, Graccho Cardoso, em 1926,
último ano do seu mandato, conseguiu apoio da União para realizar as obras do porto:
Por decreto n. 17.073, de 21 de outubro de 1925, o Governo Federal,
de accordo com o que propoz a Inspectoria de Portos, Rios e Canaes,
296
SERGIPE. Mensagem do Presidente do Estado de Sergipe Maurício de Graccho Cardoso dirigida
a Assembléia Legislativa de Sergipe em 07 de setembro de 1925, ao instalar a 3ª sessão Ordinária da
15ª Legislatura. Aracaju: Imprensa Official, 1925, p. 10.
124
approvou o projecto e orçamento para as obras de melhoramentos do
porto de Aracajú, neste Estado, na importância de 4.998:200$000297.
Com a economia crescendo se fazia necessária a reestruturação do porto da
capital, pois com isso a exportações dos bens produzidos no Estado cresceriam pelo país
e a economia de Sergipe teria um avanço considerável. Ao mesmo tempo, o porto
também iria servir para atrair pessoas, principalmente estrangeiros, por isso que tornar a
cidade moderna era necessário, também, para atrair os olhares internacionais, como
europeus acostumados com a modernidade e civilização em seu continente. Não ter bom
porto na cidade não era permitido, afinal, por esse motivo que, em 1855, a capital foi
transferida.
As preocupações com o embelezamento da capital seguiram Graccho Cardoso
até o final do seu mandato. Segundo ele “a cidade de Aracajú [...], foi objecto tambem
dos nossos mais instantes cuidados, passando, como é notorio, nos logares mais
movimentados e de maior importância, por transformações radicaes298”. Tais
transformações, de fato, embelezaram a cidade e ajudaram a conviver com padrões de
higiene. Para dotar ainda mais a cidade de belas e imponentes construções, o Governo
doou o terreno para a construção da nova sede da Intendência299, representada na
imagem seguinte (Figura 29).
Figura 29 – Palácio da Prefeitura de Aracajú, construído no Governo
Graccho Cardoso
Fonte: REVISTA Fon-Fon, n. 35, 1925.
297
SERGIPE. Mensagem do Presidente do Estado de Sergipe Maurício de Graccho Cardoso dirigida
a Assembléia Legislativa de Sergipe em 07 de setembro de 1926, ao instalar a 1ª sessão Ordinária da
16ª Legislatura. Aracaju: Imprensa Official, 1926, p. 5.
298
Ibdem, p. 25.
299
Legislatura. Aracaju: Imprensa Official, 1926. Ver também: AZEVEDO, Crislane Barbosa de. Op.
Cit., 2013, p. 49.
125
O prédio recebeu a denominação de “Palácio Inácio Barbosa”, em alusão ao
fundador de Aracaju, e diferente do grandioso Palácio do Governo (atualmente Olímpio
Campos), não possuía características que atribuíssem pompa a sua arquitetura, que
lembrava as construções neoclássicas, sem muitos ornamentos, o que tiravam um pouco
do seu esplendor, porém a grandiosidade do edifício chamava atenção, juntamente com
as duas esculturas representando as famosas águias, símbolo da gestão Graccho
Cardoso. Provavelmente é o único a possuir duas esculturas dessas aves, enquanto os
outros apenas uma reina sobre as fachadas.
As obras realizadas por Graccho, em sua gestão, serviram para legitimar sua
trajetória política, sobrepondo sua memória a outra. Obviamente houve um interesse
dentro da cada trabalho realizado por ele, mas é inegável a importância que seus
trabalhos legaram a Aracaju nos anos 1920. No que se refere à saúde pública, sua
atuação foi constantemente lembrada pelas gerações seguintes. No próximo tópico
veremos como se deram os trabalhos da reforma sanitária, promovida pelo Presidente
do Estado.
3.3 - “Hygienizar, Embelezar e Modernizar”: A Reforma Sanitária de Graccho
Cardoso
Um dos fatores principais para que uma cidade se torne moderna, são sem
dúvida as preocupações relativas à higiene e saúde pública. Para que isso ocorresse a
contento, a população deveria seguir as ordens prescritas pela inspetoria de higiene,
porém, ao que parece isso não acontecia, pois os surtos de epidemias aumentavam
constantemente na capital e no interior de Sergipe.
A remodelação urbana consistia em embelezar a cidade, inserido em sua
estrutura elementos que a tornassem moderna, mas é importante ressaltar que “os
melhoramentos justificavam-se como uma urgência e estética300”, por isso que as
reformas urbanas seguiram as ideias higienistas difundidas no final século XIX e que
eram pautadas no ensino de novos hábitos passados principalmente pela educação,
visando a manutenção da saúde pública.
Ao assumir a presidência do Estado em 1922, Graccho encontrou uma estrutura
de saúde pública deficitária e diversas epidemias assolando a capital e o interior de
300
LEITE, Rinaldo César Nascimento. E a Bahia civiliza-se....: ideais de civilização e cenas de anticivilidade em um contexto de modernização urbana em Salvador (1912-1916). 1996. 161f. Dissertação
(Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1996, p.
55
126
Sergipe. Mesmo seu antecessor, Pereira Lobo, ter empreendido trabalhos para por fim
aos focos de doenças, como a Influenza e varíola, os mesmos não surtiram efeito, uma
vez que trabalhos urbanos, a exemplo de aterros, foram realizados, todavia não
impediram a formação de águas estagnadas e por sua vez, a proliferação de doenças 301.
Além da educação e das obras públicas, responsáveis pela remodelação da capital,
Graccho Cardoso direcionou seus esforços no âmbito da saúde, por se tratar de um setor
que ajudaria no desenvolvimento econômico de Sergipe, entretanto:
Graccho partilhava também da crença dominante de que somente a
União teria recursos técnicos e financeiras para estender a saúde
pública para o conjunto da Federação. [...] a primeira medida tomada
pelo novo governante, pouco depois da posse, foi procurar o
Departamento Nacional de Saúde Pública302.
Para o Presidente, apenas o Governo Federal poderia realizar com afinco, os
trabalhos de saúde pública e resolver os problemas ocasionados pelas epidemias, por
isso que em 1923, um Decreto foi assinando, onde as atribuições da Diretoria de
Higiene e Saúde Pública se tornaram obrigação da União, causando automaticamente a
sua extinção. A partir daquele momento, o Departamento Nacional de Saúde Pública
estava encarregado pelos serviços sanitários em Sergipe. Ao mesmo tempo, houve a
“transferência das atribuições do órgão de assistência pública para a Intendência
Municipal (Prefeitura) e o Serviço de Assistência aos mortos retornava para a Diretoria
de Segurança Pública303”. Todas essas ações foram previstas no contrato assinado entre
o Estado e a União.
Com a transferência das atribuições da antiga Diretoria de Higiene e Saúde
Pública, houve a centralização pela União no comando da repartição, porém não
significava dizer que o Estado não realizaria algumas indicações de pessoas para
ocuparem cargos no órgão, contudo algumas das indicações do Presidente foram
negadas, como a do seu irmão para chefiar os serviços sanitários, ficando o mesmo em
um cargo secundário. Vê-se aí a presença do nepotismo, tão presente nas indicações da
Primeira República, a partir desse episódio começaram as rusgas entre os Governos
Estadual e Federal. De acordo com Santana:
Conflitos também ocorreram para a nomeação do quadro de pessoal e
foi feito e cumprido um acordo: O Governo Estadual nomearia o
301
DIÁRIO da Manhã. Águas Estagnadas. Aracaju, 26 jul. 1919, Ano IX, n. 2.376, p. 1.
SANTANA, Antônio Samarone de. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios. Aracaju: O
Autor, 2001, p. 201.
303
Idem.
302
127
pessoal administrativo e o Federal o pessoal técnico. A pretensão de
autonomia da saúde pública batia de frente com as formas tradicionais
de ocupação dos cargos públicos em Sergipe304.
É perceptível vermos que a busca pela autonomia nesse âmbito era constante, o
Governo do Presidente Graccho, orgulhoso pelas reformas na cidade e as construções
dos grupos escolares terem elevado a sua popularidade, não queria deixar mais esse
mérito. O mesmo caso ocorria com a União, que sempre legou para si os avanços da
saúde pública nos Estados brasileiros, também não abriria mão dos méritos que os
trabalhos de saúde pública iriam proporcionar no Estado da federação.
Apesar desses problemas iniciais, o órgão começa a realizar suas tarefas e o
diretor nomeado pela União, Dr. Phocion Serpa, determina o plano de ação e as
atribuições do Serviço de Saneamento e Profilaxia Rural em Sergipe305. O plano atendia
a diversos setores e consistia principalmente em fiscalização e controle da higiene
aracajuana, “um verdadeiro programa de saúde pública, que ao ser implantado
modificaria totalmente a face dos serviços de higiene do Estado de Sergipe 306”, porém a
conturbada relação entre o Governo do Estado e a União resultou na recisão307 do
Decreto que entregava os serviços de saúde pública estadual ao Governo Federal. Após
inúmeros debates, a presidência do Estado é pressionada para retomar o acordo com o
Governo Federal, o que só ocorreu no ano de 1924, como nos mostra a mensagem
presidencial do referido ano:
No período do meu governo, nenhum surto epidemico registrou-se no
Estado. Renovado o accordo com o Departamento Nacional de Saude
Publica, que havia sido denunciado pelos motivos que voz expuz na
Mensagem do anno passado, entreguei toda direcção dos serviços
correlatos a esse importante ramo da administração aos delegados
federaes do Departamento e as vantagens têm sido sensíveis, em bem
da saude publica308.
Os motivos expostos pelo Presidente Graccho, que resultaram no rompimento do
contrato com a União, além das querelas e insatisfações ocorridas, foi por conta dos
altos valores que o Estado deveria pagar para a realização dos serviços do Departamento
304
SANTANA, Antônio Samarone de. Op. Cit., p. 202.
Foi um serviço criado no âmbito do Departamento Nacional de Saúde Pública e que assumiu os
trabalhos de saúde pública em Sergipe. Ver: SANTANA, Antônio Samarone de. Op. Cit., p. 201.
306
SANTANA, Antônio Samarone de. Op. Cit., p. 203.
307
SERGIPE. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa, em 07 de setembro de 1923. Ao
instalar-se a 1ª sessão ordinária da 15ª Legislatura, pelo Presidente do Estado Dr. Maurício
Graccho Cardoso. Aracaju: Imprensa Oficial, 1923, p. 36.
308
SERGIPE. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa, em 07 de setembro de 1924. Ao
instalar-se a 2ª sessão ordinária da 15ª Legislatura, pelo Presidente do Estado Dr. Maurício
Graccho Cardoso. Aracaju: Imprensa Oficial, 1924, p. 21.
305
128
Nacional de Saúde no Estado, segundo o Governo “estava sendo mais oneroso que
efficiente309”. Ao perceber que os serviços de saúde, estando sob responsabilidade da
União e que os gastos partiriam do Governo de Sergipe, não lhe rendendo nenhum
prestígio, o contrato foi rompido, o que nos faz entender que Graccho não desejava
arcar com nenhuma despesa e levar para si os lucros simbólicos que os trabalhos
renderiam.
O que possivelmente fez Graccho Cardoso retomar o contrato com o Governo
Federal foi a inoperância da velha repartição de saúde do estado que voltou a operar
após o rompimento com a União. Mesmo o Presidente tendo afirmado que não houve
epidemias durante esse período, é possível também que necessitando de mais verbas
para realizar obras voltadas para a saúde e higiene da população, o Presidente reata com
o Departamento Nacional de Saúde e passa a contribuir com 50% das despesas310.
Para ajudar na estrutura da saúde pública em Aracaju e no Estado, Graccho
Cardoso planejou a criação de instituições que ajudariam no desenvolvimento da saúde
pública e que seriam destinadas “a pesquisa e a produção de insumos básicos311”. Por
isso que em 14 de novembro de 1922, criou uma lei que autorizasse a fundação de uma
instituição, que seguiria os mesmos parâmetros de pesquisa do Instituto Oswaldo Cruz
(atualmente Fundação Oswaldo Cruz) e em 23 de julho de 1923, deu-se início as obras
do Instituto “Parreiras Horta” representado na imagem.
309
. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa, em 07 de setembro de 1923. Ao
instalar-se a 1ª sessão ordinária da 15ª Legislatura, pelo Presidente do Estado Dr. Maurício
Graccho Cardoso. Aracaju: Imprensa Oficial, 1923, p. 23
310
SANTANA, Antônio Samarone de. Op. Cit., p. 206.
311
Ibdem, p. 216.
129
Figura 30 – Vista lateral do Instituto Parreiras Horta, em
Aracaju
Fonte: REVISTA Fon-Fon, n. 35, 1925.
A imagem mostra a lateral do prédio do Instituto Parreira Horta, que recebeu
esse nome em homenagem ao médico discípulo de Oswaldo Cruz, que assumiu a
direção do Instituto. A construção do instituto terminou no prazo previsto, porém a
inauguração ocorreu em 5 de maio de 1924, pois o Governo aguardava a chegada do Dr,
Paulo de Figueiredo Parreiras Horta “o illustre scientista, que lhe dá o nome, para iniciar
o seu proveitoso e humanitário trabalho312”. De acordo com Santana o objetivo do
instituto era o de:
[...] construir, ao mesmo tempo, um Instituto Pasteur, voltado para o
combate a raiva; um Instituto Vacinogênico, para a produção da
vacina anti-varíola; e um laboratório de análise clínica, bacteriológica
e química; e que também funcionasse como um centro de pesquisas
médicas313.
As funções do instituto estavam dividas em três partes, como podemos ver na
citação, mas a produção da vacina contra a varíola foi importantíssima para aquele
momento de intensos combates a doença. Não há registros, em Aracaju, que revelem
algum tipo de revolta contra a aplicação de vacinas, diferente do que ocorreu no Rio de
Janeiro, mas a questão é que desde os tempos da antiga inspetoria de higiene, o número
de pessoas que procuravam a “imunização” contra a doença era baixo, por isso que os
grupos escolares, através da Nova Pedagogia incitavam em seu alunado as noções
primordiais de higiene, que deveriam ser aplicadas no cotidiano, por isso que educação
312
SERGIPE. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa, em 07 de setembro de 1924. Ao
instalar-se a 2ª sessão ordinária da 15ª Legislatura, pelo Presidente do Estado Dr. Maurício
Graccho Cardoso. Aracaju: Imprensa Oficial, 1924, p. 22.
313
SANTANA, Antônio Samarone de. Op. Cit., p. 216.
130
se tornou uma parceria na difusão dos trabalhos sanitaristas e tiveram no médico
Helvécio Andrade um aliado na propagação desses ideais higienistas no âmbito
educacional314. As funções do instituto foram realizadas com presteza, além disso, ele
produziu pela primeira vez em todo país, a vacina contra as febres tifoide e paratifóide,
doenças que se assemelham pela forma de contágio através da urina e vezes, mas que
produzem sintomas diferentes, procurou também elucidar a existência de difteria em
Sergipe315.
O instituto Parreiras Horta ganhou prestígio em todo país por ter ajudado durante
a Reforma sanitária, empreendida pelo Presidente Graccho Cardoso, a erradicar os focos
das doenças que assolavam a capital e o Estado, desde o século XIX. Tais moléstias
“eram o pesado tributo pago pela população mais pobre às péssimas condições da
Capital316”. A referida instituição também foi destaque nas páginas da Revista Fon-Fon:
Notavel creação do illustre presidente de Sergipe é o Instituto
Parreiras Horta dirigido pelo sábio que lhe dá o nome, e que tão
grandes e assingnalados benefícios vem prestando aos sergipanos.
Nelle, todas as vaccinas são encontradas e são feitas as analyses
bilogicas, produzindo, também o soro anti-rabbico317.
Os investimentos na saúde deram de fato notoriedade a Graccho Cardoso. Os
trabalhos sanitários associados a práticas modernas revelaram-se eficientes no combate
às epidemias que assolaram a Aracaju da Belle Époque. Com efeito, “imprimia, desse
modo, a redefinição do espaço urbano, a redistribuição dos locais destinados aos
serviços sanitários e o emprego de mecanismos de controle da população318”, com isso
as pessoas passaram a ser orientadas e suas residências constantemente visitadas,
principalmente a população pobre, que por conta da falta de higiene de sua habitações, a
culpa recaia sobre ela.
As preocupações com a saúde pública não cessaram com a fundação do Instituto
Parreiras Horta. Se fazia necessário outra instituição que pudesse atender os casos mais
graves, tanto de epidemias quanto de outras doenças e que pudesse realizar cirurgias,
uma vez que a rede de caridade hospitalar de Sergipe era precária. Dentro desse
314
VALENÇA, Cristina de Almeida. Civilizar, regenerar e higienizar: A difusão dos ideais da
pedagogia moderna por Helvécio Andrade (1911 – 1935). 2006. 254 p. Dissertação (Mestrado) –
Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2006.
315
SANTANA, Antônio Samarone de. Op. Cit., p. 218.
316
Idem.
317
REVISTA Fon-Fon. Sergipe sobre os impulsos do progresso. Rio de Janeiro, 29 ago. 1925, Ano
XIX, n. 35, p. 49.
318
SARGES, Maria de Nazaré. Op. Cit., p. 155.
131
contexto foi dada a ordem para a construção do Hospital de Cirurgia em 1º de novembro
de 1923, “a planta [...] foi traçada pelo Dr. Arthur Araújo e a construção ficou sob
responsabilidade do arquiteto e construtor Hugo Bozzi319”, o mesmo que executou
diversas obras, durante a remodelação de Aracaju, no Governo de Pereira Lobo.
Figura 31 – Vista geral do Hospital de Cirurgia, em Aracaju
Fonte: REVISTA Fon-Fon, n. 35, 1925.
A estrutura do hospital era grandiosa e sua construção custou caro aos cofres
públicos, tendo obtido ajuda também de particulares para que suas obras fossem
concluídas. É importante frisar que Aracaju possuía outra instituição hospitalar, o
Hospital Santa Isabel, o diferencial dessa nova instituição é que promoveria o cuidado
com a saúde e realizaria procedimentos cirúrgicos dentro dos padrões higiênicos e
modernos, ainda não experimentados pelo antigo hospital. A mensagem presidencial de
1926 mostra como ocorreu a cerimônia de inauguração do hospital:
Constituiu notável acontecimento a solennidade inaugural do Hospital
de Cirurgia, fundação de beneficencia constituída pelo Estado,
destinada a prodigilizar assistência medico-cirurgico, de accordo com
os ensinamentos e methodos de technica moderna320.
Em clima de festa o maior hospital de Sergipe era inaugurado, através da fala do
Presidente vamos perceber que o discurso do moderno se fazia presente também no
âmbito da saúde pública, afinal o Instituto Parreiras Horta e o Hospital de Cirurgia
319
SANTANA, Antônio Samarone de. Op. Cit., p. 227.
SERGIPE. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa, em 07 de setembro de 1926. Ao
instalar-se a 4ª sessão ordinária da 15ª Legislatura, pelo Presidente do Estado Dr. Maurício
Graccho Cardoso. Aracaju: Imprensa Oficial, 1926, p. 13.
320
132
consistiam em “exemplos da preocupação modernizadora do Governo, marcada pela
busca do desenvolvimento de instituições de pesquisa cientifica e prontos serviços à
população destinados aos aspectos de higiene321.” No entanto, criar instituições para
cuidar da saúde e da higiene da população não era o bastante, se fazia também
necessário trabalhar com o externo, ou seja, com as ruas. O saneamento de Aracaju
também necessitava passar por reformas também, pois no entender de Santos:
As representações elaboradas para a cidade de Aracaju indicam que
sua higienização era um dos pré-requisitos à modernização. A
construção da cidade moderna, prescindia o estabelecimento de uma
estrutura a fim de assegurar o seu continuo estado de vir a ser. Dessa
forma, grande parte das inovações que emergiram podem ser
concebidas como fatores necessários à manutenção desse processo.
Para fazê-la moderna, era preciso torná-la higiênica322.
