Memória, Identidade e Ações Coletivas - Roberval Santos da Silva

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                    UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA (PROPEP)
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS, COMUNICAÇÃO E ARTES (ICHCA)
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
MESTRADO EM HISTÓRIA

ROBERVAL SANTOS DA SILVA

MEMÓRIA, IDENTIDADE E AÇÕES COLETIVAS
O movimento sindical nos Correios de Alagoas (1985-2002)

Maceió
2016

ROBERVAL SANTOS DA SILVA

MEMÓRIA, IDENTIDADE E AÇÕES COLETIVAS
O movimento sindical nos Correios de Alagoas (1985-2002)

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de PósGraduação em História do Instituto de Ciências Humanas,
Comunicação e Artes (ICHCA) da Universidade Federal
de Alagoas, como requisito parcial para a obtenção do
grau de Mestre em História.

Orientadora: Profª Drª Michelle Reis de Macedo

Maceió
2016

Catalogação na fonte
Universidade Federal de Alagoas
Biblioteca Central
Divisão de Tratamento Técnico
Bibliotecário Responsável: Valter dos Santos Andrade
S586m

Silva, Roberval Santos da.
Memória, identidade e ações coletivas: o movimento sindical nos Correios de
Alagoas (1985-2002) / Roberval Santos da Silva. – 2016.
249 f. : il.
Orientadora: Michelle Reis de Macedo.
Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Alagoas.
Instituto de Ciências humanas, Comunicação e Artes. Programa de
Pós-Graduação em História. Maceió, 2016.
Bibliografia: f. 221-235.
Anexos: f. 236-249.
1. Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) – História – Alagoas. 2. Correios Redemocratização. 3. Movimento sindical – Alagoas. 4. Sindicato dos
Trabalhadores na Empresa de Correios e Telégrafos em Alagoas (SINTECT-AL).
I.Título.
CDU: 981.35:331.105.44

Aos trabalhadores dos Correios pela história construída com o suor e
a força da gente simples que ousou na luta percorrer uma trajetória
de honra em nome de todos aqueles que sempre viram na
solidariedade o único caminho para uma vida melhor.

AGRADECIMENTOS

Agradecer pode se tornar uma tarefa injusta quando, quase sempre, nos esquecemos de
alguém que de algum modo contribuiu para a viabilidade e construção do que a seguir
proponho como singela e lacunar interpretação sobre o movimento sindical dos trabalhadores
dos Correios em Alagoas. Preocupado em evitar tamanha injustiça, me antecipo para
agradecer a todos os amigos, colegas e interessados no tema que de alguma forma
contribuíram para que este texto se tornasse realidade.
Lembro-me bem quando comecei essa jornada. Em 2006, iniciei as pesquisas sobre a
categoria dos Correios em Alagoas, resultando numa monografia da especialização em
História do Nordeste, ofertada pela Universidade Federal de Alagoas e defendida em 2007.
Naquele momento, pude contar com as preciosas orientações do Professor Doutor José
Ferreira Azevedo, que percebendo minhas divagações sobre o esperanto e depois sobre a
categoria dos Correios, me amparou e apontou o caminho que um imaturo aluno de História
deveria trilhar para encontrar as respostas de questionamentos nas pesquisas que a
Universidade, “curricularmente”, exigia de mim. Pelos incentivos iniciais, porém duradouros,
muito obrigado Professor Ferreira.
Não poderia deixar de agradecer ao Professor Doutor Osvaldo Batista Acioly Maciel,
pelas importantes sugestões após as leituras de alguns escritos que lhe apresentei ao longo
desses anos. Mais que um professor, Osvaldo foi um companheiro no sentido literal da
palavra que, pelas conversas e produção acadêmica, me inspirou a pesquisar sobre os
trabalhadores. Sua paixão pelo mundo do trabalho me contagiou de tal forma que passei a me
interessar mais ainda pela história da classe proletária e aprofundar as pesquisas sobre a
categoria dos Correios. A você, Osvaldo, meus agradecimentos.
Como estou falando de mestres, agradeço aos professores do Programa de PósGraduação em História pela dedicação e ensinamentos ao longo do curso. Ao professor
Doutor José Alberto Saldanha de Oliveira, meus agradecimentos pelas importantes
observações durante minha Banca de Qualificação, úteis para que eu concluísse esta etapa da
vida acadêmica. Aproveito para agradecer as servidoras do PPGH, principalmente a Carol,
sempre atenta e prestativa às nossas demandas. Não poderia neste momento deixar de lembrar

do Professor Jaildo Pinto, pelos socorros na língua inglesa, dos meus colegas de turma, pelos
diálogos, trocas de experiências e reflexões durante as aulas. Gostaria de dizer a todos vocês
que valeu tê-los conhecido, desejo a cada um muito sucesso profissional e acadêmico.
Quero aqui, fazer um agradecimento mais que especial a minha orientadora,
Professora Doutora Michelle Reis de Macedo, por me acompanhar nessa jornada “cansativa”,
porém gratificante. A senhora, professora Michelle, muito obrigado por ter acreditado nas
minhas propostas e por ter mergulhado comigo, de forma livre e democrática, no universo dos
trabalhadores dos Correios. Mais que uma orientadora, a senhora foi uma grande
incentivadora deste projeto. Devo-lhe muito pela contribuição intelectual e sensibilidade nos
momentos difíceis. Este trabalho também é seu.
Meus agradecimentos à Universidade Federal de Alagoas, através de seu
Departamento de História; à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes), pelo financiamento das pesquisas através de bolsa de estudo; ao Sindicato dos
Trabalhadores na Empresa de Correios e Telégrafos em Alagoas (SINTECT-AL), pelo acesso
irrestrito a seus arquivos; em especial a funcionária Maria Zelma de Melo Irmão, pela
confiança e atenção as minhas pesquisas e por ter preservado preciosos documentos que
contam a história da categoria ecetista em Alagoas. Ao Lourival dos Santos pelas declarações
ainda no tempo da especialização, ao Luiz Batista (Luizão), José Inácio Aguiar e Gilberto
Francisco Macena pelas conversas informais, porém reveladoras, sobre o movimento sindical
dos Correios. Ao professor e amigo Jailton de Souza Lira, obrigado pelo incentivo durante o
processo seletivo do mestrado, pelas leituras e importantes conselhos acadêmicos para que
algumas ideias e escritas fossem melhoradas.
No âmbito familiar, quero concluir agradecendo a minha esposa Marlene da Silva
Duarte, por ter assumido sozinha nossos filhos para que eu pudesse estudar e pesquisar
durante o mestrado. Ao Rodrigo Santos (meu primogênito) que em plena adolescência
entendeu minha necessária “negligência” enquanto pai durante esse período. A Vitória, minha
filha querida, que tantas vezes me chamou para brincar ou esperou por mim e acabou
dormindo vencida pelo cansaço de aguardar o pai chegar e lhe dar um abraço. Ao Lorenzo,
que nos seus primeiros meses de vida já foi vítima do tempo que os estudos nos tiram para a
realização do sonho de cursar um mestrado em História. Aos meus pais queridos pela
orientação durante a vida para que eu tivesse sempre apreço aos estudos. Aos meus avós (in

memoriam), meus irmãos, cunhados e sobrinhos pela torcida para que tudo desse certo. A
todos vocês meu muito obrigado.
E por último, estou muito agradecido a Deus pela companhia, proteção e bênçãos
durante a vida. Devo muito a Ele por ter chegado ao final dessa jornada e por ter colocado em
meu caminho cada um de vocês – figuras humanas preciosas que só me fizeram avançar
enquanto pessoa. Infinitamente, muito obrigado a todos!

De que serve a História senão para nos dizer que o homem, aliado ao
tempo, nada mais é que um elemento transformador, um conjunto de
fatos e acontecimentos que nos leva a querer fazer melhor. É, pois
desta ilusão, subjetividade da História, que construímos nossas
realidades, que fazemos a diferença nos igualando pelo ser histórico
a tudo o que pensa, a tudo o que volta e semeia a própria existência.
(Roberval Santos)

RESUMO

Esta dissertação tem por objetivo investigar as ações de luta do movimento sindical nos
Correios de Alagoas entre 1985 e 2002, identificando durante o processo da redemocratização
brasileira as causas que levaram a organização de classe desses trabalhadores. Quanto à
documentação para as pesquisas, utilizamos os boletins informativos da Associação dos
Empregados dos Correios em Alagoas (ASCOR), do Sindicato dos Trabalhadores na Empresa
de Correios e Telégrafos em Alagoas (SINTECT-AL), jornais locais e de grande circulação na
década de 1980 e 1990, além de fotografias, atas, cartas e outros documentos existentes nos
arquivos do Sindicato dos Trabalhadores na Empresa de Correios e Telégrafos em Alagoas.
Abordamos as questões econômicas do período investigado e o modelo administrativo
herdado dos militares que estiveram no comando dos Correios entre as décadas de 1970 e
1980. Os anos de 1980 se apresentaram como uma década caracterizada pela abertura política,
por uma explosão de greves em várias categorias de trabalhadores, pelo aparecimento das
centrais sindicais e de diversas associações de trabalhadores, podendo ser lembrados pelo
ressurgimento do sindicalismo “combativo” em “oposição” à burocrática estrutura sindical no
Brasil. Portanto, o presente trabalho visa expor as ações, os avanços, os dilemas e desafios dos
trabalhadores dos Correios em Alagoas entre 1985 e 2002, período que se inicia com o
processo de redemocratização do Brasil indo até os oito anos dos governos do presidente
Fernando Henrique Cardoso (1995-2003), quando procuramos abordar as relações, nesses
dois governos, com o movimento sindical dos Correios.

Palavras-chave: Redemocratização. Correios. Movimento Sindical

ABSTRACT

This paper aims to investigate the trade union movement fighting actions in the Post Office in
Alagoas between 1985 and 2002, identifying, through the process of Brazilian
democratization, causes that led to the organization of these workers class. Concerning to
documentation for research, we worked with the newsletters of the Association of the Post
Office Employees in Alagoas (ASCOR), the Labor Union in Postal and Telegraph Company
in Alagoas (SINTECT-AL), local widely circulated newspapers in the 1980’s and 1990’s, as
well as photographs, minutes, letters and other documents from the Labor Union files in the
Post and Telegraph Company in Alagoas. It was addressed the economic issues of the
investigated period and the administrative model inherited from the military who were in
charge of the Post Office between the 1970’s and 1980’s. The 1980’s is presented as a decade
characterized by a political opening, by an explosion of strikes in various workers categories,
the emergence of unions and various workers associations of, that may be remembered by the
resurgence of "combative" trade unionism in "opposition" to the bureaucratic union structure
in Brazil. Therefore, this paper aims to expose the actions, progress, dilemmas and challenges
of the Postal Services workers in Alagoas between 1985 and 2002, a period that begins with
the democratization process in Brazil going to the eight years of President Fernando Henrique
Cardoso government (1995-2003), when it was attempted to approach the relationship, in this
period of government, with the trade union movement of the Post Office.

Key words: Redmocratization. Post Office. Labor Movement

LISTAS DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Constituinte?!.........................................................................................................94
Figura 2 - É justo? Distribuição de Renda no Brasil (1983) .................................................140
Figura 3 – Charge de carteiro recebendo carta de demissão..................................................176
Figura 4 – Povo Exige Fora Collor........................................................................................180
Foto 1 – Ato Público de Trabalhadores dos Correios em Alagoas (março de 1986) ............100
Foto 2 - Cartilha Greve: como prevenir e desmobilizar.........................................................112
Foto 3 – Manifestação de trabalhadores da ECT em Alagoas na década de 1980.................121
Foto 4 – 1º Congresso Nacional dos Trabalhadores dos Correios, realizado em
Maceió.....................................................................................................................................137
Foto 5 – Uma das primeiras manifestações públicas do SINTECT-AL em 1989..................154
Foto 6 – Encontro do Comitê Lula Presidente – (Maceió – 1989) ........................................158
Foto 7 – Abaixo assinado no Centro de Maceió contra a privatização dos Correios (anos de
1990).......................................................................................................................................203
Foto 8 – I Congresso Estadual dos Trabalhadores dos Correios............................................205
Foto 9 – Plenária do I Congresso dos Trabalhadores dos Correios em Alagoas...................206

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Evolução do efetivo por áreas de trabalho.............................................................61
Quadro 2 – Quantidade de carteiros como percentagem do nº total de ecetistas..............63
Quadro 3 – Salário real de ingresso dos seguintes funcionários da ECT: carteiros, mensageiros
e executantes operacionais........................................................................................................74
Quadro 4 – Comparação salarial entre funcionários dos Correios e de outras categorias da
iniciativa privada.......................................................................................................................77
Quadro 5 – Diferença em termos percentuais entre os salários médios dos funcionários dos
Correios e de outras categorias da iniciativa privada................................................................77
Quadro 6 – Taxa de rotatividade (%) – média mensal..............................................................78
Quadro 7 – Demitidos pela ECT no período de julho a dezembro de 1989...........................161
Quadro 8 – Relação de empregados admitidos pela ECT/AL de maio a junho de 1989........162
Quadro 9 – Número de participantes nas assembleias gerais do SINTECT-AL ocorridas em
1989.........................................................................................................................................164
Quadro 10 – Número de participantes nas assembleias gerais do SINTECT-AL em 1990...165
Quadro 11 – Relação de lideranças sindicais demitidas entre 1990 e 1991............................166
Quadro 12 – Número de participantes nas assembleias do SINTECT-AL em 1991 e 1992..167
Quadro 13 – Pesquisa com empresários brasileiros em 1989 sobre as privatizações e recursos
do BNDES...............................................................................................................................171
Quadro 14 – Funcionários dos Correios lotados no interior alagoano demitidos no governo
Collor......................................................................................................................................173
Quadro 15 – Estimativa de funcionários para serem demitidos das estatais federais até
dezembro de 1991 em cumprimento a segunda fase do Plano Collor....................................176
Quadro 16 – Quantidade de greves no Brasil entre 1989 e 1992............................................191
Quadro 17 – Emprego formal (% de trabalhadores com carteira assinada nas principais
regiões metropolitanas............................................................................................................196
Quadro 18 – Frequência da Distribuição Postal nos Municípios Brasileiros.........................201
Quadro 19 – Crescimento do Tráfego Postal na Década de 1990...........................................204
Quadro 20 – Número de carteiros e tempo de serviço nos Correios.......................................213
Quadro 21 – Quantitativo de trabalhadores nos Correios entre 1995 e 2000.........................214

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABC – Correspondem as cidades de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do
Sul, localizadas no estado de São Paulo.
ABIN – Agência Brasileira de Inteligência.
ACETESP – Associação dos Funcionários dos Correios e Telégrafos no Estado de São Paulo.
ACM – Antônio Carlos Magalhães.
ADCAP - Associação dos Profissionais dos Correios.
ADPF - Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental.
ADUFAL – Associação dos Docentes da Universidade Federal de Alagoas.
AEECT – Associação dos Empregados da Empresa de Correios e Telégrafos.
AMAN – Academia Militar das Agulhas Negras.
ANAMPOS – Articulação Nacional dos Movimentos Populares e Sindicais.
ARENA – Aliança Renovadora Nacional.
ASCOR – Associação dos Empregados dos Correios em Alagoas.
ASTEL – Associação dos Trabalhadores da Telasa.
BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento.
CDD – Centro de Distribuição Domiciliária.
CECUT/AL – Congresso Estadual da Central Única dos Trabalhadores em Alagoas.
CEPDOC – Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil.
CESMAC – Centro de Ensino Superior de Maceió.
CGT – Central Geral dos Trabalhadores.
CGTB – Confederação Geral do Trabalho do Brasil.
CI – Comunicação Interna.
CIOSL – Confederação Internacional dos Sindicatos Livres.
CLT – Consolidação das Leis do Trabalho.
COB – Central Operária Brasileira.
CONCLAT – Conferência Nacional da Classe Trabalhadora.
CONCUT – Congresso Nacional da CUT
CONTAG – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura.
CSN – Companhia Siderúrgica Nacional.

CTN – Correio e Telégrafo Nacional.
CUT – Central Única dos Trabalhadores.
DAS – Direção de Assessoramento Superior.
DCT – Departamento de Correios e Telégrafos.
DEOP’S – Departamento Estadual de Ordem Política e Social.
DEM – Democratas.
DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos.
DNER - Departamento Nacional de Estradas de Rodagem.
DNOS - Departamento Nacional de Obras de Saneamento.
DR – Diretoria Regional.
EACT – Escola de Aperfeiçoamento do Departamento de Correios e Telégrafos.
EBCT – Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.
EBTU – Empresa Brasileira de Transportes Urbanos.
ECT – Empresa de Correios e Telégrafos.
EMBRATER - Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural.
ENCLAT – Encontro Estadual da Classe Trabalhadora.
ESAP – Escola Superior de Administração Postal.
EUA – Estados Unidos da América.
FETAG – Federação dos Trabalhadores da Agricultura.
FENTECT – Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e
Similares.
FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.
FHC – Fernando Henrique Cardoso.
FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.
FMI – Fundo Monetário Internacional.
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes.
FUNDACEN - Fundação Instituto Tecnológico Industrial.
GINSP – Gerência de Inspeção.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
IBOPE - Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística.
INTELBRAS - Indústria de Telecomunicação Eletrônica Brasileira.
MNDH – Movimento Nacional de Direitos Humanos.

MST – Movimento dos Trabalhadores Sem Terra.
OAB – Ordem dos Advogados do Brasil.
PCB – Partido Comunista Brasileiro.
PCdoB – Partido Comunista do Brasil.
PDS – Partido Democrático Nacional.
PFL – Partido da Frente Liberal.
PM – Polícia Militar.
PMDB - Partido do Movimento Democrático Brasileiro.
PNB – Produto Nacional Bruto.
PORTOBRAS – Empresa de Portos do Brasil S.A.
PSD – Partido da Social Democracia.
PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira.
PT – Partido dos Trabalhadores.
PTB – Partido Trabalhista Brasileiro.
S.A – Sociedade Anônima.
SERCA – Serviço de Cartas Agrupadas.
SIDERBRAS – Siderúrgica Brasileira LTDA.
SINDPREV – Sindicato dos Trabalhadores em Seguridade Social (Saúde, Trabalho,
Previdência, Ass. Social) e Trabalho no Estado de Alagoas.
SINTECT-AL – Sindicato dos Trabalhadores na Empresa de Correios e Telégrafos em
Alagoas.
SINTTEL – Sindicato dos Trabalhadores das Telecomunicações.
SP – São Paulo.
STF – Supremo Tribunal Federal.
SUDECO – Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste.
SUDESUL – Superintendência de Desenvolvimento da Região Sul.
TELASA – Telecomunicações de Alagoas.
TELEBRAS – Telecomunicações Brasileiras S.A
UDN – União Democrática Nacional.
UNAC – União Nacional das Associações dos Trabalhadores dos Correios.
UNECT – União Nacional dos Empregados dos Correios e Telégrafos.
URP – Unidade de Referência de Preços.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

19

I – Memória e Identidade Sindical nos Correios

25

II – Discussão de Fontes e Metodologias

33

1 MILITARISMO E FORMAÇÃO ADMINISTRATIVA NOS CORREIOS

39

1.1 A presença militar nos Correios durante a primeira metade do século XX

40

1.2 A “Primeira” greve dos trabalhadores dos Correios

44

1.3 A presença militar na ECT após o Golpe de 1964

53

1.4 A criação da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos

60

1.5 Missões francesas no Brasil: um novo Correios era possível?

67

1.6 Seleção da mão de obra e rotatividade

73

2 A ASCOR E A ORGANIZAÇÃO DE CLASSE NOS CORREIOS BRASILEIROS 82

2.1 Antecedentes históricos: a fundação da CUT

83

2.2 Os Movimentos Sociais e a luta pela democracia no governo Sarney

89

2.3 Origem de uma organização de classe

95

2.4 Redemocratização e crise econômica no Brasil dos anos 1980

102

2.5 Greve: como prevenir e desmobilizar

111

2.6 Uma associação para os ecetistas: a ASCOR

113

2.7 A luta pelo controle da ASCOR e as primeiras retaliações da ECT

117

2.8 Trabalhadores dos Correios vão à luta: a greve de 1985

122

2.8.1 Protestos de trabalhadores contrários às demissões e perseguições nos
Correios

132

2.9 O I Congresso Nacional dos Trabalhadores dos Correios

137

2.9.1 Greve e demissões nos últimos anos da década de 1980

141

3 O SINTECT-AL E SEUS EMBATES: COLLOR E OS TRABALHADORES

148

3.1 A Fundação do SINTECT-AL

149

3.2 Avanços na categoria, retrocessos nos Correios

152

3.3 O Comitê Ecetista Lula Presidente

156

3.4 O bispo e a extorsão

159

3.5 As últimas perseguições dos anos de 1980 e os ecetistas na década de 1990

160

3.6 Mobilização sindical e demissões no governo Collor

163

3.7 Collor e os ecetistas: uma relação conturbada

168

4 VENTOS DO “PROGRESSO”: NEOLIBERALISMO E OPOSIÇÃO SINDICAL
NOS GOVERNOS FHC (1995-2003)

181

4.1 Neoliberalismo e demissões nos Correios durante a década de 1990

184

4.2 Oposição sindical, “privatização” e cultura do medo nos governos FHC

194

4.3 Gestão Paulo Machado: nenhum sinal de mudança

208

4.4 A greve de 1997 e o movimento contra a “privatização” dos Correios

210

5 CONCLUSÃO

217

REFERÊNCIAS

221

ANEXOS

236

19

INTRODUÇÃO

Numa época de ventos liberalizantes, inflamados debates sobre o setor público e as
reformas estruturais eram permeados por questões político-ideológicas e também por
interesses econômicos. Muitas críticas aos Correios inspiraram-se no movimento sindical dos
metalúrgicos do ABC Paulista1, que naquele momento organizavam inúmeras greves2
desafiadoras do regime militar. Seguindo seus passos, vários segmentos de trabalhadores dos
Correios começaram a se organizar através de associações representativas de classe para
defender melhores condições de vida e de trabalho3.
Nos idos de 1984 e 1985, o Brasil estava exausto do modelo político-econômico
iniciado em 1964 pelos militares. A campanha das “Diretas Já4” ganhou às ruas, cresceu,
empolgou o povo. Este, que foi o maior movimento cívico do país, resultou de todo acúmulo
dos movimentos políticos que nasceram com a luta em defesa da democracia. Parte do
empresariado paulista passou a entender que os desdobramentos do golpe de 64 favoreceu o
capitalismo, mas não necessariamente os capitalistas. Por exemplo, os militares terminaram
por estatizar vários segmentos da economia, debilitando a economia de mercado
(ZAVERUCHA, 1994, p. 163).
Por todo o País, as principais lideranças sindicais acenavam para a possibilidade de
representantes dos trabalhadores chegarem ao poder pelas disputas partidárias e apoiados

1

A região do ABC, no estado de São Paulo, também é conhecida como Grande ABC e ABC paulista.
Oficialmente, o Grande ABC faz parte da Região Metropolitana de São Paulo, que inclui vários outros
municípios em volta da capital do estado. É uma das áreas economicamente mais importantes do Brasil, e seu
nome vem das iniciais dos nomes de três santos: André, Bernardo e Caetano. Foi com o nome desses santos que
se fundaram as três cidades que originalmente compuseram a região do ABC: Santo André, São Bernardo do
Campo e São Caetano do Sul. Como não é um nome oficial, muitas vezes usa-se a designação ABCD, que inclui
também a letra inicial do nome da cidade vizinha de Diadema (disponível em
http://escola.britannica.com.br/article/483021/regiao-do-ABC).
2
As greves podem ser definidas como formas de luta, coerção e poder, nas quais um grupo de trabalhadores,
agindo coletivamente, para de trabalhar para dar reforço a reivindicações econômicas, sociais e/ou políticas de
interesse dos trabalhadores diretamente envolvidos e/ou de outros (LINDEN, 2013, p. 203).
3
A emergente organização de classe nos Correios “viu no imediatamente nomeado ‘Novo Sindicalismo’ uma
válvula de pressão que poderia pôr abaixo o autoritarismo. Isso contribuiu para a priorização instantânea do
movimento que surgia (CARDOSO, 2003, p. 34).
4
Diretas Já (1983-1984) - Maior mobilização da história política brasileira. Foi o movimento cívico que
aglutinou trabalhadores, donas de casa, estudantes, militantes partidários e diversas organizações tomando as
ruas de pequenas e grandes cidades exigindo eleições livres e diretas para presidente da República.

20

pelos movimentos sociais5. A crise econômica e a luta pelo fim do regime militar na década
de 1980 contribuíram para fortalecer esses ideais classistas e partidários - o que ajudou no
surgimento de novas instituições de natureza sindical, a exemplo das associações de
servidores públicos e empregados das estatais.
Para contar essa história, utilizamos o aporte metodológico respaldado na documentação
fornecida pela Folha de São Paulo, em outros jornais de grande circulação em Alagoas e em
outros estados, fotografias, atas, livros de assinatura, ofícios, além dos boletins informativos
disponibilizados pelo Sindicato dos Trabalhadores na Empresa de Correios e Telégrafos em
Alagoas – SINTECT-AL6. Matérias críticas contra os Correios e o governo federal, notícias e
notas referentes aos trabalhadores ecetistas7, no que tange a questões econômicas, condições
de trabalho e suas greves, também se constituíram em importantes fontes históricas para o
entendimento das lutas dessa categoria em Alagoas.
Os boletins informativos da ASCOR8 e do SINTECT-AL eram produzidos de forma
artesanal. Suas páginas eram datilografadas e ilustradas com charges fotocopiadas, recortadas
e coladas para a elaboração de matrizes que eram reproduzidas em máquinas fotocopiadoras e
entregues pelas lideranças aos trabalhadores. Seus boletins, com tiragens em torno de mil
exemplares9, eram porta-vozes da categoria, testemunhas daquele período e da combatividade
dos trabalhadores dos Correios em Alagoas. Seus textos, inicialmente redigidos na fase da
ASCOR pelo militante político Válber Castro10 e posteriormente pelo telegrafista Lourival
dos Santos, juntamente com o então carteiro Luiz Carlos Bastos e com a colaboração do

5

A campanha pelas Diretas Já foi habilmente hegemonizada por um importante setor da burguesia através do
PMDB, que conseguiu promover uma transição conservadora unificando a classe dominante em torno do projeto
da “Nova República”. A hegemonia conquistada pela burguesia frente ao movimento das diretas veio alicerçada
em toda tradição histórica da política brasileira, mas o fato de grandes parcelas dos trabalhadores terem sido
levadas pelas lideranças burguesas, devem-se tanto às debilidades históricas do movimento operário e popular
quanto ao fato de que esses movimentos não assumiram a luta pelas Diretas Já a partir das perspectivas da classe
trabalhadora (Resoluções do 3º CECUT/CUT/AL, 1989, p. 01).
6
O Sindicato dos Trabalhadores na Empresa de Correios e Telégrafos em Alagoas – Sintect-AL – foi fundado
em 10 de novembro de 1988 após o advento da atual Constituição do Brasil.
7
Ecetista – adjetivo utilizado para indicar todo e qualquer funcionário da ECT – Empresa Brasileira de Correios
e Telégrafos.
8
A Associação dos Empregados dos Correios em Alagoas – ASCOR - foi fundada em 19 de abril de 1985 em
assembleia geral dos trabalhadores dos Correios em Alagoas e três anos após, com a promulgação da
Constituição de 1988, deu lugar ao Sindicato dos Trabalhadores na Empresa de Correios e Telégrafos em
Alagoas.
9
Quantidade de exemplares disponível no expediente de alguns boletins informativos.
10
Segundo José Inácio Aguiar e Gilberto Macena, Válber Castro em fins da década de 1980 mudou-se para São
Paulo e não se teve mais notícias sobre seu paradeiro.