O higienismo323 foi peça fundamental para a inserção das cidades na
modernidade, por isso, cuidar das habitações, dos costumes, da medicina, da eugenia, da
alimentação e do saneamento das ruas, se tornou uma tarefa empenhada pelos
governantes para alcançarem o status de moderno. No que se refere ao saneamento de
Aracaju, há muito tempo vinha passando por alguns problemas, como a falta de
estrutura, que gerava transtornos à população, acarretando na falta de abastecimento de
água. Pensando nessas questões, o Presidente Graccho contratou o famoso engenheiro
higienista Saturnino de Brito, que devido aos seus trabalhos nas cidades de Vitória-ES,
Santos-SP, Pelotas-RS, Natal-RN e Recife-PE, se tornou referência, graças ao
pioneirismo do urbanismo sanitário324. Seu pioneirismo deve-se ao fato das obras e
projetos desenvolvidos por ele, no início do século passado, pois a trajetória desse
engenheiro “se desenrola dentro da cultura urbanística do final do século XIX, num
contexto de industrialização e de explosão demográfica nas cidades européias, chegando
mais tarde às cidades brasileiras.”325 É interessante relatar a visita feita pelo engenheiro
à Aracaju em 1923, a pedido de Maurício de Graccho Cardoso, então Presidente do
321
AZEVEDO, Crislane Barbosa de. Op. Cit., 2013, p. 43.
SANTOS, Fabrícia de Oliveira. Op. Cit., p. 27.
323
O higienismo surge no Brasil entre o final do século XIX e início do XX e caracterizou-se pela
preocupação com saúde dos habitantes das cidades, principalmente a população pobre. Ver:
CHALHOUB, Sidney. Cidade febril: cortiços e epidemias na corte imperial. São Paulo: Companhia das
Letras, 1996, p. 31.
324
BURGER, Juliana Bandeira A. A paisagem nos Planos de Saneamento de Saturnino de Brito: entre
Santos e Recife (1905-1917). 161f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em
Desenvolvimento Urbano, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2008.
325
ARRUDA, Juliana Bandeira de. SÀ, Ana Rita Carneiro. A Estética Urbana no Projeto de Saturnino de
Brito. In: Paisagem e ambiente: ensaios, São Paulo, n. 22, 2006, p. 110-121.
322
133
Estado. A chegada do engenheiro foi noticiada pela imprensa, como nos mostra um
informe escrito no Sergipe Jornal:
Chegou a esta Capital pelo trem de domingo ultimo, em companhia de
seu auxiliar o jovem engenheiro dr, Attilio Guimarães, o eminente
profissional da engenharia sanitária dr. Saturnino de Britto. A vinda
do proficiente especialista a nosso Estado, obedece ao instante
chamado do dr. Graccho Cardoso afim de que seja aqui estudado e
solucionado o problema de abastecimento de água á capital, e
melhoria do serviço de esgotos326.
A vinda do tão afamado profissional consistia em elaborar ações com o governo
que viessem ajudar nos problemas de higiene e também na reforma do porto. No
entanto, abordaremos essas questões mais a frente. Sobre a presença de Saturnino em
Aracaju, o Sergipe Jornal informou:
A presença, pois, de tão illustre personagem em nossa capital, para
tanto sendo-lhe necessário interromper viagem de interesse a outros
Estados, deve para nos constituir motivo da mais justa alegria,
porquanto outro não é o intuito aqui do proficiente especialista que
attender aos desejos do Presidente de Sergipe no sentido de dar
immediata solução ao problema do abastecimento de agua a Aracajú,
e melhoria do serviço de esgotos327.
A presença de Saturnino em Aracaju atendia aos anseios do governo, que
desejava por um fim no problema de falta de água nas residências aracajuanas, por isso
que obras importantes foram realizadas, para que esse problema fosse solucionado. É
interessante frisar que a falta de água também atingia as repartições públicas e os grupos
escolares, o que fez com que o Presidente viajasse ao Rio de Janeiro para poder,
pessoalmente, tratar com o engenheiro a viabilidade das obras na capital sergipana. De
acordo com Santana:
O contrato visava a realização de um completo diagnóstico da situação
do saneamento básico de Aracaju e as sugestões de medidas para
resolver o problema. [...] Um amplo diagnóstico foi realizado, para
efetuar as obras, reformas e ampliação, a mesma empresa de Saturnino
de Brito foi contratada. Em 26 de dezembro de 1923, o engenheiro
Povoa de Brito, representante da empresa no Estado, iniciou as obras
de reconstrução da rede e abastecimento e água, drenagem e esgoto de
Aracaju. Foi necessário a reconstrução de grande parte dos
condutores, duplicação do reservatório e instalação de um sistema de
pré-filtragem junto ao ponto de captação do rio Pitanga328.
326
SERGIPE Jornal. Dr. Saturnino Britto. Aracaju, 30 jan. 1923, Ano II, n. 435, p. 1.
Idem.
328
SANTANA, Antônio Samarone de. Op. Cit., p. 236.
327
134
Como podemos perceber, através da assertiva, um longo processo de
reestruturação na rede de abastecimento de água e esgoto foi realizado. Não se sabe se
após essas reformas, a distribuição continuou a ser paralisada, pois essa situação era
rotineira antes da reforma, fazendo com que a população ficasse sem água em suas
residências durante dias, mas “essa era uma das consequências da modernização. Isto é,
nem sempre os melhoramentos dela decorrentes, eram coesos. Seu caráter inovador
poderia estar permeado de falhas e limitações329”. O que se sabe é que após a reforma
dos serviços de saneamento básico de Aracaju, Graccho Cardoso privatizou no final do
seu mandato as redes de água e esgoto330, provavelmente ele pensou que nas mãos de
entidades particulares poderia haver um melhor desenvolvimento do que sob os
cuidados públicos. Os serviços de abastecimento de água agora faziam parte do
patrimônio do capitalista Francino de Andrade Mello, personagem já citado nesse
trabalho. Dono do jornal O Imparcial, empastelado na gestão anterior, o que o tornou
adversário de Pereira Lobo. Essa venda apresenta um jogo de interesses e ao mesmo
tempo uma aproximação do Presidente com os inimigos políticos de seu antecessor e
colega de partido, mostrando que Graccho pode ter saído lucrando com a empreitada e
ter reformado o sistema de abastecimento para depois vendê-lo.
Preocupado também com a origem dos alimentos, sua conservação e manuseio
em feiras-livres, o Presidente providenciou as obras do Mercado Modelo e do
Matadouro Modelo, pois a fiscalização dos gêneros alimentícios fazia parte do plano de
ação do Departamento Nacional de Saúde Pública e não poderia deixar de lado, visto
que a má alimentação poderia transmitir doenças. A imagem seguinte (Figura 32)
mostra a construção do Mercado Modelo de Aracaju.
329
330
SANTOS, Fabrícia de Oliveira. Op. Cit., p. 25.
SANTANA, Antônio Samarone de. Op. Cit., p. 236.
135
Figura 32 - O grande Mercado Municipal de Aracaju, em vias de conclusão.
Fonte: REVISTA Fon-Fon, n. 35, 1925.
O Mercado Modelo possuía uma grande estrutura, assim como outros que foram
construídos em reformas urbanas pelo país, como por exemplo: os mercados de Belém
(Mercado Ver-o-Peso) e Manaus (Mercado Municipal Adolpho Lisboa), e “tomava uma
área de 5.168 m². Tornava-se, pois, mais uma obra monumental da administração
Graccho Cardoso331”. Infelizmente não conseguimos imagens que mostrassem a
estrutura do Matadouro Modelo, porém, sabemos que era “moderno e suntuoso332”,
características típicas da gestão do Presidente.
Assim como seu antecessor, o Presidente Graccho Cardoso foi vítima de
constantes ataques na imprensa, no entanto, os jornais que elogiavam os feitos do seu
governo modernista foram os que se voltaram contra ele. Estamos nos referindo ao
Correio de Aracajú e o Sergipe Jornal, que, como já evidenciamos nesse trabalho,
foram órgãos de propaganda do governo, porém um desentendimento dentro do Partido
Republicano Conservador de Sergipe liderado por Pereira Lobo, causou a divisão do
mesmo. Dantas nos apresenta:
Apesar da consciência dos problemas, Graccho Cardoso foi
percebendo dificuldades para efetivar seus projetos, fez concessões e
nem sempre conseguiu evitar descontentamentos. Embora tenha se
manifestado bastante reverente ao presidente da República, inclusive
atendendo o seu pedido de eleger senador, Lopes Gonçalves, cidadão
maranhense sem nenhuma vinculação com o estado, perdeu apoio dos
quadros políticos dominantes locais333.
331
AZEVEDO, Crislane Barbosa de. Op. Cit., 2013, p. 43.
Idem.
333
DANTAS, José Ibarê Costa. Op. Cit., 2004, p. 41.
332
136
Ao acatar o pedido da presidência da República, para eleger alguém sem ligação
com Sergipe para o Senado Federal, Graccho Cardoso causou um cisma dentro do
partido, inclusive com o próprio Pereira Lobo, que do Rio de Janeiro expressou sua
indignação, porém não falou em rompimento com o Presidente do Estado.
A partir desse momento, em meados de 1924, o partido começou a utilizar os
jornais contra o governo, chamando Graccho de “Judas”. Porém, é importante frisar que
a maioria dos membros do referido partido ficaram do lado do Presidente o que o
possibilitou trabalhar sem maiores complicações, haja vista que, durante o seu mandato
ocorreu a Revolta Tenentista334, onde ele ficou preso durante 21 dias e retomou em
seguida ao cargo.
É importante comparar as administrações de Pereira Lobo e Graccho Cardoso,
pois ambas tinham em seu bojo um processo de reforma da capital, baseando-se em
ideais modernos já experimentados em outras cidades. Pereira Lobo iniciou esse
processo, pois pegou o Estado em uma satisfatória condição financeira, porém acabou
deixando uma grande parte das obras para o seu sucessor, como: o calçamento das ruas,
reforma do porto, construção do mercado e da penitenciária modelo. Graccho, por sua
vez, as realizou em parceria com a Intendência Municipal e aproveitou-se da situação
econômica favorável por qual passava o Estado.
Assim como seu antecessor, Graccho Cardoso teve matérias publicadas na
Revista Fon-Fon, mas o diferencial de um para outro foi que para o último, o periódico
dedicou mais páginas da edição de número 35 que estava ricamente ilustrada com
imagens das obras realizadas em parceria com a Intendência Municipal. Isso ajudaria na
representação simbólica do governante e no imaginário social da época, afinal era um
periódico de circulação nacional que realizava uma matéria sobre Aracaju, que seria lida
por todo país.
Graccho pode terminar seu mandato sem maiores problemas, “mas não
conseguiu indicar seu sucessor nem foi para o Senado335” diferente do que ocorreu com
Pereira Lobo. Porém voltou a ser Deputado Federal até Revolução de 1930, retornando
com redemocratização do país, em 1945. Faleceu no Rio de Janeiro, em 3 de maio de
334
A Revolta Tenentista ocorreu em Sergipe quando, na madrugada de 13 de julho de 1924, quatro oficiais
acompanhados por soldados, invadiram o Quartel de Polícia e em seguida o Palácio do Governo, mataram
dois sentinelas e prenderam Graccho Cardoso, formando assim uma junta governativa por 21 dias.
Passado período tropas do 20º BC., 21º BC, 22º BC vieram a Aracaju e acabaram com o movimento, o
presidente foi reconduzido ao cargo e se tornou adversário dos tenentes. Ver: DANTAS, José Ibarê Costa.
Op. Cit., 2004, p. 42.
335
DANTAS, José Ibarê Costa. Op. Cit., 2004, p. 43.
137
1950, durante uma sessão plenária que presidia. Os reflexos das obras de Pereira Lobo e
Graccho Cardoso, no cotidiano de Aracaju, durante a Belle Époque serão vistos no
próximo capítulo.
138
CAPÍTULO 4
ECOS DA BELLE ÉPOQUE:
O COTIDIANO DA CAPITAL DE SERGIPE COM AS REFORMAS URBANAS
[...] a cidade serve de baliza ou marco totalizador e quase mítico para
as estratégias sócio-econômicas e políticas, a vida urbana deixa
sempre mais remontar àquilo que o projeto urbanístico dela excluía. A
linguagem do poder “se urbaniza”, mas a cidade se vê entregue a
movimentos contraditórios que se compensam e se combinam fora do
poder panóptico. A cidade se torna o tema dominante dos legendários
políticos, mas não é mais um campo de operações programadas e
controladas. Sob os discursos que a ideologizam, proliferam as
astúcias e as combinações de poderes sem identidade, legível, sem
tomadas apreensíveis, sem transparência racional – impossíveis de
gerir336.
Durante algum tempo, em decorrência das transformações urbanas vivenciadas,
entre o final do século XIX e início do XX, a cidade se tornou o ponto principal para as
mudanças que ocorreram na sociedade, desde seu plano econômico até o cultural. O
espaço urbano se tornou, ao mesmo tempo, um dos principais temas dentro do universo
político, pois ele pode ser considerado como um palco para as apresentações e
representações de um determinado grupo, por isso, no entender de Marinho:
Ao elegermos a cidade como objeto de estudo, não tivemos a intenção
de mostrá-la como um cenário onde se passaram os acontecimentos,
mas como uma construção espacial e simbólica de uma determinada
sociedade em uma certa temporalidade. As cidades, ou os diferentes
espaços da cidade, são representados de modo diferente por cada
grupo social, sendo ela, por excelência, um espaço conglomerado de
temporalidades e culturas, sua complexidade é imensa, assim como o
é a compreensão dos usos que cada grupo social faz do mesmo
espaço337.
Para compreendermos as mudanças que ocorreram no âmbito das cidades, se fez
necessária uma incursão pelo universo político, afinal as ações desse âmbito
reverberaram sobre o espaço citadino, tornando-o um objeto de transformação, onde os
acontecimentos se desenrolavam. É claro que os olhares dos grupos sociais sobre as
transformações das cidades não serão os mesmos, existiram aqueles que se apropriaram
dos ideais de modernidade e civilização disseminados em outros lugares e outros
segmentos da sociedade, que por serem considerados “inadequados” foram afastados da
336
337
CERTEAU, Michel de. Op. Cit., p. 174.
MARINHO. Márcia. Op. Cit., p. 71.
139
efervescência causada por essas transformações, ou seja, nem todos puderam vivenciar
a modernidade e puderam interpretá-la de formas diferentes.
Quando apresentamos as mudanças ocorridas em Aracaju, através das reformas
urbanas, realizadas pelos Presidentes Pereira Lobo e Graccho Cardoso, tivemos a
intenção de retratar de que forma aconteceram os trabalhos, o que foi mudado, qual a
finalidade das obras de remodelação, entre outras questões. Entretanto, a aceitação da
população não foi apontada com muita ênfase, apenas pontuada de forma simples, mas
não foi por acaso, é como se estivéssemos preparando o terreno para em seguida apontar
os resultados obtidos.
O intuito deste capítulo é apresentar como os discursos da modernidade
presentes na Belle Époque foram recebidos pela população da capital sergipana, através
das reformas urbanísticas por ela, durante as décadas iniciais do século XX, com isso
observaremos como as vicissitudes do cotidiano eram desveladas e de qual forma o
discurso do “civiliza-se” era mensurado.
4.1 - “Aracaju Civiliza-se!”
O título desse primeiro item do capítulo na verdade é uma transformação feita
através da expressão “O Rio Civiliza-se”, máxima de autoria de Álvaro Figueiredo
Pimentel, em 1904, momento em que o Rio de Janeiro passava por sua reforma urbana,
que influenciou outras cidades do país, como já mostramos. Da mesma forma que essa
mesma expressão foi emprestada para outros autores, a exemplo de Rinaldo César
Nascimento Leite, em sua dissertação: “E a Bahia civiliza-se: ideais de civilização e
cenas de anti-civilidade em um contexto de modernização urbana em Salvador (19121916)”, e Márcia Marinho, em seu livro: “Natal também civiliza-se: sociabilidade, lazer
e esporte na Belle Époque natalense”.
Mas não é por acaso. A onda do “civiliza-se” tomou conta das cidades
brasileiras. A propagação dos ideais de civilização era realizada constantemente pelos
veículos de comunicação da época, pois “civilizar, progredir, modernizar eram as
palavras de ordem adotadas por certos segmentos mais ilustrados e elitizados338”. No
que se refere a essa difusão da civilização pelos periódicos, Leite explica como foi o
contexto de Salvador:
338
LEITE, Rinaldo César Nascimento. Op. Cit., 199, p. 36.
140
As formas derivativas das expressões civilizar e progredir foram
muito comumente nos jornais, recebendo acentuação das mais
diversas, em frases como: "a nossa falsa civilização..."; "se fala em
progresso e adeantamento..."; "em todos os grandes centros
civilizados..."; "uma cidade civilizada..."; "com o progresso que
indubitavelmente estamos vivendo..."; "a luz da civilização se derrama
sobre a Bahia..."; "a Bahia civiliza-se"339.
É possível vermos que o assunto do momento era a busca da civilização nos
jornais de Salvador, que publicaram várias matérias ligadas ao tema, todavia podemos
dizer que foi uma situação que não ficou restrita apenas a um único lugar, mas em todas
as cidades que buscaram essa modernização compulsória em busca de padrões
civilizatórios e progressistas.
Em Aracaju, por exemplo, palavras como moderno, civilização, progresso e suas
derivações apareciam constantemente nos jornais da época, principalmente nos que
eram favoráveis aos governantes como o Correio de Aracajú. Vamos encontrar escritos
como esses: “[...] dia a dia caminha fulgurante na larga estrada do progresso e da
civilisação340”, “A cidade de Aracajú prospera e florescente capital do futuroso Estado
do norte341”, “Comprehendendo a necessidade de que a civilisação, já em grao tão
adiantado para a sociedade daquelle Estado342”, “[...] obra de grande necessidade e de
relevante marco de progresso para Aracajú343”, “Empregando ingentes esforços para
tornar Aracajú uma cidade moderna344”, “[...] o teatro é a expressão fiel da civilisação
d’uma época345” “[...] continua a trabalhar pelo progresso e o adeantamento da
capital346”.
Através de textos como esses, surgia a necessidade de refletir a inserção da
cidade na modernidade, os jornais serviam para incitar a população a pensar nas
possibilidades de adentrarem ao mundo civilizado, pois a imprensa “exaltava o
progresso, a tecnologia e as civilidades importadas da Europa que havia chegado à
cidade para transformá-la [...] e formatar novos estilos de vida347”. Sobre a civilização,
Elias nos apresenta:
339
LEITE, Rinaldo César Nascimento. Op. Cit, p. 36-37.
SERGIPE Jornal. Aracajú. Aracaju, 30 jul. 1921, Ano I, n. 6, p. 2.
341
CORREIO de Aracajú. Aracaju, 08 abr. 1920, Ano XIII, n. 2.846, p. 1.
342
. Aracaju, 9 jul. 1920, Ano XIII, n. 2.914, p. 1.
343
. Aracaju, 11 mar. 1920, Ano XIII, n. 2.826, p. 1.
344
. Aracaju, 13 jun. 1920, Ano XII, n. 2.896, p. 1.
345
O IMPARCIAL. Aracaju, 7 jun. 1919, Ano I, n. 226, p. 1.
346
CORREIO de Aracaju. Aracaju, 1º ago. 1920, Ano XIII. N. 2.932, p. 1.
347
FEIJÃO, Rosane. Moda e modernidade na Belle Époque carioca. Rio de Janeiro: Estação das Letras
e Cores, 2011, p. 133.
340
141
O conceito de “civilização” refere-se a uma grande variedade de fatos:
ao nível da tecnologia, ao tipo das maneiras, ao desenvolvimento dos
conhecimentos científicos, às ideias religiosas e aos costumes. Pode se
referir ao tipo de habitações ou a maneira como homens e mulheres
vivem juntos, à forma de punição determinada pelo sistema judiciário
ou ao modo como são preparados os alimentos. Rigorosamente
falando, nada há que não possa ser feito de forma “civilizada” ou
“incivilizada”. Daí ser sempre difícil sumariar em algumas palavras
tudo o que se pode descrever como civilização348.
Como percebemos, através da assertiva, o conceito de civilização está atrelado a
uma diversidade de circunstâncias que determinam a formação de uma sociedade, por
isso o que pode ser civilizado para alguns, pode não ser para outros, logo, de acordo
com o autor, não há como especificar, ao certo, quais ações podem ser civilizadas ou
não. Porém “não significa a mesma coisa para diferentes nações ocidentais349”, pois os
países ocidentais, principalmente França e Inglaterra, foram responsáveis por criar as
diferenças que constituem suas civilizações e a forma como eles propagaram esse
conceito, pois ele se “resume em uma única palavra seu orgulho pela importância de
suas nações para o progresso do ocidente e da humanidade350”.
Buscar os ideais de civilização era uma forma que as elites brasileiras
encontraram para se equipararem com o Velho Mundo, logo a formação da identidade
moderna, progressista e civilizatória, difundida pela República, passava pela
representação do cotidiano europeu em terras tropicais, como foi o caso do Rio de
Janeiro, São Paulo, Salvador e tantas outras que buscaram na Europa a fonte de
inspiração para as transformações no âmbito citadino. Mas, e Aracaju? Como ocorreu
essa representação e apropriação da civilização? De quais formas a cidade reagiu às
transformações? Esses questionamentos servirão como pontos norteadores para
entendermos como as mudanças foram recebidas.
A apropriação dos ideais de civilização e modernidade foi representada em
Aracaju, como na maioria das outras cidades, através da busca incessante de elementos
que imitassem o padrão europeu de viver. Tais elementos poderiam ser encontrados na
arquitetura, nas ruas, nas inovações tecnológicas, como o automóvel e o cinema, nas
festas e sociabilidades tecidas no âmbito urbano.
As construções particulares de Aracaju seguiram as tendências arquitetônicas
dos prédios públicos construídos e remodelados durante a reforma urbana e a cidade
348
ELIAS, Norbert. Op. Cit., p. 23.
Idem.
350
Idem.
349
142
começou a possuir belas residências. “A capital sempre mais se extende e dilata aos
seus ambitos, apresentando, hoje, magníficas construcções, não sómente em relação a
edificios públicos como ás habitações particulares”, noticiava o jornal Correio de
Aracaju351.
A capital de Sergipe recebeu de fato belos palacetes e casarões durante a sua
remodelação. Os proprietários aproveitaram a presença da equipe dos artistas italianos,
contratados pelo governo para remodelação dos prédios públicos, para realizarem obras,
ou até mesmo construções, em suas residências. Isso nos leva a crer que Aracaju se
mostrou vantajosa para os artistas, tanto que alguns chegaram a fixar residência na
cidade, como Frederico Gentil e Oreste Gatti, esse último participou da reforma da
catedral. A beleza e imponência das moradias foram registradas pela Revista Fon-Fon
como veremos nas imagens:
Figura 33 – Palacetes do Dr. Manoel Dantas, à rua de Estância, do Sr. J.
Couto Faria, na Rua de Pacatuba, do Dr. Manoel Cruz, na Rua de
Itabaiana e do Coronel Ceciliano Teixeira de Andrade, na Rua de
Pacatuba
Fonte: REVISTA Fon-Fon, n. 35, 1925.
As imagens mostram a monumentalidade dos palacetes construídos na Aracaju
da Belle Époque e que provavelmente para serem construídos seguiram as diretrizes de
higiene contidas no Código de Postura, pois os padrões higiênicos das habitações
351
CORREIO Aracajú, Op. Cit., 9 de junho de 1920, p. 1
143
deviam passar por constantes fiscalizações dos órgãos de saúde pública como também
da Intendência Municipal, que aplicava multas em quem desobedecessem as ordens
prescritas para realizar construções352, visto que a higiene das residências, sejam elas
das elites ou não, consistia em evitar a proliferação de doenças, por isso que era
essencial que a arquitetura dessas suntuosas residências tivesse “abertura de áreas
internas, cobertas por claraboias, para iluminar e ventilar as alcovas, consideradas o
principal vilão da insalubridade domiciliar e urbana353”. A falta de iluminação e
ventilação nas construções era considerada fator de risco à saúde pública, logo deveria
ser controlada através das inspeções feitas nas obras. As fotografias mostram também
que as construções particulares das elites aracajuanas não ficaram aquém das existentes
em Belém, Manaus, Recife e por que não dizer Rio de Janeiro e São Paulo, uma vez que
tais construções seguiram o estilo arquitetônico em voga naquela época, o ecletismo.
Todavia vamos perceber que com essa reprodução, a arquitetura brasileira do final do
século XIX e início do XX é carente de originalidade, pois de acordo com Fabris:
À luz de tais idéias, é, possível compreender melhor a operação
fundamental da "ideologia Belle Époque", atenta sobretudo à criação
de um cenário faustoso, no qual o artefato cultural é um símbolo
funcional e ornamental ao mesmo tempo, desempenhando um "papel
cosmético", a cujos anseios responde plenamente a arquitetura de
importação. País mestiço que se sonha branco, país que começa a
experimentar o processo industrial e já se crê plenamente moderno, o
Brasil de fins do século XIX deseja romper de vez com o estatuto
colonial, projetando-se integralmente num modelo econômico e
cultural que lhe permitiria superar de imediato um passado com o qual
não se identificava e que procura apagar, sem rodeios, como
comprova a remodelação do Rio de Janeiro quando da construção da
Avenida Central354.
A Belle Époque brasileira, como um todo, buscou mascarar sua realidade através
da arquitetura, encontrando em elementos europeus essa forma “cosmética” de
vivenciar os padrões de civilização almejados pela elite e pela classe política. As
remodelações das cidades serviram como base para a inserção nesse mundo, o que
mostra um estrangeirismo exacerbado, o rompimento com as raízes históricas e culturais
do Brasil e a construção de uma identidade pautada em elementos vindos de fora do
país. A arquitetura eclética, mais do que nunca, serviu para evidenciar o status dos
352
Sobre as licenças para as edificações, podemos encontrá-las no Capítulo III do CÓDIGO de Posturas da
Cidade de Aracaju. Aprovado pela Lei do Conselho Municipal n. 112, de 16 de abril de 1912.
Aracaju: Tipographia do Estado de Sergipe, 1912, p. 9.
353
DE PAOLI, Paula Silveira. Entre relíquias e casas velhas: a arquitetura das reformas urbanas de
Pereira Passos no Centro do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Rio Book’s, 2013, p. 187.
354
FABRIS, Annateresa. Op. Cit., p. 136.
144
donos dos imóveis e sua relevância na sociedade. A seguir, veremos mais um exemplo
de residência com características ecléticas em Aracaju.
Podemos perceber que ambos os palacetes mostrados nas últimas fotos possuem
características semelhantes como, por exemplo, as colunas em estilo dórico, os
ornamentos feitos de ferro (portões e gradil), juntamente com os que ladeavam as portas
e janelas, o que de fato mostra que o ecletismo foi a fusão de outros movimentos
artísticos, com intuito de revivê-los de outra forma e em uma época distinta, logo
tentou-se reviver o que não foi vivido355. Um fato que constatamos, a segunda imagem,
leva a assinatura do arquiteto Hugo Bozzi, um dos responsáveis pelas obras de
remodelação de Aracaju como já observamos. Essa constatação nos leva a crer, que o
mesmo realizou as obras dessa residência, que por sinal não existe mais, e
possivelmente de outras, já que após as reformas dos prédios públicos “o ecletismo
italiano predominou356” na paisagem urbana da cidade, que no entender de Nascimento
e Santos a arquitetura transmite:
[...] a idéia da cidade que comunica, portadora de uma linguagem.
Nesse sentido, as variações estéticas, nos anos de seu
desenvolvimento, seriam um meio de comunicar. A arquitetura,
portanto, e toda sua carga simbólica, a seu tempo, tem uma função
nesse contexto357.
A arquitetura transfere as impressões e as vicissitudes de uma cidade que se
moderniza e civiliza-se, ela se torna portadora da linguagem que remete e mostra que “a
arte deve ser mais rica do que a realidade, a importância atribuída ao virtuosismo e à
noção de abundancia358”, os quais são elementos presentes nos prédios públicos e nas
residências de particulares em Aracaju. Vale ressaltar que os palacetes e casarões
estavam localizados no centro da cidade ou em bairros próximos, como o Bairro São
José, que tinha como residentes antigos membros da elite açucareira do Estado, entre
outros moradores de alto poder aquisitivo, por isso podemos dizer que o São José foi
para Aracaju o que o aristocrático Bairro de Botafogo foi para o Rio de Janeiro, durante
355
NASCIMENTO, Edna Maria do; SANTOS, Waldefrankly Rolim de Almeida. Aracaju urbana e
humana: Aspectos de uma leitura da cidade. Revista do Aracaju, Aracaju, n. 10, 2003, p. 231.
356
Idem.
357
Ibdem, p. 228.
358
FABRIS, Annateresa. Arquitetura eclética no Brasil: o cenário da modernização. In: Anais do Museu
Paulista, Anais do Museu Paulista, n. 1, v. 1, 1993, p. 139.
145
os momentos finais do século XIX359 e os iniciais do XX. Sobre as habitações de
Aracaju durante a Belle Époque, a Revista Fon-Fon publicou o seguinte texto:
O Estado renasce agora, sob outro aspecto, para outra vida, aspirando
ideaes altaneiros que vê já quasi satisfeitos. A capital que se
desenvolve, tem palacetes bem acabados, bungalows, primorosos e
garridos, que o espirito enthusiasta e confiante do povo faz surgir em
sítios pittorescos ou em bairros elegantes360.
O ritmo de mudança tomou conta de todo Estado de Sergipe, tendo em sua
capital o exemplo de grandes obras modernas responsáveis pela adoção de padrões
civilizados para Aracaju. Através da assertiva vemos que os palacetes e bungalows
estavam localizados tanto em bairros nobres como em locais mais afastados, como nos
sítios e chácaras, o que nos faz acreditar que com a reforma urbana os limites da cidade
se expandiram além do Tabuleiro de Pirro.
Para além das habitações particulares e públicas, outras edificações foram
destaque, quando introduziram em suas estruturas as características da arquitetura
eclética, como foi o caso da Igreja de São Salvador representada na imagem seguinte.
Figura 34 – Igreja de São Salvador recém-reformada
Fonte: REVISTA Fon-Fon, n. 35, 1925.
359
O bairro de Botafogo, durante o Império, abrigou moradores possuidores de títulos de nobreza e com
influência na dinâmica da política do Império. O Barão da Estância, nobre sergipano e Deputado Geral,
morou com sua família na referida localidade. Ver: ALBUQUERQUE, Samuel Barros de Medeiros. Op.
Cit., 2005b, p. 22.
360
REVISTA Fon-Fon. A moderna capital de Sergipe. Rio de Janeiro, 29 ago. 1925, Ano XIX, n. 35, p.
79.
146
Podemos verificar na imagem, uma enorme quantidade de elementos que
remete-nos à arquitetura eclética, como por exemplo, a grande quantidade de
ornamentos contidos em sua fachada e os elementos religiosos como cruzes e imagens
sacras. No entanto, Nascimento e Santos nos dizem que:
As igrejas, em todo Estado de Sergipe, incorporaram um ecletismo de
predominância neogótica. Aliás, esse estilo continuou como fonte de
inspiração por muito tempo, recebendo nova feição a cada época [...]
Em Aracaju, os templos religiosos católicos encontraram uma forma
de expressão com as tendências góticas. Uma tentativa de revivalismo
(reviver o que nunca viveu), fez desse estilo uma constante,
principalmente nos finais da década de 1910 e durante a seguinte, pelo
menos o suficiente para alterar, para o estilo, vários templos religiosos
como a Igreja de Santo Antônio, Catedral Metropolitana, São José,
São Salvador, capela do Colégio Nossa Senhora de Lourdes (hoje
demolida), capela do Colégio Arquidiocesano, capela São João Batista
(fábrica Sergipe Industrial) 361.
Apesar de terem adotado o ecletismo em sua estrutura, as igrejas mantiveram a
arquitetura neogótica, um estilo que predominou durante algum tempo nos templos
católicos da capital e do interior, porém, isso não os impedia de seguirem as tendências
artísticas presentes em outras edificações de Aracaju, principalmente depois da
remodelação, quando o projeto eclético italiano dominou a paisagem urbana da capital
de Sergipe.
A arquitetura se tornou elemento formador da civilização, mesmo sendo uma
apropriação oriunda da Europa e a representação desse ideal civilizador tenha
encontrado uma conjuntura diferente em terras tropicais. Mas, os palacetes e prédios
públicos com suas belezas arquitetônicas, não foram o único fator que classificaria
Aracaju como uma cidade moderna, civilizada e progressista. Os meios de locomoção
como bondes e automóveis foram também os símbolos dessa modernização ocorrida na
capital sergipana.
Outras capitais brasileiras, no início do século XX, já experimentavam o
conforto de terem seus habitantes transportados por bondes movidos por tração elétrica
desde os anos finais do século XIX. Em Aracaju, a situação era diferente, os bondes
eram puxados por burros, o que demonstrava atraso perante as outras cidades e um
entrave para os padrões da civilização, de acordo com Maynard:
[...] nos anos vinte, Aracaju ainda contava com bondes puxados por
burros. Voluntariosos, os animais precisavam ser chicoteados durante
361
NASCIMENTO, Edna Maria do; SANTOS, Waldefrankly Rolim de Almeida. Op. Cit., p. 231.
147
os trajetos. Isso ocorria porque subitamente os burros empacavam,
deitavam-se nos trilhos, faziam greve pacífica e não havia chicote que
o arredasse dali. Os passageiros eram obrigados a descer e assistir a
luta do condutor para ‘convencer’ os animais de sua obrigação362.
Os empaques dos animais se tornaram um problema para a população
aracajuana, principalmente em uma época onde o ato de mover-se com rapidez foi uma
forma de viver a modernidade urbana, mas a inoperância que às vezes recaía sobre os
sistemas de bondes de tração animal, impedia o cotidiano de uma cidade que se
modernizava, “a lentidão e desconforto dos bondes puxados por burros eram motivos de
vergonha para muitos moradores de Aracaju363”.
Ao mesmo tempo em que as ruas eram tomadas por esses bondes, havia também
quem utilizasse animais, como cavalos, burros e bois, como meio de transporte, fossem
como montaria ou puxando carroças ou charretes. Era inaceitável para uma cidade
moderna e civilizada, possuir em suas ruas, meios de transportes rudimentares que além
de criarem problemas corriqueiros à população, ainda emporcalhava as vias públicas
com as fezes dos animais.
É importante mencionar a falta de estrutura dos bondes puxados pelos burros.
Tal situação causou desconfortos constantes entre o Presidente Pereira Lobo e a
empresa Carris Urbanos, responsável pela manutenção e operação do meio de
transporte da capital. Após muitas denúncias e reclamações, o governo resolveu
comprar a empresa364, o que inicialmente foi visto com bons olhos por um dos maiores
acionistas e dono da mesma, o senhor Francino Mello. Porém, após a venda ser
efetuada, ao que parece, a forma do pagamento proposta pelo governo não agradou ao
empresário, o que resultou em diversos ataques ao Pereira Lobo, através do jornal O
Imparcial, que por sinal tinha Francino como dono. Por conta disso, o jornal foi
empastelado, como vimos anteriormente: seu proprietário exilou-se na capital federal365
e a Carris Urbanos com sua frota de bondes passou a ser administrada pelo governo,
através da diretoria de obras366.
Mesmo passando a ser responsabilidade do governo, o serviço de bondes ainda
era motivo de críticas e reclamações. Era preciso adotar um meio rápido e eficiente que
MAYNARD, Andreza Santos Cruz. “A 10 1uilômetros por hora”: automóveis em Sergipe no início do
Século XX. Revista do IHGSE, n. 38, 2009, p. 147.
363
Ibdem, 2009, p. 146.
364
CORREIO de Aracaju. A solução do caso Carris Urbanos. Aracaju, 10 set. 1919.
365
NASCIMENTO, Sayonara Rodrigues do. Op. Cit., p. 60.
366
SERGIPE. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa em 07 de setembro de 1919, ao
instalar-se a 1ª sessão ordinária da 14ª Legislatura, pelo Coronel Dr. José Joaquim Pereira Lobo,
Presidente do Estado. Aracaju: Imprensa Oficial, 1919, p. 85.
362
148
atendesse aos anseios da população, como por exemplo, os bondes elétricos. Porém a
“eletricidade fora introduzida no estado em 1913, mas era usufruída por poucos. Em
comparação com outras capitais, Aracaju demorou a se desfazer dos candeeiros e
lampiões367”. Assim como o telefone, outro símbolo da modernidade, e a água
encanada, a eletricidade foi um benefício para poucos, no entanto, nos últimos anos do
mandato do Presidente Graccho Cardoso, ocorreu a ampliação das usinas de energia
elétrica, o que favoreceu, em 1925, a implantação dos bondes elétricos em Aracaju. A
Revista Fon-Fon fala sobre esse momento:
Espera o governo inaugurar ainda este anno o serviço de bonds
electricos, para o que á dispõem os concessionários de todo o material
necessario e já construidos 23 kilomentros de linha. O serviço será
iniciado com 12 carros motores, em que foram empregados o mais
modernos melhoramentos e 12 carros para reboque. Os novos serviços
de illuminação e de bondes a serem utilizados, transformarão, por
completo, o movimento urbano, tornando mais encantadora a
cidade368.
Percebamos que a ampliação dos serviços de eletricidade foram recebidos com
entusiasmo pela imprensa e provavelmente pelo governo e a população de Aracaju, pois
além de “dar à luz” literalmente à cidade, o que era considerado um fator de
modernidade, possibilitou a implantação dos bondes elétricos, facilitando o dia a dia dos
habitantes da capital e dos visitantes também. A imagem a seguir retrata como eram os
bondes implantados na metade da década de 1920.
Figura 35 - Bondes na Rua João Pessoa
Fonte: Acervo Fotográfico da Biblioteca Pública Epifânio Dória.
367
368
MAYNARD, Andreza Santos Cruz. Op. Cit., 2009, p. 146.
REVISTA Fon-Fon. Viação, força e luz. Rio de Janeiro, 29 ago. 1925, Ano XIX, n. 35, p. 73.
149
A imagem evidencia a passagens dos bondes pela Rua João Pessoa, uma das
mais movimentadas da época, porém, provavelmente essa ilustração serviu para
apresentar como era o serviço de viação urbana da capital, ela pode não ter sido captada
nos anos de 1920, pois nessa década “não existiam revendedoras de automóveis em
Sergipe. Os veículos eram comprados fora e trazidos para o estado369” e na imagem
aparece uma placa informando a loja da Ford e isso nos faz afirmar que ela não foi
registrada no período destacado. Amado, em seu livro de memórias recorda a
implantação dos bondes aracajuanos no início do século XX:
Na terra dos inteligentes, bonde de burros. O elétrico, só no governo
Graccho Cardoso, anos depois, os Amados já na Bahia. O de tração
animal começou em 1907, na presidência de Guilherme Campos, o
que foi deposto e em seguida reposto. Já o encontrei em Aracaju e oi
ali um dos meus deslumbramentos. A qualificação há de parecer
excessiva, mas quem é pequeno engrandece as coisas. E aquele
bondezinho me maravilhou370.
O bonde de tração animal consistiu em uma novidade em Aracaju e mesmo com
a utilização de bondes mais modernos, esse transporte ainda tinha que dividir as ruas
com animais que também eram usados como meio de locomoção, seja montado ou
puxando uma carroça, para Ferraresi:
O bonde e a carroça representam, respectivamente e metaforicamente,
a modernidade e a tradição, o novo e o velho, cuja convivência se deu
não sem conflitos, acomodações e adaptações durante todo início do
século XX371.
As ruas estavam divididas: de um lado estavam os bondes elétricos, modernos e
eficazes e do outro lado as carroças, ou montarias, que representavam o atraso e um
problema para o alcance da civilização e para “os pedestres que precisavam competir
com carroças, bicicletas e bondes372”. Para evitar maiores conflitos, o Código de Postura
da Cidade de Aracaju, de 1926, determinou leis que ajudariam a controlar o ritmo dos
meios de transporte de tração animal nas ruas. Era terminantemente proibido:
A) Correr a cavalo pelas ruas, avenidas e praças da cidade. B) Andar a
cavalo, guiar ou demorar animais sobre passeios e em jardins. C) Atar
369
MAYNARD, Andreza Santos Cruz. Op. Cit., 2009, p. 142.
AMADO, Genolino. Um menino sergipano: memórias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978,
p. 104.
371
FERRARESI, Carla Miucci. Op. Cit., p. 91.
372
MAYNARD, Andreza Santos Cruz. Op. Cit., 2009, p. 143.
370
150
animais as portadas, postes de iluminação ou de bondes, de linhas
telegráficas ou telefônicas373.
Tais determinações eram utilizadas para coibir o trajeto dos “atrasados e
rústicos” transportes, uma vez que não era admissível que uma cidade moderna e
civilizada se deparasse em meio aos seus modernos bondes com animais e carroças
velhas, usadas principalmente pela população pobre e pelos que moravam nos sítios nos
arredores de Aracaju. Além disso, os automóveis também dividiam esse espaço da
cidade e foram uma novidade da época e apresentavam, além do poder aquisitivo do
proprietário, “um consumo requintado quanto moderno, legitimado pelo status
cosmopolita que se estendia às nossas elites374”. O primeiro automóvel surgiu em
Aracaju em 1913375, porém já existia um conjunto de leis presentes no Código de
Postura da Cidade de Aracaju de 1912, que determinavam o uso de automóveis pelas
ruas, como nos mostra Maynard:
Entre as obrigações estavam a idade mínima de 18 anos para guiar, o
registro dos veículos, particulares ou de aluguel, na Municipalidade, a
proibição de subir nos passeios, de abandonar o veículo em qualquer
lugar, e de parar em pontes, pontilhões e bueiros. De acordo com as
normas vigentes em Aracaju na década de 1910 ninguém poderia ser
condutor de veículo, seja carro ou carroça pública, ou particular, sem
ter feito a devida matrícula e adquirido a placa mencionada no
regulamento n. 10 para arrecadação das rendas do Município376.