21

advogado Jaziel Ivo11, demonstram que carteiros, operadores de triagem e atendentes
comerciais, além de um número menor de trabalhadores de outros setores dos Correios, foram
sujeitos históricos na construção do movimento sindical ecetista em Alagoas.
Os boletins informativos disponibilizados datam de 1986 a 2002. Entretanto, partindo
do princípio de que a ASCOR iniciou suas atividades em abril de 1985, os informativos
produzidos do ano de sua fundação a julho de 1986 não foram preservados em Alagoas 12.
Quanto aos originais existentes, atualmente encontram-se arquivados no SINTECT-AL. Até
chegar lá, a maior parte deles encontrava-se arquivada no Sindicato dos Empregados da
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e Similares de Bauru e Região (SP); quando
entre 2005 e 2006 foram devolvidos a Manoel dos Santos Oliveira Cantoara, então presidente
do SINTECT-AL, para definitivamente voltar a Alagoas e serem preservados nos arquivos
deste sindicato.
Segundo Maciel (2013, p. 06), “vários estudiosos tem pesquisado acerca da
importância da imprensa operária brasileira, ora como parte da história do país, ora como
fonte de pesquisa histórica sobre diversos assuntos”. O contato com estas fontes contribui
para a historiografia do trabalho ao oportunizar o aprofundamento dos estudos relativos à
categoria dos Correios permitindo uma escrita a partir do ponto de vista do funcionário “raso”
e de suas experiências históricas, cuja existência é tão frequentemente ignorada.
A perspectiva de se escrever a partir do olhar de um movimento de trabalhadores,
recuperando de suas fontes primárias as experiências passadas é para Sharpe (1992, p. 42),
“uma perspectiva atraente.” No caso dos Correios, conta-se ainda com a apropriação da
bibliografia historiográfica sobre a classe trabalhadora e de estudos sobre as conjunturas
político-econômicas nacionais entre 1985 e 2002. Dessa forma, fontes primárias e
bibliográficas contribuíram para a definição das hipóteses sobre os problemas mais adiante
levantados. As experiências de trabalhadores e lideranças sindicais, detentores de informações
e memórias necessárias para reconstituir sua trajetória de luta a partir da segunda metade da
década de 1980 passando pelos governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003),
colaboraram para o entendimento da atuação sindical de parte dos trabalhadores dos Correios
em Alagoas e para a clareza de que os ecetistas do período pesquisado (parafraseando Jorge
11

Atualmente o telegrafista Lourival dos Santos é aposentado dos Correios, o carteiro Luiz Carlos Bastos,
promovido a técnico postal, hoje é ex-diretor regional dos Correios em Alagoas e Jaziel Ivo é juiz do trabalho.
12
Segundo registros no livro de atas da ASCOR, dois boletins informativos foram produzidos no ano de 1985,
sendo que não foram preservados.

22

Ferreira) “não eram pessoas destituídas de consciência da realidade social que viviam.”
(FERREIRA, 2011, p. 17). Eles tinham ideias, crenças e as manifestavam nas ações da
ASCOR e do SINTECT-AL. Entretanto, é importante reconhecer que parte dos trabalhadores
dos Correios em Alagoas não participou do movimento sindical, nem de partidos de esquerda.
Mas, os que seguiram as lideranças sindicais participaram das estratégias, tomaram atitudes,
compreenderam e defenderam argumentos na defesa dos interesses individuais e de classe.
Abro um parêntese para dizer que a concepção de classe abordada neste trabalho se
fundamenta em Thompson (1979), quando este nos aponta para uma definição de classe como
não sendo apenas resultado das relações econômicas, mas que também é importante
considerar os fatores culturais para seu processo de formação. Ainda segundo Thompson,

A classe se delineia segundo o modo como homens e mulheres vivem suas relações
de produção e segundo a experiência de suas situações determinadas, no interior do
conjunto de suas relações sociais, com a cultura e as expectativas a eles transmitidas
e com base no modo pelo qual se valeram dessas experiências em nível cultural.
(THOMPSON, 2001, 277).

De modo que a classe é uma categoria histórica construída na dinâmica das
experiências vividas econômica, social e culturalmente por seus integrantes. Essas
experiências ocorrem quando um grupo de indivíduos através de experiências comuns
(herdadas ou partilhadas), sentem e articulam a identidade de seus interesses entre si, contra
outros indivíduos ou instituições cujos interesses diferem (e geralmente se opõem) dos seus
levando-os às ações de defesa dos interesses coletivos. Além do mais, em qualquer tipo de
ação coletiva, os participantes têm que estar convencidos de que essa ação se refere a uma
coletividade identificável que merece seu apoio, e que, além disso, tem probabilidade de vir a
beneficiá-lo (LINDEN, 2013, p. 210).
Ainda nos utilizando de Linden, quando este afirma que “as estruturas sindicais,
quando bem estabelecidas, contribuem para a formulação de uma identidade participatória,
por eliminar os obstáculos à formação de organizações” (idem), procuraremos refletir nos
quatro capítulos desenvolvidos neste trabalho sobre a construção da “identidade
participatória” dos trabalhadores dos Correios.
O primeiro capítulo, chamado “Militarismo e formação administrativa nos Correios”,
se propõe a analisar a influência das Forças Armadas no setor postal e, consequentemente, o

23

processo de militarização13 de sua burocracia através da ocupação de cargos civis pelos
militares a partir da Era Vargas. Em sequência, a institucionalização e difusão dos conceitos
administrativos militares pelo regime de exceção iniciado em 196414 serão analisadas na fase
de empresa dos Correios (1969) através da formação de administradores postais na Escola
Superior de Administração Postal e de técnicos postais de nível médio nos centros de
formação distribuídos em algumas regiões do país.
Intitulado “A ASCOR e a organização de classe nos Correios brasileiros”, o segundo
capítulo analisa a origem e o desenvolvimento da organização de classe dos trabalhadores dos
Correios em Alagoas entre os anos de 1985 e 1988. Para isso, serão abordados os reflexos da
postura administrativa fundamentada nos militares e seus desdobramentos sobre os
trabalhadores dos Correios enquanto tentativa de impedir o desenvolvimento da organização
sindical ecetista num período de graves crises econômicas e forte ação dos movimentos
sociais no Brasil dos anos de 1980.
O terceiro capítulo, denominado “O SINTECT-AL e seus embates: Collor e os
trabalhadores” abordará o período de transição da representação da ASCOR para sindicato em
razão da Constituição de 1988. Em seguida, identificará as relações dos governos Collor
(1990-1992) e Itamar Franco (1992-1994) com o movimento sindical dos Correios, tendo
como base os acontecimentos e os reflexos da política econômica nesta categoria em Alagoas
durante esses dois governos.
“Ventos do ‘Progresso’: neoliberalismo e oposição sindical nos governos FHC” é o tema
do quarto e último capítulo. Nele serão abordadas as orientações emanadas do movimento
sindical nacional dos Trabalhadores dos Correios para o SINTECT-AL, enquanto alternativa
para a forte oposição dos ecetistas à administração dos Correios e às orientações do Ministério
das Comunicações, na época conduzido pelo ministro Sérgio Motta (1995-1998).
A análise dos principais problemas enfrentados pelos trabalhadores dos Correios entre
1995 e 2002 e as várias formas de oposição da ECT permitiram a identificação dos métodos
Militarização – diz respeito à participação física ou à ocupação de cargos da administração pública civil pelos
militares. Nesse caso, entende-se que a administração é um meio de transmitir interesses para todo o sistema
político.
Militarização pode ser ainda a realização, por meio das políticas governamentais, das doutrinas defendidas ou
formuladas pelos militares [...]. (MATHIAS 2004: p. 25/26)
14
“As Forças Armadas tomaram o poder no Brasil em 1964 contra um inimigo bastante semelhante: os herdeiros
do grande líder populista brasileiro Getúlio Vargas (1883-1954), que se deslocavam para a esquerda no início da
década de 1960 e ofereciam democratização, reforma agrária e ceticismo em relação à política americana.”
(HOBSBAWM, 1995, p. 429).
13

24

utilizados pelo governo federal para enfraquecer o movimento sindical ecetista em Alagoas
em prol do projeto político-econômico neoliberal de Fernando Henrique Cardoso.
Diante do exposto, passemos a levantar alguns problemas e a refletir sobre a
metodologia utilizada. Como se deu a burocratização militar nos Correios e quais seus
impactos na trajetória de luta dos ecetistas alagoanos entre 1985 e 2002? De que forma as
medidas econômicas repressivas nos governos Collor, Itamar Franco e FHC contribuíram para
o avanço e posterior refluxo do movimento sindical dos ecetistas alagoanos? De que maneira
a administração pública dos Correios pôs em prática as políticas econômicas desse período e
quais seus reflexos para os funcionários?
Para as hipóteses sobre essa problematização, nos utilizamos de Burke (2002, p. 17) ao
afirmar que “os historiadores começaram a trabalhar regularmente nos arquivos e elaboraram
uma série de técnicas cada vez mais sofisticadas para avaliar a confiabilidade dos documentos
que lá encontravam.” Ele, nos alerta para o cuidado no trato das informações, que neste caso,
refere-se às informações concentradas nos boletins informativos da ASCOR, do SINTECTAL, nos jornais locais e de grande circulação durante as décadas de 1980 e 1990. As
fotografias, atas, cartas e outros documentos existentes nos arquivos do Sindicato dos
Trabalhadores dos Correios em Alagoas foram fundamentais para a viabilização desta
pesquisa - sem perder de vista que essas fontes são registros fragmentados, escritos sob a
influência de interesses, compromissos e paixões. Logo, a intepretação destas fontes,
objetivando captar o ocorrido, parte da noção de que elas nos fornecem imagens parciais,
distorcidas e subjetivas. Para tanto,

Pode-se admitir, à luz do percurso epistemológico da disciplina e sem implicar a
interposição de qualquer limite ou óbice ao uso de jornais e revistas, que a imprensa
periódica seleciona, ordena, estrutura e narra, de uma determinada forma, aquilo que
se elegeu como digno de chegar até o público. O historiador, de sua parte, dispõe de
ferramentas provenientes da análise do discurso que problematizam a identificação
imediata e linear entre a narração do acontecimento e o próprio acontecimento,
questão, aliás que está longe de ser exclusiva do texto da imprensa. (LUCA, 2014, p.
139)

Uma atenuante para esse tipo de dificuldade será o respaldo em bibliografia relacionada
ao tema e ao período aliada à abordagem de autores que refletem o mundo do trabalho e que
contribuem de maneira teórica para a construção da trajetória de luta do movimento ecetista
alagoano entre 1985 e 2002.

25

Em outras palavras, pensar o trabalhador como agente social e não apenas como força
de trabalho, remete à “complexidade do todo social e às lutas que nele se verificam,
imprimindo-lhes a dinâmica”. (VIEIRA, 2007, p. 47). Dessa forma, a tentativa de dominação
do trabalhador dos Correios não estava presente somente no local de trabalho, mas também
fora dele quando esses profissionais ao longo do período estudado levaram e socializaram no
meio familiar e em outros ambientes suas angústias e perspectivas profissionais.

I - Memória e Identidade Sindical nos Correios
O movimento sindical brasileiro sempre se deparou com imensos desafios e sua
consolidação não foi uma empreitada fácil. Não raras vezes, estes desafios colocaram em
xeque sua natureza organizacional e as conquistas trabalhistas adquiridas ao longo da sua
trajetória. Entendo ser difícil traçar um esboço das linhas de ação para o movimento sindical
nos Correios de Alagoas, sem antes, fazermos uma breve discussão a respeito da importância
da memória, da identidade e da preservação histórica das lutas ocorridas até o momento.
Para a preservação destas lutas e da memória15 do movimento sindical alagoano é
importante dizer que a história dos embates da classe trabalhadora e das organizações
classistas é uma das grandes dívidas com a sua própria história. Mas do que uma mera
iniciativa de preservação da memória, trata-se de um processo de investigação que vai sendo
construído para se desvendar o cotidiano dos trabalhadores ecetistas e seus embates com os
Correios. Até porque, “os grupos sociais em disputa resgatam representações do passado;
memórias que têm como meta afirmar uma certa identidade no presente” (MACEDO, 2014, p.
17/18).
Porém, é importante neste início afirmar que a memória aqui trabalhada será sob a
perspectiva do questionamento, abolindo a natureza da memória dogmática. Logo, as
memórias construídas pelos lados antagônicos (Correios e trabalhadores) estarão sujeitas a
indagações levando-se em consideração os anseios, as disputas pelos espaços de poder e a
busca pela hegemonia dentro das relações de trabalho nos períodos aqui investigados. Além
do mais, a memória construída a partir das lideranças sindicais e expressas nos boletins
informativos da ASCOR e do SINTECT-AL objetivavam formar uma consciência política

15

A respeito da memória dos trabalhadores dos Correios, parto da perspectiva de que se trata de um fenômeno
construído e socialmente submetido a transformações conforme a conjuntura.

26

envolto ao processo pedagógico de construção da identidade de classe entre os funcionários
dos Correios em Alagoas.
É certo que no campo da memória e na intepretação das fontes históricas se percebe
sua constante reelaboração, essa percepção é mais presente quando se investiga as ações e
construções entre períodos distintos. Logo, nossa intenção ao abordar períodos e conjunturas
distintas relacionados a categoria dos Correios, ao seu universo postal e suas relações com o
Estado brasileiro é de traçar uma trajetória de luta e protagonismo dos trabalhadores postais
ao longo do século XX, mas priorizando, despreocupado com a linearidade, o corte temporal
entre 1985 e 2002. Até porque, num universo infinito de acontecimentos concatenados e
paralelos, impossíveis de serem plenamente explorados num trabalho acadêmico, cabe-nos
apenas priorizar fatos, realizações e conjunturas relacionadas a categoria dos Correios.
Entretanto, essas prioridades não intencionam ou necessariamente significam um interesse
pela linearidade.
Abdicando dessa mesma linearidade, nosso propósito será o de compreender as
versões interpretativas da realidade desenvolvidas pelas lideranças de trabalhadores dos
Correios em Alagoas e veiculadas em seus boletins informativos entre 1985 e 2002. Será de
compreender até que ponto essas versões se contrapõem àquelas veiculadas pela grande
mídia, que de forma geral, não demonstra interesse em favorecer a perspectiva dos
trabalhadores em suas coberturas jornalísticas. Porém, é importante ter em mente que tanto do
lado do trabalhador, quanto do grupo hegemônico, Macedo ( 2014, p. 21) nos indica que
“seguindo esse raciocínio, os jornais eram considerados reféns de interesses e paixões do
presente em que eram produzidos, divulgando não o ocorrido, mas sim imagens parciais e
distorcidas do real.” Obviamente que essas considerações estavam presentes entre essas forças
antagônicas numa verdadeira guerra da informação. Fato preocupante porque na década de
1980, período estudado neste trabalho, cerca de 80% da população de um país como o Brasil
tinha acesso à televisão (HOBSBAWM, 1995). Sendo que nesta disputa desproporcional o
que tem prevalecido é “a versão dos grupos hegemônicos [...] que têm conservado o poder
para estabelecer os paradigmas da sua vontade” (MARQUES, STAMPA, 2009). De modo que
não se engane o leitor, pois apesar de prevalecer a escrita dos grupos hegemônicos, a
possibilidade das distorções também se encontra presente entre os que resistem e estão
acompanhados por interesses de classe ou pessoais.

27

A questão é que os fatos distorcidos relatados hoje acabam servindo como fonte
histórica amanhã e, evidentemente, esta história que será contada não apresentará uma leitura
mais ampla dos fatos estudados, uma vez que já foi comprometida na origem.

Da mesma forma, a música, a pintura, a charge, a TV, a foto, o cinema estão
carregados de propostas, questionamentos, tensões, acomodações; os agentes,
através das linguagens que lhe são próprias, criticam, endossam, propõem, enfim se
rebelam ou se submetem. (VIEIRA, 2007, p. 21)

Essas distorções, carregadas de valores morais, ideológicos e de interesses distantes
das classes subalternas16 podem interferir na visão que os trabalhadores têm da sua própria
história. Quantas vezes não vimos a população revoltada com as ações grevistas dos
funcionários públicos nas áreas da saúde, da educação ou da segurança pública,
desconhecendo as razões mais amplas destes movimentos? Ou empregados do comércio
indignados com paralizações dos trabalhadores do ramo dos transportes? Ou os próprios
comerciários descontentes com as atividades reivindicativas do movimento rural na interdição
de estradas e rodovias? Ou parte da população condenando as atividades de mobilização dos
bancários ou dos trabalhadores dos Correios, como se viu nas últimas greves de 201417?
Por estes exemplos, percebe-se como facilmente trabalhador se opõe a trabalhador. E
o mais grave, em alguns momentos ao lado dos patrões e dos grupos dominantes. Se estas
visões de fato forem influenciadas pelas interpretações mais imediatas da grande imprensa
haverá o comprometimento do trabalho dos historiadores ao retratar a história dos
movimentos operários para fins de registro.
Importante dizer que em relação à intencionalidade da imprensa predominante ao
tratar os fatos sociais de acordo com os interesses hegemônicos, percebe-se alguns momentos
de exceção em fins dos anos de 1980 e por toda a década de 1990 relacionados à categoria dos
16

A categoria "subalterno" e o conceito de "subalternidade" têm sido utilizados, contemporaneamente, na análise
de fenômenos sociopolíticos e culturais, normalmente para descrever as condições de vida de grupos e camadas
de classe em situações de exploração ou destituídos dos meios suficientes para uma vida digna. No pensamento
gramsciano, contudo, tratar das classes subalternas exige, em síntese, mais do que isso. Trata-se de recuperar os
processos de dominação presentes na sociedade, desvendando "as operações político-culturais da hegemonia que
escondem, suprimem, cancelam ou marginalizam a história dos subalternos" (BUTTIGIEG, 1999, p. 30)
(Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-49802009000100006).
17
Em fevereiro de 2014 os trabalhadores dos Correios - através dos sindicatos filiados à Federação Nacional dos
Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares – Fentect - decretaram greve por tempo
indeterminado em razão das mudanças implantadas pelos Correios no plano de saúde da categoria. Em Alagoas a
greve durou 23 dias e sofreu diversas críticas de parte da população que, insatisfeita pelas deficiências nos
serviços postais, não compreendia os motivos que levaram ao movimento paredista e reclamava das frequentes
greves da categoria.

28

Correios. Notícias que vão desde a divulgação das eleições para as diretorias da ASCOR e
posteriormente do SINTECT-AL, relacionadas às greves, demissões, protestos, anistia,
perseguições, contra a política salarial da ECT, alta da inflação e dos preços foram
encontradas nos principais periódicos do estado18 com enfoque favorável à categoria dos
Correios, obviamente que sob o olhar das lideranças dos ecetistas, de suas paixões, num
contraponto às questões relacionadas aos Correios.
Esses periódicos e as demais fontes aqui utilizadas contribuíram para a abordagem
relacionada à trajetória dos ecetistas alagoanos. A partir deles, a necessidade de se contar a
história dessa categoria não tem apenas a função de resgate da memória (embora esta seja
muito importante), mas cumpre cinco funções principais: 1) de restituição da história sob o
ponto de vista da própria categoria, caso contrário não teria sentido a busca destas ações do
passado; 2) de denúncia contra a opressão e violência que historicamente atingem àqueles que
vivem do seu trabalho e os menos favorecidos; 3) de reflexão sobre suas próprias ações, de
maneira que os equívocos e acertos possam servir de lição/inspiração da sua própria trajetória;
4) de disputa da hegemonia, dentro de um contexto da luta de classes e; 5) de celebração e
homenagem a todos os militantes, das mais diferentes gerações. A respeito deste
compromisso, o historiador José Carlos Reis adverte que “a história é um discurso sobre o
presente que falta, sobre a voz que não se ouvirá mais, sobre o rosto que desapareceu” (REIS,
2010, p.59).
Em Alagoas, ainda é embrionária a produção historiográfica a respeito das ações do
movimento sindical, independente da época escolhida para pesquisa. Existem alguns poucos e
relevantes trabalhos, mas nem de longe representam a riqueza desta história, com seus
embates, articulações, influências e repercussões sociais, políticas e econômicas. Por um lado,
a situação dos acervos em geral observada nos sindicatos – quando existem – é mal
preservada e esparsa; por outro, os protagonistas destas organizações sindicais, que vão
desaparecendo com a passagem do tempo, não deixaram registros significativos das suas lutas
e levarão consigo as lembranças das suas respectivas (e neste caso, irrecuperáveis) trajetórias.
Não faltam argumentos dos atuais dirigentes sindicais para justificar-se da ausência
destes registros. Os pretextos vão desde a insuficiência de recursos à falta de tempo em suas
agendas sempre repleta de compromissos. Fato é que o número de sindicalistas dotados de
liberação de suas atividades profissionais para o exclusivo desempenho da atividade sindical é
18

Jornal Gazeta de Alagoas, Jornal de Hoje, Tribuna de Alagoas e alguns outros de menor tiragem.

29

considerado pequeno se levarmos em consideração o grande número de trabalhadores em suas
bases territoriais e a enorme demanda em razão da desigual disputa entre capital e trabalho
num mundo plenamente globalizado.
Desse modo, parte da atual geração de sindicalistas e trabalhadores, consciente ou
inconscientemente continuam deixando de dar a devida importância para o registro das ações
de seus antecessores e até de suas próprias realizações. Fato este que não é privilégio somente
das organizações de classe brasileiras, pois para Thompson (2001, p. 186),

O país do mais antigo movimento operário do mundo não tem biblioteca ou
instituição dedicada ao seu estudo. Apenas nos últimos anos a Transport House e
dois ou três dos maiores sindicatos tomaram seriamente para si a preservação da
riqueza documental de seus porões e sedes regionais.

Apesar das dificuldades, paulatinamente a análise da memória pela escrita da história
do trabalho em Alagoas vai se construindo, dando curso a um processo que – acredito –
começou no início do século XXI e que envolve uma série de questões que demandaria muito
tempo. O fato é que aqueles velhos textos da história de Alagoas que resumiam um processo
extremamente complexo de formação social à louvação das elites locais em seus projetos de
permanência no poder vem sendo suplantados por novas pesquisas. Cada vez mais outros
historiadores, sob a perspectiva da história vista de baixo, da história do tempo presente ou da
história política renovada, vêm dando importância aos explorados e oprimidos, aos
marginalizados e excluídos pelas tradicionais relações de poder em Alagoas.
Prefaciando o livro Carta Aberta (2008, p. 09), que trata da origem do movimento
sindical nos Correios de Alagoas, Osvaldo Maciel aponta para o surgimento de novos estudos
sobre índios e trabalhadores, cabanos e escravizados, questionando o nível de importância da
cana e do açúcar para o devido entendimento deste quinhão das terras das Alagoas.
A luz lançada por esta historiografia nos diz que a história dos trabalhadores é feita
todos os dias, seja nas assembleias, negociações sindicais, processos eleitorais, congressos,
boletins informativos, ofícios, moções de apoio ou repúdio, faixas e cartazes ou nas conversas
ricas de relatos orais. Logo, não faltam fontes de pesquisa, mas é preciso conservá-las.
Devemos aproveitar as novas tecnologias, a internet, os meios de comunicação alternativos,
enfim tudo o que estiver ao alcance para efetivar esta preservação e ao mesmo tempo
socializá-la por meio da produção de filmes, documentários, revistas, jornais, livros e por

30

todos os meios possíveis. Ou será que devemos continuar assistindo a imprensa oficial e os
grupos dominantes fazerem isto ao seu modo?
Ao mesmo tempo, os estudos sobre a memória sindical vêm sendo desenvolvidos por
pesquisadores e os espaços de produção da história social do trabalho em Alagoas vêm sendo
alargados. A universidade, paulatinamente, tem contribuído nesse processo. Junto a ela, os
historiadores do trabalho podem colaborar, criando novas possibilidades de investigação de
outras categorias, lideranças dos trabalhadores, associações, sindicatos e centrais sindicais aumentando assim este processo de renovação. Entretanto, é importante seguir Macedo (2014,
p. 18) ao afirmar que

Apesar da volatilidade e da falta de objetividade da memória, não faz parte do ofício
do historiador ter a pretensão de usar seus métodos de pesquisa para “corrigir”
supostos erros e equívocos da memória. Isso ocorre quando se pressupõe que a
história tem o compromisso com a “verdade” dos fatos e autenticidade dos relatos,
como se a memória fosse uma “simples invenção do passado” e a pesquisa histórica,
o “real” comprovado cientificamente. ”

Porém, deve-se trabalhar para que as pesquisas com a memória sindical se tornem um
processo protagonista, começando pela organização e preservação dos acervos existentes nos
sindicatos. Neles, devem-se realizar as pesquisas através do conjunto extremamente rico de
fontes praticamente inexploradas. É neste contexto da discussão historiográfica local que a
pesquisa sobre os trabalhadores deve ser realizada. Ainda no mesmo prefácio do livro Carta
Aberta, Osvaldo Maciel trilha seu pensamento pela convergência de três questões: “novos
personagens, novos locais de produção do conhecimento histórico e novos acervos. ”
A memória, além de contribuir com o resgate de uma trajetória de classe, é
responsável pelo processo fundante da identidade. Por ela trabalhadores são forjados na
temporalidade com seus dilemas, desafios, conquistas, objetivos, frustações e anseios comuns.
Entretanto, não se trata apenas de temporalidade, essas categorias não estão perdidas no
tempo, pois encontram e vivem na territorialidade as conjunturas inerentes às transformações
da história. Memória, temporalidade e territorialidade são categorias num contínuo e
permanente processo de gestação da identidade.
A rotina e a convivência diária com desafios comuns são tidas como importantes
elementos para se discutir o papel da classe trabalhadora. Obviamente que muitas vezes essas
discussões se materializam ou desembocam nas organizações de classe, a exemplo das

31

associações e sindicatos cujo sentido filosófico é contribuir para a institucionalização e
representação da identidade num permanente e dialético fazer-se histórico.
Mas essas questões transcendem para outros grupos estabelecidos na sociedade, numa
demonstração de que as questões humanas respaldadas na vida social são inseparáveis e
fundamentais para a construção do indivíduo transformador da história. De qualquer modo, a
identidade passa a ser o sentimento de pertencimento a um mesmo grupo, categoria ou classe.
Essa identidade enquanto práxis e dialética somente é possível pela construção de memórias
fundantes desse sentimento. De modo que, o grupo social, determinada categoria ou classe
adquire e permanece com certa robustez para enfrentar os desafios pertinentes ao mundo do
trabalho e a vida social.
Mas, estou de acordo que as organizações sociais e sindicais podem contribuir para a
preservação de uma memória de combates e lutas de suas categorias, algo extremamente
importante como ampliador da identidade proletária e fortalecedor da consciência de classe.
Para isso, é importante voltar ao problema dos acervos, particularmente dos acervos dos
sindicatos. Precisamos compreender o avanço das técnicas e abordagens realizado nos últimos
anos pelos historiadores, até porque não se faz pesquisa sem fontes disponíveis para se
analisar a memória sindical. Fica difícil pesquisar o passado sem documentos que permitam
uma real avaliação do tema em estudo. Este é um problema da história do trabalho que tem
sido contornado com um conjunto de novas fontes que vem sendo incorporadas com bastante
proveito pelos historiadores.

Mesmo o governo federal e outras instituições têm realizado projetos importantes
para despertar o interesse no que se refere à coleta, classificação, preservação e
acessibilidade a fontes sobre o tema com destaque para o Programa Memória do
Trabalho, realização do Ministério do Trabalho e Emprego sob a coordenação do
Centro de Pesquisa e Documentação em História Contemporânea/CPDOC e que
efetivou vários projetos regionais em torno da questão. (MACIEL, prefácio in:
SILVA, 2008, p.10/11)

Faz-se importante esta discussão a fim de se evitar que a história dos sindicatos seja
escrita apenas pelos patrões e pelo governo através das fontes comprometidas com suas
perspectivas. Devemos compreender que há uma luta de classes no plano da memória, da
identidade e da reconstituição do que foi o passado dos sindicatos e dos trabalhadores. Sem a
preservação e a análise dessa memória sindical, estar-se-á mantendo a dominação das classes
dominantes sobre a forma como esta história é percebida e contada.

32

A preservação dos registros sindicais contribui para a construção da história de uma
categoria de trabalhadores. Mas, sempre com o olhar num horizonte de possibilidades para o
questionamento da memória por meio do diálogo com as mais variadas fontes e suas
interpretações.

Assim, será possível uma interpretação verossímil sobre o universo do

trabalhador e as relações sociais e trabalhistas estabelecidas no permanente antagonismo entre
capital-trabalho.
O sentido de identidade da categoria dos Correios passa pela compreensão de sua
origem por se entender que a história desempenha um papel importante neste processo quando
parte da concepção de que a identidade de classe dos ecetistas não pode ter sido estruturada
pelos grupos dirigentes dos Correios ou por governantes interessados na implantação de
políticas administrativas e econômicas de dominação tão nocivas a estes trabalhadores. Logo,
o uso da história para auxiliar a auto identificação dessa categoria é fundamental quando se
compreende que suas ações afetam, ainda hoje, o mundo em que vivem.

Por mais valiosa que a história vista de baixo possa ser no auxílio ao
estabelecimento da identidade das classes inferiores, deve ser retirada do gueto (ou
da aldeia de camponeses, das ruas da classe trabalhadora, dos bairros miseráveis ou
dos altos edifícios) e usada para criticar, redefinir e consolidar a corrente principal
da história. (SHARPE, 1992, p. 62).

De modo que a história das classes subalternas nos ajuda a compreender que aqueles
desprovidos dos meios materiais sob a lógica do capitalismo são detentores de um passado e
de que vieram de algum lugar. É possível, a partir dessa perspectiva, questionar uma
construção tradicional da história e ampliar outra história na qual os trabalhadores sejam
protagonistas.
Porém, de nada valerá todo o esforço para a preservação da memória se a produção
historiográfica, produto do esforço para a preservação documental e das memórias, não atingir
o trabalhador comum. Sem isso, não haverá a consolidação da identidade de classe, pois
quando não se conhece a própria história e a história coletiva por meio do continuo processo
da descoberta, da formação educacional, das leituras, conversas e reflexões, a identidade de
classe ficará desprovida de um firme alicerce que ampare os desafios impostos pelo capital
num mundo excludente e capitalizado.