As leis prescritas no Código de Postura refletem a necessidade de preparar as
ruas para receberem os automóveis, pois “se os bondes não conferiram grandes emoções
aos usuários em Aracaju, os automóveis se encarregavam de trazer os tão sonhados
problemas das grandes metrópoles para as ruas da capital sergipana377”. Logo, podemos
perceber que a chegada do automóvel transparecia a vontade de viver o burburinho dos
grandes centros urbanos da época, todavia, por não possuir um preço acessível e não
haver lojas no Estado, na década de 1920, esse desejo não materializou com sucesso,
pois poucas pessoas possuíam automóveis na cidade de Inácio Barbosa, e com certeza
faziam parte da elite da época. Sobre a representação dos automóveis no início do
século XX, Cunha diz que:
373
CÓDIGO de Posturas da Cidade de Aracaju. Aprovado pela Lei do Conselho Municipal nº 338 de 6
de setembro de 1926. Aracaju: Regina, 1927.
374
FERRARESI, Carla Miucci. Op. Cit., p. 95.
375
NUNES, Maria Thétis. Op. Cit., 2008, p. 226.
376
MAYNARD, Andreza Santos Cruz. Op. Cit., 2009, p. 142.
377
Ibdem, p. 149.
151
O automóvel, que muito recentemente havia sido inserido em nossa
sociedade, era símbolo de status, riqueza e possuía um grande atrativo,
tanto para os homens, que ansiavam em adquiri-los, como para as
mulheres, que viam os proprietários destes veículos com grande
interesse378.
Além de todas essas características que representavam o automóvel no âmbito
das cidades, os veículos também representavam perigo para as pessoas que transitavam
a pé pelas ruas. Quando ocorria um atropelamento ou algum acidente similar
envolvendo automóveis, os jornais faziam questão de escrever uma matéria relatando o
ocorrido, mostrando se a vítima chegou a óbito ou não. Temos como exemplo, uma
matéria publicada pelo Correio de Aracajú, em 1924:
Ontem às 18 horas na rua da Frente, esquina de Maroim, o automóvel
n. 11 guiado pelo chofer Oyntho Correia na ocasião em que desviava
do bonde da Fundição que nesta hora vinha rumo ao Bairro industrial,
atropelou um menor de nome Cícero, morador à rua do Lagarto, que
viajando, clandestino no veículo da viação, quis fugir ao buzinar do
auto sendo, porém, pegado por uma das rodas, atirando-o no
calçamento. Socorrido por passageiros do bonde, verificaram não ter o
menor sofrido coisa alguma, salvando deste modo a responsabilidade
do chofer379.
É interessante como a notícia é escrita com riqueza de detalhes: desde o horário
do ocorrido, o local, o número da placa do automóvel, quem estava dirigindo, quem foi
atropelado, como ocorreu, enfim, isso mostra que de fato Aracaju gostaria de vivenciar
toda a agitação, com ou sem acidentes, que outras cidades viviam com o trânsito de
veículos. A necessidade de fazer parte de um mundo moderno não tinha limites. Como
já dissemos, ainda não existiam lojas responsáveis em vender automóveis para a
população, porém, os jornais faziam propagandas de lojas em outros estados, o que
podemos dizer que existiam representantes em Sergipe. Um exemplo disso, foi um
anúncio no jornal Gazeta do Povo, em 1925, sobre a venda de um Studebaker, modelo
muito utilizado nos grandes centros urbanos. O anúncio vinha acompanhado pela
seguinte ilustração:
378
CUNHA, Fabiana Lopes da. Caricaturas carnavalescas: carnaval e humor no Rio de Janeiro através
da ótica das revistas ilustradas Fon-Fon! e Careta (1908-1921). 2008. 510f. Tese (Doutorado) –
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em História Social,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008, p. 79.
379
CORREIO de Aracajú. Menor atropelado, mas o chauffer não teve culpa. Aracajú, 28 jul. 1924, p. 1
152
Figura 36 – Ilustração de um automóvel Studebaker
Fonte: GAZETA do Povo. Os novos Studebaker. Aracaju, 06
jul. 1925, Ano I, n. 212.
O anúncio falava o quanto esses automóveis se faziam presentes nas ruas do Rio
de Janeiro e o interessado poderia ver as condições de pagamento procurando o
revendedor na Teixeira Chaves e Companhia, responsável pelas vendas de automóveis
em Sergipe380. Ao mesmo tempo, o anúncio enfatizava a necessidade de possuir
veículos dessa marca, considerados inovações da modernidade.
As inovações da modernidade não pararam de fazer parte do cotidiano dos
aracajuanos, durante as primeiras décadas do século XX. Uma delas foi o cinema,
responsável por entreter a população em suas exibições noturnas. Durante o final do
século XIX, a necessidade de captar as imagens do dia a dia se tornou indispensável
para a sociedade desse período.
Dar movimento a essas imagens foi outro desafio empreendido, estáticas elas
não apresentavam o ir e vir de uma época que estava em constante movimentação, por
isso criaram-se os cinematographos que eram responsáveis pelas exibições das
fotografias em movimento e que mais tarde deram origem ao cinema. A presença de tal
inovação “pode ser considerada expressão de modernidade381” e ajudavam a elaborar
uma nova percepção moderna. Sevcenko mostra como foi a primeira exibição de
imagens em movimento na Europa:
Uma das primeiras apresentações de imagens em movimento na
Europa ocorreu com a exibição do filme A chegada do trem na
estação, de Louis Lumière, em 1895. Acompanhemos a descrição que
o escritor Máximo Górki fez da sua primeira impressão quando viu o
380
381
GAZETA do Povo. Os novos Studebaker. Aracaju, 06 de julho de 1925, Ano I, n. 212, p. 3.
SANTOS, Fabrícia de Oliveira. Op. Cit., p. 42.
153
filme: “De repente há um estalo, tudo se apaga e um trem numa
ferrovia aparece na tela. Ele dispara como um flecha na sua direção –
cuidado! A sensação que se tem é como se ele arremessasse na
escuridão até onde você está sentado e fosse reduzi-lo a um saco de
pele estropiado... e destruir esse salão e esse prédio... tornando tudo
em fragmentos e pós...” Esse impacto sentido por Górki correspondia
fielmente ao choque geral que o aparecimento da técnica
cinematográfica desencadeou por toda parte. A primeira apresentação
desse filme se deu em Lyon, durante o Congresso das Sociedades
Fotográficas Francesas. O tipo de público reunido nesse evento era
bastante familiarizado portanto com instrumentos óticos e recursos
relacionados à fotografia, não sendo de esperar que fosse se alterar
muito com o espetáculo. Mas o que sucedeu foi curioso. Quando
houve o anúncio da primeira sessão de cinema, o desinteresse foi
completo, os participantes do Congresso reagiram com ceticismo e
pouco-saco à suposta “novidade”. Apenas 33 gatos-pingados tomaram
assento no salão para conferir a engenhoca. Quando a luz se apagou e
a imagem do trem se pôs em movimento, o resultado foi conforme o
relato do escritor russo. Após a projeção os espectadores saíram
comentando a experiência e, em breve, o salão de Lumière estava
completamente lotado. As pessoas viam e voltavam para rever, já
acompanhadas de outros céticos382.
É possível vermos, tanto no relato quanto nas palavras do próprio Nicolau
Sevcenko, o quanto os expectadores em meio à descrença inicial ficaram amedrontados
ao ver a imagem do trem em movimento sendo projetada na tela, pois pensaram que ele
sairia da tela e os atropelaria. A descrença deu lugar ao momentâneo medo, que logo foi
sucedido por espanto e admiração pela nova invenção da modernidade. Tais sentimentos
foram sentidos durante a Belle Époque e marcaram as gerações vividas nesse período.
Não demorou muito para que essa novidade moderna atravessasse o Atlântico no
próximo Paquete e causasse esse turbilhão de sensações em terras tropicais, pois em
finais do século XIX, o Brasil começa a experimentar essas novidades oriundas
principalmente da Europa. Vejamos o que Sevcenko relata sobre esse momento:
Já no ano seguinte, a 8 de julho de 1896, ocorreria a primeira
apresentação das imagens em movimento no Rio de Janeiro. O
parelho projetor francês era anunciado como sendo um “omniográfo”,
para ressaltar a diferença entre ele e as máquinas americanas de
Edison, os chamados “kinetoscópios”, que mostravam seqüências
miniaturizadas de movimentos no interior de uma câmara, as quais,
entretanto, só podiam ser observadas através de uma objetiva por uma
pessoa de cada vez. A novidade era anunciada com entusiasmo pela
imprensa, nos dias que antecederam a exibição, como sendo “uma
maravilha da ciência moderna, tão surpreendente em suas descobertas
e aplicações”, ou ainda como a “maravilhosa lanterna mágica da
ciência” 383.
382
383
SEVCENKO, Nicolau. Op. Cit., p. 517-518.
SEVCENKO, Nicolau, Op. Cit., 1998, p. 518-519.
154
A capital federal recebeu com entusiasmo a novidade e como mostra a citação, a
imprensa tratou de divulgar as suas impressões sobre o evento. É perceptível uma
determinada concorrência entre o maquinário oriundo da Europa e os que eram
produzidos nos Estados Unidos, que para não causar transtornos, os nomes eram
diferentes, todavia possuíam a mesma função. Obviamente que por ter Paris como ponto
principal de inspiração, o Rio de Janeiro deu preferência ao material de origem francesa.
Mas, e Aracaju? Como ficou dentro desse quesito? A capital de Sergipe começa
a ter as primeiras projeções também no final do XIX, como nos mostra Maynard:
A primeira exibição cinematográfica em Aracaju teria ocorrido em
1899 graças à iniciativa do escritor teatral Cypriano Duarte, que
utilizou o palco do teatro São José, localizado à Rua da Aurora, para
improvisar uma tela e exibir uma película de 18 metros. De acordo
com Cypriano Duarte foi preciso aplicar nessa exibição e em outras
várias substâncias químicas. [...] Acostumado às peças teatrais o
público aracajuano não se rendeu de imediato às exibições
cinematográficas, que embora fossem concorridas, logo receberam o
jocoso apelido de “Presepe de Sombras”. A maioria dos filmes eram
reproduções de paisagens, cenas do cotidiano, a exemplo dos filmes
dos Lumiére, com poucos minutos de duração. Eram chamados de
“documentários” ou “atualidades” 384.
A apresentação de imagens em movimento não causou muito espanto nos
aracajuanos, uma vez que eles estavam acostumados com peças teatrais para o seu
entretenimento, o que de fato é verdade. Frequentemente, os jornais publicavam
anúncios sobre as apresentações teatrais da capital. Com o passar do tempo, a população
começa a se interessar por aquela invenção da modernidade, no entanto “a primeira
década do século XX a exibição de filmes em Aracaju era uma atividade esporádica,
realizada por empresas itinerantes que viajavam constantemente385”, além disso, a falta
de um local específico que fosse usado para as exibições foi um problema: geralmente
usavam as dependências dos teatros e a falta de equipamentos também foi outro
problema constatado.
A partir de 1909 é fundado o primeiro cinema de Aracaju, e as idas às exibições
se tornaram frequentes, pois “o cinema frequentemente é relacionado à ideia de uma
diversão moderna386” e para ir assistir as sessões, se fazia necessário seguir algumas
normas, como explica Santos:
384
MAYNARD, Andreza Santos Cruz. Op. Cit., 2009, p. 133-134.
MAYNARD, Andreza Santos Cruz. “Presepe de Sombras” em Aracaju (Sergipe - Brasil): Uma
reflexão sobre exibições cinematográficas no início do século XX. Revista de História da UEG, v. 3,
2014, p. 135.
386
MAYNARD, Andreza Santos Cruz. Op. Cit, 2014, p. 136.
385
155
Para ir ao cinema, segundo crônica da época, teriam que ser
observados algumas posturas de comportamento, sobretudo manter-se
calado contendo entusiasmo diante das cenas exibidas na tela. Caso
contrário, os demais “habitués” sofreriam com os incômodos de ter
alguém tagarelando ao seu lado387.
As posturas de comportamento no cinema ajudaram a manter a ordem nas salas
de projeção, uma vez que não era de bom tom que habitantes de uma cidade que se
modernizava terem comportamentos que não eram condizentes com os padrões de
civilização prescritos naquela época. Com isso, os cinemas começam a se expandir e
logo a capital já possuía algumas opções, além do cinema Rio Branco, inaugurado em
1911, com o nome Kidema Ideal. Em seguida, no ano de “1912 apareceu o Elite
Cinema (que mudou o nome para Royal em 1914), e em 1913 surgiu o Eden Cinema, na
Travessa José de Faro. Todos eles estavam localizados na região central da cidade388.”
No final da década de 1910, os jornais anunciavam as atrações em uma sessão dedicada
a diversões e vinha junto com anúncios de circos e teatros, mas na década de 1920, em
plena modernização de Aracaju, os anúncios dos cinemas passaram a dividir com o
teatro um espaço somente para eles nos principais jornais, a exemplo do Correio de
Aracajú, que possuía uma sessão intitulada “Palcos e Télas”, onde apresentava as
exibições do cinema da semana e as peças que seriam encenadas nos teatros. Logo, o
cinema se torna um dos principais entretenimentos da capital sergipana durante a Belle
Époque.
Além dessas formas de diversão, Aracaju também possuía festas que a
movimentava, afinal a cidade da Belle Époque deveria estar efervescente, mostrando-se
mais movimentada que as outras do interior, isso chamaria atenção daqueles que por
ventura desejassem nela habitar, pois uma urbe morta e sem atrativos não causaria
sedução nem no mais simples dos homens.
As festas comumente realizadas em Aracaju, nesse período, e que atraía a
população para as ruas, dividiam-se entre as festividades religiosas, como a do Bom
Jesus dos Navegantes e o Natal, e as que eram tidas como pagãs, a exemplo do Carnaval
e os festejos juninos389. É interessante que no início do século XX, “paganizavam” as
festas juninas, uma vez que se comemora nessa data o nascimento de um dos santos
mais populares da Igreja Católica. Um dos motivos devia ao fato da maneira que era
387
SANTOS, Fabrícia de Oliveira. Op. Cit., p. 43.
Ibdem, p. 138.
389
FONTES, Lídia Meire Rocha dos Santos. Espaço, disciplina e festividades numa cidade
Considerada moderna Aracaju-SE (1900-1930). 1998, 59f. Monografia (Graduação) – Departamento de
História da Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 1998, p. 16.
388
156
comemorada pela população, mas não nos prenderemos a essa questão. Sobre as festas
religiosas, o jornal O Imparcial relatou como foram os festejos de Bom Jesus dos
Navegantes, em 1919:
Realisou-se, hontem, com pompa habitual, a costumada festa do
Senhor dos Navegantes, correndo tudo com muita solemnidade. Na
procissão, em terra e no mar, se encorporaram gentis senhoritas da
sociedade aracajuana, concorrendo assim para o brilhantismo dessa
cerimônia religiosa, a que se associou a população da capital390.
A festa do Senhor dos Navegantes, em Aracaju, tem sua gênese em meados do
século XIX, em 1856 para sermos exatos, quando a capital de Sergipe estava sendo
erguida por Inácio Barbosa391. Com o Rio Sergipe à disposição dos aracajuanos os
festejos ficaram mais belos, atraindo a população para as ruas. Com o passar dos anos,
foi ganhando destaque e adentrou ao século XX como um dos eventos mais importantes
e concorridos da cidade. A assertiva acima enfatiza a participação de senhoritas da
sociedade, o que denota apenas a participação da elite, porém de acordo com Fontes:
Em período de festas, muitos homens e mulheres de baixa condição
financeira se deslocavam dos lugares mais longínquos do perímetro
urbano da cidade para o “quadrado de Pirro”, “invadindo” as ruas e
praças dando um aspecto festivo ao mesmo. Essas pessoas se
divertiam ou expressavam sua religiosidade392.
Através do texto percebemos que as festas congregavam toda população, fosse
de origem abastada ou pobre, mas é claro que a vigilância sobre essa última era
redobrada, como veremos mais a frente, porém, a necessidade de aparentar uma cidade
festiva onde a população se reunia para celebrar os eventos mais importantes, revela o
caráter aglutinador que as festas possuíam, logo podemos corroborar com Priore que
afirma:
A festa é um meio de organização social e uma forma de
concretização da necessidade de convívio grupal para troca de
sentimentos e ou experiências. É, portanto, o momento de dinâmica
sócio-cultural em que uma coletividade reafirma, de modo lúdico,as
relações culturais e a cultura que lhes são próprias393.
390
O IMPARCIAL. Bom Jesus dos Navegantes. Aracajú, 02 jan. 1919, Ano I, n. 105, 1.
CORRÊA, Isabella Cristina Chagas. Natureza e Sagrado na memória da Festa de Bom Jesus dos
Navegantes. 2013. 143f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e
Meio Ambiente, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2013, p. 40.
392
FONTES, Lídia Meire Rocha dos Santos. Op. Cit., p. 16.
393
PRIORE, Mary Del. Festas e utopias no Brasil colonial. São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 10.
391
157
As relações sociais eram realizadas nas festas, momento em que as experiências
vividas por ambas as classes da sociedade eram apresentadas e onde os costumes eram
externados criando assim uma atmosfera de conhecimento e aprendizado. Uma cidade
que buscava a modernidade, não poderia ser estática e tão pouco sem o convívio da
sociedade. As festas também movimentavam a economia, as lojas de roupas e calçados
eram constantemente visitadas, principalmente no período das festas natalinas, por isso
os jornais se encarregavam em informar a população onde poderiam encontrar roupas de
qualidade ou até mesmo uma modista informada sobre as últimas tendências da moda
carioca, quiçá da Cidade Luz394.
Saindo do contexto religioso e entrando nas festas tidas como profanas, como o
Carnaval, que igualmente as festas religiosas, atraiam pessoas as ruas de Aracaju. O
jornal Correio de Aracajú, mostra como foram os festejos carnavalescos de 1920:
Não foram três dias de carnaval que empolgaram nas suas expansões a
população inteira de Aracajú; foram quarenta e oito horas que
passaram entre os ruídos estonteantes da massa anonyma, que se
diverte e delira. A segunda-feira escoou-se como um dia commum,
sem que nem ao menos deixasse indícios de que tambem ella é parte
integrante dos divertimentos de Momo. Mas o domingo decorreu
animadissimo, e a terça-feira attingiu as proporções eloquentes da
folia. Foi uma folia relativa, própria dos pequenos centros mas nem
por isso deixou de sacudir e despertar o sentimento alegre de todos os
moradores da nossa terra. Aracajú recreou-se, e na febre dos seus
divertimentos não houve grandes escândalos, que deixam, após a
festa, o pesar do passado, a recordação das diversões desmedidas e
inconvenientes395.
Os aracajuanos se divertiram sob os auspícios de Momo e as delícias de Baco,
que reinavam absolutos sobre os brincantes e era “descrito como um deus, pois vive nas
alturas, um velho, mas ao mesmo tempo jovem396”, que de tempos em tempos, se
juntava aos mortais para celebrar a lascividade durante a festa da carne. O carnaval da
capital sergipana atraia a população em massa para as ruas nos dias que sucederam as
festas carnavalescas e que, segundo o jornal, não ocorreram maiores problemas durante
os festejos. É interessante apontar que as festas de carnaval em Aracaju não ocorreram
apenas nas ruas, o jornal também mostrou como foram as festividades em residências
particulares e clubes sociais.
394
DIÁRIO da Manhã. Quereis possuir uma roupa Chic?. Aracaju, 12 ago. 1919, Ano IX, n. 2.398, p. 1.
CORREIO de Aracajú. Carnaval. Aracajú, 19 fev. 1920, Ano XIII, n. 2.819, p. 2.
396
CUNHA, Fabiana Lopes da. Op. Cit., p. 128.
395
158
UMA FESTA PARTICULAR
A residencia do sr. comandante Oscar de Azevedo esteve em festa na
segunda e terça feira de Carnaval, com um lindo baile a que concorreu
um grupo escolhido de rapazes e senhorinhas. Os que assistiram,
contaram aos outros que a festa esteve acima de qualquer elogio.
NO CLUB DOS DIARIOS
Também o Club dos Diarios deu uma noite de alegria durante todos os
dias de Carnaval, nota que em nada desmereceu das lindas festas, que
desde a sua fundação vem exhibindo no seu vasto salão. A ultima
noite sobretudo correu animadissima, sendo o baile offerecido aos
promotores da Phenix Carnavalesca, que nelle tomaram parte.
NO RECREIO CLUB
Mas de todas as festas elegantes que celebraram a passagem do
carnaval, as que mais no agradaram foram dois magnificos bailes na
sede do Recreio Club, tão bellos e tão animados como em Aracajú
poucas vezes se terá presenciado. O ultimo principalmente, o de terça
feira, esteve esplendido. Sentimos não dar aqui os nomes das
innumeras senhoras e senhorinhas que povoavam de graça aquelle
recinto. Não o fazemos para que não desmereçamos da laconicidade
com que vimos referindo as diversões dos três dias da folia. Mas o
salão estava literalmente cheio, e sentia-se a alegria a esfusiar na
cadencia das danças, nos olhares, nos sorrisos e nas conversas
animadissimas; e experimentava-se o bem estar naquella atmosphera
de luz e graça, onde tudo era distincto de onde se notava o execesso da
alegria sem a alegria do excesso e sem uma nota que destoasse do que
era harmonia polyphonica. As serpentinas, os confettis, os lançaperfumes, a diversidade e bom gosto das phantasias, os pares que
revolteavam ao som duma orchestra escolhidissima, deixaram em
todos uma impressão excellente da passagem de Momo pelo salão do
Recreio Club. Á meia noite dansava-se o ultimo tango: entrava a
quarta feira de cinza, e era entrada também a grande quaresma.
Passaram as diversões, deu-se novamente a volta á vida de labutar397.
Os festejos particulares mostraram que as pessoas da elite queriam “evitar o
contato com a população mais pobre que insistia em participar ativamente das
brincadeiras carnavalescas398”. Podemos perceber que as celebrações carnavalescas em
lugares fechados também congregavam um número alto de participantes e como a
animação tomava conta desses locais. O jornal afirmou que não pôde expor os nomes
das senhoras e senhoritas que se fizeram presentes na festa realizada no Recreio Club,
devido ao breve texto escrito nas páginas daquele folhetim, no entanto, por conta do
carnaval ser um momento em que os desejos carnais se materializam em seus festejos e
por ser considerado uma festa pagã, mesmo estando em uma “pilhéria de respeito” não
seria interessante revelar a identidade das participantes do evento, uma vez que
pertenciam às classes abastadas.
397
398
CORREIO de Aracajú. Carnaval. Aracajú, 19 fev. 1920, Ano XIII, n. 2.819, p. 2.
CUNHA, Fabiana Lopes da. Op. Cit., p. 57.
159
Além dos espaços já mencionados, o jornal informou outras festas particulares,
que ocorreram, como a do Cine Rio Branco e a presença de agremiações carnavalescas
da classe média conhecidas por ranchos399, típicos do carnaval carioca e que “foram
criados pelos migrantes baianos que buscavam nestes grupos e diversões uma maneira
de reviver formas de sociabilidade e integração vivenciadas por eles na Bahia400”. Ainda
sobre o carnaval das elites, Cunha nos mostra que:
A elite desejava construir um carnaval luxuoso e elegante,
diferentemente do modelo até então existente, o qual era marcado por
um espírito carnavalesco cheio de teatralidade, graça e comentários
jocosos e, muitas vezes, injuriosos. Porém, não conseguiu total
sucesso, já que os gracejos e as interpelações pelas ruas continuavam e
eram, em geral, muito citados pelas revistas ilustradas como
experiência do próprio articulista ou como uma narrativa bem
humorada401.
Esse desejo da elite reflete a necessidade de elevar o carnaval aos padrões
europeus, a exemplo do que ocorre em Veneza na Itália, todavia os festejos de rua
falaram mais alto e a “europeização”, pelo menos do carnaval, não ocorreu, devido ao
fato dos festejos populares atraírem multidões e por serem mais comentadas que os
particulares. Sobre as festas de rua, na capital de Sergipe, o Correio de Aracajú relata
que havia:
Muito enthusiasmo, muita phantasia, mas notou-se a ausencia
completa de um individuo de espírito, que com suas graças divertisse
e animasse. Ouviam-se apenas gritos descompassados e chocarreiros
que se candidatavam a engraçados. Em materia de phantasias, não
houve uma só a despertar a attenção pela sua originalidade. O
domador de ursos, que noutros centros não offereria novidade, causou
sensação. O vendedor de joias foi uma idéa curiosa. O Conde de
Fuparatuba saiu de Tio Sam, garboso e bonito. O resto era mais ou
menos batido402.
Apesar de ter sido alegre, o carnaval de Aracaju necessitava de alguém que
fizesse às vezes de um “bobo carnavalesco”, que levasse a população nas ruas ao
divertimento e a descontração, alguém que colocasse ordem na bagunça, com mais
bagunça. As fantasias também tinham um papel simbólico na festa, pois através delas
que a imprensa tecia seus maiores comentários e elogios. Como vimos acima, a fantasia,
de fato, era a roupa de gala do carnaval, principalmente “aquelas que se referiam a fatos
399
CORREIO de Aracaju. Carnaval. 19 fev. 1920, Ano XIII, n. 2.819, p. 2.
CUNHA, Fabiana Lopes da. Op. Cit., p. 178-179.
401
Ibdem, p. 258.
402
CORREIO de Aracajú. Carnaval. Aracajú, 19 fev. 1920, Ano XIII, n. 2.819, p. 2.
400
160
e pessoas que fizeram notícia no período403”, como foi o caso do suposto conde ter se
fantasiado de Tio Sam, um ícone republicano norte-americano.
As festas em Aracaju serviram para tecer uma cadeia de sociabilidades entre
seus habitantes, mesmo que na maioria das vezes os níveis sociais os afastassem. No
entanto, a rua e outros espaços serviram também para mostrar como eram constituídas
as relações de sociedade de uma cidade que se considerava moderna e civilizada.
4.2 - As Ruas, os Espaços e as Sociabilidades
Apesar das festas elencadas anteriormente serem realizadas nas ruas, como uma
forma de interação social entre os habitantes de Aracaju, as sociabilidades extrapolam
os momentos festivos, logo é vivida no dia a dia. De acordo com Certeau404 o cotidiano
das cidades está relacionado com a forma que os seus habitantes se apropriam das
práticas existentes no âmbito urbano, no entanto, para que esse cotidiano fosse
apropriado, era necessária uma incursão pelas ruas.
O ato de caminhar está para o sistema urbano como a enunciação está
para a língua ou para os enunciados proferidos. Vendo as coisas no
nível mais elementar, ele tem com efeito uma tríplice função
“enunciativa”: é um processo de apropriação do sistema topográfico
pelo pedestre (assim como o locutor se apropria e assume a língua); é
uma realização espacial do lugar (assim como o ato da palavra é uma
realização sonora da língua); enfim, implica relações entre posições
diferenciadas, ou seja, “contratos” pragmáticos sob a forma de
movimentos (assim como a enunciação verbal é “alocução”, “coloca o
outro em face” do locutor e põe em jogo contratos entre colocutores).
O ato de caminhar parece portanto encontrar uma primeira definição
como espaço de enunciação405.
Caminhar significava conhecer o cotidiano das cidades, se apropriar dos usos e
contra usos que a urbe oferecia aos seus habitantes. A partir do momento que o espaço é
traçado, as relações começaram a serem tecidas e as ruas foram fundamentais para viver
a cidade e as suas sociabilidades.
Com as reformas urbanas empreendidas, principalmente nas capitais dos estados,
a população sentia a necessidade de sair cada vez mais da esfera dos seus lares e
403
CUNHA, Fabiana Lopes da. Caricaturas carnavalescas: carnaval e humor no Rio de Janeiro através
da ótica das revistas ilustradas Fon-Fon! e Careta (1908-1921). 2008. 510f. Tese (Doutorado) –
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em História Social,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008, p. 258.
404
CERTEAU, Michel de. Op. Cit.
405
Idem, p. 177.
161
adentrarem nas artérias da cidade, ou seja, as ruas. Era através delas que a vida urbana
pulsava e a modernidade ganhava, digamos, um corpo físico. Para João do Rio:
[...] a rua é mais do que isso, a rua é uma fator da vida das cidades, a
rua tem alma! Em Benarés ou em Amsterdão, em Londres ou em
Buenos Aires, sob os céus mais diversos, nos mais variados climas, a
rua é agasalhadora da miséria. Os desgraçados não se sentem de todo
sem o auxílio dos deuses enquanto diante dos seus olhos uma rua abre
para outra rua. A rua é o aplauso dos medíocres, dos infelizes, dos
miseráveis da arte. [...] A rua continua, matando substantivos,
transformando a significação dos termos, impondo aos dicionários as
palavras que inventa, criando o calão que é o patrimônio clássico dos
léxicos futuros. A rua resume para o animal civilizado todo o conforto
humano406.
O cronista carioca mostra-se apaixonado pela rua, pois foi através dela que o
mesmo pode descrever as transformações ocorridas no Rio de Janeiro, durante a
reforma urbana empreendida por Pereira Passos culminando na Belle Époque da capital
federal. As ruas constituíram a passarela da modernidade, eram por elas que os
costumes, hábitos, as novidades e principalmente as sociabilidades desfilavam sobre ela.
Para Ferraresi407, a gênese da palavra “socialização” não segue caminhos retos, ou seja,
não se sabe ao certo a sua procedência, no entanto, O’donnell apresenta um conceito de
sua variante, sociabilidade:
[...] a sociabilidade é aqui tomada como feição lúdica da socialização
que a comporta. Em outras palavras, ela é a abstração da socialização
que se realiza com caráter de arte ou jogo, num processo de
construção de relações sociais que, por sua vez, sustentam o processo
social como um todo. O exercício da sociabilidade, portanto, emerge
como fruto de um contexto moderno feito de novos espaços e idéias,
constituindo-se como prática urbana por excelência408.
As sociabilidades são construídas através das relações sociais nas cidades. Elas
foram construídas através das ruas, como já vimos, mas elas também surgem de ideias
modernas que se materializaram durante as reformas urbanas. As ruas foram
encarregadas de construir as relações entre os habitantes das urbes, através das lojas,
cafés, cinemas, livrarias, sorveterias e chapelarias.
406
RIO, João do. A alma encantadora das ruas: Crônicas. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, p.
29-30.
407
FERRARESI, Carla Miucci. Op. Cit., 2007.
408
O’DONNELL, Julia. Op. Cit., p. 59.
162
Em Aracaju, durante sua Belle Époque, duas ruas ganharam notoriedade nesse
processo de interação da sociedade: estamos nos referindo as Ruas João Pessoa e
Laranjeiras, que de acordo com Andrade e Brito Filho elas:
[...] representam duas artérias da paisagem de Aracaju que muito
contribuíram para o seu crescimento comercial e sua solidificação.
Ruas que estão vivas dentro do contexto histórico aracajuano, desde a
formação do centro histórico e comercial aos dias atuais, dando sua
forte contribuição para a sociedade409.
No início do século XX, mais precisamente na década de 1920, essas ruas
concentram o comércio de Aracaju, obviamente nada que se comparasse a vasta zona
comercial da Rua do Ouvidor e da Avenida Central no Rio de Janeiro, mas os
estabelecimentos ofertados nas Ruas João Pessoa e Laranjeiras atendiam a população de
alto poder aquisitivo, quando se “deslocavam para passear, conversar, consumir
produtos de alta qualidade e tomar chás410”.
Os anúncios nos jornais são fontes importantes para entendermos como eram
tecidas as sociabilidades dos aracajuanos em suas ruas mais efervescentes, pois quando
os cotejamos encontraremos diversos estabelecimentos frequentados pela população,
como por exemplo, as modistas e as alfaiatarias, como o anúncio abaixo revela.
Figura 37 - Anúncio da Alfaiataria Carioca
Fonte: CORREIO de Aracajú. Aracaju, 11 mar. 1920, Ano XIII, n. 2.826.
Assim como em outras cidades, a imprensa teve um papel importante durante as
reformas empreendidas no âmbito urbano, pois além de alguns ressaltarem
a
importância das remodelações para a busca compulsiva da modernidade e dos ideais de
civilização, como também buscaram levar o leitor a conhecer o que as ruas tinham de
409
ANDRADE, Adênia Santos. BRITO FILHO, José de Oliveira. O ir e vir das Ruas João Pessoa e
Laranjeiras (1920-1940). São Cristóvão: UFS, 2012, p. 35.
410
Ibdem, p. 38.
163
melhor para oferecer, por isso havia muitos anúncios de diversos produtos e casas
comerciais. Na maioria desses anúncios encontraremos analogias ao Rio de Janeiro e a
Paris. Essa última, notemos no anúncio que segue.
Figura 38 - Anúncio do Lança Perfume Paris
Fonte: GAZETA do Povo. Os novos Studebaker. Aracaju, 06 jul.
1925, Ano I, n. 212.
Podemos perceber, através dos jornais, que nas ruas João Pessoa e Laranjeiras
existiam uma grande quantidade de estabelecimentos voltados para o comércio, como
sorveterias, cafés, restaurantes, papelarias, cinema, relojoarias, padarias, chapelarias,
loja de móveis, entre outros. Além disso:
As ruas João Pessoa e Laranjeiras, além do comércio diversificado,
possuíam a alegria para comemorar as datas festivas. Pela João Pessoa
desfilavam os foliões, carnavalescos; também passeavam as pessoas
influentes da sociedade; e nas noites de carnaval, os rapazes curtiam
os bailes carnavalescos no Cinema Rio Branco. Por outro lado, a Rua
Laranjeiras tinha um aspecto mais sério, e até hoje existe uma de
tranquilidade em relação às demais artérias do calçadão, isto
porque nela encontra-se a Igreja São Salvador, edificada em
1857411.
As ruas além de servirem como centro comercial de Aracaju, por elas também
passaram as festas já citadas nesse trabalho, o que nos mostra as diversas formas de
411
ANDRADE, Adênia Santos; BRITO FILHO, José de Oliveira. Op. Cit., p. 59.
164
utilizar a rua. Isso ocorre quando um determinado espaço recebe uma gama de
manifestações culturais, religiosas e econômicas.
Estavam localizados nas ruas citadas, como também em outras com menos
relevância, espaços onde a população se encontrava, principalmente nas tardes de
sábado, para conversar e se divertir. Além dos cinemas como já foi mostrado, existiam
os Cafés, pois “comer bem, era comer à moda européia412”. Os jornais anunciavam os
mais concorridos cafés de Aracaju, o Ideal e o Café República. Para Souza, esses
espaços:
Todas essas inovações aguçaram nos sergipanos o desejo de acelerar o
processo modernizador então em curso. Imbuídos do princípio de que
a razão deve ser estendida a todos os campos da experiência humana,
servir como guia da sociedade – axioma do ideário cientificista
vigente à época - compartilhavam a crença de que era preciso
trabalhar para integrar a pequena unidade federativa, explorada
durante séculos pelo governo central e pelos estados política e
economicamente mais poderosos, ao mundo civilizado. Porém, a esse
sonho cosmopolita associou-se o anseio de demarcar a sua
singularidade. Acreditavam na necessidade de torná-la grandiosa tanto
aos olhos dos estrangeiros quanto ao dos conterrâneos. Em outras
palavras, era preciso forjar uma identidade sergipana413.
Os Cafés se tornaram espaços para pensar em um novo Sergipe, voltado para a
modernidade e a civilização. Ao mesmo tempo, era necessário refletir sobre como forjar
uma identidade tipicamente do nosso estado. Podemos dizer que esses estabelecimentos
eram frequentados por intelectuais e outras pessoas que aproveitavam esses momentos
para compartilharem suas experiências de vida. Além disso, “os cafés ou os simples
freges (como eram chamados, na época, os botequins) podem ser, simbolicamente, tidos
como o local privilegiado pelos autores pré-modernistas414”. Além dos Cafés, existiam
os Clubes, a exemplo do Recreio Club e Club dos Diários, que reuniam as pessoas em
suas reuniões, festas e bailes beneficentes. Jornais como o Correio de Aracajú
constantemente publicavam os dias das reuniões dos clubes, principalmente dos Diários.
Nota-se, também, que esses espaços possuíam estatutos e sedes, todavia, não
conseguimos encontrar tais documentos que nos apresentassem a origem dessas
organizações, mas Needell, ao pesquisar sobre as elites da Belle Époque carioca mostra
que o Club dos Diários:
412
SANTOS, Fabrícia de Oliveira. Op. Cit., p. 92.
SOUZA, Cristiane Vitório de. Op. Cit., p. 28.
414
SILVA, Maurício. Op. Cit., p. 32
413
165
[...] originava-se diretamente dos clubes que surgiram em Londres no
século XVII e chegaram ao apogeu em Paris e Londres no século
XIX, como locais onde se reuniam os cavalheiros refinados. Mais
importante, “diários” apontava para uma nova realidade ocupacional
das elites cariocas. O termo deriva das viagens diárias a que se
obrigavam aqueles cuja riqueza e posição lhes permitia veranear no
fresco refúgio serrano da elegante Petrópolis, mas paralelamente
exigia deles que percorressem o caminho de ida e volta até seus
escritórios cariocas, a cada manhã e tarde, num ritual tedioso para
aplacar tanto os deuses da moda quanto os da riqueza415.
Não sabemos se o Club dos Diários da Belle Époque aracajuana tinha mesma
finalidade que o carioca, uma vez que apesar das elites possuírem residências
campestres como chácaras e fazendas, Sergipe não possuía uma cidade aos moldes de
Petrópolis para que os afortunados pudessem passar o verão e fugir do calor. De acordo
com o jornal Estado de Sergipe, o Clube dos Diários foi fundado em 24 de fevereiro de
1918, como uma sociedade recreativa que teve como finalidade:
A) proporcionar aos seus socios o Maximo convívio e relações, por
meio de saraus e torneio de qualquer natureza, jogos e bilhar e
quaesquer outras diversões; B) ministrar o ensino da dansa e organizar
gabinete de leitura com biblioteca; C) esses fins irão sendo realizados
com o capital social e os saldos verificados annualmente416.
Como podemos ver, o Club dos Diários aracajuanos difere do modelo
apresentado por Needell417, uma entidade que promove a interação entre seus sócios
através de jogos e leituras. Sobre o Recreio Club, o memorialista Murilo Melins diz que
estava localizado no Parque Teófilo Dantas e que animou Aracaju até a década de 1940.
Com seu fim, os sócios passaram a incorporar a Associação Atlética de Sergipe418. Os
Clubes voltados para as práticas desportistas também fizeram parte da formação das
sociabilidades de Aracaju, como o Cotinguiba Sport Club, fundado nos anos iniciais do
século XX, mais precisamente em 1909, por um “grupo de desportistas, com a
finalidade de disputar as modalidades e Remo, Futebol, Basquete, Voleybol419”. Havia
também o Club Sportivo Sergipe, que surgiu uma semana depois do primeiro, oriundo
de uma ala dissidente. Os dois foram rivais durante muitos anos420.
É interessante frisar a existência de clubes voltados apenas para o público
masculino, as casas de diversão noturna ou cabarés, para os rapazes solteiros em busca
415
NEEDELL, Jeffrey D. Op. Cit., p. 95.
ESTADO de Sergipe. Estatutos do Club dos Diarios. Aracaju, 1º jul. 1919, Ano XX, n. 5.784, p. 4.
417
NEEDELL, Jeffrey D. Op. Cit., 1993.
418
MELINS, Murilo. Aracaju romântica que vi e vivi. 3. ed. Aracaju: Unit, 2007, p. 217.
419
Ibdem, p. 219.
420
Idem.
416
166
de uma aventura sexual e homens casados que desejavam deixar o recôndito dos lares, a
fidelidade matrimonial e se entregarem aos prazeres da noite. O jornal Gazeta do Povo
evidencia um anúncio de um desses estabelecimentos.
Figura 39 - Anúncio do Palace Club
Fonte: GAZETA do Povo. Os novos Studebaker. Aracaju, 06
jul. 1925, Ano I, n. 212.
De acordo com anúncio, o estabelecimento era luxuoso, o que aparenta dizer que
somente os homens e rapazes afortunados poderiam frequentá-lo, no entanto, para
aqueles que não possuíam condições financeiras para custear os prazeres lascivos nesse
local, poderiam encontrar outros, em lugares distantes do centro ou até mesmo em suas
imediações421.