33

II – Discussão de Fontes e Metodologia

Críticas ao governo federal serão demonstradas como um instrumento de defesa dos
trabalhadores em reação à repressão econômica, ao achatamento salarial e à permanência nas
estruturas administrativas dos Correios de profissionais moldados pelo regime militar.
Procurar-se-á demonstrar a influência do neoliberalismo no ataque ao movimento
sindical ecetista e, principalmente, a permanência nos anos posteriores à redemocratização de
um modelo administrativo militar implantado pelos Correios durante a fase ditatorial.
Exemplos clássicos de gestões contemporâneas do neoliberalismo foram os governos
de Ronald Reagan (1980-1988) nos Estados Unidos e Margareth Thatcher (1979-1990) na
Inglaterra, em que as medidas de reestruturação estatal e econômica serviram como modelo
para os demais países que adotaram a mesma linha ideológica. No Brasil, a ideologia
neoliberal ganhou força nos governos Fernando Collor (1990-1992) e Fernando Henrique
Cardoso (1995-2003) com a reestruturação administrativa da União e entes federados,
privatização de empresas públicas, flexibilização dos direitos trabalhistas, arrocho salarial e
diminuição do sistema de proteção social com base em uma concepção de Estado mínimo
ancorada nas leis de mercado.

Ao longo da década de 1990 e início dos anos 2000, para além da intervenção do
Estado na economia, a reforma então operada adotou um paradigma gerencialista no
bojo da administração pública, em substituição a uma cultura burocrática de controle
de processos, a partir do qual se buscou a implementação de mecanismos de
mercado na gestão pública. Esses mecanismos se voltaram para o controle de
resultados, para a busca da eficácia e da eficiência, e para uma flexibilização da
gestão na chamada área de Recursos Humanos. Assim, reforçou-se a tese de que o
Estado deveria delegar algumas de suas atividades a terceiros ou a outros parceiros,
como uma forma de conter o crescimento do déficit público e do tamanho da
máquina administrativa (DIEESE, 2007).

Para isso, “a implantação do novo modelo econômico desde 1990 prescindia, no
regime da democracia representativa, não apenas de apoio político e eleitoral, mas do
enfraquecimento das bases sociais de resistência.” (POCHMANN; BORGES, 2002, p. 28/29).
Logo, como a fragilização do sindicalismo foi peça necessária na política de desmonte do
setor produtivo estatal, vieram às reações contra o neoliberalismo durante a década de 1990.
Por força da dinâmica histórica, o sistema do capital enfrentou importantes manifestações

34

contra hegemônicas e as medidas neoliberais foram cada vez mais questionadas levando a
diferentes estratégias de intervenção política da classe trabalhadora.

No Brasil, diante de um complexo quadro nacional das lutas de classe, no qual a
esquerda – liderada pelo Partido dos Trabalhadores nos anos 1980 – formou um
bloco de resistência relativamente eficiente, o neoliberalismo só conseguiu se
estabelecer tardiamente nos anos 1990 com a cooptação de setores da socialdemocracia (PSDB) auxiliados por conservadores (o então PFL, hoje DEM) e até
mesmo ex-comunistas (PPS) (CASTELO, 2013, p. 243).19

Para investigar esse bloco de resistência política dentro dos Correios, liderado por
sindicalistas ligados ao Partido dos Trabalhadores, um dos referenciais teóricos utilizados
para fundamentação desta dissertação está em Marc Bloch. Segundo Barros Neto (2012, p.
72),

É preciso dizer que Apologia da História discute com especial interesse questões
metodológicas, como a “mediação” do conhecimento historiográfico ou a natureza
das fontes históricas, tratadas por Marc Bloch sob o signo de ‘vestígios’, o que já o
aproxima de uma abordagem mais moderna do documento histórico.

Seguindo orientação de Bloch, a utilização de uma “abordagem mais moderna” do
documento histórico para a apreensão do conhecimento relacionado ao movimento sindical
ecetista permitirá que parte das informações fundamentais para a elaboração da dissertação
seja alcançada no arquivo do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios em Alagoas. Para
Bloch (2001, p. 72), “muitos outros vestígios do passado nos oferecem um acesso do
mesmíssimo nível”, a exemplo do acervo digital da Folha de São Paulo, rico em informações
fundamentais para o desenvolvimento desta pesquisa. É o caso também, em sua quase
totalidade, da importante massa de testemunhos escritos e até de um bom número de nãoescritos.
Ou ainda,

Mas a memória coletiva não é apenas uma conquista: é também um instrumento e
um objetivo de poder. As sociedades nas quais a memória social é principalmente
oral, ou as que estão em vias de constituir uma memória coletiva, permitem melhor
compreender esta luta pelo domínio da recordação e da tradição, esta manipulação
da memória (LE GOFF,1990, p. 57).

19

Ao longo das citações respeitaremos a grafia da época ou conforme consta nos documentos.

35

Entendemos que a memória coletiva não se abriga apenas nos relatos ou depoimentos
formais de atores relacionados a um determinado período da história. Embora os relatos sejam
importantes para a construção do saber, muito de sua memória encontra-se abrigada nas
conversas informais que podem nos dar pistas sobre as fontes de pesquisas materiais. Elas
expressam sentimentos, desejos e acontecimentos dos sujeitos históricos investigados, mesmo
quando essas categorias representam os interesses de parcelas da sociedade, grupos ou
associações numa determinada conjuntura.
A perspectiva da visão da classe trabalhadora é uma alternativa política e ideológica do
pesquisador, considerando a negligência e mesmo a omissão oficial no que diz respeito à
experiência desses sujeitos históricos. Ou seja, não interessa estudar apenas a versão dos
“vencedores”, mas confrontá-las com as versões dos “vencidos”, no intuito de esclarecer os
temas investigados sem abrir mão do rigor científico e da multiplicidade das visões dos
sujeitos históricos envolvidos.
Quanto à documentação para as pesquisas, nos utilizaremos de Burke (2005, p. 21) ao
afirmar que “os historiadores começaram a trabalhar regularmente nos arquivos e elaboraram
uma série de técnicas cada vez mais sofisticadas para avaliar a confiabilidade dos documentos
que lá encontravam.” Sendo assim, sigo Macedo (2014, p. 21), que como fonte histórica,
optou por “trabalhar com jornais alternativos por considerá-los importantes meios de
produção e divulgação das memórias construídas pelas esquerdas.” Mas, com o cuidado no
trato das informações concentradas, por exemplo, nos boletins informativos da Associação
dos Empregados dos Correios em Alagoas – ASCOR, nos boletins informativos Gazeta
Ecetista, no Jornal Carta Ecetista (ambos já na fase de sindicato), nos jornais locais,
nacionais e de grande circulação nas décadas de 1980 e 1990, além de fotografias, diversas
atas, de cartas e outros documentos existentes nos arquivos do SINTECT-AL. Através destas
fontes tive acesso a discursos produzidos pelas lideranças dos ecetistas, que usaram esses
veículos de informação para propagar suas ideias e percepções políticas e sindicais. A
intepretação verossímil destes documentos, sem dúvidas ajudou na construção da trajetória de
luta do movimento sindical nos Correios de Alagoas entre 1985 e 2002.
A perspectiva teórica relacionada aos Correios parte da afirmação de que o mesmo é
uma criação da civilização capitalista. Entendendo que Lenin se referia ao correio enquanto
administração organizada, segundo o tipo de monopólio capitalista a serviço do Estado e que
estende, por meio das agências postais, sua influência a um número maior de localidades, a

36

um número maior de lugares distantes, aos setores mais vastos da população (LENIN, 2007,
p.65, 71 e 2012, p. 63), pode-se afirmar que essas ideias ainda se encontram nos Correios
brasileiros, pois estes se fazem presentes em todo o território nacional e a disposição do
Estado pela tutela administrativa pautada na hierarquia, na ordem e na disciplina outrora de
forte influência militar.
Em continuidade à fundamentação teórica, a função da classe trabalhadora nos
Correios e o papel dos seus instrumentos de mobilização não poderão prescindir de outras
contribuições teóricas fundamentais para a análise do seu papel histórico, a exemplo das
análises de Marx (1982, 2008), de outros analistas brasileiros como Boito Jr (2005, 2009) e
Antunes (1982, 1986, 1991, 1995, 2008), enfocando a importância central na categoria do
trabalho como eixo fundamental da produção e das relações sociais. Nesta pesquisa, será
concedido um enfoque privilegiado na ação dos trabalhadores em oposição à historiografia
tradicional que sempre relatou apenas a vivência das classes dominantes, conferindo a estas
um protagonismo que excluiu a participação e importância das demais classes sociais.
Isso não significa evidentemente, deixar de verificar as versões apontadas pelos grupos
dominantes nos Correios alagoanos, embora tal verificação seja feita sempre em uma análise
comparativa com outras impressões históricas. Para isso, algumas questões devem ser levadas
em consideração enquanto hipóteses que justifiquem a resistência de parte dos trabalhadores
dos Correios entre 1985 e 2002.
A primeira delas defende a ideia de responsabilidade das graves crises econômicas que,
pela péssima política salarial, assolaram o país nas décadas de 1980 e 1990, precarizando os
salários e as relações de trabalho – além de protagonizar com a prática administrativa militar
que sistematicamente contribuiu para a efetiva repressão contra os trabalhadores e a
organização sindical nos Correios.
A segunda refere-se a forte reação do governo FHC (1995-2003) contra o movimento
sindical, contribuindo para o refluxo do movimento de classe dos trabalhadores ecetistas 20 em
razão da péssima relação capital/trabalho fundamentada nos baixos percentuais de reajustes
salariais, nos descontos dos dias parados por motivo de greve, na supressão de direitos, nas
perseguições, punições e milhares de demissões dos empregados dos Correios em todo o
20

O termo refluxo faz menção direta a suspensão das greves nos Correios após 1997, voltando a ocorrer apenas
em 2003 quando Lula já era presidente da República. Apesar da interrupção das greves nos Correios neste
período, trabalhadores e lideranças sindicais continuaram participando de reuniões, atos públicos, dia nacional de
paralisação, depoimentos na imprensa ou atendendo os chamamentos das centrais sindicais que faziam oposição
ao governo FHC.

37

Brasil. Tais condições possibilitaram a supressão das greves e exigiram o cumprimento de
metas estabelecidas pelo sistema financeiro através do Fundo Monetário Internacional.
Ainda sob o viés da política econômica de FHC, que desenvolvia um programa de
privatização do Sistema Telebras, podemos acrescentar a tentativa de se por fim ao monopólio
postal21 para também favorecer o mercado e a livre-concorrência levando o movimento
sindical dos Correios a um grande debate travado a partir da segunda metade da década de
1990 sobre o processo de privatização da ECT após o fim do exclusivismo postal.
Para Lesbaupin; Mineiro (2002, p. 34/35), “a privatização da Telebras foi um grande
negócio – para as compradoras (...) A venda das estatais, dizia-se na campanha, permitiria que
o Estado deixasse de desperdiçar recursos – sustentando estatais deficitárias - para investir
em políticas sociais. ” Entretanto, a área que mais sofreu as consequências da opção
neoliberal do governo FHC foi, sem sobra de dúvidas, a área social.
A terceira hipótese diz respeito a continuidade do modelo administrativo militar
ensinado pela Escola Superior de Administração Postal (ESAP) para atuar nas estruturas
administrativas dos Correios. Este modelo de gestão enraizado na ECT durante o regime
militar ainda era perceptível na década de 1990 e serviu de sustentação para a imposição da
política neoliberal do governo FHC, cabendo aos administradores postais, com formação na
ESAP, conduzir todo o processo de perseguição contra os trabalhadores, além de lidar pela
repressão com os conflitos no âmbito interno da empresa.
Por tratar-se de uma pesquisa de natureza histórica, focalizada na linha de pesquisa
Estado, Relações de Poder e Movimentos Sociais, a variedade de fontes torna-se ampla. Mas,
é importante atentar para os devidos cuidados que precisam ser adotados para que a
pluralidade de informações seja tratada e interpretada com base nos mecanismos de
investigação e análise já elencados. Caso contrário, haverá um desconcertante e inútil
acúmulo de fontes, transformando o projeto em algo sem coerência e objetivos visíveis,
falhando em suas pretensões anunciadas de contribuir para a história do movimento sindical
em Alagoas.

21

Monopólio significa exclusividade na exploração de produtos e serviços por uma empresa, seja ela pública ou
privada. O Monopólio Postal garantido pela Lei 6538/78 e ratificado pelo STF no julgamento da ADPF 46,
reconhece exclusividade na prestação de serviços de postagem e entrega de cartas (simples, comerciais e cartões
postais), telegramas e correspondências agrupadas (malotes). Em contrapartida a ECT é obrigada a garantir a
universalização dos serviços postais (Cartilha O Correio é Nosso! ECT 100% pública e de qualidade. SintectSJO, 2010, p. 09).

38

Por outro lado, para se entender a história recente da categoria dos Correios, é
necessário o acesso pelas fontes primárias e bibliográficas as informações sobre as lideranças
sindicais e de trabalhadores. Ao tempo em que também devemos pelo olhar crítico associar as
fontes escritas e interpretá-las com o interesse de desvendar pelas pistas do passado, as
resistências, as disputas, os sonhos, as perdas e conquistas da categoria postal em Alagoas.
Para isso, dentre nossa fundamentação teórica, seguiremos Linden (2013, p. 195)
quando este afirma que os trabalhadores subalternos estão submetidos a uma relação de
trabalho heterônoma, ou seja, sujeita a vontade do outro, a regras e normas de conduta préestabelecidas. Tal relação leva a “uma batalha ininterrupta travada contra os empregadores e
seus representantes, às vezes abertas e às vezes sub-reptícia, às vezes individual e às vezes
coletivas” (Idem).
De certo que a resistência pela organização de classe numa categoria assalariada é
resultado de uma constante batalha contra seus empregadores. Contudo, neste universo de
interesses, os conflitos individuais entre trabalhador e empregador estarão sempre presentes e
constantemente sendo ampliados para a coletividade. Obviamente que, no caso dos Correios,
não desprezaremos as individualidades, entretanto, os conflitos coletivos serão priorizados por
entendermos que eles levaram a organização de classe na estatal.
Por isso, não é demais reforçar a importância dos aspectos teóricos e metodológicos
que orientaram esta pesquisa, mesmo não sendo opções imutáveis e inflexíveis, estarão
presentes enquanto parâmetro epistemológico.

39

1 MILITARISMO E FORMAÇÃO ADMINISTRATIVA NOS CORREIOS22

Embora a República brasileira tenha iniciado com dois governos militares, o exercício
direto destes em várias instâncias do poder executivo ocorreu de modo mais efetivo quando
da chegada de Getúlio Vargas à Presidência da República em 1930 23. Ao longo das próximas
décadas “ocupar funções nas diversas esferas da administração direta e indireta, seja em
ministérios seja nas empresas estatais (públicas, de economia mista e nas autarquias) passou a
fazer parte das perspectivas castrenses.” (MATHIAS, 2004, p.15)
Durante a Ditadura Militar, os militares assumiram não só o controle das instâncias
mais importantes do aparelho de Estado burguês, mas também a direção política do bloco no
poder (MACIEL, 2012, p. 25). Ao longo de todo esse processo desencadeado entre as décadas
de 1970 e 1980, os militares exerceram forte influência no poder e na burocracia estatal a
maior parte do tempo. Para este capítulo, importante é investigar a efetiva participação militar
na administração dos Correios e seus desdobramentos para os trabalhadores. Segundo Barros
Neto (2004, p. 11), entre os anos de 1930 a 1945 e de 1972 a 1985, a administração dos
Correios foi marcadamente militar. Partindo dessa lógica é preciso entender o que fizeram,
que cultura administrativa foi implantada e quais seus reflexos sobre os trabalhadores.
Entendendo que não se pode pensar o movimento sindical dos Correios separado do
contexto e da época em que se insere, se faz necessário refletir sobre o contexto histórico,
econômico e administrativo do Estado brasileiro com um olhar para dentro da estatal, num
corte temporal definido entre as décadas de 1980 e 1990, mas sem perder de vista alguns fatos
anteriores a este período que apontam para as condições de trabalho e para o posicionamento
político dos trabalhadores dos Correios.
Para se traçar e compreender a trajetória de luta dos trabalhadores ecetistas e suas
relações com a ECT, estatal caracterizada por uma administração de caráter militar, deve-se
procurar entender como esse modelo administrativo surgiu e procurou intervir na organização
de classe dos trabalhadores ecetistas nas décadas de 1980 e 1990.
22

Este capítulo foi parcialmente publicado em 2015 pela Editora da Universidade Federal de Alagoas, no livro
Folhas de Jornal: presença militar e imprensa sindical nos Correios de Alagoas, de nossa autoria com a
colaboração do professor Jailton de Souza Lira.
23
Ao longo da República, cada intervenção moderadora que o Brasil sofreu foi usada pelos militares para
atualizar suas informações acerca do comportamento civil e, ao mesmo tempo, para construir sua própria
alternativa de poder (ZAVERUCHA, 1994, p. 163)

40

É para essa questão que buscaremos uma compreensão de como a ocupação de cargos,
definidos como civis nos Correios, por militares de diferentes patentes estabeleceu uma lógica
administrativa inspirada na organização da caserna.

1.1 A presença militar nos Correios durante a primeira metade do século XX

A presença militar nos Correios se deu a partir dos primeiros anos da República. A
construção das linhas telegráficas iniciada pelo então capitão do Exército Cândido Mariano da
Silva Rondon24, em 1892, para integrar o oeste brasileiro é um exemplo dessa relação militar
com os Correios.
Ainda nos momentos iniciais da República, o primeiro Secretário de Estado da
Instrução Pública, Correios e Telégrafos foi o tenente coronel Benjamin Constant Botelho de
Magalhães que ficou no cargo de 1890 a 1891. Um de seus sucessores, o general Innocêncio
Serdezello Corrêa respondeu pela Secretaria até esta ser subordinada ao Ministério da
Indústria, Viação e Obras Públicas.
No início do século XX chama atenção o Correio Aéreo Militar (subordinado ao
Exército) e o Correio Aéreo Naval. “Nessa época, era o Departamento de Comunicações do
então Ministério de Viação e Obras Públicas (ao qual os Correios estavam subordinados), que
fazia o controle do movimento dessas e de outras aeronaves” (BARROS NETO, 2004, p.56).
A aviação militar teve papel fundamental na consolidação do transporte aéreo postal
durante a década de 1930, quando a Marinha e o Exército criaram correios aéreos. Entretanto,
somente em 1934 as aeronaves do Correio Aéreo Militar foram autorizadas a transportar
correspondências entregues pelo então Departamento de Correios e Telégrafos – DCT, criado
em 26 de dezembro de 1931 por decreto de Getúlio Vargas.
Ao iniciar os anos de 1930, a força de trabalho que compunha os Correios e Telégrafos
padecia de graves problemas, comuns, ao que parece, a todo o serviço público daquela época
(BARROS NETO, 2014, p. 124). Os serviços postais e telegráficos, sob a competência da
Diretoria Geral dos Correios e da Repartição Geral dos Telégrafos25, respectivamente, já
24

Cândido Mariano da Silva Rondon foi nomeado Chefe do Distrito Telegráfico de Mato Grosso em 1892.
Como general de Divisão instalou milhares de quilômetros de linhas telegráficas. Foi elevado ao posto de
Marechal em sessão solene da Câmara e do Senado, conjuntamente, em 5 de maio de 1955 e em 27 de abril de
1972 foi reconhecido por ato do Poder Executivo como o Patrono das Comunicações Nacionais.
25
A Diretoria Geral dos Correios e a Repartição Geral dos Telégrafos foram fundidos em 1931 com a criação do
Departamento de Correios e Telégrafos.

41

vinham em rápido processo de degeneração em virtude da ausência de sistematização e
normas reguladoras dos serviços postais, até então imersos na desorganização do quadro de
servidores.

Na carta escrita por José de Alencar Pereira, da cidade de São Paulo, estão presentes
algumas descrições do período anterior a 1930. José inicia a carta dizendo que foi
funcionário postal durante 10 anos, “tendo sempre se esforçado por bem cumprir os
deveres de seu cargo”. Apesar disso, o ambiente na repartição antes da chegada de
Vargas ao poder era de uma “subserviência aviltante”, dominado por grupos
políticos “que outra cousa não faziam se não incensar seus superiores e os detentores
do poder”. Por não concordar com essas práticas, “viu-se logo o requerente rodeado
de má vontade de seus chefes, num ambiente de ódios e perseguições”. Diz ainda
José que “raros os funccionários que, no regime decahido, tinham noção clara e
consciente dos deveres de seus cargos”, por um lado, e “raros os superiores que
sabiam manter a serenidade e Justiça em relação aos subordinados”, por outro
(FERREIRA, 2011, p.48).

Tradicionalmente os Correios eram vistos como “o encosto de filhos-famílias26 e de
pessoas que precisavam de uma achega ou de dividir o tempo entre as funções públicas e
deveres de outra natureza, exercidos fora da repartição” (ALMEIDA apud BARROS NETO,
2004, p. 44).
Ainda em 1936, os problemas estruturais e de pessoal permaneciam, inclusive com
reclamações na imprensa da época.

Com o correio de Villa Maria
A má organização verificada nessa repartição postal

Ao que tivemos ocasião de noticiar há poucos dias attendendo a varias queixas
procedentes de Villa Maria, a Agência do Correio lá existente não tem attendido,
como deveria, o povo de Villa Maria.
Correspondência que deveria ser entregue com a máxima urgência, é ali retirada –
por desleixo naturalmente dos seus dirigentes – sendo entregue muito tempo depois,
ás vezes meses depois. Tudo proveniente – é claro – da absoluta falta de carteiros.
E sendo Villa Maria, como todos sabem, um bairro que prospera dia, ao lado do
Braz e Belem, necessário se faz que alguma coisa façamos por elle attendendo as
inúmeras queixas que diariamente vêm fazendo os seus moradores.
A repartição dos Correios e Telegraphos de São Paulo, cumpre zelar pelas suas
agencias e providenciar a respeito das suas necessidades mais urgente. (Folha do
Braz: sucursal do Braz - Folha da Noite, S. Paulo – Segunda-feira, 6 de Janeiro de
1936)27

26

Segundo João Pinheiro de Barros Neto, o termo refere-se a rapaz de família abastada, da qual depende
economicamente, e nada faz.
27
Respeitada a grafia da época.

42

Importante dizer que, na década de 1930, a força de trabalho dos Correios apresentava
graves problemas, pois o funcionalismo da época se encontrava mal remunerado, vítima de
preterições reincidentes, trabalhando num ambiente impróprio de repartições federais
sucursais dos governos estaduais com nomeações28, transferências e promoções dependendo
da indicação dos partidos oficiais (ibidem, p. 72).

A ineficiência da força de trabalho era causada, segundo diagnóstico de José
Américo de Almeida, então ministro da Viação no governo provisório (1930-1934)
de Getúlio Vargas e responsável pelos Correios, pela desmotivação dos
funcionários, consequência da má remuneração, das indicações políticas para os
cargos públicos que não se baseavam na competência nem no mérito.
Também havia falta de equipamentos, ferramentas e de ambiente físico ao trabalho.
Nesse ambiente sucateado, não é preciso ser especialista em Administração ou
gestão de pessoas para entender como era difícil ser um empregado do governo e
que, nessa situação, o que as melhores pessoas faziam era esperar pela
aposentadoria, enquanto as piores, nós apenas podemos imaginar (BARROS NETO,
2014, p. 124)

Tal situação nos leva a pensar que esses problemas, de alguma maneira, interferiram
no desempenho do Departamento de Correios e Telégrafos prejudicando sua credibilidade
perante a população. Essa seria uma das justificativas para militarizar a administração dos
Correios.
Durante o período Vargas (1930-1945), os Correios desenvolveram uma postura mais
empresarial e uma cultura organizacional com características e valores fortemente militares,
tendo vários dirigentes saídos diretamente dos quartéis para o Departamento dos Correios e
Telégrafos (Op. cit., p. 125). Em 1931, o tenente coronel João de Mendonça Lima assumiu a
direção geral dos Correios com a missão de disciplinar e moralizar o órgão. Militar de
carreira, ciente dos valores a serem implantados nos Correios, o tenente coronel João de
Mendonça foi em 1937 sucedido pelo capitão Mário José de Faria Lemos para assumir o
Ministério da Indústria, Viação e Obras.

28

Essas nomeações de trabalhadores, que na década de 1930 enfrentavam a péssima realidade salarial e de
prestígio, em suas raízes “moldaram-se nas heranças pré-republicanas em que a forma de acesso ao trabalho na
estrutura do Estado por um longo período, se dava por indicação do monarca ou, mesmo instalada a república,
por chefes políticos locais ou nacionais, contribuindo para que a figura do trabalhador público fosse e
permanecesse associada à ideia de distinção honorífica e privilégios.” (ROSALEN, 2012, p. 50/51)

43

Em virtude dessa presença militar, durante 15 anos, apenas três civis estiveram à frente
dos Correios29. Percebe-se, portanto, que no Estado Novo a administração do órgão teve forte
presença do Exército Brasileiro com significativa vivência cultural consolidada na ordem e na
disciplina, principalmente impostas aos funcionários através de uma série de exigências.
Perceba o que diz um relatório de 1941, ano em que foi criado o Correio Aéreo Nacional em
virtude da fusão do Correio Aéreo Militar com o Correio Aéreo Naval:

O Estatuto, consagrando os dispositivos anteriores, inclui entre os deveres do
funcionário, o de apresentar-se em serviço, decentemente trajado ou com uniforme
respectivo, tornando-o passível de punição disciplinar, quando procede de modo
contrário. [...] As organizações se impõem, adquirem confiança e infundem respeito,
pela ordem, pela disciplina, pela harmonia entre aparência e realidade.
Onde quer que se penetre, onde quer que receba a correspondência, teremos, na
apresentação correta dos que usam uniforme um índice de disciplina e de perfeita
execução dos serviços.
Um exército não nos infundirá confiança, ou não despertará entusiasmo, se os seus
soldados não se apresentarem corretamente uniformizados.
É preciso tem (sic) presente que o carteiro ou o mensageiro, que entrega uma carta
ou um telegrama, não deixará no espírito de quem os recebe, embora o serviço se
realize com regularidade, a certeza de que efetivamente assim ocorre, se se
apresentar mal fardado, desalinhado, ou em atitude negligente. (BRASIL apud
BARROS NETO, 2004, p. 63-64)

Tais medidas demonstram que a disciplina, a hierarquia e o mérito passaram a ser
palavras de ordem nos Correios, termos militares, numa organização administrada como se
fosse um exército e seus funcionários comparados a soldados. “Mais significativo ainda é que
mesmo durante governos civis e mais democráticos permaneceram sempre à frente dos
Correios e Telégrafos militares superiores, pelo menos até meados dos anos 1980, quando
definitivamente deixaram a organização.” (BARROS NETO, 2004, p. 61).
Entretanto, essa afirmação de Neto deve ser estendida aos anos de 1990 em virtude da
permanência, pelo menos em Alagoas, dos valores de ordem, disciplina e hierarquia
praticados por administradores postais e que caracterizam um modelo administrativo militar
incorporado à cultura dos Correios e facilmente perceptível no seu cotidiano por todo o
período.
O fato de a República ter começado a partir de um viés militar e passado por um
período ditatorial sob o comando de Getúlio Vargas, nos faz entender esse processo de
militarização da administração postal. Entretanto, essa justificativa também se fundamenta no
29

Os diretores gerais civis dos Correios em curtos períodos foram: Geonísio Curvello de Mendonça (1930),
Trajano Furtado Reis e o engenheiro Leônidas de Siqueira Meneses (1932).

44

que Barros Neto (2004, p. 42), vai chamar de “forças inerciais” dentro da organização, que
naturalmente foram levando a uma decadência da qualidade dos serviços prestados,
culminando na década de 1930 em um estado de sensível degeneração, parecendo indicar uma
fragilização na qualidade dos serviços oferecidos pela administração pública.
Essas “forças inerciais” foram atribuídas pelo governo federal aos trabalhadores dos
Correios, caracterizados de ineficientes sem se levar em consideração as péssimas condições
de trabalho, a falta de estrutura, a má remuneração e a falta de regulamentação que definisse
claramente as atribuições e evitasse o acesso ao emprego por vias políticas.