Esses cafés e clubes teciam as sociabilidades e davam vida ao cotidiano de
Aracaju durante a Belle Époque e tiveram um papel importante na construção de uma
cidade moderna e civilizada, no entanto, não podemos esquecer a importância das
livrarias, como por exemplo, da Livraria Regina, fundada em 1918, em Aracaju, e que
se tornou importante na difusão de livros e revistas, como a “Fon-Fon!”. Ao mesmo
tempo “encontravam-se livros de várias nacionalidades: italianos, franceses, espanhóis,
além dos nacionais, em diversas áreas do conhecimento422”. No centenário da
independência de Sergipe em 1920, a livraria imprimiu diversos cartões postais com
421
Um exemplo desses estabelecimentos foi o cabaré da famosa prostituta da Aracaju dos anos de 1920
conhecida por “Nonôca”, localizado na Rua das Almas. Segundo processos crimes encontrados no
Arquivo do Judiciário do Estado de Sergipe, devido a prisão de dois gatunos ocorrida nas dependências
da casa de tolerância, as atividades foram encerradas em 1922. (ARQUIVO do Judiciário do Estado de
Sergipe, Comarca de Aracaju, 1ª Vara. Penal, Processo-crime: Assassinato, 29/08/1922, caixa de
número 19, documento 2.597).
422
ANDRADE, Adênia Santos; BRITO FILHO, José de Oliveira. Op. Cit., p. 69.
167
imagens dos prédios recém-remodelados da capital sergipana423. Algumas fotos que
compõe esse trabalho são justamente esses postais como as fotos do palácio, antes da
reforma, da Praça da Catedral, da Assembleia Legislativa e dos grupos escolares. Sobre
a difusão dos cartões-postais, Schapochnik diz que:
Os cartões-postais são como um convite à viagem, uma prenda
delicada àqueles que estão distantes. Imagens cuidadosamente
escolhidas servem de moldura a juras de amor, reiteram plasticamente
laços de amizade, perplexidade e encantamento424.
Os cartões-postais serviam para apresentar Aracaju como uma cidade moderna,
ao mesmo tempo era uma forma de convidar aqueles que moravam longe e só poderiam
conhecer a capital sergipana através das imagens, por isso os locais e monumentos
fotografados deveriam ser escolhidos rigorosamente, pois o contrário a urbe não se
tornaria objeto de curiosidade dos que nela não habitam.
É importante lembrarmos que a bela época foi marcada também pelo
consumismo exagerado, a necessidade de obter produtos, principalmente da Europa,
fazia com que as pessoas praticassem o ato de flanar, ou footing, pelas ruas das cidades
olhando as vitrines das lojas e comprando seus artigos de luxo. As lojas em Aracaju,
apesar de não ter encontrado anúncios que mostrassem a chegada de materiais
requintados, conseguiam vender seus produtos, talvez por conta das analogias que
faziam com os grandes centros urbanos, mas se não dava para ir à Paris, a cidade luz
vinha até os aracajuanos como nos mostra o anúncio do jornal Gazeta do Povo.
423
A livraria teve seu apogeu a partir da década de 1930, quando se tornou um dos espaços de
sociabilidade mais frequentados de Aracaju, por isso analisar esse período foge ao nosso recorte temporal,
mas tendo vista sua significativa contribuição nos seus anos iniciais se fez necessário mostrá-la nesse
trabalho. Ver: SANTOS, Elissandra Silva. Livraria Regina: notas sobre a aventura do livro em Aracaju
(1918-1976). 2004. 61 p. Monografia (Graduação) – Departamento de História, Universidade Federal de
Sergipe, São Cristóvão, 2004, p. 24.
424
SCHAPOCNIK, Nelson. Cartões-postais, álbuns de família e ícones da intimidade. In: SEVCENKO,
Nicolau (Org.). História da Vida Privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, v. 3.
168
Figura 40 - Anúncio de Madame Marguerite
(
Fonte: GAZETA do Povo. Os novos
Aracaju, 06 jul. 1925, Ano I, n. 212.
Studebaker.
Não sabemos se a senhora citada no anúncio é de fato de nacionalidade francesa,
uma vez que era costume no Brasil as mulheres de elite serem chamadas de Madames,
tanto nos periódicos quanto pelas pessoas. Em Aracaju, o jornal Correio de Aracajú
referia-se a Tereza Lobo, esposa do Presidente do Estado, como Madame Pereira Lobo.
O fato é que a busca por roupas femininas sofisticadas era uma constante, mesmo não
havendo vendas em grande escala na capital de Sergipe. Feijão nos explica essa busca
por vestuários femininos elegantes:
Á mulher, à mulher burguesa casada, cabia, além das tarefas
domésticas, destacar-se nos eventos sociais pela sua beleza e,
principalmente, pela riqueza e correção de seu traje: sua aparência
deveria ser o reflexo do sucesso econômico do marido. Para isso se
revestia de rendas, bordados e fitas, em peças de corte intricado,
difíceis de vestir e de portar – enquanto os trajes de seu par
enveredavam para um crescente despojamento425.
A mulher trajada com roupas sofisticadas mostrava o quanto era elevada a
posição do seu marido dentro da sociedade da Belle Époque, onde as identidades eram
forjadas através das apropriações de costumes europeus. Quanto mais elegante o traje da
mulher, mais demorado e difícil de vestir seria.
Enquanto o do masculino mostrava-se o contrário do feminino e os homens se
vestiam ao modo inglês. Algo que já fazia parte do cotidiano do século XIX, pois havia
425
FEIJÃO, Rosane. Op. Cit., p. 109-110.
169
uma construção de “imagem austera, com predileção por roupas de aspecto prático, que
espelhassem sua ligação com a vida econômica, intelectual e política do país 426”. Em
Aracaju, também existiam ateliers especializados nas roupas masculinas, portanto os
homens também poderiam buscar seus trajes elegantes em lojas que ficavam geralmente
na Rua João Pessoa, além disso “os rapazes visitavam as sapatarias para comprar
sapatos de cromo, sociais de bico fino, bicolores, que seriam usados na praça e nos
bailes427”. O anúncio a seguir, encontrado no jornal Correio de Aracajú, mostra uma
propaganda da Alfaiataria Paris.
Figura 41 - Anúncio da Alfaiataria Paris
Fonte: CORREIO de Aracajú. Aracaju, 11 mar. 1920, Ano
XIII, n. 2.826.
Mais uma vez Paris aparece, mas no nome de um estabelecimento comercial de
Aracaju. O anúncio do estabelecimento de roupas para homens é comprovada no texto
contido no anúncio. Logo, isso mostra que apesar de Aracaju não receber em suas lojas
quantidades significativas de artigos de luxo, o comércio buscava representar-se através
dos textos e imagens que invocavam o Rio de Janeiro e Paris, como uma forma de atrair
a clientela às suas vitrines.
Outro objeto muito utilizado tanto por homens quantos mulheres foram os
chapéus. Esses adereços possuíam diversos significados que caracterizavam quem os
usavam, no caso dos chapéus femininos Sevcenko nos diz que:
426
427
FEIJÃO, Rosane. Op. Cit., p. 108.
ANDRADE, Adênia Santos; BRITO FILHO, José de Oliveira. Op. Cit., p. 57.
170
Na Belle Époque, o objeto do desejo por excelência eram os chapéus
femininos. Os códigos eram complicadíssimos – variavam conforme a
idade, estado civil, condição social, posição do pai ou marido, estação,
ambiente, hora do di, características dos vestidos e jóias em usos, as
modas das companhias teatrais, parisienses e os últimos lançamentos
das butiques francesas. Misteriosos, exuberantes, ousados, eles
catalisavam olhares, ocupavam o espaço, acrescentando traços de
poder, sofisticação e ares enigmáticos às usuárias428.
O chapéu, assim como o sapato, era um adereço que possuía um significado
naquele período, distinguia as pessoas, apresentando detalhes como estado civil e
condição financeira. Isso nos mostra que o vestuário era também responsável por criar
as representações durante a Belle Époque, pois quanto mais caro o chapéu, mais rica
seria a senhora que o usava. Em Aracaju havia lojas que vendiam esse cobiçado
adereço, como nos mostra o anúncio do Correio de Aracaju.
Figura 42 - Anúncio da loja de chapéus Elite.
Fonte: CORREIO de Aracaju, 1920.
Notemos que a fábrica de chapéus estava localizada em um dos pontos
comerciais mais conhecidos de Aracaju, a rua de Laranjeiras, o que não poderia ser
diferente uma vez que era um local propício para os comerciantes daquele período. A
Belle Époque em Aracaju foi sentida também na moda, as revistas vindas dos principais
centros urbanos do país, como a Revista Fon-Fon, facilitavam a reprodução de roupas
principalmente em períodos vestidos, quando as senhoras e senhoritas corriam para as
costureiras com as revistas nas mãos e providenciavam roupas para as festividades de
fim de ano.
428
SEVCENKO, Nicolau. Op. Cit. 1998, p. 534.
171
Tanto as lojas e outros estabelecimentos, quanto os clubes, serviram para
legitimar as sociabilidades nas ruas da capital sergipana, caracterizando-a como uma
urbe em que o ir e vir era rotineiro. No entanto, vimos apenas os espaços, onde as elites
circulavam sem fazer menção às classes menos favorecidas. Para isso, achamos
conveniente dedicar uma parte deste trabalho, ao relato do cotidiano dos pobres, pois
como toda cidade que procurou se modernizar no final do século XIX e início do XX, o
processo de modernização de Aracaju possuiu características excludentes, como
veremos adiante.
4.3 - Os Pobres da Belle Époque Aracajuana
Na historiografia das cidades, os pobres possuíam uma posição de inferioridade
perante aos demais habitantes. A eles foi negado direito de habitar em determinados
locais da urbe, por isso eram levados a residir em locais impróprios e, em alguns casos,
foram até expulsos desses lugares. Aos pobres foram atribuídas culpas por epidemias,
devido à falta de higiene de suas construções, por crimes no âmbito urbano e por
perturbar a ordem pública.
A circulação de pessoas das classes menos favorecidas em determinados lugares
como praças e ruas, já era o suficiente para deixar os demais transeuntes em pânico e as
autoridades policiais em vigília. Para manter os pobres afastados dos lugares destinados
às elites, foram criados códigos que ajudariam a disciplinar essas camadas. Freitas
mostra como deveria ser a disciplina no espaço urbano da capital de Sergipe:
A disciplina que vamos perceber na cidade de Aracaju, ou melhor,
dentro do “quadrado de Pirro”, é estabelecida pelos poderes dirigentes
que ditam as regras de conduta e de estabelecimento do cidadão em
diversas áreas da cidade. E é essa mesma disciplina que exclui o
cidadão e o faz estabelecer-se em regiões periféricas429.
Os governantes criaram leis que dificultaram a inserção dos pobres no Tabuleiro
de Pirro, ocasionando a sua ida para lugares inóspitos nos arredores da cidade. No início
do século XX, a população da capital de Sergipe cresceu consideravelmente, como já
observamos. As pessoas oriundas do interior do Estado vieram em busca de novas
condições de vida e acreditavam que a “cidade
grande” poderia proporcionar isso para
FREITAS, Bárbara Sheila Gonçalves e. A ocupação periférica do quadrado de Pirro: Aribé (1901 –
1931). Revista do Aracaju, ano LX, número 10. Aracaju: FUNCAJU, 2003, p. 262.
429
172
eles, devido ao crescimento da indústria têxtil. Armando Fontes em sua obra “Os
Corumbas” relata a saída da família Corumba do interior em busca de trabalho na
Aracaju que se modernizava430 e foram trabalhar em uma das fábricas de tecidos da
cidade, onde as longas jornadas e má remuneração faziam parte do cotidiano fabril. As
condições de moradias eram precárias, pois a cidade não foi pensada para receber as
classes menos favorecidas, o que nos mostra uma natureza excludente desde sua
construção até as reformas empreendidas no século XX. De acordo com Fontes:
A situação da população pobre era outra. Homens e mulheres de baixa
condição econômica dificilmente poderiam construir moradia no
“Quadrado de Pirro”. Os pobres edificaram suas casas de palhas em
lugares afastados de maneira “desordenada”, em terrenos alagadiços
sem saneamento e outros serviços431.
A ida desses migrantes para lugares afastados do centro urbano de Aracaju fez
surgir outra cidade, só que caracterizada pela falta de saneamento, higiene e “sem infraestutura de esgoto e abastecimento de água, provocando altas taxas de mortalidade pelos
surtos de cólera-morbus, febre amarela, varíola, peste bubônica, tuberculose432”. As
habitações dos pobres, localizadas nas áreas periféricas, não correspondiam aos
preceitos higienistas pregados na época. Isso ocasionará, mais tarde, a saída deles dessas
zonas endêmicas.
Com a chegada da população pobre em Aracaju, áreas como o Aribé
(Atualmente Bairro Siqueira Campos), que desde o início do século XX recebia
moradores que não tinha condições de erguerem suas moradias nas proximidades do
núcleo urbano da cidade, “foi uma das regiões procuradas pelos indivíduos pobres.
Possuindo sítios e áreas pantanosas, esta região acolheu família emigrantes do interior
do Estado433”. Nesse lugar eles construíam suas casas de palhas sem estrutura e fora dos
padrões estipulados pelos Códigos de Postura, por isso essas pessoas eram vistas como
“pessoas com a moral corrompida que precisavam ser disciplinadas [...]. As pessoas
pobres eram consideradas um perigo, havendo uma segregação dos lugares, ou seja,
começa a haver uma separação entre os lugares de pobres e ricos434”. Pesavento nos
explica os motivos dessa separação:
430
FONTES, Armando. Os corumbas. 25. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2003.
FONTES, Lídia Meire Rocha dos Santos. Op. Cit., p. 15.
432
FREITAS, Bárbara Sheila Gonçalves e. Op. Cit., p. 267.
433
SOUSA, Antônio Lindvaldo. Op. Cit., 1993, p. 11.
434
Idem.
431
173
A urbe se queria ordenada, bela e asséptica, e não agredida por
construções que concentravam gente potencialmente perigosa e
degenerada. No final do século, todas as argumentações valiam,
ligando-se às teorias cientificas europeias, que classificavam os
indivíduos de acordo com seu biótipo e vinculavam os
comportamentos ao meio social. Os pobres eram feios, sujos e
malvados, por que não? Morar amontoado, viver de biscate, apresentar
proceder duvidoso eram todos indícios de algo que os cidadãos
honrados não queriam no seu cotidiano435.
A cidade desejava ser vista e admirada por suas belezas oriundas da
remodelação urbana e os pobres com suas construções rústicas não eram bem vindos,
por isso a separação dos corpos limpos e sujos deveriam ser realizados, para que não
corrompessem a estrutura urbana. Os pobres eram geralmente designados da forma que
a autora436 nos mostrou na assertiva, ou seja, tudo que a sociedade civilizada repulsava.
O comportamento das classes menos favorecidas também preocupava os
seguidores dos ideais da civilização. Para eles as classes populares tinham costumes
reprováveis e que não condiziam com a situação de Aracaju naquele momento. Era
preciso criar leis que garantissem a ordem, por isso nas festas populares da cidade a
polícia se fazia presente, para garantir a aplicabilidade das mesmas e acima de tudo para
vigiar os homens e mulheres pobres, para que seus atos “incultos” e “incivilizados” não
atormentassem o restante dos habitantes. Sobre a aplicação de disciplina aos pobres,
Foucault fala que:
O exercício da disciplina supõe um dispositivo que obrigue pelo jogo
do olhar; um aparelho onde as técnicas que permitem ver induzam a
efeitos de poder, e onde, em troca, os meios de coerção tornem
claramente visíveis aqueles sobre aqueles quem se aplicam437.
A aplicabilidade das leis cabia a chefatura da polícia, que também regia
regulamentos de diversões públicas e como forma de conter as manifestações tidas
como indecorosas e que não atendiam aos preceitos de uma cidade que buscava se
modernizar, ou seja, a relação entre pobres e modernidade não surtia efeito, por isso que
“vigiar espaços tornava-se uma das formas de inibir as consideradas desordens sociais.
O falar alto, as risadas, as brigas constituíam estranhos comportamentos para os atores
sociais modernos438”.
435
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Os pobres da cidade: vida e trabalho (1880-1920) Porto Alegre:
Editora da UFRGS, 1994, p. 93.
436
Idem.
437
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1987, p. 143.
438
FONTES, Lídia Meire Rocha dos Santos. Op. Cit., p. 23
174
Além da ação dos governantes em controlar a presença dos pobres nas áreas
elitizadas do Tabuleiro de Pirro, outro fator que influenciou na saída dessas pessoas para
as zonas periféricas e afastadas da cidade foi a alta no preço dos aluguéis de imóveis.
Em 1919, o jornal Correio de Aracajú publicava um texto sobre essa situação, vejamos:
Em Aracajú, está constituindo um problema muito serio a exorbitancia
dos alugueis de casas, que são aqui relativamente muito mais altos do
que no Rio ou em qualquer outra capital do Estados do Brasil. É certo
que a população tem augmentado consideravelmente, mas essa razão
não bastaria determinar uma mudança tão brusca, se não influissem
outros factores que apresentam talvez mais decisivos. O lustro que
durou o conflicto europeu foram os cinco annos de fartura para os
engenheiros sergipanos; e estes, depois que enriqueceram,
debandaram para a capital, e ao envez de construírem moradias,
começaram a offerecer qualquer preço pelas já construídas ou
accederam a morar nellas por um aluguel desproporcionado. Por sua
vez, os commerciantes que tambem tiraram bom partido dessa quadra
toda cheia de anormalidades, não fazem questão de entrar com um
preço exorbitante, comtanto que arrangem casa no interior da
cidade439.
Muitos inquilinos, que não possuíam condições financeiras para continuar
pagando pelas suas permanências nas residências acabavam sendo despejados, como
podemos ver nos processos crimes do Arquivo do Judiciário do Estado de Sergipe.
Documentos dessa natureza nos mostram que houve desapropriações por particulares, já
que os jornais falavam que o governo realizava também. No entanto, não informavam
como se davam essas retiradas. Um desses processos teve como requerente Mariana
Capell, que solicitou à justiça o despejo do seu inquilino José Almeida Amorim, por ter
atrasado doze meses o pagamento do aluguel da casa localizada na Rua de Arauá. O
documento não mostra qual a profissão do réu, que ao ser despejado teve que pagar o
valor atrasado de 345$720 (trezentos e quarenta e cinco mil setecentos e vinte réis),
multa de 28$920 (vinte e oito mil novecentos e vinte réis), como também os valores do
imposto predial aplicado pela Intendência. As pessoas que alegaram não ter condições
de pagar pediam um atestado de pobreza junto à chefatura de polícia, como foi o caso
do réu desse processo440.
Com a especulação imobiliária que Aracaju passou em 1919, as ações de
despejos foram mais frequentes, como atestam os processos. Casas simples também
foram motivos para querelas judiciais, como a de José Alves Cavalcante e sua esposa
439
CORREIO de Aracaju. A exorbitância dos aluguéis. Aracajú, 10 ago. 1919, Ano XIII, n. 2.659, p. 1.
ARQUIVO do Judiciário do Estado de Sergipe, Comarca de Aracaju, cartório de 3º ofício, Ação
Penal: Despejo. 28/03/1916, Caixa 1, documento 3.438/1.
440
175
Thereza Duarte Cavalcante, que solicitaram à justiça o despejo de Deoclídes Santos da
casa de taipa e telha, com duas janelinhas de frente e uma porta, localizada na Rua de
Estância, número 89. O motivo alegado era que a habitação iria ser ocupada por um
parente dos requerentes, uma vez que estava sendo difícil conseguir casas em Aracaju.
O processo foi finalizado sem maiores problemas441.
Nem sempre os despejos eram aceitos pelos despejados, como foi o caso de
Francisca Soares Mello, que reagiu quando foi notificada da ação feita por André
Ramos, proprietário da casa situada na Rua Silvio Romero. Ao ser colocada para fora da
residência, por falta de pagamento e ter atrasado em dois meses, a inquilina se negou a
sair. A polícia foi acionada e Francisca passou a noite na chefatura policial, sendo
liberada no dia seguinte442.
Pode-se observar também que casas foram despejadas para depois serem
passadas à Intendência como utilidade pública, ou seja, podiam ser vendidas ou não ao
governo municipal, que com as obras de reforma da capital precisou realizar
desapropriações e derrubar construções velhas443. Interessante notar que alguns
despejados eram funcionários públicos, porém os documentos não informam qual a área
de atuação. Outra situação vista foi que a maioria dos contratos dos aluguéis foi feito de
forma verbal, sem a assinatura de um documento. Por conta disso, os réus dificultavam
a ordem de saída, fazendo com que os proprietários acionassem a justiça.