A par da desorganização funcional, o DCT realizava precariamente serviços que não
mereciam o menor grau de confiabilidade por parte do público, que revidava com
críticas, as mais violentas. As agências ocupavam velhas construções, os
equipamentos eram obsoletos, as rotinas de serviço, em sua maioria, obedeciam a
instruções centenárias. O telégrafo era constantemente interrompido, em múltiplas
direções, por defeitos nas linhas físicas desgastadas e sem manutenção. Os
telegramas seguiam por malas postais gerando protestos dos usuários. (CORREIO
BRASILIENSE apud BOVO, 1997, p.21)

Segundo a Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e
Telégrafos e Similares –FENTECT, ainda em 1980 havia nos Correios uma inadequada rede
de transporte acompanhada da falta de autonomia orçamentária com política tarifária irreal,
excesso de franquias e outras mazelas de idêntica natureza. Tal situação continuava
inviabilizando o desenvolvimento e a modernização não só dos Correios, mas de todo o
serviço público nacional.
1.2 A “Primeira” greve dos trabalhadores dos Correios
Fato importante foi a greve dos trabalhadores dos Correios no Rio de Janeiro, então
capital da República. Iniciada em 27 de dezembro de 1934, em pleno governo Vargas,
possivelmente esta tenha sido uma das primeiras greves dos empregados postais no país30. De
30

Durante as pesquisas não encontrei outro registro de movimento grevista dos trabalhadores dos Correios
anterior a 1934. Apenas uma pista no jornal Folha da Manhã indicando não ter havido greves anteriores no
serviço público. Segue: “Gréves de funcionários jamais houve no nosso paiz antes de 30” (Folha da Manhã,
edição de 30 de dezembro de 1934). Entretanto, o Jornal de Alagoas, edição de 28 de dezembro de 1934,
noticiou a greve dos funcionários postaes no Rio de Janeiro. Em seu texto, há indícios de ter havido
anteriormente uma outra greve dos funcionários dos Correios. Eis:
Rio, 28 – O “Diário da Noite” ouviu de um alto funcionário dos Telegraphos, não declinando o nome, porém,
accentuando que foi um dos mais resolutos chefes da última greve da classe, as seguintes declarações: “Pode-se

45

modo geral, “as dificuldades que os trabalhadores enfrentavam nas primeiras décadas do
século eram de toda ordem: mercado de trabalho muito restrito, falta de oportunidades,
insegurança nos empregos, baixos salários etc.” (FERREIRA, 2011, p.68). O movimento
paralisou completamente o tráfego postal após “cerca de 800 funcionários postaes
manifestarem-se em bloco, retirando-se em calma para as suas residências” e causando sérios
“prejuízos” ao comércio (Folha da Manhã, edição de 28 de dezembro de 1934). À época, os
serviços de comunicação pelos Correios e Telegraphos eram de fundamental importância para
os negócios, a exemplo das transações e operações de crédito, além das relações afetivas entre
pessoas que se estimavam em diversos pontos do Brasil.
Uma das razões para o movimento, segundo o jornal Folha da Manhã (idem),
começou no Distrito Federal com ramificações por vários estados, após o descumprimento do
governo em reajustar os salários dos funcionários dos Correios. A negativa veio apesar de
estudos realizados por comissão do governo composta por dez membros para analisar um
aumento das tarifas postais e que atestava a viabilidade do aumento salarial sem comprometer
o orçamento do governo.

O fim de tal reajustamento era melhorar os ordenados do pessoal dos Correios sem
que pesasse no orçamento, e pelas tabellas apresentadas, com o augmento proposto
das tarifas, não haveria encargo maior para o Thesouro, por isso que esse augmento,
depois de conseguido, deixava um saldo de cerca de 2.000 contos. O funcionalismo
postal, naturalmente exultou. Mal pago, pessimamente pago, sem conforto do
trabalho, porque elle é fatigante e as condições materiais da repartição são
precaríssimas, esses homens viram uma possibilidade de melhoria, uma maneira de
amparo às suas famílias e de conseguir um equilíbrio no orçamento doméstico.
Todas as opiniões eram favoráveis ao augmento. Diz-se mesmo que commungava
nessa opinião o próprio ministro da Viação. Não se sabe porque nem como, à última
hora, o parecer do sr. Arthur Costa derrubou todas as esperanças do funccionalismo
postal, deixando este desamparado e desprotegido, sem maior recurso senão aquelle
da paralysação do serviço (Folha da Manhã, edição de 28 de dezembro de 1934).

Com a greve, poucos servidores permaneceram em grupo no entorno das repartições
que passaram a ser guarnecidas por fuzileiros navais. Após a decretação do movimento
paredista, o ministro da Viação, Marques dos Reis e o diretor geral dos Correios e
Telegraphos, Leonidas de Siqueira Menezes, reuniram-se com o chefe de polícia da Delegacia

afirmar que o telegrapho absolutamente não entra em greve com os correios, devido á falta de lealdade dos
funccionários postaes na ultima greve.” (Grifo nosso). Quanto a adesão desse movimento grevista pelos
funcionários dos Correios em Alagoas, não encontrei nenhum vestígio de que tenha havido. Apenas, menções a
greve na capital federal nas edições do Jornal de Alagoas, nos dias 28, 29 e 30 de dezembro de 1934.

46

Especial de Ordem Política e Social, capitão Felinto Muller, para garantir o direito daqueles
que desejassem trabalhar.
Num país de dificuldades que iam aumentando de maneira alarmante e perigosa, o
jornal Folha da Manhã passou a censurar o governo e a questionar a não imediata intervenção
do presidente Getúlio Vargas na questão para que não fossem dadas esperanças de reajuste
aos servidores dos Correios.

E ao envez de se procurar uma formula capaz de suavisar o golpe desferido as notas
officiaes são de uma violência pouco commum, parecendo que o governo disputa,
neste momento, uma posição de combate, quando seu papel seria o de conciliador
das correntes em divergência, de coordenador das atitudes do momento, de
contemporizador com os seus próprios erros (Idem).

Sem sindicato31, os grevistas elegeram uma comissão para obter a adesão de outras
categorias. Para isso, se deslocaram rumo à Federação dos Marítimos para pedir a
solidariedade daquela organização de classe. Esta, não aderiu ao movimento, dando-lhe,
contudo, seu apoio moral. O movimento contou, porém, com a adesão dos funcionários dos
Correios de Niterói e Belo Horizonte32 e dos telegrafistas, que prometeram abandonar os seus
lugares em solidariedade aos funcionários dos Correios, embora um alto funcionário do
Telegrapho tenha declarado no Diário da Noite33 que os telegrafistas não iriam aderir ao
movimento.
A reação do governo veio com as declarações do ministro Marques dos Reis: “os
funcionários que se declararam em greve poderão voltar ao trabalho, isto porém, depois de
cumpridas as penas disciplinares a que estão sujeitos.” Pelo regulamento da época, uma vez
declarado o serviço extraordinário em razão da greve, um dia de falta no serviço
corresponderia a três dias. Persistindo a permanência na greve, o funcionário seria demitido
por abandono de emprego (Parágrafo 3º, Artigo 498 do Decreto nº 14.722, de 16 de março de
1921). A reação da Comissão de Greve veio em seguida com o pedido de permanência dos
funcionários postais no movimento paredista, inclusive com a veiculação pela “Voz do

31

Ao contrário do que afirma um arraigado preconceito, greves de grande escala conseguiram êxito mesmo sem
sindicatos. Os sindicatos de trabalhadores não podem existir sem a arma da greve, sua arma por excelência, mas
o inverso não é verdadeiro (LINDEN, 2013, p. 200).
32
Segundo notícias da Folha da Manhã, edição de 29 de dezembro de 1934, apenas sete funcionários aderiram
ao movimento na capital mineira. Não havendo nenhuma reunião com caráter grevista permanecendo 210
empregados trabalhando normalmente na seção do Correio e 120 na dos telegráficos.
33
Edição citada pelo Jornal de Alagoas, de 28 de dezembro de 1934, conforme nota de rodapé anterior.

47

Brasil”34, para o país, do pedido de “adesão de todos os colegas dos Correios e Telegraphos a
greve” (O rádio a serviço da greve, Folha da Manhã, edição de 28 de dezembro de 1934).
Ficou evidente em consulta a Folha da Manhã, as ações políticas e uma eficiente
comunicação entre os funcionários postais em algumas regiões do país. Após a chegada a São
Paulo de três emissários dos funcionários do Distrito Federal para promover o movimento no
estado, uma comissão de servidores em greve dos Correios de São Paulo saiu em apoio aos
colegas do Distrito Federal. Além da capital paulista, as cidades de Santos, Campinas,
Ribeirão Preto, Botucatu e Bauru também aderiram ao movimento. Esta comissão, quando em
reunião com o secretário da Interventoria, Carlos de Moraes Barros, pediu providências do
Interventor Armando de Salles Oliveira35 junto às autoridades federais para que as
reivindicações dos grevistas fossem atendidas como única solução para por fim ao movimento
paredista. Outra reivindicação dos paulistas foi o pedido de equiparação de vencimentos a dos
funcionários do Distrito Federal e o relativo aumento do quadro de trabalhadores, sob pena de
que os serviços não ocorreriam satisfatoriamente.
De modo geral, a intenção dos grevistas de São Paulo era levar o presidente Getúlio
Vargas a reunir em sessão extraordinária o Congresso Nacional para aprovar o reajuste
salarial dos funcionários postais telegráficos de todo o país (Folha da Manhã, edição de 28 de
março de 1934). Em seguida, a ação do governo federal foi pedir às diretorias regionais a
relação dos funcionários diaristas com mais de dez anos e determinou a admissão de novos
funcionários dessa categoria.
Diante da paralisação em São Paulo, o diretor regional dos Correios tomou
providências para que as forças policiais e do Exército guarnecessem o edifício da repartição.
“Para esse fim, mandou evacuar a zona fronteira ao prédio e ordenou à Polícia que garanta o

34

O programa foi criado por Armando Campos, amigo de infância de Getúlio, com a intenção de ajudar o seu
amigo, colocando suas ideias para a população escutar, e assim serem a favor de seu governo. Passou a ser
transmitido em 22 de julho de 1934, durante o governo de Getúlio Vargas com o nome de "Programa Nacional",
sendo apresentado pelo locutor Luís Jatobá. De 1934 a 1962, foi levado ao ar com o nome de Hora do Brasil. Em
1938, já com o nome de "Hora do Brasil" o programa passou a ter veiculação obrigatória, somente com a
divulgação dos atos do Poder Executivo, sempre das 19 às 20 horas. Em 1962, a partir da entrada em vigor do
Código Brasileiro de Telecomunicações, o Poder Legislativo passou a ocupar a segunda meia hora do noticiário.
Nesse mesmo ano, o programa passou a se chamar Voz do Brasil. Entretanto, essa denominação foi encontrada
no jornal Folha da Manhã, edição de 28 de dezembro de 1934, p. 01, conforme citação a seguir respeitando-se a
grafia da época: “Os grevistas postaes fizeram irradiar hoje, por meio da Voz do Brasil, para todo o paiz, os seus
propósitos e as suas reivindicações, pedindo a adhesão de seus colegas dos Correios e Telégraphos.” (Grifo
nosso).
35
Armando Sales de Oliveira foi um engenheiro e político brasileiro, graduado pela Escola Politécnica de São
Paulo, interventor federal em São Paulo entre 21 de agosto de 1933 a 11 de abril de 1935.

48

ingresso dos empregados que queiram voltar ao serviço provada a respectiva identidade”
(Idem).
Dentre as lideranças do movimento estavam Oswaldo Corrêa e Pamphilo Mercadante,
ambos funcionários da sétima seção do tráfego postal e que contavam com a participação de
Eduardo de Araripe Sucupira e Ezequiel Freire, este funcionário da sexta seção. Outro nome
era o de Oreste Guimarães, além de Segismundo Pereira, presidente do Comitê de Greve
paulistano. Um dos grevistas, Agapito Gonçalves Leão fora detido pela polícia tendo o
Comitê de Greve se comprometido a tomar providências para a defesa do funcionário.
No Rio de Janeiro a polícia prendeu, na Delegacia de Ordem Política e Social, Antonio
dos Santos Ferreira, Germano Carlos Silmas, Milton Gomes de Andrade, José Alfredo Castro,
Rufino Marques, José Veríssimo da Silva e Aurelio da Rosa Moraes, todos carteiros grevistas
que faziam parte da comissão de agitação e propaganda da greve. Em 28 de dezembro, os
funcionários postais Francisco de Assis Cavalcanti e Rego Barros foram presos acusados de
desacato à polícia quando estavam distribuindo panfletos de greve nas imediações do edifício
do Correio Geral (Folha da Manhã, edição de 29 de dezembro de 1934).
Em meio às prisões, a imprensa especulava que o ministro da Marinha, almirante
Protogenes Guimarães ficara incumbido de encaminhar ao governo uma proposta de
conciliação. Naquela ocasião, além dos estados de São Paulo, de Minas Gerais e do Distrito
Federal, Rio Grande do Sul e Paraná também aderiram ao movimento paredista. Outro militar,
o general Flores da Cunha, interventor federal do estado do Rio Grande do Sul, segundo o
jornal Folha da Manhã (idem), declarou em suas páginas apoio moral ao movimento grevista
e reconheceu a péssima remuneração praticada pelos Correios.
“Por ahi já se vê que a greve dos Correios é um caso muito mais grave do que se
poderia suppôr, pondo em cheque a autoridade do governo, sobretudo a sua
autoridade moral quando esse governo permittiu a formação de tabellas, nomeou
comissões e até o parecer do sr. Arthur Costa, concorda com o augmento (Folha da
Manhã, edição de 29 de dezembro de 1934).

Em assembleia geral na Associação Brasileira de Imprensa, os grevistas delegaram
poderes ao Comitê constituído por Cícero Pontes, Odilon de Lima, Luiz Antônio Jordan,
Gigoberto de Sá Oliveira e Raul Camart para dirigir os trabalhos e orientar todo o movimento.
Indo na contramão do movimento grevista, os servidores dos Correios da Bahia se
posicionaram da seguinte forma:

49

A ATITUDE DOS FUNCCIONÁRIOS BAHIANOS

Da directoria regional da Bahia recebeu o ministro da Viação, endereçada pelos
funcionários dalli, o seguinte despacho telegráfico: “Mesmo que todo o Brasil se
mantenha em greve a nossa Bahia manter-se-á ao lado do governo, pois somos
bahianos e honraremos nossa repartição, nosso ministro e nosso governo”. (Folha da
Manhã, edição de 29 de dezembro de 1934).

Por outro lado, a Confederação Geral do Trabalho do Brasil lançou manifesto no
mesmo periódico em apoio ao movimento grevista.

Companheiros!

Estão em luta novamente pelas conquistas de suas reivindicações, os operários do
Lloyd, os funcionários dos Correios e Telegraphos! Estas lutas demonstram que a
combatividade e a radicalidade das massas no Brasil, já demonstradas nos últimos
movimentos, torna-se cada vez mais forte: demonstram que ellas não estão mais
dispostas a soffrer a exploração e a oppressão que vivem submettidas neste regime.
A barbara reação desencadeada pelas camarilhas dominantes sobre o combativo
proletariado, sobre as camadas pequenos burguesas: funcionários públicos, pequenos
comerciantes, etc. não os faz recuar! Continuam firmes na luta! A C.G.T.B
aconselha as corporações grevistas e as que irão à greve, a elegerem seus comitês de
gréve compostos dos companheiros que mais se destacaram na luta. Estes comitês
de greve devem ser eleitos democraticamente pela massa, para direcção do
moviemento. Companheiros! Formae vossas brigadas proletárias para garantia de
vosso Comitê de Gréve, da vossa organização e de todo movimento. Formae vossos
Comitês de Luta em todas as secções dos Correios e Telegraphos, Lloyd, em todas
as empresas para exigir do patrão e do governo vossas reivindicações! Exigi a
dissolução da polícia-política, do apparelho estatal feudal burguez, pela luta
independente de todos os funcionários públicos, e do proletariado em geral. Lutemos
por um governo democrático e popular! (Folha da Manhã, edição de 29 de
dezembro de 1934).

Diante da greve, uma turma de cento e cinquenta bombeiros passou a executar os
serviços de manipulação das correspondências (Jornal do Brasil, edição de 29 de dezembro
de 1934). Um dos grevistas declarava a Folha da Manhã: “É de se lamentar que os bombeiros
estejam tentando nos prejudicar”. Praças do Exército também foram convocados para a
manipulação de correspondências. Ao todo, doze praças e dois cabos eram comandados por
um sargento para executar os serviços postais. A reação foi enérgica: “o governo tem a seu
alcance uma série de providências a tomar no sentido de furar a parede, embora sejam
medidas paliativas” (Folha da Manhã, edição de 29 de dezembro de 1934). Uma dessas

50

providências foi à demissão, por ordem de Getúlio Vargas, a bem do serviço público e pela
moralidade e disciplina da classe, de todos os membros do Comitê de Greve da capital
federal. Além destes, os diretores regionais de São Paulo e Rio de Janeiro também foram
exonerados (Jornal do Brasil, edição de 30 de dezembro de 1934).
O diretor exonerado de São Paulo, Genaro Rodrigues, acompanhado de Antonio
Marcello, ex-chefe do tráfego postal, compareceram à assembleia dos paredistas no Sindicato
dos Bancários de São Paulo e em meio a aplausos declararam apoio à causa dos funcionários
postais. Outro alto funcionário dos Correios, Felix Sampaio, também fora demitido após mais
de 30 anos de serviço por se negar a abandonar “seus companheiros na jornada que parece
prestes a terminar com a victoria dos paredistas (Folha da Noite, edição de 31 de dezembro de
1934). No dia anterior, o Jornal de Alagoas, edição de 30 de dezembro de 1934, noticiou as
demissões, por ordem de Getúlio Vargas, a bem do serviço público e moralidade da classe,
dos funcionários Raul Camaratti e Cyro Affonso Pontes.
No Rio de Janeiro, os grevistas reuniram-se em 31 de dezembro de 1934 na sede da
Associação Brasileira de Imprensa para reafirmar a legitimidade do Comitê de Greve
demitido pelo presidente Getúlio Vargas e reafirmar que as autoridades do governo deveriam
negociar diretamente com os membros do Comitê36. Em cinco dias de paralisação, os jornais
noticiavam reclamações dos comerciantes que cobravam da Associação Comercial uma
posição em relação ao fato. Um importador de livros da Rua 15 de novembro reclamava na
Folha da Noite dos transtornos que o movimento ocasionou na vida de seu estabelecimento
comercial.
Já há cinco dias que não recebemos qualquer correspondência. Não conseguimos
retirar nem mesmo as encommendas postaes chegadas da França e que se achavam
desembaraçadas no dia em que rebentou a gréve. Por diversas vezes innumeros
commerciantes meus conhecidos, inclusive alguns collegas de ramo, procuraram
avistar-se com o director dos Correios, na esperança de obter parte da
correspondência que não lhes chegou as mãos. Mas essas tentativas tem sido
infrutíferas. O serviço postal está inteiramente paralysado e, sem o pessoal effectivo,
difficilmente poderá atender-nos (Folha da Noite, edição de 31 de dezembro de
1934).
36

O Jornal de Alagoas, edição de 30 de dezembro de 1934, noticiou a demissão, no Rio de Janeiro, dos
funcionários Francisco Assis Cavalcante e José Rego Barros. Entretanto, não há afirmação de que os mesmos
faziam parte do Comitê de Greve. Veja nota:
A GREVE NOS CORREIOS
Rio, 29 – Entre os funccionarios postaes demitidos, figuram os srs. Francisco Assis Cavalcante e José Rego
Barros, presos hontem quando distribuiam boletins insultuosos aos companheiros que não adheriram á
greve fracassada. (Grifo nosso)

51

Diante da situação delicada a Folha da Noite, edição de 03 de janeiro de 1935,
noticiou que um grevista havia sido obrigado a trabalhar.

Trata-se de coação que teria sido praticado na pessoa do sr. Cazemiro Vieira de
Miranda, que esta tarde foi, ao que se afirmou na reunião, detido por inspectores a
porta dos Correios, sendo obrigado a trabalhar na 7ª secção, no preparo de malas que
deveriam seguir com o trem da tarde. Aquelle funcionário conseguiu evadir-se,
segundo se affirmava e levou tal facto ao conhecimento do comitê de gréve (Folha
da Noite, edição de 03 de janeiro de 1935).

Em 04 de janeiro de 1935, a imprensa noticiava o acentuado restabelecimento dos
serviços postais em São Paulo e o fim da greve no Rio de Janeiro após a mediação do ministro
da Marinha. Sem avanços ou conquistas, o movimento foi definhando com o tempo e pelo
cansaço dos paredistas a greve chegou ao fim. Em seguida, o governo revogou a portaria de
demissão de todos os diaristas dos Correios que voltaram ao trabalho. A pretensão dali por
diante era atualizar o fluxo e a distribuição postal, inclusive com a colaboração de cinquenta
escoteiros cedidos pela Federação Brasileira de Escoteiros para ajudar na entrega das
correspondências em São Paulo (Folha da Noite, edição de 05 de janeiro de 1935). Pouco
depois, os servidores que não aderiram à greve pediram ao governo a revogação das
demissões de colegas participantes do movimento de classe – o que indica a possibilidade de
as dispensas não terem sido sustadas.
Embora as conquistas não tenham sido visíveis, esse movimento reivindicatório
ocorrido principalmente no Rio de Janeiro e São Paulo sem o respaldo de uma instituição de
classe própria dos trabalhadores dos Correios, nos remete a Jorge Ferreira quando este afirma
que “é preciso evitar a abordagem de que o projeto político-ideológico varguista teria
dominado as mentes das pessoas, incapacitando-as de manifestarem qualquer avaliação
crítica, de interpretarem sua realidade social e de reivindicarem seus direitos” (FERREIRA,
2011, p. 37). Ainda segundo o autor (2011, p. 47), “elas [as pessoas] não dispunham apenas
de informações, interpretavam os acontecimentos políticos de acordo com suas experiências,
expectativas, necessidade e tradições, formulando, desse modo, uma história política recente
do país.”
De qualquer modo, as dificuldades financeiras amargadas pelos trabalhadores postais
permaneceram após o movimento grevista. Veja o que aponta a carta de Amazilia G. da Silva
endereçada ao presidente da República em 1940

52

Premida pela necessidade venho respeitosamente perante Vº Exª pedindo que me
perdôe lhe importunar, sou agente de Correios na Estação de Inhoaiba D. Federal a
21 anos ganhando o mesmo quando comecei, 80$ por mês e a velhice já vem perto,
tenho 6 filhos, 4 na escola e o mais velho agora é que vai fazer exame de admissão
na Escola P Santa Cruz, meu marido é empregado da Prefeitura, trabalhando à 12
anos com ordenado de 400$000, quando só o armazém consome 350$000, para 8
pessoas! é o bastante para Vº Ex avaliar como passo pobresa em toda plenitude, pelo
exposto peço por equidade um pequeno aumento de vencimentos a exemplo de
minha colega de Paciencia que menos antiga e ganha o triplo (Processo nº 2.213.
FSPR. Série Movimentação de Pessoal, Subsérie Geral, caixa 247, 1940 apud
FERREIRA, 2011, p. 101)

Apesar da continuidade das dificuldades financeiras tão presentes na categoria dos
Correios, outra greve desprovida da condução de uma instituição sindical ou de classe veio a
ocorrer somente 44 anos depois, em São Paulo, no ano de 1979. Neste interim, possivelmente

O aparato repressivo ter-se-ia dedicado a eliminar os setores mais combativos da
classe, aniquilando as veleidades autonomistas do movimento operário e solapando
as bases do sindicalismo mais avançado. A polícia, a legislação autoritária, os
tribunais de exceção e o Estado ditatorial teriam impedido os trabalhadores mais
organizados de seguirem os caminhos “naturais” que os conduziriam a uma
autêntica identidade política (FERREIRA, 2011, p.23)

Obviamente que entre o final de 1945 a 1964 o Brasil viveu um período democrático
em que a classe trabalhadora alcançou certa liberdade política e de ação. Entretanto, no caso
dos Correios, não foi encontrado qualquer movimento de classe ou reivindicatório que nos
permitisse uma discussão acerca do período. Porém, vestígios da presença militar no
Departamento de Correios e Telégrafos podem ser observados na condução da Diretoria
Regional dos Correios do estado de São Paulo, que em outubro de 1945, nos momentos finais
do Estado Novo, tinha a frente o major Landri Sales (Folha da Manhã, 25 de outubro de
1945). Curiosamente, com a renúncia de Getúlio Vargas a Presidência da República, o
edifício sede dos Correios em São Paulo passou a ser guardado por soldados do Exército.
Possivelmente por razões políticas, pois segundo o jornal Folha da Noite, edição de 30 de
outubro de 1945, a medida tinha como propósito censurar os telegramas emitidos e recebidos
a partir das 22 horas de 29 de outubro, data da renúncia de Vargas.

53

1.3 A presença militar na ECT após o Golpe de 1964

Após um breve período democrático que se findou com a deposição do presidente
João Goulart em 1964, os militares “voltaram” a atuar incisivamente nas estruturas
organizacionais dos Correios. Barros Neto esclarece o termo “voltaram” procurando
demonstrar a postura militar nos Correios entre 1945 e 1964.
Quando falamos em “volta” não quer dizer que tenham de fato saído, mas que houve
um período em que mesmo estando à frente do Departamento de Correios e
Telégrafos e em várias funções chave na administração pública, por diversas razões,
não puderam ou não quiseram imprimir a mesma forma de gestão que se verificou
na década de 30 e primeira metade da de 40.
Isto é perfeitamente explicável quando consideramos que Pettigrew (1985)
identificou em seus estudos que eventos externos à organização, principalmente
políticos, influem significativamente nos rumos e na própria definição das
estratégias organizacionais. Ou seja, especialmente durante o Estado Novo e após a
Revolução de 1964, o contexto no meio ambiente externo dos Correios era
extremamente favorável a que os militares exercessem de fato sua autoridade, como
se estivessem em uma organização militar, o que não se verificou durante o intervalo
1945-1964, embora ainda permanecessem no comando do Departamento 37.
(BARROS NETO, 2004, p.67)

Pela citação percebe-se que, embora os militares tenham permanecido à frente da
administração dos Correios com o fim do Estado Novo, a nova conjuntura política e o período
democrático estabelecido no país não foram favoráveis para que os militares estivessem à
vontade para empreender sua lógica administrativa militar nos Correios. Por se tratar de uma
organização civil, num período democrático, provavelmente orientações políticas e de
governo, em especial nas presidências de Juscelino Kubitschek e de João Goulart, impediram
os militares de administrar os Correios nos moldes de quartel.
Na esfera administrativa federal, João Goulart insistia na conciliação das diferentes
correntes políticas, de forma a garantir um mínimo de governabilidade. Para tanto, ele
desejava a reedição da histórica aliança entre PTB-PSD. (MATHIAS, 2004, p.64). De modo

37

De 1945 a 1964 vários foram os militares que conduziram os rumos do Departamento e das respectivas
Diretorias de Correios e de Telégrafos. Segundo Barros Neto (2004, p. 67), “destacam-se Coronel Raul de
Albuquerque, Coronel Adauto Pereira de Melo, Coronel José Alberto Bitencourt, Tenente-Coronel Dagoberto
Ribeiro, Tenente Coronel Everardo de Simas Kely, General Fernando Menescal Villar, General Rubens Rosado
Teixeira”.

54

geral, os militares que ocuparam cargos civis em seu governo não eram militares em sentido
restrito, mas híbridos, ou seja, políticos que um dia serviram às Forças Armadas38.