É interessante pensarmos na seguinte hipótese: o aumento dos aluguéis444 se deu
em um momento em que a cidade passava por um processo de remodelação, onde
padrões de modernidade e ideais de civilização eram constantemente buscados pelas
elites, por isso ter pessoas de baixo poder aquisito residindo no Tabuleiro de Pirro
poderia ser uma afronta aos afortunados aracajuanos. Logo, o crescimento exagerado do
valor pode ter sido feito propositalmente, com o intuito de expulsar essas pessoas,
deixando as áreas nobres de Aracaju reservada para os ricos445 e para que as casas
pudessem ser remodeladas ou demolidas e ali nascer uma nova Aracaju.
441
ARQUIVO do Judiciário do Estado de Sergipe, Comarca de Aracaju, cartório de 3º ofício, Ação
Penal: Despejo. 13/10/1919, Caixa 1, documento 3.438/2
442
, Comarca de Aracaju, cartório de 3º ofício, Ação Penal: Despejo. 05/05/1923, Caixa 1,
documento 3.438/11
443
, Comarca de Aracaju, cartório de 3º ofício, Ação Penal: Despejo. 12/07/1920, Caixa 1,
documento 3.438/5
444
De acordo com os processos analisados no Arquivo do judiciário, os valores dos aluguéis eram de
23$000 (vinte e três mil réis) a 40$000 (quarenta mil réis).
445
Na historiografia atual tem a premissa de que o investigador não deve deter-se apenas às questões de
certeza, mas também abrir espaço para as dúvidas, as possibilidades. Prova disso é o que Natalie Zemon
Daves realizou na sua pesquisa sobre Matin Guerre, em que de forma magistral a historiadora norte-
176
O crescimento demográfico de Aracaju fez com que os bairros Santo Antônio e
Industrial também recebessem uma quantidade expressiva de migrantes pobres. O
último ficava localizado próximo a Fábrica de Tecidos Confiança, para onde se
destinava a maioria dessas pessoas, que iriam juntar-se ao operariado das fábricas
têxteis de Aracaju. Porém, de acordo com Sousa, o crescimento desses bairros não
foram bem aceitos:
Os atores sociais da modernidade não percebiam com “bons olhos” a
ocupação desses dois núcleos pela população pobre. Esses espaços
eram considerados um afronto à “beleza natural”, ou seja, provocava
desarmonia com a parte mais central da cidade e sobretudo
“desrespeito às pessoas adiantada nos deveres para consigo e com seus
semelhantes”. As críticas eram feitas principalmente às ruas
margeadas por casas consideradas impróprias onde inúmeras famílias
viviam “promiscuamente” 446.
O crescimento populacional dos bairros Aribé, Santo Antônio e Industrial
preocupava esses atores sociais da modernidade, ou seja, os políticos e a elite, que
desejavam inserir a capital no contexto da civilização. Com isso, a partir da década de
1920, “começava o processo de eliminação das áreas consideradas impróprias e não
compatíveis com a nova situação de Aracaju447”, logo, esses bairros passaram por
processos de desapropriação, por conta de diversos fatores, o principal deles foi a falta
de higiene da população pobre que fazia desses lugares focos de inúmeras epidemias,
mas a falta de decoro e o excesso de promiscuidade vivido pelas baixas camadas
também se tornaram motivos de preocupação, pois como nos mostra Sousa:
A intenção de afastar os homens pobres das áreas indesejadas não se
dava somente porque suas casas tinham aspectos rudimentares e
faltavam preceitos de higiene. A interferência se processava por causa
também do seu modo de vida, dos seus costumes. Isto é perceptível
quando se observam as críticas dos atores sociais aos costumes desses
homens pobres448.
Para uma cidade que se tornava moderna e civilizada, possuir lugares
considerados impróprios, onde a proliferação não só de doenças, mas de hábitos
indecorosos, era algo que consistia em atraso perante aos agentes responsáveis pelos
ideais de modernidade. Todavia, é necessário salientar que os pobres foram retirados de
americana cria uma discussão sobre provas e possibilidades no âmbito da História. Ver: GINZBURG,
Carlo. Provas e possibilidades. In:
. Op. Cit., 2007.
446
SOUSA, Antônio Lindvaldo. Op. Cit., 1993, p. 46.
447
Ibdem, p. 49.
448
Idem.
177
suas moradias por conta de obras realizadas na cidade, como o “o prolongamento da
viação, a continuação da linha de bondes da empresa elétrica de Aracaju449”.
Não bastava retirar os homens e mulheres pobres de suas moradias, para conter
doenças ou mostrar uma civilização maquiada, baseada em uma modernização
cosmética, onde as realidades eram escondidas do verdadeiro cotidiano. Fazia-se
necessário instruí-los, com o intuito de discipliná-los de forma pacífica, garantindo
assim o controle sobre essa população. De acordo com Rago:
A habitação do pobre não escapará ao desejo de disciplinarização do
proletariado manifestado pelos dominantes. Na moradia operária, a
burguesia industrial, os higienistas e os poderes públicos visualizam a
possibilidade de instaurar uma nova gestão da vida do trabalhador
pobre e controlar a totalidade de seus atos, ao reorganizar a fina rede
de relações cotidianas que se estabelecem no bairro, na vila, na casa e,
dentro desta, em cada compartimento. Destilando o gosto pela
intimidade confortável do lar, a invasão da habitação popular pelo
olhar vigilante e pelo olfato atento do poder assinala a intenção de
instaurar a família nuclear moderna, privativa e higiênica, nos setores
sociais oprimidos450.
Ao disciplinar a moradia do homem pobre, obviamente que os agentes da
modernidade vão impor seus preceitos, controlando assim os hábitos dessas pessoas,
principalmente os que se referiam às questões de higiene, por isso eles passaram “a
receber “visitas” constantes em sua residência dos técnicos, que lhe imprimiam
informações em torno da higienização da casa e do corpo451”.
Os processos encontrados no Arquivo do Judiciário mostram que a maioria dos
homens e mulheres pobres era analfabeta e trabalhava como operários, pedreiros,
lavandeiras, vendedores ambulantes, ajudantes entre outros. Por não possuírem
instrução, o ato de disciplinarização ficava difícil, pois essas pessoas não possuíam
entendimento sobre diversas práticas de higiene e civilidade. Por isso:
O contato maior com a população pobre no sentido de sensibiliza-la
para a instrução, ocorreu, sem sombra de dúvidas, na medida em que
os governos, os empresários e, principalmente a intelectualidade,
passaram a promover palestras em ocasiões de festividades dos
trabalhadores ou outra atividade que reunia um número significativo
de pessoas pobres como a inauguração da Escola de Aprendizes e
Artífices452.
449
SOUSA, Antônio Lindvaldo, Op. Cit., 1993, p. 11.
RAGO, Margareth. Op. Cit., p. 214.
451
Ibdem, p. 15.
452
SOUSA, Antônio Lindvaldo. Op. Cit. 1993, p. 55.
450
178
Instruir a população pobre seria uma saída para retirá-los dos hábitos
considerados indecorosos para os padrões da época, por isso que os Grupos Escolares
tiveram um papel importante na difusão do civismo e de práticas de higiene. Os agentes
da modernidade encontravam nas festividades, uma forma de orientar a população pobre
sobre a importação da instrução, pois eram nesses eventos que eles se faziam presentes
em massa. Quando falamos em festas, nos referirmos aos eventos realizados pelos
políticos ou pelas fábricas, como o 1º de maio. Eram nessas ocasiões que os discursos
destinavam-se à população pobre e não nas festividades que envolviam as classes mais
favorecidas, pois nessas eles estavam em constante vigilância.
Os pobres foram as vítimas do processo de modernização das cidades, a eles
foram dados lugares marginais no espaço urbano, como também uma situação de
inferioridade perante as pessoas mais abastadas. Mesmo possuindo um caráter
marginalizado, durante a reforma urbana de Aracaju, podemos dizer que os pobres
tiveram um papel significante na Belle Époque aracajuana, pois mesmo excluídos e
proibidos de adentrarem ao Tabuleiro de Pirro, seus hábitos, moradias e costumes
levaram o governo a criar elementos disciplinadores para que não atrapalhassem no
desenvolvimento da capital sergipana, durante sua busca incessante pela modernidade e
civilização, por fim, eles foram à contra gosto, coadjuvantes desses eventos.
179
CONCLUSÃO
O período que compreende o final do século XIX e o início do XX revelou-se
como um momento de transformações para a sociedade que viveu naquela época, pois
as cidades passaram, paulatinamente, por processos de transformações, que
modificariam o cotidiano dos seus habitantes. A intensidade dessas transformações foi
assistida, principalmente, nas duas primeiras décadas do século passado, quando
algumas cidades tiveram condições, graças ao aumento da economia, por conta da
Primeira Guerra Mundial, de promoverem reformas e remodelações em sua estrutura
urbana.
É necessário relembrar que algumas cidades passaram por tais transformações
ainda na segunda metade do século XIX, a exemplo de Manaus, Belém e Recife, que
adentraram ao XX em ritmo de modificações urbanas. O Rio de Janeiro, então capital
federal, vivenciou a partir de 1903, reformas urbanas empreendidas pelo
Prefeito
Pereira Passos, que serviram como base para outras cidades brasileiras, que executaram
obras de remodelação nos decênios iniciais do século passado.
Os anos de 1910 a 1920 representaram uma busca frenética pelos aparatos da
modernidade no âmbito de cidades como São Paulo, Salvador, Natal e Aracaju, que de
uma forma tardia, se comparada às outras urbes já citadas, efetivaram remodelações no
espaço urbano, buscando aspirações de modernidade e transformações em prol do
progresso. Vale a pena enfatizar que a necessidade de modernizar a capital de Sergipe e
as outras cidades já citadas, seguia uma tendência nacional, que ganhou ainda mais
notoriedade com as reformas cariocas. Por isso que esse trabalho objetivou-se em
analisar o processo de modernização e urbanização de Aracaju, culminando sua inserção
em um período que se convencionou em chamar de Belle Époque.
As cidades brasileiras que passaram por esse período e pela busca da
modernidade puderam vivenciar, ou não, transformações significativas em sua estrutura
urbana, como também em diversos âmbitos da sociedade. Aracaju, por sua vez, teve seu
cotidiano moderno idealizado pelo governo, mesmo já tendo experimentado em
pequenas doses, o ritmo da modernidade e seus aparatos como cinema, luz elétrica, água
encanada entre outros.
Assim como nas outras cidades, a reforma urbana de Aracaju atendeu um desejo
das elites locais e, ao mesmo tempo, do poder público, que não mediu esforços para
tornar a capital de Sergipe em uma cidade moderna. É válido ressaltar que tais obras
180
ocorrem em um período diferente das realizadas no Rio de Janeiro, ponto de inspiração
para o projeto reformador e irradiador da Belle Époque nos trópicos. Na época das
transformações, na então capital federal, Aracaju estava aquém dos acontecimentos.
Poucas obras eram realizadas nesse período, como vimos anteriormente, por isso Santos
diz que:
O ingresso de Aracaju na onda do “civiliza-se”, a construção,
remodelação espacial e arquitetônica de vários imóveis públicos e
privados; a introdução de um padrão de sociabilidade mediado pelo
dinheiro e a difusão de novos hábitos de consumo, aconteceram a
partir dos anos vinte do século XX, principalmente no governo de
Graccho Cardoso. Sendo assim, considerando características e
conceituações conferidas à Belle Époque, se aplicadas à Aracaju, são
no mínimo, inadequadas. Em 1900 e 1905, nossa cidade de Aracaju –
tabaroa vestida de chita e calçada de tamancos – estava, de fato, na
contramão dos acontecimentos453.
Para a autora, incluir a Aracaju do início do século XX nos padrões de civilidade
adotados principalmente pelo Rio de Janeiro nesse período, é contraditório, pois a
cidade não vivenciava a inserção de padrões modernos e civilizatórios, sem falar que
sua população ainda era baixa, se comparada a outros municípios sergipanos. De fato, a
capital de Sergipe no início do século passado, possuía uma estrutura deficiente, a sua
fisionomia urbana nada lembrava uma capital de um estado. Ela também mostra que nos
anos de 1920, esses hábitos foram sendo inseridos no cotidiano aracajuano, durante o
governo Graccho Cardoso. É cabível lembrar que Pereira Lobo contribuiu para a
inserção de padrões modernos, através das reformas urbanas, iniciadas por ele, para as
comemorações do centenário da emancipação política de Sergipe.
A remodelação de Aracaju não teve a grandiosidade das realizadas em outras
cidades do país, a exemplo de Rio de Janeiro e São Paulo, mas se formos analisar a
quantidade de obras que foram legadas à população, como o calçamento das ruas,
reforma dos prédios públicos e particulares, reforma e criação dos Grupos Escolares,
instalação de luz elétrica, rede de água e esgoto, reforma de praças, parques e passeios
públicos, veremos que foram características presentes em todas as cidades vistas nesse
trabalho, o que nos leva a constatar que a capital de Sergipe vivenciou,
proporcionalmente, é óbvio, o período denominado por Belle Époque. Uma vez que o
caráter modernizador era baseado em princípios de civilização adotados pela capital
federal, onde o higienismo foi uma constante, já que as preocupações eugênicas fizeram
453
SANTOS, Maria Nely. Aracaju na contra-mão da Belle Époque. Revista de Aracaju, Ano LIX, n. 09,
2002, p. 153.
181
parte das reformas urbanas como também da bela época, dotando esse período com um
caráter excludente, pois aqueles que não estavam aptos a se adequarem a tais preceitos
eram fadados ao ostracismo dos lugares mais afastados da cidade, criando assim zonas
periféricas e impróprias para habitação.
É importante ressaltar, também, a importância que os lugares de sociabilidade
tiveram para a constituição do viver a cidade na Belle Époque, pois uma vez remodelada
e moderna, se fazia necessário que a população conhecesse a urbe, perscrutando por
suas artérias, admirando as vitrines, experimentando as novidades e flanando pelas ruas.
Em suma, a modernização de Aracaju poder ser caracterizada da seguinte maneira:
entre 1911 e 1920, inicia-se o processo de modernização tendo aumentado em 1918,
com o governo de Pereira Lobo. O período que compreende os anos de 1921 a 1930,
possui o destaque por ser o momento do apogeu da modernização, tendo o mandato de
Graccho Cardoso exercido forte influência para as transformações ocorridas
em Aracaju.
Obviamente, por ser uma pesquisa com prazos para sua execução, alguns
elementos da Belle Époque aracajuana não foram destacados ou apresentados com mais
rigorosidade, porém isso possibilitará àqueles que por ventura se sentirem atraídos em
enveredar pelas nuanças de Aracaju nesse período, a pesquisar outros elementos que
constituíram a modernização da cidade, pois essa pesquisa propõe um leque de
possibilidades a serem estudados com afinco e seriedade, como por exemplo, os locais
de sociabilidades, as festas, as habitações dos ricos e também a dos pobres, o comércio,
a educação, os transportes e os hábitos da população da capital de Sergipe.
Enfim, cremos que não importa o tamanho das obras, mas sim o que elas
legaram a Aracaju, nas décadas iniciais do século XX e que a cidade finalmente recebeu
uma mão de verniz sobre o Tabuleiro de Pirro, fazendo com que os ecos da Belle
Époque ressoassem em uma urbe, que a partir daquele momento, se considerava
moderna, civilizada e progressista.
182
REFERÊNCIAS
CORPUS DOCUMENTAL
- Fontes Manuscritas
SERGIPE. Relatório Apresentado ao Exmº. Sr. Coronel Presidente do Estado pelo
Director de Obras, Agricultura, Industria e Viação. Aracaju: Imprensa Oficial, 1919.
p. 25.
- Mensagens Presidenciais
SERGIPE. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa em 07 de setembro de
1919, ao instalar-se a 1ª sessão ordinária da 14ª Legislatura, pelo Coronel Dr. José
Joaquim Pereira Lobo, Presidente do Estado. Aracaju: Imprensa Oficial, 1919.
. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa em 07 de setembro de
1920, ao instalar-se a 2ª sessão ordinária da 14ª Legislatura, pelo Coronel Dr. José
Joaquim Pereira Lobo, Presidente do Estado. Aracaju: Imprensa Oficial, 1920.
. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa em 07 de setembro de
1921, ao instalar-se a 3ª sessão ordinária da 14ª Legislatura, pelo Coronel Dr. José
Joaquim Pereira Lobo, Presidente do Estado. Aracaju: Imprensa Oficial, 1921.
. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa em 07 de setembro de
1922, ao instalar-se a 4ª sessão ordinária da 14ª Legislatura, pelo Coronel Dr. José
Joaquim Pereira Lobo, Presidente do Estado. Aracaju: Imprensa Oficial, 1922.
. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa, em 07 de setembro de
1923. Ao instalar-se a 1ª sessão ordinária da 15ª Legislatura, pelo Presidente do
Estado Dr. Maurício Graccho Cardoso. Aracaju: Imprensa Oficial, 1923.
. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa, em 07 de setembro de
1924. Ao instalar-se a 2ª sessão ordinária da 15ª Legislatura, pelo Presidente do
Estado Dr. Maurício Graccho Cardoso. Aracaju: Imprensa Oficial, 1924.
. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa, em 07 de setembro de
1925. Ao instalar-se a 3ª sessão ordinária da 15ª Legislatura, pelo Presidente do
Estado Dr. Maurício Graccho Cardoso. Aracaju: Imprensa Oficial, 1925.
. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa, em 07 de setembro de
1926. Ao instalar-se a 4ª sessão ordinária da 15ª Legislatura, pelo Presidente do
Estado Dr. Maurício Graccho Cardoso. Aracaju: Imprensa Oficial, 1926.
- Código, Leis e Decretos
CÓDIGO de Posturas da Cidade de Aracaju. Aprovado pela Lei do Conselho
Municipal nº 112 de 16 de abril de 1912. Aracaju: Tipographia do Estado de Sergipe,
1912.
183
. Aprovado pela Lei do Conselho Municipal nº 338 de 6 de setembro de
1926. Aracaju: Regina, 1927.
COLLECÇÃO de Leis e Decretos de 1919. Aracaju: Imprensa Official, 1920.
COLLECÇÃO de Leis e Decretos de 1920. Aracaju: Imprensa Official, 1921.
DIÁRIO Official do Estado de Sergipe. Aracaju: Imprensa Official, 1920.
. Aracaju: Imprensa Official, 1922.
POSTURAS da Câmara Municipal da Capital. Collecção de leis, decretos e resoluções
da Provincia de Sergipe. 1850-1859. Aracaju: Typ. Provincial de Sergipe, 1856.
- Processos
ARQUIVO do Judiciário do estado de Sergipe, Comarca de Aracaju, cartório de 3º
ofício, Ação Penal: Despejo. 13/10/1919, Caixa 1, documento 3.438/2.
, Comarca de Aracaju, cartório de 3º ofício, Ação Penal: Despejo. 12/07/1920,
Caixa 1, documento 3.438/5.
, Comarca de Aracaju, 1ª Vara. Penal, Processo-crime: Assassinato,
29/08/1922, Caixa 19, documento 2.597.
, Comarca de Aracaju, cartório de 3º ofício, Ação Penal: Despejo. 05/05/1923,
Caixa 1, documento 3.438/11.
FONTES IMPRESSAS
- Atas
REVISTA do IHGSE. Acta da 1ª reunião da Commissão Executiva do Centenario
da Emancipação Política de Sergipe, n. 9, 1920.
. Acta da primeira sessão extraordinária do anno de 1919, n. 9, 1920.
. Acta da Sessão Magna do dia 8 de julho de 1920, n. 9, 1920.
- Jornais
CORREIO de Aracajú. Aracaju, 11 mar. 1920, Ano XIII, n. 2.826.
. Aracaju, 8 abr. 1920, Ano XIII, n. 2.846.
. Aracaju, 13 jun. 1920, Ano XII, n. 2.896.
. Aracaju, 9 jul. 1920, Ano XIII, n. 2.914.
. Aracaju, 1º ago. 1920, Ano XIII. n. 2.932.
184
. A capital de Sergipe. Aracaju, 25 set. 1920, Ano XIII, n. 2.969.
. A exorbitância dos aluguéis. Aracajú, 10 ago. 1919, Ano XIII, n. 2.659.
. A obra patriotica do Intendente de Aracajú. Aracaju, 25 abr. 1920, Ano
XIII, n. 2.860.
. A Fon-Fon publica matéria sobre o centenário a emancipação de Sergipe.