Pelo menos no primeiro escalão, essa participação era pequena. Nos outros níveis da
administração federal, há notícias que membros da caserna dirigiam o Departamento
de Correios e Telégrafos (DCP) e administravam a Estrada de Ferro Leopoldina,
ambos ligados ao Ministério da Viação e Obras Públicas. Aliás, era esse ministério,
seguido pelo da Justiça (por causa do controle da Polícia Federal), que
historicamente se localizava o maior número de militares (Johnson, 1968).
Talvez isso explique, pelo menos em parte, a facilidade com que Jango caiu.
Conforme orienta Benevides, o presidente permitiu, por um lado, que os militares se
unissem em torno de uma ideia (o combate ao comunismo que estaria sendo
perseguido pelo presidente) e, por outro, não os cortejou o suficiente (atendendo,
pela nomeação para cargos na administração, aos diferentes grupos militares) para
mantê-los afastados da política. (MATHIAS, 2004, p. 65)

A partir de 1964, com a conjuntura política nacional sob o controle das Forças
Armadas e a crescente participação militar na administração pública39, tendo a frente o
Exército Brasileiro, estas demonstraram preocupação pela forma como se encontrava o
Departamento de Correios e Telégrafos, dirigido no governo de Castelo Branco (1964-1967)
pelo general Fernando Menescal Villar. Os militares tinham a visão de que durante o período
democrático o DCT se transformara numa repartição de desserviço público dependente de
minguada verba orçamentária que sequer dava para pagar os funcionários.40
O retorno dos militares, anteriormente existente em caráter pragmático, e
principalmente de suas práticas administrativas nos Correios, ganhou força quando a
administração militar voltou a ser ensinada nas escolas de formação para civis, a partir de
convênio com duração de sete anos (1971-1978) com a Pontifícia Universidade Católica do
38

Dos 23 membros efetivos que passaram pelos doze ministérios civis, apena um era militar, o almirante
Ernâni do Amaral Peixoto, que ocupava a pasta Extraordinária para a Reforma Administrativa. Porém, na
época de sua nomeação, era deputado federal pelo PSD, e foi nessa condição que o presidente o chamou para o
governo.
Outros dois ministros passaram pela caserna: Expedito Machado, nomeado em junho de 1963 para o Ministério
da Viação e Obras Públicas; e Wilson Fadul, que como médico, ingressou na Aeronáutica e foi nomeado,
também na reforma junina, para a saúde. Outro ministro da Saúde, Paulo Pinheiro Chagas, frequentou o
Colégio Militar, mas não concluiu seus estudos. (MATHIAS, 2004, p. 64)
39
Se comparado ao governo Jango, a participação militar no ministério de Castelo Branco cresceu seis vezes.
Considerando o rodízio de ministros, quase um quinto dos cargos esteve em mãos militares sob Castelo Branco.
Tomando apenas o número de ministérios, quase metade (50%) foi ocupada, em algum momento, por membros
da caserna. (Ibidem. p. 68)
40
Em 1964, entre os órgãos públicos que mais diretamente preocupavam os responsáveis pela Revolução se
encontrava o então Departamento de Correios e Telégrafos, carente de uma rápida e profunda transformação.
Repartição tradicionalmente citada como exemplo de desserviço público, era o estuário de todas as mazelas
administrativas estimuladas pelo descaso com que eram tratados os serviços postais e telegráficos. Mera unidade
departamental, integrante do Ministério da Viação e Obras Públicas, vivia o DCT à mercê de escassas verbas
orçamentárias que mal davam para pagar os funcionários. (ibidem, p. 22)

55

Rio de Janeiro, para a realização do Curso de Administração Postal. Anteriormente, em 23 de
Abril de 1934, pelo Decreto de nº 24.156, Getúlio Vargas criou a Escola de Aperfeiçoamento
do Departamento de Correios e Telégrafos (EACT), de matriz evidentemente militar, com a
finalidade de estabelecer o preparo técnico e teórico do funcionalismo, por professores e
instrutores idôneos tirados dos quadros superiores do DCT. (BARROS NETO, 2014, p.
126/127).
A Escola também estimulou uma forte e visível integração entre o funcionalismo
público do DCT com os militares da ativa do Exército e da Marinha. Estes faziam cursos de
revisão de radiotelegrafia na EACT, disseminando valores e comportamentos militares para o
efetivo civil dos Correios (BARROS NETO (2014, p. 129); BRASIL (1943, p. 192).
Essa formação teve continuidade pelos anos seguintes com a criação da Escola
Superior de Administração Postal - ESAP41. Fato que confirma, como se verá mais adiante, a
consolidação da cultura administrativa militar entre gestores postais civis42 através das escolas
de correio devido à presença de militares e de professores civis para instrução nessas
instituições de ensino. Forçoso se faz comparar estas experiências escolares postais com a das
escolas militares (BARROS NETO, 2014, p. 137). Em seus cursos se aprendia legislação
postal e telegráfica, interna e internacional, contabilidade, administração e tráfego,
matemática aplicada, eletrotécnica, radiotelegrafia, radiotelefonia, prática eletromecânica de
aparelhos, construção de linhas, levantamento de cabos, etc. (ALMEIDA apud BARROS
NETO, 2004, p. 76)
João Pinheiro de Barros Neto, em suas pesquisas colheu depoimentos de ex-alunos da
ESAP (2004, p. 78). Veja o que diz um deles43:

Quando cheguei na ESAP foi um choque. Nunca tinha ficado fora de casa, tinha 19
anos e de repente estava numa cidade longe, morando com pessoas estranhas,
passando o dia trancado em sala de aula. Nosso lazer eram as aulas de educação
física, obrigatória para todos, inclusive para as poucas mulheres, umas 15, dentre os

41

A ESAP foi criada pelo presidente da ECT, coronel Adwaldo Cardoso Botto de Barros, em 1978 sendo esta a
primeira da América Latina e a quinta no mundo. Sua metodologia de ensino era a de formar administradores
voltados para a filosofia da ECT e somente chegavam ao final do curso homens alinhados a essa filosofia,
tecnicamente preparados e, fisicamente aptos e dispostos para o trabalho.
42
O processo de seleção para o ingresso na ESAP era rigoroso. Os candidatos deveriam se submeter a
concorrido concurso público, a exame de saúde semelhante aos realizados para ingresso nas escolas militares. O
curso era em período integral, onde o aluno ficava isolado do convívio familiar como parte do requisito para a
disciplina e dominação.
43
O autor não publicou o nome do ex-aluno entrevistado. Sabe-se apenas que a entrevista é uma descrição de um
período na ESAP do final da década de 1970 e início da de 1980.

56

mais de 330 homens em todos os cursos. Como sobrevivíamos de uma bolsa de
meio salário mínimo, aos fins de semana só nos restava ficar em casa, estudando.
Os professores pareciam militares e o coordenador era mesmo um coronel do
exército: barbas tínhamos que fazer todos os dias, tênis [sapato] era proibido, cabelo
sempre curto, respeito total aos professores e aos funcionários da escola.
Todo final de semestre era uma tristeza, pois invariavelmente uns dois ou três eram
desligados por notas baixas, mas a gente sabia que era porque não estavam no
esquema, eram sempre os mais rebeldes.
“Antes de entrar na ESAP tinha feito Escola Preparatória de Cadetes do Exército e
mais um ano de AMAN, mas na ESAP era a mesma coisa. A única diferença era que
a gente estudava mais e ralava menos fisicamente, mas a disciplina era a mesma.
Uma vez o coronel me fez voltar para casa para fazer a barba”. (BARROS NETO,
2004, p. 78)

Percebe-se nas citações acima a presença feminina, embora em minoria, no quadro de
alunos da ESAP. Fato que chama atenção, já que não era prática das Forças Armadas preparar
mulheres para ocupar cargos de comando, apesar de ser a ESAP uma escola de natureza civil,
mas subordinada ao comando de militares à frente da Empresa de Correios e Telégrafos.
No geral, a seleção priorizava alunos do sexo masculino que ao serem admitidos após
processo seletivo concorrido e rigoroso, passavam a ter uma rotina de quartel.

Uma alternativa pouco conhecida para quem se encaminha para a área
administrativa é o curso de Administração Postal, mantido em Brasília pela Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). Aberto a qualquer brasileiro entre 18 e 25
anos, com segundo grau completo, o curso dura 2 anos e meio com horário integral.
Os alunos tem direito a alojamento gratuito, transporte e alimentação subsidiados e
assistência médica-hospitalar, além de uma ajuda de custo de um salário mínimo e
meio (Cr$ 500 mil).
Curso oferece 120 vagas anuais, mas a concorrência é dura: no último vestibular
inscreveram-se 374 candidatos para cada vaga. Uma das razões para essa procura é
que os egressos do curso tem emprego garantido em uma das 31 diretorias regionais
da ECT. (Dicas. Folha de São Paulo, edição de 23 de outubro de 1985, p. 25)

Ao que parece, a EACT e posteriormente os Centros de Treinamento e a ESAP tinham
missões bem consoantes com aquelas esperadas de uma escola militar (BARROS NETO,
2014, p. 138). Desse modo, começa a ficar perceptível o propósito de se formar uma elite de
administradores pautada numa lógica militar, numa simbiose entre militares e Correios para
disciplinar as atividades postais e que se voltou contra o desenvolvimento da organização
sindical nos Correios durante a década de 1980 e seu sufocamento nos anos de 1990.

Isto, a nosso ver, está coerente e se explica facilmente pela própria cultura militarempresarial característica dos Correios pós-64, ou seja, a administração ‘sendo de
formação militar, não podia ver os problemas (...) sob ângulo que não fosse
também, militar’.” (FERREIRA apud BARROS NETO, 2004, p. 133).

57

Observe que Oliveiros da Silva Ferreira, em sua obra A Crise da política externa:
autonomia ou subordinação?, citada acima por Barros Neto, reconhece a administração dos
Correios como de formação militar. Diante dessa lógica, nos próximos capítulos
demonstraremos que ocorreram ações de ataque contra os funcionários que se opunham à
política salarial da ECT, tida como normal por uma empresa dirigida por militares e
posteriormente por administradores que assimilaram essa cultura administrativa. Ainda
segundo Barros Neto (2004, p. 158), tal postura foi influenciada muito fortemente pela cultura
militar dos Correios, pois ao passarem pela organização, os militares deixaram-na impregnada
de seu conceito de moralidade, probidade e honra.
Quanto à formação de nível médio para técnicos postais, técnicos de telegrafia e rádio
telegrafia, mecânicos, construtores de linhas e outros especialistas, esta se dava nos Centros
de Treinamento de Porto Alegre, Belo Horizonte, Bauru e Recife. (Ibidem, 2004, p. 77).
Posteriormente, o Centro de Treinamento de Bauru foi desativado e em julho de 1989 foram
criados os Centros de Treinamento do Rio de Janeiro e São Paulo. Diversos funcionários dos
Correios em Alagoas, vários com o nível de escolaridade elementar, ao se tornarem
funcionários da ECT passaram por cursos de formação para técnicos ou monitores postais no
Centro de Formação de Recife44. Daí, passaram a pertencer a um “grupo especial”, sendo
aceitos como parte da equipe (dos administradores postais) e prontos para assimilarem e
reproduzirem as habilidades administrativas pautadas na ordem e disciplina militar ensinadas
na ESAP e, em diversos momentos, aplicadas como medidas disciplinadoras e punitivas a
trabalhadores dos Correios em todo o Brasil.

As aulas são puxadas e a disciplina é rígida quando o coordenador-geral do curso, o
coronel da reserva Telmo Saraiva Vaz, 63 anos, entra numa classe, os alunos
levantam-se para recebê-lo. (Isto É. “As Cartas no Bom Caminho”, 28/3/1984 apud
BOVO, 1997, p. 57)

Ainda mais interessante é que tais escolas tenham sido não só uma estratégia de
capacitação, mas também um meio de difusão de cultura e valores comuns pela organização
(BARROS NETO, 2014, p. 121). A citação mostra como, no treinamento, o aluno ou
funcionário aprende a disciplina autoritária. Ele a reproduzirá como subordinado ou como
44

Os Centros de Treinamento não atuaram apenas na formação dos recém admitidos pela ECT, mas também na
formação dos que já estavam na empresa.

58

chefe45 contra os trabalhadores desalinhados com a administração repressiva nos Correios.
Seja no aspecto profissional, durante a execução das tarefas, seja no aspecto político, durante
o processo de organização sindical. Essas formações ocorreram a partir das mudanças
políticas, econômicas e sociais no Brasil após o golpe de 1964, a exemplo do “milagre
econômico46” nos anos iniciais de 1970.
Com o golpe que depôs o presidente João Goulart, o regime autoritário precisava de
legitimidade política, e a única forma de obtê-la era pelo crescimento econômico. (LUNA;
KLEIN, 2014, p. 95). Já em 1971, “o I Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND) prometia
transformar o Brasil em ‘nação desenvolvida’ dentro de uma geração.” (PRADO; EARP,
2003, p. 221). A viabilidade dessa promessa passaria por investimentos em setores como o
siderúrgico, petroquímico, transporte, construção naval, energia, comunicações e mineração.
A responsabilidade dos investimentos ficou a cargo do Ministério da Fazenda, tendo a frente
Antônio Delfim Neto que aproveitando as excelentes condições do mercado internacional
colocou em prática seu programa de crescimento através de uma política econômica
expansionista e criou um amplo sistema de subsídios para várias áreas da economia, a
exemplo da agricultura e das exportações. Além do que, passou a atuar mais intensamente por
intermédio das empresas públicas através de incentivos e subsídios nas estatais. O Estado
45

O papel essencial do chefe era de manter a aplicação da regulamentação e de fazer aceitar uma disciplina.
(Relatório de Síntese Final 13/9/76 a 12/9/77, p. 17 apud Bovo, 199, p. 87)
46
O Brasil passou por transformações econômicas de peso em fins da década de 60 e na década de 70. A
ditadura impôs um novo modelo, que foi chamado de “milagre econômico”. Esse novo modelo se apoiava na
expansão industrial e de serviços, voltada ao consumo de bens duráveis, como automóveis, eletrodomésticos etc.,
e à penetração das multinacionais em associação com o Estado e as empresas nacionais. Esse modelo aumentou
o parque industrial em forma nunca antes vista. A média de crescimento industrial entre 68 e 71 foi de 12% ao
ano [...].
Havia um tripé da acumulação entre a burguesia estrangeira, a nacional e o Estado. O Estado garantiu a
infraestrutura de serviços necessária à acumulação privada na indústria e no setor financeiro. A integração
(transporte e telecomunicações) entre os diferentes estados e o fornecimento de energia e insumos a baixo preço,
bancada pelo Estado, facilitou essa acumulação; altas taxas de lucros eram garantidas por subsídios à indústria e
por um grande arrocho salarial e condições de trabalho opressivas (extensão da jornada, ritmos de
trabalho infernais etc.). (Welmowicki, 2004, p. 43) (Grifo nosso)
Para Luiz Carlos Delorme Prado e Fábio Sá Earp, “a expressão ‘milagre econômico’ foi usada pela primeira vez
em relação à Alemanha Ocidental. A rapidez da recuperação desse país na década de 1950 foi tão inesperada que
muitos analistas passaram a chamar o fenômeno de ‘milagre alemão’. A expressão foi posteriormente repetida
para o crescimento japonês na década de 1960. Finalmente, na década de 1970, a expressão ‘milagre brasileiro’
passou a ser usada como sinônimo do boom econômico observado desde 1968 – e também como instrumento de
propaganda do governo. (PRADO; EARP, 2003, p. 219)
Para José Paulo Netto a expressão “milagre econômico” é imprópria por acreditar que “em economia milagres
não existem.” Ainda segundo Netto, “aquele processo, que concretizou o “modelo econômico” próprio do ciclo
ditatorial, teve objetivos e causas bastante definidos, sujeitos e beneficiários nitidamente identificados e também
um enorme contingente de prejudicados suficientemente conhecidos – precisamente o grosso da população
brasileira” (NETTO, 2014, p. 147).

59

passou a exercer comando quase absoluto sobre as principais decisões públicas ou privadas na
área econômica. Por fim,

O Estado era o grande produtor de eletricidade, aço, minerais, combustíveis,
fertilizantes e produtos químicos, entre outros insumos; controlava os serviços
portuários, as telecomunicações e as ferrovias; e exercia papel fundamental no
sistema de crédito. (LUNA; KLEIN, 2014, p. 95) (Grifo nosso)

De qualquer modo, o modelo era concentrador de renda sendo que o regime
reproduzia o favorecimento das elites latifundiárias e os grandes grupos monopolistas
deixando um terço das famílias brasileiras abaixo da linha de pobreza absoluta. Apenas os 5%
dos mais ricos encontraram viabilidade no tão propagado “milagre econômico” enquanto uma
classe média, em torno de 15%, se beneficiava ligeiramente das ações econômicas dos
militares. Contudo, a população composta por maioria de trabalhadores ficou de fora da
partilha de um capital monopolista sob forte intervenção estatal e subordinado ao capital
estrangeiro (NETTO, 2014, p. 156).
No âmbito dos Correios, interessa-nos especificamente os investimentos em
comunicações, mais precisamente a partir da década de 1960 quando a estatal passava por
dificuldades operacionais em virtude de equipamentos obsoletos, de instalações precárias e
pouca verba orçamentária. Nesse período, o então Departamento de Correios e Telégrafos
estava vinculado ao Ministério de Viação e Obras Públicas47 e tinha que disputar recursos
financeiros com outros Departamentos, tais como os de Portos, Rodovias, Ferrovias, Marinha
Mercante, Saneamento Público e obras Contra as Secas.
Em razão desses problemas, as reclamações por parte dos usuários eram constantes.
Alagoas, por exemplo, em 1960 contava com uma população de 1 271 062 habitantes
superando a contagem do último senso referente ao ano de 1950 quando o estado tinha 1 093
137 habitantes. Maceió, por atrair fluxos migratórios da área rural, em 1960 contava com uma
população de 170.173 habitantes (LIMA, 1965, p. 158 e LIRA, 2014, p. 39). Infelizmente não
foram encontrados registros que indicassem admissões significativas de funcionários pelos

47

Esse Ministério teve outras denominações:
1860 a 1891 — Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas
1891 a 1906 — Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas
1906 a 1967 — Ministério da Viação e Obras Públicas
1967 a 1990 — Ministério dos Transportes

60

Correios entre 1960 e 1970 objetivando atender à crescente demanda por mão de obra em
razão do progressivo aumento populacional no estado.

1.4 A criação da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos

Dois anos antes de se iniciar todo o processo de estruturação educacional voltado para
os serviços postais, o Departamento de Correios e Telégrafos48, através do Decreto-Lei nº 509
de 20 de março de 1969, passou a ser Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, regida
pela Consolidação das Leis Trabalhistas, vinculada ao Ministério das Comunicações49 e
dotada de amparo legal para definir sobre a continuidade ou dispensa de seus funcionários.
Enquanto empresa, a partir da década de 1970, os Correios passaram a se interessar
por um maior controle sobre o processo de fornecimento de serviços adotando os princípios
da organização racional do trabalho. Para Bovo (1997, p. 32), “O controle sobre o processo de
trabalho, por parte da gerência, na Administração Científica, depende de dois princípios
fundamentais: a separação entre concepção e a execução, e o autoritarismo.” Ou seja, para
separar a concepção da execução, o trabalhador perdeu para a gerência o poder de decisão
sobre seu próprio trabalho. Desde então, a gerência passou a definir antecipadamente as metas
e a organizar a pronta execução dos serviços pelos trabalhadores postais.
Quanto ao autoritarismo, Bovo se baseia em Max Weber para afirmar que ele se
complementa com a concepção e a execução por meio de uma disciplina coercitiva. Fato é
que nas empresas que se pretendiam autossuficiente ou auto rentável, a exemplo dos Correios,
o autoritarismo se apresentava desde as perseguições políticas a imposição de metas
insalubres por parte da gerência. Dentre estas, estavam as exigências do transporte braçal de
bolsas de cartas com excedente de peso (15 kg no mínimo) a serem completadas à medida que
o utensílio ia se esvaziando durante o percurso sob sol escaldante ou chuva; ao subir e descer
terrenos íngremes; ao iminente risco de ataques de animais ou atropelamentos.
Desse modo, nos centros de distribuição domiciliária, a organização das atividades se
dá até hoje pela gerência e pelo supervisor50. Este último, no caso da área operacional dos
Correios, incumbido diretamente de vigiar carteiros e operadores de triagem e transbordo
48

O general Rubens Rosado Ferreira era o mandatário do DCT no governo de Costa e Silva (1967-1969) e foi o
primeiro presidente da ECT após a mudança de Departamento para Empresa.
49
Criado pelo decreto-lei nº 236/1967 de 28 de fevereiro de 1967 do presidente Castello Branco.
50
Geralmente o supervisor era um carteiro escolhido pela experiência ou apadrinhamento político para exercer
as tarefas de acompanhamento e de organização referentes as atividades de distribuição.

61

quanto ao cumprimento das instruções para se executar as tarefas de distribuição das
correspondências. Ainda segundo Bovo, “a questão do autoritarismo na Organização Racional
do Trabalho foi ressaltada, também, por Tragtenberg”:

Elemento básico na teoria clássica da administração, em Taylor e Fayol, é o papel
conferido à disciplina copiada dos modelos das estruturas militares.
Para Fayol a autoridade na empresa possui direito divino, emite comunicações de
cima para baixo e recebe de baixo para cima. A essa concepção mecanicista do
processo de comunicação Fayol junta a ênfase na centralização da decisão,
hierarquia, ordem, disciplina e da unidade de comando. (TRAGTENBERG apud
BOVO, 2003, p. 35)

Percebe-se a partir desses princípios o propósito da perda da autonomia do trabalhador
sobre seu próprio trabalho. Ou seja, o funcionário não poderia mais definir por conta própria
qual tarefa deveria ser executada durante seu expediente, qual rua teria distribuição de
correspondência em determinada data, o que era ou não prioridade na execução dos serviços
postais. Esta prerrogativa passou para o controle da gestão sob a justificativa de se elevar a
produtividade postal nas diretorias regionais por todo o Brasil para que se atingisse um
patamar superavitário, para que uma empresa tecnicamente sem fins lucrativos e com o
discurso de uma função social importante passasse a dar lucro.
No período correspondente à fase inicial da empresa de Correios e Telégrafos (1969)
até a promulgação da Constituição de 1988, tida por Daniel Aarão Reis (2014, p. 125) como o
momento final da transição democrática do Brasil51, o contingente de funcionários na ECT era
significativo e se apresentava como o de uma empresa de grande porte na qual os
trabalhadores da área operacional eram maioria. Veja o quadro abaixo:

Quadro 1 - Evolução do Efetivo Por Áreas de Trabalho (a)
Ano

Administração(b)

Telegráfica(c)

Postal (d)

Total

1969

-

-

-

63.540

1970

-

-

-

63.312

1971

-

-

-

64.336

1972

-

-

-

64.044

1973

-

-

-

64.534

Para Carlos Fico (2012, p. 33), a transição democrática ainda não findou. Veja o que ele diz: “os protestos
conhecidos como “escrachos” ou “esculachos”, que surpreenderam a sociedade brasileira nos últimos meses,
promovidos pelo Levante Popular da Juventude, mostram que a transição está inconclusa, que a marca da
frustação impõe uma retomada.” (Grifo nosso)
51

62

1974

-

-

-

68.574

1975

-

-

-

53.195

1976

-

-

-

54.133

1977

-

-

-

56.291

1978

11.829

10.572

42.161

64.562

1979

11.798

10.592

41.643

64.033

1980

11.141

9.924

42.439

63.504

1981

11.273

9.606

43.428

64.307

1982

11.736

9.457

45.592

66.785

1983

11.619

9.251

45.968

66.838

1984

11.882

9.341

46.934

68.157

1985

11.859

9.382

48.626

69.867

1986

11.259

9.847

53.480

74.586

1987

11.152

9.941

54.979

76.072

1988

10.989

9.586

53.087

73.662

Fonte: Relatórios Anuais da ECT apud Bovo, 1997, p. 36

Analisando os dados do quadro 1, Bovo afirmou que: (a) a ECT não possuía efetivo
dividido por áreas no período de 1969 a 1977; (b) refere-se aos trabalhadores lotados nas
gerências e na Administração Central; (c) refere-se aos trabalhadores operacionais da área
telegráfica; e (d) refere-se a todos os trabalhadores da área operacional, excetuando-se os da
área telegráfica.
Também é importante observar que entre 1967 e 1973, o PNB52 aumentou a uma taxa
média anual de 10%. A economia cresceu e modernizou-se, permitindo a expressiva
incorporação de novos trabalhadores ao mercado formal de trabalho. (LUNA; KLEIN, 2014,
p. 97). Fato que não se confirma nos Correios ao analisarmos o contingente de funcionários
entre os anos de 1969 e 1973, quando houve um aumento inexpressivo de sua mão de obra se
levarmos em consideração o alcance dos serviços postais em todos os municípios brasileiros.
O parco aumento no número de funcionários, a exceção de algumas oscilações para
mais em anos específicos, demonstra a incapacidade dos Correios em acompanhar o ritmo do
tão propalado crescimento econômico do Brasil entre 1969 e 1973 e, por conseguinte, entre
1974 e 1988, dessa vez em razão das graves crises econômicas ocorridas na década de 1980.

52

O Produto Nacional Bruto (PNB) é uma expressão monetária dos bens e serviços produzidos por fatores de
produção nacional, independentemente do território econômico.

63

Em decorrência, se percebe o deslocamento de parte das vagas da área telegráfica para
a de trabalhadores postais, em sua maioria carteiros, entre 1969 e 1988. O que comprova que
o processo de mecanização53 dos Correios, visando à racionalização da mão de obra, não
conseguiu reduzir o número de carteiros devido à natureza do serviço – o da distribuição
domiciliaria de correspondências porta a porta por todo o país (ação impossível de ser
mecanizada). O fato demonstra a dependência da estatal em relação a esses profissionais e nos
leva a pensar sobre a potencial força política dos carteiros enquanto movimento sindical em
ascensão na segunda metade dos anos de 1980. O quadro abaixo reforça essa ideia indicando
em números percentuais o quantitativo de carteiros em relação à força de trabalho da ECT
entre os anos de 1973 e 1986.

Quadro 2 - Quantidade de Carteiros como Percentagem do Nº Total de Ecetistas
Ano

%

Ano

%

1973

12,42

1980

28,78

1974

12,81

1981

29,32

1975

16,58

1982

29,68

1976

16,62

1983

29,75

1977

18,81

1984

29,90

1978

28,06

1985

30,69

1979

28,31

1986

31,83

Fonte: Op. Cit., p. 40

Do ponto de vista político, crescer economicamente era inadiável para esvaziar a
oposição ao regime, frustrada com a manutenção do poder militar (PRADO; EARP, 2003, p.
223). Porém, não havia uma equidade na distribuição das riquezas do país. Nos Correios,
enquanto sua estrutura operacional e administrativa se modernizava e conforme o quadro 2, o
número de funcionários aumentava timidamente levando a prestação de serviços postais
precários, a política salarial deficitária culminou em vários protestos na década de 1980, a
exemplo das manifestações de funcionários na capital paulista em 1987. Os motivos, de

53

Percebe-se que a mecanização foi concebida a longo prazo, sendo que vários estudos foram realizados pelos
técnicos franceses. A previsão era de implantação de sistemas mecanizados em três centros de triagem de
grande porte, que seriam inaugurados no fim da década de 1970 ou início da década de 1980, como de fato
ocorreu; em 1980 foram inaugurados os Centros de Triagem Principal de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília –
junto com as sedes das Diretorias dos estados e correspondentes – todos eles mecanizados. Posteriormente o
Centro Principal de Salvador passou a se utilizar da mecanização, mas em menor escala. (BOVO, 1997, p.63/64)

64

sempre: reclamações quanto aos péssimos salários e as más condições de vida do trabalhador
e de seus dependentes54.
Entretanto, o nível de escolaridade exigido para atuar na área operacional dos
Correios, no cargo de carteiro, por exemplo, era o elementar. Diversos profissionais foram
contratados com a sexta séria primária do ensino fundamental. A escolaridade mínima exigida
pela ECT era uma das justificativas para a má remuneração salarial.
Embora os investimentos e a crescente política econômica favorecessem o
desenvolvimento do país entre 1967 e 1973 com a expansão do emprego e o crescimento no
número de assalariados, mantinham-se o arrocho salarial e a repressão ao sindicalismo para
evitar as pressões salariais. A partir da mudança dos Correios para empresa (1969) e o
oscilante quadro de funcionários, a militarização do Estado se apresentou com maior
intensidade nos anos seguintes entre os ecetistas, inibindo o sindicalismo em virtude da
repressão política no país, da supressão das liberdades, da desconsideração da diversidade, da
identificação do inimigo ideológico nos movimentos sociais, da tentativa de impedir a
ascensão do movimento sindical em seu meio, da censura etc.
A partir de 1970, países anteriormente coloniais ou dependentes mais bem colocados,
a exemplo de Brasil e México, escolheram o caminho do desenvolvimento econômico
planejado ou patrocinado pelo Estado e vieram a ser conhecidos como NICS55 (New
industrializing countries – países de industrialização recente). Entretanto, para Hobsbawm
(1995, p. 344) “produziram burocracia, espetacular corrupção e muito desperdício – mas
também uma taxa de crescimento de 7% nos dois países durante décadas. [...] O setor público
brasileiro era responsável por cerca de metade do Produto Interno Bruto e representava
dezenove das vinte maiores empresas.”
Nesse período, o crescimento econômico veio acompanhado de significativa
concentração de renda em razão da política salarial restritiva que não proporcionava ao
trabalhador o acesso à renda em razão da produtividade. Logo, em se tratando do processo de
modernização nos Correios, máquinas e equipamentos tiveram de ser importados em razão da
falta de tecnologia nacional que atendesse o mercado postal. Ainda segundo Hobsbawm
(1995, p. 261), “o ‘país desenvolvido’ típico tinha mais de mil cientistas e engenheiros para
Vídeo amador intitulado “Os heróis da praça da Sé” ( autoria desconhecida, 1987)
Uma nova categoria, os NICS, entrou no jargão internacional. Não havia definição precisa, mas praticamente
todas as listas incluíam os quatro “tigres do Pacífico” (Hong Kong, Cingapura, Taiwan e Coreia do Sul), Índia,
Brasil e México, mas o processo de industrialização do Terceiro Mundo é tal que Malásia e Filipinas, Colômbia,
Paquistão e Tailândia, além de outros, também foram incluídos. (HOBSBAWM, 1995, 354).
54
55

65

cada milhão de habitantes na década de 1970, mas o Brasil tinha cerca de 250.” De modo que
responsabilizar somente o trabalhador pela deficitária prestação de serviços à população não
refletia totalmente a realidade pela qual passavam os Correios em razão de seu atraso
tecnológico.
Paralelamente ao “milagre econômico”, ao arrocho salarial e à alta concentração de
renda, evidenciou-se a militarização da burocracia nos Correios, ou de parte importante dela.
Essa militarização constituiu a influência direta das Forças Armadas em instâncias estatais de
natureza civil confirmando que o universo das telecomunicações (os Correios não poderiam
ficar de fora) tinha valor estratégico para a consolidação do projeto militar de poder.
Obviamente que esse projeto, no caso do controle militar das comunicações, seria muito mais
amplo transcendendo o mundo postal e adentrando o governo e o Estado brasileiro.