Aracaju, 21 set. 1920, ano XIV, n. 2.994.
. A solução do caso Carris Urbanos. Aracaju, 10 set. 1919.
. Calçamento da cidade. Aracaju, 16 jun. 1920, Ano XIII, n. 2.898.
. Carnaval. Aracaju, 19 fev. 1920, Ano XIII, n. 2.819.
. Festa do centenário: inauguração da exposição-feira. Aracaju,
ano XIV, n. 2.993.
24 out. 1920,
. Política de Sergipe: um caso de “impeachment”. Aracaju, 21 set. 1918, Ano
XI, n. 2.424.
. Projecto para a construcção do theatro “S. Christóvão” nesta capital.
Aracaju, 04 jul. 1920, Ano XIII, n. 2.910.
. Um luminoso exemplo para muitos Estados. Aracaju, 9 jun. 1920, Ano XIII,
n. 2.893.
DIÁRIO da Manhã. Águas estagnadas. Aracaju, 26 jul. 1919, Ano IX, n. 2.376.
. Obra de Saneamento. Aracaju, 27 jul. 1919, Ano IX, n. 2.377.
. Pelos Jardins. Aracaju, 27 abr. 1919, Ano IX, n. 2.311.
. Quereis possuir uma roupa Chic? Aracaju, 12 ago. 1919, Ano IX, n. 2.398.
GAZETA do Povo. Os novos Studebaker. Aracaju, 06 jul. 1925, Ano I, n. 212.
O IMPARCIAL. Aracaju, 07 jun. 1919, Ano I, n. 226.
. A reforma da nossa capital. 03 abr. 1919, Ano I, n. 177.
. Bom Jesus dos Navegantes. Aracajú, 02 jan. 1919, Ano I, n. 105.
. Nas obras do palacio, deu-se hontem um desastre. Aracaju, 10 maio 1919,
Ano I, n. 204.
. O desastre de sexta-feira nas obras do palacio. Aracaju, 12 maio 1919, Ano
I, n. 205.
. Posse de Pereira Lobo. Aracaju, 31 jul. 1918, Ano I, n. 1.
185
SÉCULO XX. Aterro da cidade. Aracaju, 06 jul. 1919, ano I, n. 166.
SERGIPE Jornal. A Instrucção publica em Sergipe. Aracaju, 27 jan. 1923, Ano II, n.
457.
. A posse do novo governo. Aracaju, 26 out. 1922, Ano II, n. 360.
. Aracajú. Aracaju, 30 jul. 1921, Ano I, n. 6.
. Despedida. Aracaju, 22 fev. 1923, Ano II, n. 454.
. Dr. Saturnino Britto. Aracaju, 30 jan. 1923, Ano II, n. 435.
. Outro grupo escolar em Aracajú: mais uma realização. 26 abr. 1923, Ano II,
n. 503.
- Revistas
NUNES, Maria Thétis. Qual o significado do 24 de outubro?. Revista do Instituto
Histórico e Geográfico de Sergipe, v. 1, n. 27. Aracaju: IHGSE, 1965
REVISTA Fon-Fon. A instrucção pública em Sergipe. Rio de Janeiro, 29 ago. 1925,
Ano XIX, n. 35.
. A joia do Cotinguiba. Rio de Janeiro, 14 mar. 1925, Ano XIX, n. 11.
. A moderna capital de Sergipe. Rio de Janeiro, 29 ago. 1925, Ano XIX, n. 35.
. Aracaju remodelada. Rio de Janeiro, 29 ago. 1925, Ano XIX, n. 35.
. Jardins de Aracajú. Rio de Janeiro, 29 ago. 1925, Ano XIX, n. 35.
. O Estado de Sergipe: exemplo a imitar, uma obra profícua. Rio de Janeiro, 23
out. 1920, n. 43.
. O instituto de chimica. Rio de Janeiro, 29 ago. 1925, Ano XIX, n. 35.
. O patronato de menores. Rio de Janeiro, 29 ago. 1925, Ano XIX, n. 35.
. Sergipe sobre os impulsos do progresso. Rio de Janeiro, 29 ago. 1925, Ano
XIX, n. 35.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- Anais
FABRIS, Annateresa. Arquitetura eclética no Brasil: o cenário da modernização. In:
Anais do Museu Paulista, Anais do Museu Paulista, n. 1, v. 1, 1993.
186
MOREIRA, Fernando Diniz. A construção de uma cidade moderna: Recife (1909-1926)
In: Anais do VI Encontro Nacional da ANPUR, Brasília – DF, 1995.
- Autores e memorialistas sergipanos
ALBUQUERQUE, Samuel Barros de Medeiros. Memórias de Dona Sinhá. Aracaju:
Typografia editorial/Scortecci, 2005b.
. Nas memórias de Aurélia: cotidiano feminino no Rio de Janeiro do século
XIX. São Cristóvão: Editora UFS, 2015.
AMADO, Genolino. Um menino sergipano: Memórias. 2. Ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1978.
ANDRADE JÚNIOR, Péricles Morais de. Sob o olhar diligente do pastor: a Igreja
Católica em Sergipe. São Cristóvão: Editora da UFS, 2010.
ANDRADE, Adênia Santos. BRITO FILHO, José de Oliveira. O ir e vir das Ruas
João Pessoa e Laranjeiras (1920-1940). São Cristóvão: UFS, 2012.
AZEVEDO, Crislane Barbosa de. Grupos escolares em Sergipe (1911-1930): cultura
escolar, civilização e escolarização da infância. Natal – RN: EDUFRN, 2009.
. A modernidade no governo de Graccho Cardoso e a Reforma Educacional
de 1924 em Sergipe. Natal: EDUFRN, 2013.
CALAZANS, José. Aracaju e outros temas Sergipanos. 2. Ed. São Cristóvão: Editora
UFS; Aracaju: IHGSE, 2013.
CANTO E MELLO. Novo Sergipe: depoimento para a verdade histórica sobre a
administração de Pereira Lobo. Rio de Janeiro: Villas Boas, 1921.
DANTAS, José Ibarê Costa. História da Casa de Sergipe: os 100 anos do IHGSE
(1912-2012). São Cristóvão: UFS; Aracaju: IHGSE, 2012.
. História de Sergipe: República (1889-2000). Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 2004.
. O tenentismo em Sergipe: Da Revolta de 1924 à Revolução de 1930. 2. ed.
Aracaju: J. Andrade, 1999.
. Os partidos políticos em Sergipe (1889-1964). Rio de
Brasileiro, 1989.
Janeiro: Tempo
FONTES, Armando. Os corumbas. 25. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2003.
FREIRE, Felisbello Firmo de Oliveira. História de Sergipe. 3. ed. São Cristóvão:
Editora UFS; Aracaju: IHGSE, 2013.
MEDINA, Ana Maria Fonseca. Ponte do Imperador. Aracaju: J. Andrade. 1999.
187
MELINS, Murilo. Aracaju romântica que vi e vivi. 3. ed. Aracaju: Unit, 2007.
NUNES, Maria Thétis. História da educação em Sergipe. 2. ed. São Cristóvão: UFS;
Aracaju: Fundação Oviêdo Teixeira, 2008.
. Sergipe Provincial II: 1840-1889. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006.
OLIVA, Terezinha Alves de. Impasses do federalismo brasileiro: Sergipe e a Revolta
de Fausto Cardoso. 2. ed. São Cristóvão: UFS; Aracaju: IHGSE, 2014.
PORTO, Fernando. A cidade do Aracaju (1855-1865): ensaio de evolução urbana. 2.
ed. Aracaju: FUNDESC, 1991.
SANTANA, Antônio Samarone de. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios.
Aracaju: O Autor, 2001.
SANTOS, Magno Francisco de Jesus. Ecos da modernidade: a arquitetura dos grupos
escolares sergipanos (1911-1926). São Cristóvão: UFS, 2013.
SILVA, Clodomir. Álbum de Sergipe. Aracaju: Imprensa Oficial, 1920.
WYNNE, José Pires. História de Sergipe (1575-1930). Rio de Janeiro: Editora
Ponguetti, 1970.
- Livros
AZEVEDO NETO, Joachin. Uma outra face da Belle Époque carioca: o cotidiano
nos subúrbios nas crônicas de Lima Barreto. Rio de Janeiro: Multifoco, 2011.
BARBOZA, Naide. Em busca de imagens perdidas: centro histórico de Aracaju
(1900-1940). Aracaju: Fundação Cultural Cidade de Aracaju, 1992.
BENJAMIN, Walter. Passagens. Belo Horizonte: Editora da UFMG; São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009.
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da
modernidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 7. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.
CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e República que não
foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: Artes de fazer. Petrópolis: Vozes,
1994.
CHALHOUB, Sidney. Cidade febril: cortiços e epidemias na corte imperial. São
Paulo: Companhia das Letras, 1996.
CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa:
DIFEL, 1990.
188
DAOU, Ana Maria. A Belle Époque amazônica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
DE PAOLI, Paula Silveira. Entre relíquias e casas velhas: a arquitetura das reformas
urbanas de Pereira Passos no Centro do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Rio Book’s,
2013.
ELIAS, Norbert. O processo civilizador: uma história dos costumes. 2. ed. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2011, v. 1.
FEIJÃO, Rosane. Moda e modernidade na Belle Époque carioca. Rio de Janeiro:
Estação das Letras e Cores, 2011.
FOLLIS, Fransérgio. Modernização urbana na Belle Époque Paulista. São Paulo:
Editora Unesp, 2004.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1987.
FREYRE, Gilberto. Ordem e progresso. São Paulo: Global. 2004.
GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo:
Companhia das Letras, 1989.
. O fio e os rastros: verdadeiro, falso, fictício. São Paulo: Companhia das
Letras, 2007.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26 ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995.
MALATIAN, Teresa. Dom Luís de Orléans e Bragança: peregrino de impérios. São
Paulo: Alameda Casa Editorial, 2010.
MARINHO. Márcia. Natal também civiliza-se: sociabilidade, lazer e esporte na Belle
Époque natalense. Natal: UFRN, 2011.
NEEDELL, Jeffrey D. Belle Époque tropical: sociedade e cultura de elite no Rio de
Janeiro na virada do século. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
O’DONNELL, Julia. De olho na rua: a cidade de João do Rio. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar. 2008.
PAULA, Zuleide Casagrande de. A cidade e os jardins: Jardim América, de projeto
urbano a monumento patrimonial (1915-1986). São Paulo: UNESP. 2008.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Os pobres da cidade: vida e trabalho (1880-1920) Porto
Alegre: UFRGS, 1994.
PONTE, Sebastião Rogério. Fortaleza Belle Époque: reformas urbanas e controle
social (1860-1930). Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha/Multigraf, 1993.
189
PORTO, Fernando de Figueiredo. Alguns nomes antigos de Aracaju. Aracaju: J.
Andrade, 2011
PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 43. ed. São Paulo: Brasiliense,
1998.
PRIORE, Mary Del. Festas e utopias no Brasil colonial. São Paulo: Brasiliense, 1994.
RAGO, Margareth. Do cabaré ao lar: a utopia da cidade disciplinar e a resistência
anarquista, Brasil (1890-1930) 4. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2014.
REZENDE, Antônio Paulo. Desencantos modernos: histórias da cidade do Recife na
década de XX. Recife: FUNDARPE, 1997.
RIO, João do. A alma encantadora das ruas: Crônicas.São Paulo: Companhia das
Letras, 2008.
SANTUCCI, Jane. Cidade rebelde: as revoltas populares no Rio de Janeiro no início
do século XX. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2008.
SARGES, Maria de Nazaré. Belém: Riquezas produzindo a Belle Époque (1870-1912).
2. ed. Belém: Paka-Tatu, 2002.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do imperador: Dom Pedro II, um monarca dos
trópicos. 2 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na
Primeira República. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
SILVA, Maurício. A hélade e o subúrbio: confrontos literários na Belle Époque
carioca. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2006.
TIRAPELI, Percival. Arte imperial: do neoclássico ao ecletismo: século 19. São Paulo,
SP: Nacional, 2006.
TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos: a fotografia e as exposições na era do
espetáculo (1839-1889). Rio de Janeiro: Rocco, 1995.
WEBER, Eugen. França Fin-de-Siècle. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
- Capítulos de livros
FRANCO, Gustavo H. B; LAGO, Luiz Aranha do Corrêa. O processo econômico In:
SCHWARCZ, Lilia Moritz. A abertura para o mundo: 1889-1930. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2012.
GASKELL, Ivan. História das Imagens. In: BURKE, Peter. (Org.): A escrita da
história: novas Perspectivas. São Paulo: Unesp, 2011.
190
GINZBURG, Carlo. Controlando a evidência: O juiz e o historiador. In: NOVAIS,
Fernando A.; SILVA, Rogério Forastieri da. (Orgs). Nova História em perspectiva.
São Paulo: Cosac Naiy, 2011.
LANNA JÙNIOR, Mário Cléber Martins. Tenentismo e crises políticas na Primeira
República. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. (Orgs): O
Brasil Republicano: o tempo do liberalismo excludente – da Proclamação da
República à Revolução de 1930. 7. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014.
OLIVEIRA, Maria Luiza Ferreira de. Uma senhora na Rua do Imperador: população e
transformações urbanas na cidade de São Paulo 1870-1890. In: GRINBERG, Keila;
SALLES, Ricardo (orgs). O Brasil imperial: 1870-1889. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2009.
PUPPI, Suely de Oliveira Figueirêdo. Profissionais Italianos na Salvador. In: VALLE,
Arthur; DAZZI, Camila. Oitocentos: arte brasileira do Império à República – Tomo 2.
Rio de Janeiro: EDUR-UFRRJ/DezenoveVinte, 2010.
SALIBA, Elias Thomé. Cultura. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz. A abertura para o
mundo: 1889-1930. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. População e sociedade. In:
mundo: 1889-1930. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
. A abertura para o
SOUZA, Rosa Fátima de. Templos de civilização: a implantação da escola primária
graduada no Estado de São Paulo (1889-1910). São Paulo: UNESP, 1998.
SEVCENKO, Nicolau. A capital irradiante: técnica, ritmos e ritos do Rio. In:
.
(Org.). História da vida privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, v.
3.
VELLOSO, Mônica Pimenta. O modernismo e a questão nacional. In: FERREIRA,
Jorge. DELGADO, Lucila de Almeida Neves. (Orgs): O Brasil republicano: O tempo
do liberalismo excludente da Proclamação da República à Revolução de 1930. 3. ed.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.
- Artigos em periódicos e revistas
ALBUQUERQUE, Samuel Barros de Medeiros. Antônio Dias Coelho e Mello, o Barão
da Estância. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, Aracaju, v.
34, 2005a.
. Aspectos do baronato sergipano, Revista do IHGSE, Aracaju, n. 28, 2004.
. Emancipação cultural, Jornal da Cidade, Aracaju, 08 jul. 2012, Caderno B, p.
7, coluna Opinião.
ARRUDA, Juliana Bandeira de; SÀ, Ana Rita Carneiro. A estética urbana no projeto de
Saturnino de Brito. In: Paisagem e ambiente: ensaios, São Paulo, n. 22, 2006.
191
CARDOSO, Amâncio. A cidade de palha, Revista do Aracaju, Ano LX, n. 10.
Aracaju: FUNCAJU, 2003.
FIGUEREDO FILHO, Godofredo Rebello de. A influência do ecletismo na arquitetura
baiana. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, n. 19,
1984.
FREITAS, Bárbara Sheila Gonçalves e. A ocupação periférica do quadrado de Pirro:
Aribé (1901 – 1931), Revista do Aracaju, Aracaju: FUNCAJU, ano LX, n. 10, 2003.
LIMA NETO, Urbano de Oliveira. O Palácio Olímpio Campos (1855-1964). Revista
do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, Aracaju, v. XXII, n. 26, 1961.
MAYNARD, Andreza Santos Cruz. “A 10 quilômetros por hora”: automóveis em
Sergipe no início do século XX. Revista do IHGSE, n. 38, 2009.
. “Presepe de sombras” em Aracaju (Sergipe - Brasil): uma reflexão sobre
exibições cinematográficas no início do século XX. Revista de História da UEG, v. 3,
2014.
NASCIMENTO, Edna Maria do; SANTOS, Waldefrankly Rolim de Almeida. Aracaju
urbana e humana: Aspectos de uma leitura da cidade. Revista do Aracaju, Aracaju, n.
10, 2003.
SANTOS, Maria Nely. Aracaju na contra-mão da Belle Époque. Revista de Aracaju,
Ano LIX, n. 09, 2002.
VALENÇA, Cristina de Almeida. Civilizar, regenerar e higienizar: as palavras de
ordem da Pedagogia Moderna em Sergipe (1900-1935), Revista do IHGSE, n. 34,
2005.
- Monografias, dissertações e teses
BURGER, Juliana Bandeira A. A paisagem nos planos de saneamento de Saturnino
de Brito: entre Santos e Recife (1905-1917). 161f. Dissertação (Mestrado) – Programa
de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano, Universidade Federal de Pernambuco,
Recife, 2008.
COSTA, Rosemeire Marcedo. Fé, civilidade e ilustração: as memórias de ex-alunas do
Colégio Nossa Senhora de Lourdes (1903-1973). 2003. 129f. Dissertação (Mestrado em
Educação) - Núcleo de Pós-Graduação em Educação, Pró-Reitoria de Pós-Graduação e
Pesquisa, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2003.
CORRÊA, Isabella Cristina Chagas. Natureza e sagrado na memória da festa de
Bom Jesus dos Navegantes. 2013. 143f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pósgraduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal de Sergipe,
São Cristóvão, 2013.
CUNHA, Fabiana Lopes da. Caricaturas carnavalescas: carnaval e humor no Rio de
Janeiro através da ótica das revistas ilustradas Fon-Fon! e Careta (1908-1921). 2008.
192
510f. Tese (Doutorado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Programa
de Pós-Graduação em História Social, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
DOURADO, Guilherme Mazza. Belle Époque dos jardins: da França ao Brasil do
século XIX e inicio do XX. 2008. 214f. Dissertação (Mestrado) - Programa de PósGraduação em Arquitetura e Urbanismo, Área de concentração: Teoria e História da
Arquitetura e do Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2008.
FERRARESI, Carla Miucci. Papéis normativos e práticas sociais: o cinema e a
modernidade no processo de elaboração das sociabilidades paulistanas na São Paulo dos
anos de 1920. 475f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em História
Social, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
FONTES, Lídia Meire Rocha dos Santos. Espaço, disciplina e festividades numa
cidade Considerada moderna Aracaju-SE (1900-1930). 1998, 59f. Monografia
(Graduação) – Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe, São
Cristóvão, 1998.
LEITE, Rinaldo César Nascimento. E a Bahia civiliza-se....: ideais de civilização e
cenas de anti-civilidade em um contexto de modernização urbana em Salvador (19121916). 1996. 161f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em História,
Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1996.
NASCIMENTO, Sayonara Rodrigues do. Foros de oposicionismo em Sergipe: a
relação entre a imprensa e o governo de Pereira Lobo (1918-1922). 2005. 125f.
Monografia (Licenciatura) – Departamento de História da Universidade Federal de
Sergipe, São Cristóvão, 2005.
SANTOS, Elissandra Silva. Livraria Regina: notas sobre a aventura do livro em
Aracaju (1918-1976). 2004. 61f. Monografia (Graduação) – Departamento de História,
Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2004.
SANTOS, Fabrícia de Oliveira. “Hygiene, saúde e belleza”: preocupações eugênicas
nos periódicos sergipanos de Aracaju (1910-1920). 1999. 110f. Monografia (Curso de
Licenciatura em História) – Departamento de História, Centro de Educação e Ciências
Humanas, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 1999.
SANTOS, Waldefrankly Rolim de Almeida. Práticas e apropriações na construção
do urbano na cidade de Aracaju/se. 2007. 144f. Dissertação (Mestrado) – Programa
de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Área de Concentração:
Desenvolvimento Regional, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2007.
. Em nome do progresso e da liberdade: 'ordem' e 'rebeldia' no emergente
processo urbano-industrial de Aracaju (1910-1930). 1993. 99f. Monografia
(Especialização em Ciências Sociais) - Núcleo de Pós-Graduação em Ciências Sociais,
Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 1993.
SOUZA, Cristiane Vitório de. A “República das Letras” em Sergipe (1889-1930):
São Cristóvão, 2001. 210f. Monografia (Graduação) – Departamento de História da
Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2001.
193
VALENÇA, Cristina de Almeida. Civilizar, regenerar e higienizar: a difusão dos
ideais da pedagogia moderna por Helvécio Andrade (1911–1935). 2006. 254f.
Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade
Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2006.