Que determinados setores militares desenvolveram perspectivas gerenciais na
burocracia federal, isto também é certo. Em poucas décadas, o território nacional foi
recoberto pelas comunicações, seja porque os telefones e fax chegaram aos rincões
mais distantes por meio de empresas estatais, seja porque, sob a égide de governos
militares, foram construídas poderosas redes nacionais de rádio e televisão.
Finalmente, há evidências de que a distribuição de cargos nesses ministérios
obedeceu à lógica de acomodação entre grupos dentro das Forças Armadas – alguns
claramente vencedores, outros não inteiramente perdedores -, sem dizer das
secretarias vinculadas ao Serviço Nacional de Informações. Pois nada escapava à
influência desse “monstro”, como o classificou o general Golbery do Couto e Silva,
seu idealizador.56 (OLIVEIRA, Eliézer Rizzo de. Prefácio. In MATHIAS, 2004,
p.13)

Fica evidente a importância do pleno controle, num regime de exceção, das
comunicações para a militarização da burocracia estatal. Aliás, a ocupação de cargos civis por
militares representando a militarização do governo e, consequentemente, do Estado no Brasil
é algo muito maior e mais duradouro do que a simples ocupação de cargos (MATHIAS, 2004,
p. 25).
Nesse sentido, a impressão ou transferência de valores militares para a administração
pública nos Correios em razão dessa militarização da burocracia não se findou após o período
da redemocratização. Ela perpassou toda a década de 1990 e ficou consciente ou
inconscientemente através da administração postal, a serviço do governo federal enquanto
instrumento necessário para barrar as ações sindicais. Garantindo, com isso, um controle
56

OLIVEIRA, Eliézer Rizzo de. Prefácio. In MATHIAS, Suzeley Kalil. A militarização da burocracia: a
participação militar na administração federal das comunicações e da educação (1963/1990) – São Paulo: Editora
UNESP, 2004, p. 13.

66

gerencial sobre os serviços postais e uma desenvoltura empresarial tida como necessária para
a modernização da empresa.
Portanto, diante do até aqui exposto, pode-se definir que num primeiro sentido a
participação militar na administração dos Correios se deu através da presença física de
membros das Forças Armadas em cargos que, por definição eram civis57.

O domínio do processo de decisão nessa área pelos militares foi altamente facilitado
pela capacitação profissional deles. Lembremos que a especialização em
Comunicações é uma das necessidades do preparo para a guerra. Não existia, em
contrapartida, uma demanda por especialistas civis na área em razão da precariedade
do desenvolvimento do setor no país. Assim, por ter o domínio do conhecimento, as
Forças Armadas acabaram por orientar sobremaneira não só as decisões, mas
também a formação (as consciências) dos civis que assumiram o controle na área.
(MATHIAS, 2004, p. 146)

Num último sentido, percebeu-se muito mais a influência militar numa já existente
cultura sobre os processos de decisão por atores civis (corpo gerencial/ou grupo de pessoas)
que comungaram e transmitiram valores e comportamentos militares assimilados em razão do
período em que se deu essa presença física militar. Daí o porquê de na década de 1990,
mesmo sem os militares nos cargos gerenciais, determinados conceitos da caserna terem
permanecido enquanto memória e praticados em ações contra os trabalhadores ecetistas após
a passagem dos governos Sarney, Collor e Itamar. Para Mathias (2004, p. 53), não havia
mudanças nas passagens de governo exatamente porque se criou uma espécie de rede para
garantir a continuidade da presença militar informal mesmo que eles abram mão do poder
formal (ou percam-no).
O caso da influência militar nos Correios contribui para a compreensão do papel que
assumem as Forças Armadas no processo político e administrativo brasileiro. Mantenedora de
sistema educacional que permitia a formação homogênea (padrão) dos quadros da ESAP,
garantindo maior poder aos administradores postais para viabilizar o processo de
Mathias (2004, p.26) ainda chama a atenção para o cuidado com a generalização quando afirma que “ressaltese que não é contemplado pela definição sugerida o preenchimento de cargos civis por militares quando estes são
considerados técnicos competentes e, portanto, ocupam determinado cargo em razão de sua especialização
(como engenheiros de comunicação, por exemplo), como burocratas bem treinados, e não por um critério
corporativista, no qual pesa mais o fato de ser militar do que ser um especialista (o que não significa que ele
deixe de ter atitudes cuja base é a formação recebida na caserna).” Por esta citação é prudente entender que não
houve um pleno e absoluto processo de militarização da administração pública. Até porque “a formação de
profissionais da área, os técnicos ou engenheiros de comunicação, ficou, no início, em mãos castrenses, pois
eram as escolas militares que ofereciam especialização nessa área.” (idem, p. 137)
57

67

modernização, autossuficiência e controle da mão de obra ecetista, essas mudanças ocorreram
em razão do período de crise estrutural pelo qual passou a ECT nos anos anteriores ao golpe
de 1964 e se mantiveram enquanto experiência administrativa a ser preservada para coibir o
surgimento do movimento sindical ecetista na década de 1980 e sua consolidação na década
de 1990.
As administrações nos Correios ao longo do regime militar introduziram um novo
modo de relacionamento, ignorando os ideais democráticos para percorrer o caminho do
desenvolvimento econômico na ECT pelo autoritarismo político-administrativo. “Nesse caso,
encontraram terreno fértil na cultura mandonista que ainda prevalece no Brasil.” (MATHIAS,
2004, p. 59)

1.5 Missões Francesas no Brasil: um novo Correios era possível?

Em 21 anos de regime militar, conheceu-se a reestruturação da administração pública e
mudanças nas relações de trabalho. Uma forma de avaliar essa reestruturação é investigando a
presença militar nos postos-chave de decisão na esfera federal. Entretanto,

Os militares ocupavam cargos não castrenses desde muito antes de 1964, e não só na
esfera pública, como também em empresas privadas. [...] Em pesquisa feita por
Johnson em 1959, a ocupação de cargos civis por militares se contava às centenas, e
entre estes estavam o titular do Ministério da Viação e Obras Públicas e a direção
do Departamento de Correios e Telégrafos.
A ocupação de cargos na administração civil não é, portanto, uma novidade
inaugurada em 1964. O que parece acontecer a partir da chegada dos militares ao
centro do poder é um aumento relativo dessa participação, da mesma forma que se
nota a ampliação das possibilidades em consequência do aumento da participação do
Estado no desenvolvimento econômico. (MATHIAS, 2004, p. 60/63) (Grifo nosso).

Investigando-se por ministérios, Mathias (2004, p. 71) afirma que a maior participação
militar nos altos cargos civis se deu no Ministério das Comunicações (68,7%) ao qual os
Correios e Telégrafos estavam subordinados. Nesse contexto, na década de 1970 as missões
francesas58 exerceram enorme influência no processo de modernização da ECT através de
princípios fundamentados na administração científica. Com isso, o atraso tecnológico e
demais dificuldades encontradas nos momentos iniciais da empresa não fomentaram somente
58

Empresas especializadas no mercado postal reconhecidas internacionalmente e que prestaram consultorias aos
Correios brasileiros fundamentadas nos princípios da administração científica de Taylor, Ford e Fayol.

68

a importação de tecnologia (máquinas e equipamentos) conforme já dito, mas também a
importação de conhecimentos administrativos necessários, do ponto de vista empresarial, para
as mudanças pretendidas.
Durante as atividades desenvolvidas nos Correios, as missões francesas tiveram como
objetivo suprimir trabalhos inúteis, obter melhor rendimento com o mínimo de esforço e o
menor custo num correio que demonstrava ser uma empresa de grande potencial econômico e
político, com debilidade (ausência) sindical dos funcionários, sem legislação social e com
predomínio da oferta sobre a procura no mercado postal de mão-de-obra – fatores estes
importantes para o sucesso das missões no Brasil. (TRAGTENBERG apud BOVO, 1997)

Os problemas enfrentados pela ECT no momento de sua criação, sua enorme
dependência em relação à força de trabalho, a direção militar e as características
apontadas acima por Tragtenberg, tornam-na adequada para a utilização dos
princípios em questão, realizando modificações que não ocorreram no período
anterior à criação da ECT e que grande parte das empresas realiza em algum
momento. (BOVO, 1997, p. 42).

Para a efetiva organização racional do trabalho nos Correios, as missões francesas
definiram que a gerência deveria assumir o controle sobre o processo de trabalho restando aos
funcionários a mera execução das atividades previamente estabelecidas pela gerência, tirando
do trabalhador a responsabilidade pela solução dos problemas emergentes nos locais de
trabalho.
Percebe-se nas citações abaixo, encontradas nos relatórios das missões francesas, o
intuito de tirar do trabalhador a decisão (autonomia) sobre o seu próprio trabalho,
transferindo-a para a gerência, semelhante à visão taylorista (BOVO, 1997, p.44)

Por falta, às vezes, de documentos escritos e frequentemente pela ausência de
fiscalização e de autoridade dos chefes de turma os horários de fechamento são
deixados à iniciativa dos servidores.
A simples presença de monitores de triagem no centro, após um período de
formação e recebendo todo o apoio das autoridades hierárquicas, poderia eliminar
maus hábitos contraídos durante anos pelo pessoal, entregue até então à sua própria
vontade.
...na maioria das vezes o carteiro era o único funcionário que sabia exatamente como
era feita, na verdade, a distribuição externa. (Relatório “Serviço Interno dos Centros
de Triagem & Relatório “Distribuição Externa” apud BOVO, 1997, p. 44).

69

Aplicando-se as ideias de Taylor, as missões francesas pretendiam evitar qualquer
“perda de tempo no trabalho”. Para isso, procurou-se melhor explorar máquinas e
trabalhadores postais durante a execução dos serviços. Ou seja, o pensamento de Taylor foi
aplicado eficazmente para que os Correios tirassem dos trabalhadores a possibilidade de
determinar por si os processos e o ritmo de seu trabalho. Para as missões o mais importante
era encontrar os meios de forçar os ecetistas a darem à estatal o máximo de sua capacidade de
trabalho. Para isso, a tríade racionalização, dominação e exploração passou às mãos da
direção a escolha dos movimentos que deveriam ser executados pelo trabalhador no decorrer
da produção.
Segundo Thompson (1998, p. 282), esse controle sobre a execução dos serviços
“persiste ainda hoje entre os autônomos – artistas, escritores, pequenos agricultores e talvez
até estudantes – e propõe a questão de saber se não é um ritmo “natural de trabalho humano.”
Até a chegada dos franceses, os carteiros se “encontravam” nesta citação de Thompson, pois
tinham o controle sobre as atividades de distribuição chegando a definir o ritmo e os
logradouros que teriam a entrega das correspondências sem que necessariamente houvesse
uma chefia para a fiscalização que os obrigasse ao cumprimento de metas pré-estabelecidas.
De modo que,
Organização e definição de itinerários de distribuição externa, que não deveriam
ficar mais a critério dos carteiros, visando criar na clientela o hábito de ver o
carteiro passar numa hora certa, dando à Empresa a possibilidade de controlar o
funcionamento da distribuição externa. (Op. Cit. p. 45).

Com isso, o percurso percorrido pelo carteiro na distribuição externa ao ser definido
pela gerência, após vários estudos realizados pelos técnicos das missões francesas, confirma a
apropriação e a implantação do pensamento taylorista nos Correios. O estabelecimento de
tempo para a realização das atividades também foi alvo de estudo e alterações. Veja como a
ECT implantou o estudo de tempo:

- Decomposição dos trabalhos em elementos simples, isto é, a análise detalhada de
todos os movimentos do trabalho. Isto se dá de forma esquemática e é denominada
de fluxograma.
- registro do tempo para a realização de cada movimento, por meio de um
cronômetro e um contador de objetos; e
- determinação de um índice (ou coeficiente) para cada movimento. Esse índice
expressa quanto tempo um funcionário leva para efetuar as operações (existe um

70

índice para cada operação). De acordo com o estudo padroniza-se o tempo médio
observado ou impõe-se novo tempo para realizar o movimento.
Esses índices serão empregados para determinar o número de trabalhadores
necessários em cada unidade de trabalho. É a chamada dotação de pessoal. O
número de funcionários lotados jamais pode ultrapassar a dotação de cada unidade
de trabalho. A dotação é calculada por meio da relação: quantidade de objetos
manipulados versus índices dos movimentos a eles relacionados. Chega-se, assim, a
um total de horas para a unidade de trabalho em questão e divide-se pela jornada de
trabalho. Tem-se o número de trabalhadores necessários. (BOVO, 1997, p. 49)

Essa metodologia para se definir os coeficientes de tempo a serem aplicados nas
atividades de distribuição pelos carteiros foi elaborada pelos técnicos das missões francesas
conjuntamente com os técnicos da Assessoria de Planejamento e Controle dos Correios.
Chama atenção a ausência de negociação com os ecetistas para a implantação das novas
mudanças operacionais na ECT. Em pleno regime militar, uma das características marcante
das missões francesas era a imposição do novo processo de trabalho através de documentos e
da fiscalização das atividades laborais com as devidas punições em caso de descumprimento.
Para tal foi criado nos Correios o cargo de monitor, cuja principal função era assegurar a
formação prática dos novos funcionários e fiscalizar o trabalho de um grupo de carteiros
quando em atividade interna ou de distribuição externa.
O novo processo de trabalho foi implantado em todas as unidades operacionais e as
observações para o seu cumprimento ficou a cargo da Inspetoria Regional, uma espécie de
“polícia dos Correios”. Veja o que diz Bovo:

A Inspetoria Regional tem uma atuação mais ampla do que o controle sobre a
execução do trabalho. A Inspetoria verificará, também, se o chefe da unidade
operacional está desempenhando de modo satisfatório o controle sobre a execução
do trabalho. Além disso, a Inspetoria atua em relação às unidades de concepção e
nas unidades operacionais; verifica assuntos tais como: problemas financeiros,
materiais, sindicâncias, problemas com correspondências etc. (BOVO, 1997, p.
56) (Grifo nosso)

A aplicação de todas essas mudanças nos Correios, inclusive o ressurgimento das
Inspetorias Regionais59, encontrou ressonância no autoritarismo dos militares que presidiram
a ECT de 1969 a 1985. Até porque essas mudanças necessariamente precisavam do emprego
da disciplina autoritária – fundamento básico da administração militar –, para serem
implantadas.
Originariamente as Inspetorias Regionais existiram antes de 1969 no Departamento de Correios e Telégrafos –
DCT.
59

71

Observe as citações que seguem:

Houve 2.173 punições disciplinares no ano, que corresponde a uma taxa anual de
3,39%.
O número de processos disciplinares instaurado no ano foi de 1633, que corresponde
a uma média de 136 por mês. Esse número sofreu substancial redução em relação ao
ano anterior, que foi de 534 por mês, isto é, caindo a cerca de 25% do valor de 1971.
(“Relatório Anual da ECT” de 1972, p. 86 apud BOVO, 1997, p. 56)
Muito foi feito desde 1964, principalmente, em matéria de saneamento moral,
restabelecimento da ordem e da disciplina. (Correio Braziliense. Caderno de Cultura,
20/1/80, p. 8 apud BOVO, 1997, p. 56)
O CTN nunca deverá tolerar uma falta grave à disciplina: atrasos ou ausências sem a
devida justificativa, incorreções de linguagem. (‘Relatório de Síntese Final 13/9/76 a
12/9/77”, p. 7 do anexo 4 apud BOVO, 1997, p. 57)
Não existe nenhuma possibilidade de progresso sem ordem. (Relatório “Formação
de Pessoal Especializado”, p. 5 apud BOVO, 1997, p. 57)

Além de defender o controle das chefias sobre as atividades inerentes aos cargos
ocupados pelos ecetistas, as missões francesas procuraram fundamentar sua proposta de
organização racional do trabalho em mais três pilares: autoridade, disciplina e ordem. Para
Bovo (1997, p. 58), “essa visão aparece claramente em dois princípios: a unidade de comando
e a unidade de direção.” Conforme a citação abaixo
O serviço interno dos centros de triagem e o encaminhamento são atividades
complementares que exigem uma sincronização perfeita e só podem ser bem
efetuados sob a autoridade de um mesmo chefe.
Por não ter previsto e organizado esta unidade de chefia o correio brasileiro teve sua
eficácia reduzida e a qualidade do serviço não correspondeu às ambições dos
responsáveis pelo encaminhamento. (Relatório “Serviços Interno dos Centros de
Triagem”, p. 1 apud BOVO, 1997, p. 58)

A primeira citação refere-se à unidade de comando necessária para administrar
diversos setores operacionais dos Correios – os centros de triagem e centros de distribuição
(área operacional) e os setores burocráticos (área administrativa). Na segunda citação, a
referência dessa vez é sobre a unidade de chefia – um responsável pelo Centro de Distribuição
Domiciliária (CDD) ou Centro de Triagem apto a executar as ordens da unidade de comando.
Ou seja, uma unidade de chefia para cada setor de trabalho e uma unidade de comando para o
conjunto dos setores de trabalho.
Em nível de Diretoria Regional (unidade de comando das áreas administrativa e
operacional nos estados), a estrutura administrativa nos Correios permaneceu extremamente
coesa em torno da Administração Central (em Brasília) nas décadas de 1980 e 1990. Sem

72

autonomia, as diretorias regionais estavam limitadas a receber e aplicar nos respectivos
estados as ordens advindas da capital federal. Inclusive aquelas punitivas a serem aplicadas
contra os trabalhadores engajados no movimento sindical ecetista - como veremos mais
adiante.
Nessa lógica da unidade de comando e unidade de chefia, fica claro o princípio entre
concepção e execução nos Correios. Na labuta diária, o trabalhador “pensava o menos
possível sobre como deveria executar suas atividades”, limitando-se apenas à realização de
um trabalho de pouca atividade intelectual e puramente repetitivo, a exemplo das atividades
de tratamento e distribuição de correspondências60. A atribuição para as atividades de maior
raciocínio caberia ao corpo gerencial que impunha ao trabalhador as estratégias para a
execução das tarefas. Em relatório das missões francesas, essa ideia de execução ficou bem
definida: ...os servidores de execução deverão limitar a realizar as tarefas materiais
repetitivas que lhe foram atribuídas... (“Relatório de Síntese Final 15/6/75 a 14/7/76”, p. 63
apud BOVO, 1997, p. 65).
Logo, os conceitos de concepção e execução foram aplicados pelas missões francesas
enquanto parte da organização racional do trabalho no correio brasileiro. Este, da década de
1970 em diante, adotou a lógica do capitalismo disciplinador por meio do controle e do que
Thompson (1998, p. 291) chamou de “uso-econômico-do-tempo”, com gestores desse tempo
dispostos a punir os executores em nome da eficiência e da produtividade objetivando uma
empresa moderna e lucrativa.
Pela supervisão formaram-se novos hábitos de trabalho fundamentados na concepção e
execução das atividades diárias impostas por uma nova disciplina de tempo e, no caso dos
carteiros, de distribuição das correspondências a ser seguida por todos. Caso contrário, sob o
entendimento dos Correios, se manteria uma força de trabalho à custa de perpetuar métodos
ineficientes de execução – com horários flexíveis, intervalos e horas de refeição irregulares e
com a realização das atividades postais sob o gerenciamento dos próprios ecetistas. Situação
incompatível com o capitalismo disciplinador das missões francesas para o mercado postal
brasileiro.

60

O fato de o trabalhador ter sido condicionado a execução de suas atividades braçais (execução) e não ser
permitida sugestões para a execução das mesmas, necessariamente não significa que estes não compreendessem
o processo para a execução das tarefas. Claramente carteiros, operadores de triagem e atendentes comerciais
pensavam sobre suas atividades, porém, geralmente esse pensamento não era aceito ou reconhecido pela chefia
imediata.

73

Procuremos, a partir de agora, desenvolver uma abordagem do processo seletivo da
mão de obra na ECT.

1.6 Seleção da mão de obra e rotatividade

A mudança do Estatuto do Funcionário Público Federal para o regime da
Consolidação das Leis do Trabalho foi decisiva para a redefinição da seleção da força de
trabalho nos Correios. Com a passagem de DCT para ECT passou-se a obedecer ao Artigo
170, parágrafo 2º, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1967 – “Na
exploração, pelo Estado, da atividade econômica, as empresas públicas e as sociedades de
economia mista reger-se-ão pelas normas aplicáveis às empresas privadas, inclusive quanto
ao Direito do Trabalho e ao das obrigações.” A aplicação do acima exposto habilitava a
gestão da força de trabalho nos Correios, seguindo-se as mesmas regras aplicáveis à iniciativa
privada.
Entretanto, nos Correios ocorreu uma particularidade em relação às demais empresas
estatais. A eliminação do concurso público para seleção de pessoal tornou a ECT muito mais
próxima do setor privado, eliminando os entraves burocráticos existentes para a escolha dos
funcionários com perfil adequado às atividades laborais e aptos para assimilar as concepções
do capitalismo disciplinador, era o que se previa.
Até pouco depois da Constituição de 1988, a seleção ou recrutamento para o trabalho
de nível básico61 se dava principalmente com a aplicação de um teste de nível elementar
(matemática e português) e uma entrevista com profissional da psicologia. Para o acesso ao
emprego de nível básico, a escolaridade exigida era a 6ª série primária (BOVO, 1997, p. 92;
Folha de São Paulo, edição de 09 de dezembro de 1987). Após a Constituição de 1988, o
concurso público passou a ser cobrado pela FENTECT62 como obrigatório nos Correios e o
nível de escolaridade avançou para o de primeiro grau completo (ensino fundamental)63.
A baixa escolaridade ou qualificação profissional juntamente com a ausência de
concurso público, a aplicação da CLT para os ecetistas, a oferta de mão de obra superior à
demanda, o frágil poder político e a inexistência de uma organização sindical refletiram de
61

Eram considerados cargos de nível básico os de carteiro, mensageiros, executantes operacionais, atendente
comercial, auxiliar administrativo, motorista entre alguns outros de menor contingente.
62
Veja no quadro 8 a relação de empregados que foram admitidos após 05 de outubro de 1988 sem concurso
público.
63
Atualmente, para o acesso ao emprego a exigência mínima é de ensino médio completo e concurso público.

74

modo decisivo na política salarial da empresa entre os anos de 1969 e 1985. Para Bovo (1997,
p. 76), “assim como a maioria dos trabalhadores do setor privado, os trabalhadores da ECT
também se enquadram nessa situação, com repercussão negativa sobre os salários”.
Diante da baixa remuneração, os dados obtidos por Bovo afirmam que o primeiro
Plano de Cargos e Salários da ECT data de 1974 e que o salário apresentou significativa
deterioração a partir do ano de 1980 quando se iniciou um péssimo período para os
trabalhadores em termos de política salarial em razão das crises econômicas que assolaram o
Brasil no período.
Outra particularidade relacionada aos trabalhadores dos Correios pode ser relacionada
à política de reajustes salariais.

Na medida em que inúmeras empresas do setor público e privado concediam
aumento, a título de antecipação ou definitivo, além do estipulado pela política
salarial fixada pelo governo, os ecetistas recebiam apenas o fixado pelo governo,
obtendo perda salarial em termos reais em vários períodos. Justamente as empresas
que contavam com trabalhadores organizados conseguiram aumentos salariais mais
compensadores, mas não era esse o caso da ECT. (BOVO, 1997, p. 77)

Percebe-se que além das crises econômicas, e outros fatores apontados acima, a
organização sindical tardia entre os ecetistas também foi uma das responsáveis pela
deterioração dos salários já que não havia uma instituição interlocutora para as negociações
coletivas em prol de melhores salários e condições de trabalho. Sem resistência organizada, a
ECT ficou livre para de forma unilateral implantar sua política salarial.

Observe o quadro que segue:
Quadro 3 – Salário Real de Ingresso dos Seguintes Funcionários da ECT: carteiros, mensageiros
e executantes operacionais64

64

Data

Salário Real

Data

Salário Real

1º/7/74

100

1º/9/82

109,14

1º/3/75

112,17

1º/3/83

110,06

1º/3/76

119,08

1º/9/83

96,83

1º/3/77

114,41

1º/3/84

74,06

1º/3/78

115,36

1º/9/84

74,04

Para compreender a metodologia detalhada desse quadro, vide BOVO, Cassiano Ricardo Martines. Os
Correios no Brasil e a organização racional do trabalho – São Paulo: Annablume, 1997.

75

1º/3/79

116,74

1º/3/85

71,48

1º/9/79

124,29

1º/9/85

68,97

1º/3/80

123,24

1º/3/86

53,43

1º/9/80

111,87

1º/3/87

117,14

1º/3/81

109,50

1º/1/88

116,31

1º/9/81

107,35

1º/7/88

87,78

1º/3/82

110.2

Fonte: Departamento de Cargos e Salários da Diretoria Regional de São Paulo, da ECT apud Bovo, 1997, p. 77.

Diante da deterioração salarial, todo o cuidado no processo seletivo para admitir
funcionários que se enquadrassem no perfil de trabalhador da ECT caiu por terra quando em
agosto de 1979 alguns movimentos reivindicatórios começaram a surgir. Em São Paulo, cerca
de 800 ecetistas reuniram-se em assembleia na Câmara Municipal e organizaram uma
comissão provisória para formar uma associação de classe, reivindicar um piso salarial de
cinco salários mínimos e algumas outras reivindicações de menor porte. Segundo a Folha de
São Paulo (edição de 08 de agosto de 1979), a mobilização se iniciou após a morte de Carlos
Aparecido Thomaz, em razão de negligência no atendimento médico dos Correios

O falecimento do funcionário da Serca provocou muita indignação dentro da
empresa, vindo a juntar-se também o descontentamento provocado pela supressão do
cartão-passe no dia 1º de agosto. Representantes de diversos setores da EBCT
procuraram então a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo em
busca de apoio para tentar solucionar as irregularidades que dizem existir na
empresa.
O cel. Oyama Olintho de Almeida, diretor da DR-SP, é acusado de permitir uma
série de irregularidades e de pressionar os funcionários recentemente transferidos da
Embratel, forçando-os à demissão. Os empregados da EBCT denunciam que o
gerente do Departamento de Operações Telegráficas, Guido Moassab Filho , “pessoa
leiga na área e possuidor de indiscutíveis sinais de desequilíbrio emocional” permite
o favorecimento de alguns candidatos nos processos seletivos internos. Informam
ainda que pelo menos 22 carteiros foram demitidos por se haverem negado a realizar
serviços que não eram de sua responsabilidade, acrescentando que muitos boatos
sobre novas listas de demissões continuam circulando. (Funcionários do Correio
querem criar sindicato. Folha de São Paulo, edição de 08 de agosto de 1979, p.21)

A natureza do movimento ficou condicionada à postura da ECT quanto às
reivindicações. Sem greve ou qualquer atitude de movimento paredista desde que os Correios
se dispusessem ao diálogo com a comissão provisória. O vereador Eurípedes Sales, presidente
da Câmara Municipal, chamou a atenção para a ausência de organização dos trabalhadores,
fato que permitia ao governo uma política salarial desumana que levou às manifestações e fez

76

duras críticas ao cerceamento do direito à sindicalização dos trabalhadores dos Correios,
acusando a estatal de controle político das necessidades dos ecetistas visando neutralizar
qualquer mobilização em torno dos seus legítimos direitos.
Em nota na mesma edição da Folha de São Paulo, os Correios admitiram através de
seu presidente, Coronel Adwaldo Cardoso Botto de Barros65, que os funcionários têm o
direito de discutir seus problemas, porém “dentro de um clima pacífico e disciplinado”. Como
militar, Botto de Barros finaliza seu comunicado ressaltando que “jamais permitirá a quebra
da disciplina em um órgão de serviços essenciais à população”. A afirmação de Botto, típica
da caserna, demonstra sob a ótica do governo federal, serem os Correios uma empresa pública
de modelo administrativo militar, de serviço essencial à segurança nacional e alinhada ao
regime de exceção vigente na época.
Ao tratar da ideologia de segurança nacional, o controle da administração pública dos
Correios pelos militares fazia parte de um projeto maior para construção de um Estado
militarmente forte, não interessava o atendimento das reivindicações dos trabalhadores
ecetistas. Mas sim, o empenho no desenvolvimento da Empresa de Correios e Telégrafos
“enquadrado no marco de relações capitalistas de produção e com vigorosa intervenção
estatal” (NETTO, 2014, p. 147).
Quanto à organização em associação de classe na capital paulista, de certo não foi
efetivada em 1979, uma vez que a Folha de São Paulo noticiou que Pedro Porcino66,
liderança do movimento grevista, dentre suas reivindicações, pleiteava o direito à organização
em sindicato ou associação e o fim do regulamento paramilitar que afirmava existir dentro da
empresa (Folha de São Paulo, edição de 07 de março de 1985, p. 28). Sendo a proposta de
criação de uma associação de classe aceita pelo então diretor regional da ECT em São Paulo,
Marco Antônio Angeiras Bulhões, que pediu para que se definisse o estatuto da associação
para posterior análise. (Funcionários dos Correios decidem manter a greve. Folha de São
Paulo, edição de 08 de março de 1985, p. 21). Ainda no mês de março de 1985 foi criada a
associação dos empregados dos Correios e Telégrafos de São Paulo, passando a representar e
liderar as greves entre 1985 e 1989 quando foi convertida para sindicato.

65

Adwaldo Cardoso Botto de Barros era coronel e engenheiro especialista em comunicações. Foi presidente dos
Correios por 12 anos, secretário geral da União Postal Universal – UPU e faleceu em 30 de maio de 2015.
66
Com a criação da Associação dos Funcionários dos Correios e Telégrafos no Estado de São Paulo – Acetesp,
em março de 1985, Pedro Porcino foi seu primeiro presidente.

77

Em julho de 1974, data do primeiro Plano de Cargos e Salários dos Correios, o salário
de um carteiro correspondia a 2,46 salários mínimos se considerado o maior salário mínimo
da época (Cr$ 376,80 nos estados de SP, RJ, MG e DF), e 3,48 salários mínimos se
considerarmos o menor salário mínimo da época (Cr$ 266,42 na região Nordeste). (Boletins
do Dieese de 1975 e 1976 apud BOVO, 1997, p.78)
Na década de 1980 entrava em curso a política de arrocho salarial, os salários dos
ecetistas pioraram e passaram a ser um dos principais motivos para as mobilizações nacionais
a partir de 1985. Os quadros 5 e 6 demonstram essa condição ao comparar o salário do
carteiro ao de outras categorias com nível de escolaridade similar.

Quadro 4 - Comparação Salarial entre Funcionários dos Correios e de Outras Categorias da
Iniciativa Privada.
Função

Salário Médio em 1985

Dif. Em relação aos carteiros.

Clas. Carteiro

845,66

Carpinteiro

768,85

- 9,08%

Comp. tip

963,04

13,88%

Recepcionista

739,04

- 12,54%

Datil. esten.

886,73

4,86%

Vendas/atac./var.

709,00

- 16,16%

Guarda/segur.

832,68

- 1,53%

Fonte: RAIS 1985 apud Bovo, 1997, p.84

Quadro 5 - Diferença em Termos Percentuais Entre os Salários Médios dos Funcionários dos
Correios e de Outras Categorias da Iniciativa Privada.
Função67

Salário Médio em 1986

Clas. Carteiro

2078,33

Carpinteiro

2161,58

4,01%

Comp. tip.

2607,33

25,45%

Recepcionista

1933,67

- 6,96%

Datil. esten.

2322,42

11,74%

Vendas/atac./var.

1937,67

- 6,97%

Guarda/segur.

2173,33

4,57%

Fonte: RAIS 1986 apud Bovo, 1997, p. 84.

67

As funções aparecem nos quadros 5 e 6, como no original.

Dif. em relação aos carteiros

78

Percebe-se nos quadros 4 e 5, nos dois anos, uma grande proximidade salarial entre a
maior parte das profissões. A ECT procurava manter o salário dos trabalhadores de nível
básico (maioria dos ecetistas), a exemplo do carteiro, em patamares próximos ou inferior ao
salário dos trabalhadores da iniciativa privada e não levava em consideração a condição
insalubre ou de periculosidade da atividade de carteiro que pudesse se refletir nos salários.
Quanto à rotatividade, entre 1980 e 1983 esta diminuiu em razão da recessão existente
no país naquele momento. Observe o quadro apresentado por Bovo para o período de 1977 a
1988:
Quadro 6 - Taxa de Rotatividade (%) – Média Mensal
Ano

Taxa

Ano

Taxa

Ano

Taxa

1977

1,817

1981

0,824

1985

1,634

1978

2,221

1982

0,690

1986

3,722

1979

1,805

1983

0,637

1987

2,127

1980

1,080

1984

0,813

1988

1,423

Fonte: Departamento de Cargos e Salários da Diretoria Regional de São Paulo, da ECT apud Bovo, 1997, p. 78

Nota-se que a partir de 1984 a taxa de rotatividade se elevou, porém, há evidências de
que os salários passaram a ficar defasados por toda a segunda metade da década de 1980
levando diversos trabalhadores a deixarem os Correios ou a resistirem por meio da
organização sindical que se gestava no período.
Essa conjuntura de alta rotatividade, administração rígida e de baixos salários elevou o
nível de insatisfação entre os funcionários da ECT culminando com várias greves entre 1985 e
1990. Foi absolutamente inevitável que as greves, a partir de 1985, tivessem uma enorme
centralidade nas ações econômicas e salariais sem esquecer que, paralelamente, havia uma
oposição aos atos administrativos repressivos nos Correios e às péssimas condições salariais e
de trabalho. Oposição esta que encontrou eco nos novos movimentos sociais pela liberdade
sindical. Era, entretanto, uma oposição orquestrada não somente contra a ECT, mas também
contra o governo federal em razão de questões maiores nos campos da política, economia e
“bem estar” dos setores menos favorecidos da sociedade. Acompanhe abaixo matéria do
Informativo ASCOR: boletim dos ecetistas de Alagoas, edição de março de 1987, que reflete
sobre o período.

79

NOVA REPÚBLICA OU A DITADURA DE PALETÓ?!68
OCUPAÇÃO DAS REFINARIAS DA PETROBRÁS pelo EXÉRCITO;
OCUPAÇÃO DOS PORTOS PELA MARINHA DE GUERRA; PRISÕES;
DEMISSÕES; LEI DOS ESTRANGEIROS; LEI DE SEGURANÇA
NACIONAL; LEI DE GREVE; CENSURA À IMPRENSA; PELOTÕES DE
CHOQUE... CACÊTE DA POLÍCIA... ISSO É NOVO??! igualzinho como
antes... Tudo contra os trabalhadores que passam fome e que têm seus
DIREITOS MAIS ELEMENTARES NEGADOS! A lei trabalhista fascista
garante legalmente esta desgraça!
Em 1984 o povo foi às praças exigir DIRETAS-JÁ para presidente. Setores
da OPOSIÇÃO AO REGIME MILITAR, ARTICULARAM-SE com a
DITADURA MILITAR e traíram os anseios do povo, levando a ELEIÇÃO
DO NOVO PRESIDENTE para o mesmo colégio eleitoral espúrio, criado
pelos generais para dar falsa legitimidade ao DITADOR DE PLANTÃO. O
intenso uso dos meios de comunicação de massa e o apoio de setores da
ESQUERDA não foi suficiente para garantir a FARSA! O governo que
investe contra os trabalhadores e utilizam-se da mesma legislação repressora
da DITADURA MILITAR, não pode representar “TRANSIÇÃO
DEMOCRÁTICA”, mas cabe bem no mesmo figurino que massacrou por 20
anos o povo brasileiro: AUTORITÁRIO E REPRESSOR. Isso demonstra que
o caminho dos trabalhadores é se ORGANIZAREM SE MANTEREM
INDEPENDENTES E SEM CONCILIAÇÃO COM O GOVERNO
REPRESENTANTE DOS PATRÕES. (Informativo Ascor: boletim dos
ecetistas de Alagoas, edição de março de 1987, p. 02)

Chama a atenção diversas frases escritas em letras maiúsculas para impressionar o
leitor e deixar em evidência a posição política da ASCOR em relação ao governo federal, a
justiça do trabalho (adjetivada como fascista) e ao empresariado. Esta mesma posição política
tece duras críticas a setores da esquerda tidos como traidores e, segundo as lideranças da
ASCOR, em acordo com um governo que, mesmo na redemocratização, reproduz a legislação
repressora da ditadura militar para atacar os trabalhadores. No final, há uma ênfase na
convocação para que os trabalhadores se mantenham “organizados, independentes e sem
conciliação com o governo que representa os patrões”.
Além disso, percebe-se no texto um discurso forte, de posição, em sintonia com a
postura do Partido dos Trabalhadores (na década de 1980) contrária a temas nacionais como
Constituinte, Nova República, patronato e favorável à organização sindical dos trabalhadores.
Posição política em razão de a maioria das lideranças da ASCOR ser, à época, militante no PT
de Alagoas.
Retomando a questão da rotatividade da mão-de-obra nos Correios, várias das
demissões deram-se por motivação política. Seja em razão da participação em greves ou por
68

A digitação deste texto segue fielmente aos padrões do texto original conforme cópia em anexo.

80

simpatia ao movimento de organização sindical dos ecetistas. Nas greves de 1985, mais de 3
mil trabalhadores foram demitidos devido à adesão ao movimento grevista nacional. Em razão
da rígida disciplina, das más condições de trabalho e dos baixos salários, entre janeiro e
dezembro de 1986 mais de 10 mil empregados solicitaram por todo o país dispensa voluntária.
Uma “voluntariedade” arraigada de pressão psicológica e sem perspectiva de ascensão
profissional e salarial, fatos que deixam sob suspeita a saída “voluntária” de parte desses 10
mil trabalhadores. Ainda em 1985, funcionários “optavam” por deixar a ECT.

Alguns funcionários querem demissão e FGTS, diz ECT
A presidência da ECT – Empresa de Correios e Telégrafos – informou, no início da
noite de ontem, que alguns dos funcionários demitidos por participação na última
greve e cujas demissões seriam canceladas, preferiram a demissão “sem justa causa”
para receber o FGTS – Fundo de Garantia de Tempo de Serviço – e demais direitos
trabalhistas. O cancelamento das demissões ocorridas nos dias 18, 19, e 21 foi
prometida pelo ministro Antônio Carlos Magalhães ao negociar o final da
paralisação. (Folha de São Paulo, edição de 30 de outubro de 1985, p. 22).

Em novembro de 1986, “a direção da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos
(ECT), através de sua assessoria de comunicação, admite os problemas, indicando ainda a
evasão de funcionários para a iniciativa privada como um agravante da crise” (Folha de São
Paulo, edição de 17 de novembro de 1986).
É possível que tal conjuntura tenha levado milhares de funcionários a pedir demissão
por não suportar tanto rigor e desvalorização profissional por parte dos Correios. Continuava
em gestação um clima de insatisfação e de ruptura contra uma lógica administrativa e de
valores impregnados nos setores administrativos da ECT que destoavam com as intenções
político-partidária e sindical de democracia nas décadas de 1980 e 1990.
Logo, a militarização da administração dos Correios não ficou reduzida à ocupação de
cargos civis por militares. Mas, principalmente, pelo arraigamento de um conjunto de normas
de conduta adotado com fundamento ético militar para se modernizar a estatal e legitimar o
regime iniciado em 1964. Foi principalmente esse ethos praticado por civis, durante e após a
redemocratização, que regeu as relações trabalhistas na ECT ao longo dessas duas décadas
(1980-1990). A administração dos Correios demonstrou estar desprovida da habilidade
necessária para compreender as transformações políticas no período e, com isso, não se
conseguiu evitar os graves conflitos trabalhistas. Essa miopia para perceber as mudanças pelas
quais passava o país se deu em razão da permanência, enquanto cultura, entre gestores civis,

81

de uma formação administrativa conduzida pelos militares ao longo da história recente dos
Correios.
Os desdobramentos desses conflitos e os reflexos dessa cultura militar entre as duas
décadas em estudo serão temas de nossas abordagens no segundo capítulo.

82

2 A ASCOR E A ORGANIZAÇÃO DE CLASSE NOS CORREIOS BRASILEIROS

No Brasil, a partir dos anos de 1930 até a década de 1980, foram surgindo embriões de
organizações sindicais dos trabalhadores públicos. “No caso das empresas públicas ou de
economia mista, como as ligadas aos transportes, siderurgia, mineração, petróleo e serviços
financeiros, surgiram importantes organizações sindicais que tiveram papel destacado nas
lutas sociais e políticas durante todo o período” (ROSALEN, 2012, p. 49/50). A tendência
para o surgimento de novas entidades sindicais do setor público ocorreu em virtude do
processo de industrialização brasileiro. As classes operárias, obviamente oriundas da
industrialização, passaram a exigir direitos trabalhistas e a se organizar em sindicatos.
Diante do declínio do governo militar e do início da transição do regime autoritário
para a democracia, como se comportariam os civis em relação aos militares? Em meio a essa
interrogação, o segmento dos servidores e empregados públicos ganhava força quanto à
organização sindical a partir da segunda metade da década de 1980. No caso dos Correios, a
organização de classe ecetista compôs, juntamente com os trabalhadores da iniciativa privada,
o núcleo duro da oposição ao governo federal a partir de 1985. Essa oposição era resultado da
tendência existente no final dos anos de 1970, referente à combinação de leis restritivas à
liberdade sindical, militância comunista nas fábricas e o reforço de intelectuais advindos do
Partido dos Trabalhadores que influenciaram as principais lideranças de trabalhadores nos
Correios. Com isso, a organização de classe ecetista começava a ser desenhada, não só em
Alagoas como em outras regiões do país.
Identificar em linhas gerais as razões que levaram a essa oposição e à organização
coletiva dos funcionários dos Correios em Alagoas, sob a liderança da ASCOR69, será
propósito deste segundo capítulo. Através dos boletins informativos elaborados e distribuídos
pelas suas lideranças, tornou-se possível a circulação de ideias que levaram à construção do
sentimento de unidade entre parte significativa desses trabalhadores, principalmente entre os
carteiros, vanguarda responsável pela consolidação desse movimento sindical70.
69

A Associação dos Empregados dos Correios em Alagoas foi a única dentre as demais associações de correio a
adotar a sigla ASCOR. Outras adotaram a sigla AEECT (Associação dos Empregados da Empresa de Correios e
Telégrafos) e em São Paulo a sigla era ACETESP – Associação dos Funcionários dos Correios e Telégrafos no
Estado de São Paulo.
70
Atendentes comerciais e operadores de triagem e transbordo, mesmo com menor participação, também
contribuíram com o surgimento e desenvolvimento do movimento sindical nos Correios.

83

Num contexto em que não valia a pena apostar na ditadura — isto não significava um
controle dos civis sobre os militares — mas uma situação intermediária, uma democracia
tutelada onde segundo Zaverucha (1994, p. 163), os civis governavam, mas permitiam que os
militares mantivessem enclaves autoritários dentro do aparelho de Estado, em troca da
garantia de que não haveria golpe. Até porque,

A história da política nacional após 64 (sessenta e quatro), está marcada pela
passagem de uma forma de dominação da burguesia da ditadura militar para uma
democracia burguesa tutelada pelas Forças Armadas. Esta mudança foi provocada
por diversos fatores: um acúmulo histórico das lutas populares; a crise política e
econômica enfrentada pela burguesia diante do esgotamento do padrão de
acumulação baseada no financiamento externo; e pelo esgotamento do modelo
político de dominação. Este processo mostrou no seu momento a força da burguesia
e as debilidades do movimento operário e sindical em ter iniciativas políticas de
grande amplitude. (Resoluções do 3º CECUT/CUT/AL, 1989, p. 01)

Na década de 1970, identifica-se uma reação para superar essas debilidades do
movimento operário e sindical. No caso dos Correios, na primeira metade da década de 1980,
a coerção direta praticada pela ECT sempre em sintonia com as orientações advindas do
governo federal, principalmente no que se refere às questões econômicas e nas relações de
trabalho, despertaram sentimentos de insatisfação entre os ecetistas e acabaram contribuindo
na organização de classe na estatal. Sinal de que setores da classe trabalhadora já vinham
encenando mudanças para superar essas debilidades do movimento sindical por meio de
iniciativas políticas de grande amplitude.
Analisando esse contexto histórico, este capítulo propõe-se a partir de uma perspectiva
nacional, expor a trajetória, os avanços, os dilemas e desafios dos trabalhadores dos Correios
em Alagoas entre 1985 e 1989, época em que se desenvolveu o movimento sindical ecetista
por todo o Brasil.

2.1 Antecedentes históricos: a fundação da CUT

As greves de 1978 e 1979, patrocinadas pela organização das comissões de fábrica,
levaram os trabalhadores a pensar na criação de uma central sindical que tivesse a função de
coordenar as ações sindicais. Orientados pelo sindicalismo de discurso combativo que
posteriormente se transformaria num sindicalismo de resultados sob a liderança de Luiz

84

Inácio Lula da Silva71, havia o propósito de se romper com a estrutura sindical varguista pelo
discurso da autonomia e liberdade dos sindicatos classificados pelas lideranças como
autênticos72.
Em 1980, o Encontro das Oposições Sindicais e o Encontro Nacional dos
Trabalhadores em Oposição à Estrutura Sindical resultaram na articulação inicial para a
criação de uma central de sindicatos. No mesmo ano, outros encontros como os de João
Monlevade (MG) e São Bernardo (SP) definiram os princípios comuns e os fundamentos do
“novo sindicalismo”. Nestes dois últimos, discutiram-se os princípios ligados à
democratização da estrutura sindical, como o fim da CLT, a instituição de contrato coletivo de
trabalho, a liberdade e autonomia sindical. Também se determinou a distinção entre luta
sindical e luta partidária, defendeu-se a prática sindical não só nos locais de trabalho, mas
também nos bairros e outros espaços, pregando a unificação dos movimentos populares e o
sindicalismo num conjunto que hoje entendemos como movimentos sociais.
Juntamente com o debate sobre a criação de uma central sindical, foi defendida a
necessidade de fundação de um partido político. A ideia era a de uma grande organização
popular que aglomerasse sindicatos, pastorais, organizações de bairros, associações de
trabalhadores urbanos e rurais etc. Entretanto, tal propósito esbarrava com os limites da
criação apenas de uma central sindical, pois esta reuniria somente sindicatos, federações e
confederações.
De qualquer modo, ainda em 1980 fundou-se o Partido dos Trabalhadores – PT73. No
bojo dessas discussões, seus articuladores, os mesmos responsáveis pelo surgimento do
partido, conduziram à fundação da tão esperada central sindical, definindo seu surgimento e

71

Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (1975-1981).
A emergência de uma classe operária organizada e combativa não se deu apenas pelas greves de 1978 e 1979,
ou simplesmente pelas ações do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Deve-se levar em conta a atuação
dos militantes cristãos no movimento operário e sindical e sua influência na formação do novo sindicalismo.
73
Segundo Luis Inácio Lula da Silva, a ideia de se criar um partido dos trabalhadores surgiu quando de sua ida à
Brasília, em 1978. Chegando a Capital Federal, Lula afirma que se deu conta de que no Congresso Nacional
havia apenas dois parlamentares originários da classe trabalhadora: Benedito Macedo (metalúrgico de São
Caetano e ligado ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulista) e Aurélio Peres, membro do PCB/SP. Logo,
percebeu que os problemas da classe trabalhadora não seriam resolvidos no centro do poder se não houvesse
parlamentares trabalhadores para se encaminhar as questões de interesse dos trabalhadores. Quanto a falar
publicamente sobre o assunto, Lula disse que somente ao participar do Congresso dos Petroleiros na Bahia, em
15 de fevereiro de 1978, no Hotel Bahia, diante de Fernando Henrique Cardoso e Almir Afonso que estavam no
Congresso como debatedores, foi que falou pela primeira vez publicamente sobre a necessidade de se criar o PT.
A partir disso, em 1979 surgiu o Movimento Pró PT que culminou na fundação do Partido dos Trabalhadores em
10 de fevereiro de 1980 (Vídeo 1º Conclat/30 anos depois Lula relembra a 1ª Conclat/São Paulo: CUT, 2011)
72

85

sua linha de atuação. Esses articuladores, lideranças sindicais, além dos teóricos marxistas,
serviram de quadro para o Partido e para a futura Central Única dos Trabalhadores.
Em 1981, o processo de criação da CUT acirrou as divergências no sindicalismo
brasileiro havendo uma polarização na I Conferência Nacional da Classe Trabalhadora – I
CONCLAT74, realizada em Praia Grande (SP), entre os dias 21 e 23 de agosto de 1981 e que
foi parcialmente contornada com a criação da Comissão Nacional Pró-CUT. Os trabalhadores
de Alagoas estiveram representados nesta Comissão por Arlindo Vitalino da Silva (membro
da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado de Alagoas). Antes dele, outro
alagoano, Carlos de Jesus Pompe (membro do Sindicato dos Radialistas de Alagoas), fez parte
da Comissão Executiva Nacional da Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, composta
em 21 de março de 1981 durante a Plenária Nacional de Dirigentes Sindicais, realizada no
Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas de São Paulo (Vídeo: 30 anos depois
Lula relembra a 1ª Conclat/São Paulo: CUT, 2011).
Entretanto, apesar da Comissão Nacional Pró-CUT, os conflitos existentes
impossibilitaram a convocação do congresso em 1982 sob a alegação de ser ano eleitoral.
Contudo, havia outras divergências, como o perfil da central, a contribuição sindical,
convocação de greve geral, o que já acenava para a diferença de concepções políticas e
doutrinárias em torno das mais diversas formas de pensamento sobre o sindicalismo.
Não havendo consenso, em 28 de agosto de 1983, a I CONCLAT reunindo 5.059 delegados de 912 entidades, representando 12.192.849 trabalhadores75, deliberou pela criação da
Central Única dos Trabalhadores. Entre as principais reivindicações no campo sindical
constavam o direito irrestrito de greve, liberdade e autonomia sindical e o reconhecimento da
CUT como órgão máximo de representação dos trabalhadores. Para Costa (2000, p. 26), a
74

Nesse mesmo ano (dias 1, 2 e 3 de maio de 1981), em Alagoas, os sindicatos dos Urbanitários, Jornalistas,
Radialistas, Metalúrgicos, Trabalhadores de Hotelaria, Enfermeiros, Trabalhadores da Construção Civil,
Bancários, Trabalhadores Rurais dos municípios de Capela, Cajueiro, Carneiros, Palmeira dos Índios, Santana do
Ipanema, Viçosa e Flexeiras, além da ADUFAL e alguns outros, resolveram no I Encontro Estadual da Classe
Trabalhadora (I ENCLAT) organizar a Intersindical visando a organização autônoma dos trabalhadores depois
do golpe de 1964 (CARVALHO, 1993, p. 26).
75
O total de entidades estava distribuído da seguinte forma: 355 sindicatos urbanos; 310 sindicatos rurais; 99
associações de funcionários públicos; 134 associações pré-sindicais; 5 federações; 8 entidades nacionais e 1
confederação. A participação foi maior que na I Conferência de 1981 (5036 delegados). A participação do
campo quase duplicou em número de delegados, apesar da ausência da CONTAG e das 23 federações do campo
(1658, contra 916 em 1981). Os trabalhadores do setor público se juntaram aos trabalhadores do setor privado
com uma participação três vezes maior: 483, contra 145 em 1981. A grande ausência foi das confederações e das
federações: 68, contra 206 em 1981 (Cadernos de Formação Sindical: formação de dirigentes – organização e
representação sindical de base – módulo II – O novo sindicalismo e a formação da CUT. São Paulo: Secretaria
Nacional de Formação Sindical da CUT).

86

CUT se apresentou como a sucessora do sindicalismo classista, praticado por organizações
nacionais de trabalhadores, como: a Central Operária Brasileira – COB, fundada em 1906, a
Confederação Geral do Trabalho no Brasil – CGTB (1929), entre outras confederações.
No mesmo período, ocorreu o surgimento de novas associações de trabalhadores do
serviço público inspiradas nesse “novo modelo sindical”, a exemplo da criação em 19 de abril
de 1985, da Associação dos Empregados dos Correios – ASCOR. No cenário nacional, ainda
em 1986, os sindicalistas que por divergências não participaram da fundação da CUT,
fundaram outras centrais sindicais, a exemplo da Central Geral dos Trabalhadores (CGT) que,
segundo Santana (2003, p. 293), “tendo em vista a tensão entre suas forças componentes, dará
origem ainda à Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), em 1988, e, posteriormente, à
Força Sindical, em 1991.” Estas, em suas pautas de reivindicações e planos de lutas, não
ensejaram a greve nem o fim da unicidade sindical. Mas, pregavam o sindicalismo de
resultados e defendiam a economia de mercado, adotando uma postura anticomunista e se
opondo a CUT e a setores de esquerda dentro da CGT76.
Um ano após a sua fundação, a CUT aprovou em seu I Congresso Nacional uma
resolução sobre a questão sindical de título “Por uma Nova Estrutura Sindical.” Essa
resolução pedia o avanço na elaboração de uma nova estrutura sindical de acordo com o
caminhar das lutas apontando para a velha estrutura anti-trabalhadores. Não ficaram de fora o
caráter classista e de luta dos sindicatos; a ação sindical de combate à exploração no campo e
na cidade; a liberdade e autonomia sindicais; as eleições sindicais livres e diretas e a abolição
das formas impostas de sustentação financeira.
Portanto, a CUT surgiu em conjunto com uma ampla junção de correntes em meio a
greves, passeatas e mobilizações contra o regime ditatorial. Os trabalhadores de Alagoas
estiveram representados na direção nacional, eleita em 28 de agosto de 1983, por José
Adelmo dos Santos (Sindicato dos Radialistas de Alagoas) e Pedro Luiz da Silva (Sindicato
dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas no Estado de Alagoas), ambos na condição de
membros efetivos.
Entretanto, apesar da efervescente criação de centrais sindicais nos anos de 1980,

76

Quanto a Força Sindical, essa central foi criada a partir do grupo de sindicalistas que animou o chamado
“sindicalismo de resultados” na década de 1980, nasceu no início do governo Collor, contando com o apoio
político e financeiro desse governo e de grandes empresários. A maioria dos sindicalistas que a lideram
integraram o grupo de sindicalistas pelegos, isto é, governistas na década dos governos neoliberais (BOITTO
JR., 2002, p. 66)

87

A estratégia sindical da Central Única dos Trabalhadores (CUT) mudou com a
adoção da linha sindical denominada propositiva. Mas todas essas mudanças no
cenário sindical não afetaram, até o presente, a organização institucional do
sindicalismo brasileiro. Esta continua baseada no sindicato oficial reconhecido pelo
Estado, na unicidade sindical, na fragmentação dos trabalhadores em sindicatos de
categoria e de base municipal, nas taxas sindicais obrigatórias impostas a todos os
trabalhadores do mercado formal, inclusive os não-sindicalizados, e na tutela da
Justiça do Trabalho sobre a ação reivindicativa dos sindicatos (BOITTO JR., 2002,
p. 59/60)

Quanto a CUT Alagoas, esta foi fundada seis anos após a CUT Nacional, em
Congresso de Fundação, ocorrido nos dias 27, 28 e 29 de julho de 198977, na Rua Pedro
Monteiro, S/Nº, Centro de Maceió. Cento e trinta delegados participaram do Congresso
representando cerca de dezoito categorias (catorze sindicatos e quatro oposições sindicais). A
diretoria dos trabalhos ficou assim constituída:

Presidente: Paulo Fernandes dos Santos
Secretário: Joaquim Antônio de Carvalho Brito
Secretário Adjunto: Alcides Pacheco de Oliveira

A primeira diretoria da CUT/AL eleita no Congresso de Fundação, em chapa única, foi
composta pela Direção Estadual constituída por vinte e um membros efetivos e seis membros
do Conselho Fiscal; e Direção Executiva Estadual constituída por onze membros efetivos que
seguem:

Presidente: Analista de Sistemas José Evaldo Lino Moreira, diretor do Sindicato dos
Urbanitários;
Vice-Presidente: Analista Químico Tácito Yuri de Melo Barros, presidente do Sindicato dos
Químicos;
Secretário Geral: Técnico Operador de Produção Alcides Pacheco de Oliveira, delegado do
Sindicato dos Petroleiros;
Primeiro Secretário: Técnico em Química Iaênes Ferreira de Amorim, diretor do Sindicato
dos Químicos;
77

A CUT Nacional tinha quase 2 mil sindicatos filiados em 1989, representando 8 milhões de trabalhadores de
todos os setores econômicos, o que fez dela a instituição virtualmente hegemônica no mercado sindical
brasileiro. Entretanto, cabe observar que apesar de sua legitimidade e poder social, a CUT ou qualquer outra
central sindical não tem poder de negociação de acordos coletivos. Legalmente isso é uma prerrogativa dos
sindicatos de base (CARDOSO, 2003, p. 38).

88

Tesoureiro: Carteiro Luís Carlos Bastos da Rocha, vice-presidente do Sindicato dos
Trabalhadores na Empresa de Correios e Telégrafos em Alagoas;
Primeiro Tesoureiro: Artífice Mecânico Isaac Romão da Silva, presidente do Sindicato dos
Ferroviários;
Secretário de Formação: Eletrotécnico Paulo Fernando dos Santos, presidente do Sindicato
dos Urbanitários;
Secretário de Política Sindical: Jornalista Adelmo dos Santos, presidente do Sindicato dos
Jornalistas;
Secretária de Imprensa e Divulgação: Jornalista Isabel Cristina Série, delegada de base da
FENARJ;
Secretário de Política Social: Funcionário Público Federal José Ronaldo Medeiros, vicepresidente do Sindicato da Previdência e Saúde;
Diretor Executivo: Funcionário Público Estadual José Nivaldo Cardoso Mota, presidente da
Associação dos Funcionários da Secretaria da Fazenda.

Entretanto, o movimento para a fundação da CUT em Alagoas já vinha acontecendo
desde 1983 a partir do III ENCLAT (Encontro Estadual da Classe Trabalhadora) organizado
pela Intersindical. Antes do término dos trabalhos, esse encontro dividiu-se quando
representantes dos sindicatos dos Jornalistas, Radialistas, Urbanitários, Construção Civil,
Condutores Rodoviários Autônomos, Engenheiros, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de
Anadia, entre outros, retiraram-se do plenário denunciando manobras do PCdoB quanto ao
registro de entidades e controle de delegados (CARVALHO, 1993, p. 26). Esses sindicatos
formaram a Frente Sindical que escolheu os delegados para a formação da CUT nacional em
1983 e em 1989 a CUT Alagoas. Ainda segundo Cícero Péricles de Carvalho (1993, p. 26/27)
“Os sindicatos que permaneceram no III ENCLAT [alinhados ao PCdoB] liderados pelo
Sindicato dos Médicos, escolheram os delegados ao I CONCLAT e formaram a CGT em
Alagoas.
No final da década de 1980, o funcionalismo público e as empresas estatais
compunham a segunda maior força no interior da CUT (CARDOSO, 2003, p. 37). Utilizandose desse capital político, do qual os trabalhadores da iniciativa privada também faziam parte, a
Central foi reconhecida, pelo menos por boa parte das representações de trabalhadores, como
instrumento adequado de pressão.

89

2.2 Os Movimentos Sociais e a luta pela democracia no governo Sarney

Nas décadas de 1970 e 1980, setores organizados da sociedade brasileira lutaram
contra a ditadura militar almejando o reestabelecimento da democracia. Defendia-se a
participação popular no pleno exercício dos direitos básicos a educação, saúde, moradia,
trabalho, alimentação, direitos políticos, transporte público, entre outros.
Os desejos democráticos afloravam nas manifestações de rua e nos esforços para
reformar as instituições políticas e estabelecer uma nova cidadania78. Os sindicatos, as
comissões de fábrica, as pastorais sociais, as greves do setor público “foram espaços de
socialização política nas quais se forjou um novo sentido de cidadania e um forte sentimento
de solidariedade entre os excluídos, que acabou por pautar os rumos da transição”
(Participação Social no Brasil: entre conquistas e desafios. Secretaria-Geral da Presidência da
República. Brasília, 2014).
Estava se forjando entre os trabalhadores a ideia da “participação de baixo para cima”,
do “povo como sujeito da própria história”. Os trabalhadores dos Correios estavam atentos a
esse movimento. O ponto de partida veio do estado de São Paulo, lugar das primeiras
manifestações coletivas desta categoria e forte referencial para as demais unidades da
Federação. Por toda a década de 1980, em razão do novo momento político pela
redemocratização, os movimentos sociais foram se tornando mais diversificados e complexos,
gerando novas estruturas de mobilização cujo foco estava na articulação das lutas.
“O número de sindicatos cresceu perto de 50% até 1989. O orçamento global das
instituições oficiais e não-oficiais chegava perto de um bilhão de dólares. Este dinheiro
financiou a ação de mais de 10 mil sindicatos, representando 18 milhões de trabalhadores em
mais de 30 mil negociações coletivas por todo o país.” (CARDOSO, 2003, p. 34). Além dos
sindicatos, outras instituições ligadas aos movimentos sociais também surgiram no período.
Eis algumas delas: Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST) – 1980; Articulação
A nova cidadania trabalha com uma “redefinição da ideia de direitos, cujo ponto de partida é a concepção de
um direito a ter direitos”. Não se limita às conquistas legais ou ao acesso a direitos previamente definidos; mas
“inclui fortemente a invenção/criação de novos direitos, que emergem de lutas específicas e de sua prática
concreta”. É “uma estratégia dos não cidadãos, dos excluídos, uma cidadania de baixo para cima”, cujo foco está
na “difusão de uma cultura de direitos” no conjunto das relações sociais. O que está em jogo não é apenas a
inclusão no sistema político, mas o “direito de participar efetivamente da própria definição desse sistema, o
direito de definir aquilo no qual queremos ser incluídos, a invenção de uma nova sociedade” (Dagnino, 1994
apud Participação Social no Brasil: entre conquistas e desafios. Secretaria-Geral da Presidência da República.
Brasília, 2014.)
78

90

Nacional dos Movimentos Populares e Sindicais (Anampos) – 1980; Conferência Nacional da
Classe Trabalhadora (Conclat) – 1981; Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) –
1982; Central Única dos Trabalhadores (CUT) – 1983, entre muitos outros. (Participação
Social no Brasil: entre conquistas e desafios. Secretaria-Geral da Presidência da República.
Brasília, 2014, p. 21).
As associações dos trabalhadores dos Correios, criadas a partir de 1985 em diversos
estados brasileiros, cerraram fileiras junto a esses movimentos sociais no processo de
consolidação da democracia no Brasil. Sua força entre os trabalhadores encontrava-se em fase
embrionária durante a campanha pelas Diretas Já, (1983 e 1984) e passou a adquirir
importante desenvolvimento entre 1985 e 1988, período em que também ocorreram as
discursões pela Constituinte. Essa rearticulação da sociedade civil e a união das forças
políticas de oposição incutiram na cabeça das lideranças ecetistas, e, por conseguinte, em
diversos trabalhadores dos Correios, a urgente organização de classe em meio à necessidade
de participação de todos nas decisões sociais e políticas do país. Carteiros e outros segmentos
de trabalhadores postais passaram a acreditar que, organizados, poderiam promover mudanças
nos Correios.

Para Gohn (1995), a década de 1980 foi o período mais repleto de movimentos e
lutas no Brasil, devido à intensa movimentação social, às mudanças na conjuntura
política e econômica e pela dimensão dos problemas sociais. As lutas tomaram
características de agitação popular, com greves e saques ao comércio, demonstrando
o descontentamento da sociedade e a necessidade de mudança. (GOHN, 1995 apud
ROSTOLDO, 2014, p.78)

O descontentamento salarial e as más condições de trabalho, aliados ao rígido modelo
administrativo nos Correios levaram os trabalhadores ao sentimento de mudança. A
organização de classe e as mobilizações dentro da ECT foram, ao final, reflexos das intensas
manifestações sociais ocorridas nos anos de 1980 que, de modo geral, lutavam não apenas por
melhorias econômicas, mas por melhores condições de vida, por liberdade e democracia.
(ROSTOLDO, 2014, p. 78)
Entretanto, sem desconsiderar outros fatores relevantes aqui apontados, é inegável que
o movimento de classe nos Correios teve como grande elemento propulsor de sua organização
sindical as questões econômicas do período em análise. Sem qualquer aspecto determinista,
pode-se afirmar que devido às reivindicações salariais, as críticas às políticas econômicas no

91

governo Sarney pautaram-se pelas carências de sobrevivência imediata dos ecetistas e de seus
dependentes - uma vez que os salários eram considerados baixos para atender às necessidades
básicas daqueles trabalhadores. Na filmagem amadora “Os heróis da Praça da Sé”, realizada
durante a greve dos trabalhadores dos Correios de São Paulo, entre julho e agosto de 1988, em
pleno governo Sarney, cujo ministro das Comunicações era Antônio Carlos Magalhães79,
pode-se colher alguns depoimentos que denunciam as péssimas condições salariais nos
Correios. Seguem abaixo:

É inadmissível uma empresa do porte da ECT manter esse salário de fome, como ela vem
mantendo para a categoria. (Primeiro relato - trabalhador dos Correios, provavelmente
carteiro, sem identificação).
O leite eu não consigo comprar. Os dois [filhos pequenos] estão tomando chá. Eu vou num
mercado com a minha filha, ela pede um danone... eu não posso comprar. O que é que eu
faço? Ela chora por causa de um danone, o que é que eu faço? Eu bato, eu bato. Isso não é
uma injustiça, eu bater na minha filha porque eu não posso comprar um danone? Porque o
dinheiro só dá pra comprar arroz e feijão. Quando dá. (Segundo relato - possivelmente de
esposa de carteiro com criança de colo, sem identificação).

Não é fácil a vida de um carteiro. Trabalha o dia inteiro, anda 30, 40 quilômetros por dia
com uma mala de 15 a 20 quilos nas costas e quando chega no final do mês, muitas vezes o
salário que recebe não dá nem pra pagar o aluguel. É impossível continuar trabalhando
ganhando um salário desse. Onde trabalhadores que nem nós, os ecetista, trabalhamos
durante o mês inteiro e chega no final do mês e passa fome. A administração dessa empresa...
uma administração corrupta, incompetente e é por esse motivo que estamos nesse movimento
grevista. É por esse motivo que estamos aqui nessa greve há 25 dias, porque nós somos o
carro chefe dessa empresa, nós que realmente transportamos essa empresa nas costas e
estamos passando fome. Estamos vivendo num estado de miséria. Estamos vivendo muitas
vezes em lugares que nem rato gostaria de viver. Infelizmente essa é a verdade, gente. O
Antônio Carlos Peixoto de Magalhães (Salvador, 4 de setembro de 1927 — São Paulo, 20 de julho de 2007)
foi um médico, empresário e político brasileiro com base eleitoral na Bahia, estado que governou por três vezes
(duas vezes foi nomeado pelo Regime Militar Brasileiro), além de ter sido eleito senador em 1994 e em 2002.
Egresso da UDN, ARENA e PDS, teve o PFL/DEM como sua última agremiação partidária. Era conhecido pelo
acrônimo ACM.
79

92

senhor Edson Gomin, particularmente, nos desafiou, nos chamou de moleque. Mas, nós não
somos moleques. Somos homens trabalhadores, somos pais de família. E é por isso que
estamos sustentando essa greve durante 25 dias. É por isso que estamos nessa batalha, gente.
É a batalha contra a fome, é a batalha contra a miséria. É a batalha contra o desespero de
ver muitas vezes a sua família pedir um prato de comida e você não poder oferecer. Ver a sua
filha lhe pedir um danone e você não poder dar. É por isso que estou nessa greve,
particularmente, e tenho certeza que todos os nossos demais companheiros que aqui estão.
Essa é a mensagem que eu queria deixar nesse momento para vocês. (Terceiro relato carteiro 1 fardado, sem identificação)
Com o salário de 20 mil cruzados não tá dando pra me manter minha família. E nós estamos
aqui também pedindo a população... (conclusão da frase incompreensível) (Quarto relato carteiro 2, fardado sem identificação)
[...] Nós não vamos nos quebrar com a ameaça de fome que querem nos fazer. Porque nós
sabemos que a ameaça de fome não [frase incompleta]... mas, nós sabemos que a fome
concreta vai existir se voltar a trabalhar sem aumento de salário, porque com 25 mil
cruzados, com 21 mil cruzados de salário é fome no duro e fome não dá pra passar mais. E
pra não passar fome, nós temos que continuar em greve pra arrancar aquilo que é nosso e
nos é de direito. Então, companheiros... (plenária interrompe com continuados gritos de a
greve continua, a greve continua, a greve continua!!!) (Quinto relato - liderança discursando
para a plenária na Praça da Sé, sem identificação)

Deste modo, a escalada grevista nos Correios teve como principal causa a política de
arrocho salarial mantida pelo governo Sarney. Entretanto, é importante dizer que, durante a
década de 1980, a organização de classe ecetista não buscava unicamente melhorias salariais.
Também clamava por democracia na empresa e pela valorização dos funcionários de base,
restritos em sua maioria às atividades elementares e sem perspectivas de ascensão
profissional. Nos temas nacionais, polarizavam-se as discussões e reivindicavam-se
participação política e vida democrática no país. A ASCOR emitiu opinião sobre a
participação nas discussões políticas em texto de setembro de 1986.

93

A ASCOR pode ou não fazer política?
Constantemente os dirigentes da nossa Associação são acusados de estarem
“fazendo política”. Essa espécie de terrorismo que se alimenta da desinformação
deve ser repudiada. Em primeiro lugar toda e qualquer luta que objetive a conquista
de melhores condições de vida é em suma uma luta política. Uma luta política que
nasce da nossa exigência aos patrões e ao governo para fazer respeitados os nossos
direitos. Em segundo lugar fazer política não é privilégio de uns poucos dominantes,
até porque se queremos mudar algo, essa mudança passa pela luta política. Na
verdade o que os donos do poder querem é nos ver longe da política. E estaremos
longe da política deles marcada pelo vício da corrupção. Mas faremos sim uma
política nova e diferente, baseada nas nossas dificuldades, nos nossos problemas e
nas nossas lutas que objetiva hoje a conquista das nossas reivindicações, e no futuro
a construção de uma nova sociedade. (Informativo ASCOR, setembro de 1986, p.03)

Nesse debate pela participação política, a ASCOR defendia a discussão sobre a
Constituinte com os ecetistas e polarizava o tema entre patrões e trabalhadores.

Constituinte?!
Os patrões querem estar lá para fazerem as leis que interessam a eles. E as leis que
defendem os interesses dos patrões não são contra nós trabalhadores? Eles querem
mais terra, mais bancos, mais industrias, continuar pagando salário de fome, demitir
na hora que quiserem, explorar e matar impunimente... tudo isto protegidos por leis
que eles querem fazer. E nós?. Vamos votar em patrões e seus aliados? . que tal
começarmos a discutir em grupo a constituinte?. (Informativo ASCOR, agosto de
1986, p. 04)

Alguns desses textos vinham ilustrados com charges para facilitar a compreensão do
leitor e chamar sua atenção para o debate. Os favoráveis à participação política da ASCOR
sobre temas da Nova República justificavam a ideia por acreditar na possibilidade de discutir
e encaminhar bandeiras de luta da categoria, a exemplo da estabilidade no emprego, jornada
de trabalho de 40 horas, direito de greve, salário justo, entre outras reivindicações.
Transcender as questões econômicas era uma tendência na época. Os movimentos
sociais populares na década de 1980, no Brasil, não buscaram unicamente melhorias
econômicas, mas clamavam por “[...] democracia de base e direta e pela ampliação dos
direitos de cidadania, especialmente no plano social” (DOIMO, 1995 apud ROSTOLDO,
2014, p. 79).
O povo tornou-se capaz de se opor ao autoritarismo político e à repressão social, ao
mesmo tempo em que reivindicava mudanças e melhorias sociais (ROSTOLDO, 2014, p. 82).

94

A organização de classe nos Correios seguiu essa tendência por direitos políticos, pois suas
lideranças acreditavam que, sem instituições políticas fortes e democráticas, o país não se
transformaria. Pelas greves, também se buscou abrir brechas no pacto das elites80 pela
redemocratização e, com isso, assegurar aos movimentos sociais a cidadania política.

Figura 1 – Constituinte?

Fonte: Informativo ASCOR, agosto de 1986, p. 04.

Nessa conjuntura, na qual a corrente do “novo sindicalismo” defendia a ideia de que os
sindicatos deveriam deixar a tutela do Estado81 para a efetiva ação política, as lideranças da
ASCOR passaram a inserir nos temas econômicos a participação política e democrática nas
discussões nacionais enquanto bandeiras de luta dos movimentos sociais. Professores,
médicos, motoristas, funcionários públicos, engenheiros, bancários e várias outras categorias
também protestaram contra os baixos salários e as demissões em massa. As reivindicações por
salários dignos, estabilidade no emprego e reconhecimento da organização sindical no local
de trabalho também foram bandeiras de luta inerentes a diversas categorias de trabalhadores.

80

Refiro-me ao pacto estabelecido entre as elites políticas e econômicas com as forças armadas para a
redemocratização do Brasil, onde o povo e os movimentos sociais não teriam participação direta.
81
Durante o Regime Militar, “o controle da classe trabalhadora pautou-se por forte coerção sobre os sindicatos,
quando não por intervenções diretas e prisão ou assassinato das lideranças” (Direito à Memória e à Verdade,
2007, p. 20)

95

2.3 Origem de uma organização de classe

A luta contra a grande exploração do trabalho (estampada nas ações contrárias ao
arrocho salarial), contra a legislação repressiva que regulava a ação sindical, contra o
sindicalismo atrelado, configurou ao movimento desencadeado no ABC paulista uma ação
econômica de clara significação política. (ANTUNES, 1991, p. 15). Esta ação influenciou
direta ou indiretamente outros movimentos de classe que surgiam pelo país em meio à
conjuntura econômica na qual a riqueza do Brasil, na segunda metade da década de 1980,
apresentava a seguinte distribuição: “20% do topo da população ficavam com mais de 60% da
renda do país, enquanto os 40% de baixo recebiam 10% ou até menos.” (UN World Social
Situation, 1984, p. 84 apud HOBSBAWM, 1995, p. 334).
No aspecto político-administrativo, “com a passagem do governo militar para um civil
após vinte anos, de fato se nota, na composição ministerial, uma completa desmilitarização.
Isto é, sob José Sarney, não se encontra nenhum militar ocupando postos ministeriais civis.”
(MATHIAS, 2004, p. 81). A autora reforça essa ideia afirmando que

A despeito, portanto, de os governos José Sarney e Fernando Collor terem
promovido uma desmilitarização da burocracia do sistema brasileiro de
comunicações, mediante nomeação de civis para cargos importantes, é possível
perceber que houve continuidade no tratamento das demandas e, em consequência,
nas decisões implementadas, o que aponta para a existência de uma cultura interna à
burocracia que extrapola a necessidade da presença militar. (MATHIAS, 2004, p.
146)

Mathias, portanto, aponta que mesmo com a ausência física dos militares nos cargos
civis, o presidente José Sarney, ex-presidente do PDS, partido profundamente identificado
com o governo militar de 1979 a 1984 e que se opusera a qualquer emenda que favorecesse as
eleições diretas (ZAVERUCHA, 1994, p. 170), permaneceu subserviente ao estamento militar
em todo o seu governo. Para Maciel (2012, p. 85), o presidente da Nova República era um
egresso dos quadros de apoio à Ditadura Militar. Fato que se confirma com a continuidade,
pelos civis, da influência administrativa das Forças Armadas na burocracia estatal, fato
corriqueiro nos Correios. De modo que, enquanto estratégia dos grupos dominantes, deixou de
haver em maior intensidade a necessidade de permanência da presença física militar nos
relevantes cargos civis do governo federal. Até porque,

96

Durante a crise da Ditadura Militar, a direção política do bloco no poder foi
assumida por um bloco de forças políticas em que os militares exerciam muito mais
um poder de veto do que propriamente um poder de proposição e encaminhamento,
o que permitiu a metamorfose do cesarismo militar em tutela militar na Nova
República. Esta situação permitia aos militares preservar a condição de ator político
relevante e exercer o papel de reserva repressiva estratégica do bloco no poder
diante da eventualidade da radicalização política por parte das classes subalternas,
mas não lhes permitia dar a direção política do governo e da aliança política que o
sustentava. (MACIEL, 2012, p. 25/26)

Apesar da saída física dos cargos civis, as Forças Armadas estiveram de prontidão e
monitorando todo o processo político no governo Sarney. Tanto é que o presidente não
hesitou em fazer uso dessa reserva repressiva diante do agravamento do quadro econômico
brasileiro em razão do afundamento do Plano Cruzado e das reações populares quando a CUT
e a CGT convocaram uma grande manifestação em frente aos prédios dos ministérios. O
protesto terminou em violentos distúrbios, e Sarney convocou a Polícia Militar e forças do
exército, incluindo tanques, para restabelecer a ordem (Veja, 3 dez. 1986 apud
ZAVERUCHA, 1994, p. 183). Mais ainda,

Em dezembro, diante da ameaça de uma greve geral, Sarney convocou forças do
exército e da marinha. Pela primeira vez desde 1968, tanques cruzaram a Avenida
Rio Branco, no Rio de Janeiro, com o objetivo de controlar posições estratégicas,
como a refinaria de Volta Redonda. A marinha controlou os portos de Santos e Rio
de Janeiro. Com o tempo, Sarney desenvolveria o hábito de chamar os tanques, em
vez da polícia, para atemorizar grevistas (ZAVERUCHA, 1994, p. 183).

Entretanto, no tocante à economia, a CUT Alagoas nas resoluções do 3º CONCUT,
avaliava o Plano Cruzado e o movimento sindical da seguinte forma:

O Plano Cruzado (fevereiro de 1986) provocou um forte impacto no movimento
operário e sindical: várias campanhas sindicais que se constituíram no avanço mais
significativo do movimento dos anos anteriores foram esvaziadas. As greves
perderam o potencial de generalização demonstrado no período anterior,
restringindo-se por muito tempo à luta por local de trabalho, no máximo, por
categoria. Os eixos da luta sindical perderam seu caráter ofensivo (no sentido de
demandas e reivindicações que avançam em relação ao já garantido na luta) e
assumiram um caráter defensivo de direitos ameaçados ou efetivamente revogados
pela política do governo. Consequentemente essas lutas perderam fôlego e
capacidade de polarização política na conjuntura, sendo mais assimiladas e
canalizadas pelo governo e pela burguesia. (Resoluções do 3º CECUT/CUT/AL,
1989, p. 03)

97

O uso das forças armadas continuaria em março de 1987 para intervir contra cerca de
60 mil trabalhadores das refinarias de Duque de Caxias (RJ) e de Paulínia (SP) que exigiam
94% de aumento salarial em tempos de inflação de 19% ao mês.

A popularidade de Sarney atingia seu nível mais baixo. No início de julho de 1987,
oitocentos soldados armados de metralhadoras tiveram que proteger o presidente
contra insultos e apedrejamento, durante uma missa na catedral de Brasília. Dois
dias depois, foram convocados 1200 soldados, além da Polícia Militar e da Polícia
Federal, para salvaguardar o presidente da ira popular, numa visita ao Acre (Veja, 8
jul. 1987).

Porém, apesar do pessimismo quanto às coletivas ações sindicais, a CUT Alagoas
reconhecia que

As greves do funcionalismo e dos trabalhadores das estatais no segundo semestre de
1988, a luta dos metalúrgicos de Volta Redonda, as ocupações de terras organizadas
pelo movimento dos trabalhadores Sem-Terra em diversos estados, (além da
participação nesses movimentos dos sindicatos progressistas e das federações no
campo da CUT) e o assassinato do companheiro Chico Mendes, foram fatos que
marcaram profundamente a conjuntura e que tiveram desdobramentos políticos de
relevância. (Resoluções do 3º CECUT/CUT/AL, 1989, p. 03)

O avanço do movimento sindical a partir de 1988 contribuiu para o aprofundamento
da crise no governo Sarney. Partidos políticos, a exemplo do PT, adquiriram grande
crescimento eleitoral nas eleições municipais de 1988 e contribuiu para uma maior adesão a
greve geral de março do mesmo ano. No campo trabalhista, as mudanças políticas e
econômicas ocorridas no Brasil, a exemplo da Lei de Anistia, da volta do multipartidarismo,
dos planos econômicos, do movimento das Diretas Já, e da Constituinte, influenciaram
sobremaneira as relações de trabalho por todo o Brasil. “O movimento sindical impôs-se, a
partir de então, como o único interlocutor dos assalariados capaz de negociar e reivindicar
pautas de âmbito nacional. E as ações grevistas ampliadas consolidaram esta tendência.”
(ANTUNES, 1991, p. 30/31).
A CUT Alagoas passou a conclamar os membros dos movimentos sociais para
participar dos novos governos, mas com a advertência para o não atrelamento. Leia o
posicionamento oficial da Central:

98

A vitória eleitoral da esquerda [novembro de 1988] levanta contra ela uma série de
provocações, ameaças, sugestões de golpe. Tenta-se intimidar os novos eleitos,
colocá-los na defensiva, exigindo deles uma rápida solução para os problemas que
não foram enfrentados pela ditadura, pela chamada transição democrática (...) A
participação dos membros do movimento social organizado nesses novos governos
não deve implicar em atrelamento (...) Esse erro não podemos cometer.
“A CUT faz avançar a luta de classes quando consegue impulsionar as lutas
sindicais, articular as lutas econômicas e elevar o nível de consciência de classe,
apontar para a construção de uma sociedade socialista, mas não deve ser confundida
com um partido e manterá sempre sua independência em relação ao poder do
Estado e sua autonomia frente aos partidos políticos.” (Resoluções do 3º
CECUT/CUT/AL, 1989, p. 14) (Grifo nosso)

Nos Correios, as lideranças sindicais vinculadas ao PT e em oposição aos partidos de
direita, oficialmente adotavam o discurso da autonomia em relação ao Estado e aos partidos
políticos. Posicionamento que sofreu grande reviravolta a partir de 2002, mas que neste texto
não nos cabe analisar.
Em meio ao processo da redemocratização do país, a relação capital/trabalho na ECT
passou a ser fortemente acirrada em razão da mudança de seu perfil produtivo para o de
empresa pública de regime privado82. Esse perfil, ao longo da década de 1980 foi alimentado
pela péssima política salarial e de ascensão profissional gestadas nas diretrizes políticoeconômicas do governo federal, impulsionando os trabalhadores dos Correios à organização
sindical por todo o país. Realidade que culminava com greves que se voltaram contra a
dilapidação salarial e o crescente empobrecimento e pauperização dos ecetistas.

Das greves plebiscitárias do ABC paulista em 1979/80 ao confronto de Volta
Redonda em 1988; e da greve geral dos bancários de 1985 à greve geral nacional em
março de 1989, todas tiveram como motivação primeira a reposição salarial, a luta
contra a subtração e a degradação dos salários ou, no caso das greves gerais, dos
decretos que arrochavam ainda mais os salários. (ANTUNES, 1991, p. 33)

Nesse contexto, o impedimento jurídico de se fundar sindicatos83 levou os
trabalhadores dos Correios a se organizar em associações de cunho combativo, contrárias às já
referidas questões político-econômicas ocorridas na primeira metade da década de 1980 e
relacionadas à Nova República, à Constituinte, às demissões de trabalhadores, ao arrocho

82

Esse perfil começou a ser implantado em 1969 quando os Correios deixaram de ser um Departamento ligado
ao Ministério das Comunicações e passou a ser uma empresa pública de caráter privado regida pela
Consolidação das Leis do Trabalho e subordinada ao mesmo Ministério.
83
Proibido pelo Artigo 566/43 da CLT, o Sindicato dos Trabalhadores na Empresa de Correios e Telégrafos –
Sintect-AL – só pode ser fundado em 10 de novembro de 1988 após o advento da Constituição de 05 de outubro
de 1988.

99

salarial e outras mais. O movimento sindical na ECT deu publicidade a estas questões quando
em boletim informativo de 1986 indagava aos trabalhadores:

Quem não se lembra que a ECT/DR-AL no período de 78/84 foi recordista de
demissões? E as punições? Suspensões covardes que não obedeciam qualquer
critério. Quem não se lembra do companheiro MÁXIMO FIEL, que morreu
entregando telegramas por e tar proibido de ir ao médico?!!!
E nada mudou na ECT com a “nova república”. Continua tudo a mesma coisa para
todos os trabalhadores do País: ARROCHO SALARIAL, FOME, DESEMPREGO,
PERSEGUIÇÕES, “CACETE DA POLÍCIA etc.. Só na ECT de São Paulo são
2.500 companheiros desempregados. 99,9% das greves de trabalhadores foram
decretadas ilegais. As leis de Segurança Nacional, de Imprensa, dos estrangeiros, de
Greve, CLT etc. continuam de pé e sendo utilizadas como instrumento de repressão.
Em nossa greve do ano passado o Sr. Sarney ouviu seu conselho político e mandou
nos demitir, de acordo com a vontade do ministro das comunicações. A esta
violência contra nós, trabalhadores, respondemos com nossa organização e
disposição de luta. (Editorial in Informativo ASCOR, agosto de 1986)84

Percebe-se que os funcionários dos Correios eram chamados à organização e à luta
por bandeiras relacionadas à estabilidade no emprego, salário justo, jornada de trabalho
semanal de 40 horas85, fim das demissões políticas, plano de cargo e carreira, além da defesa
do monopólio postal enquanto ponto importante para a manutenção dos Correios como
empresa pública. De modo que, num Estado rendido ao capital, a exemplo do Estado
brasileiro dos anos de 1980 e 1990, os ecetistas fundaram associações de classe engajadas na
organização sindical contra a legislação que permitia o controle e subordinação dos
movimentos de trabalhadores pelo governo federal.86
Nessa perspectiva, pela memória forjada ao longo desse processo histórico, os
trabalhadores da ECT também resistiram ao controle e subordinação da lógica empresarial
buscando construir, pela organização de classe, os instrumentos necessários para a conquista e
manutenção de seus interesses. Vários estavam dispostos a participar do movimento social e
político das classes subalternas – em especial os de nível básico87 pertencentes à área
84

A transcrição desta citação respeitou a forma ortográfica contida no texto original.
Na década de 1980 e 1990, contratualmente a carga horária semanal de trabalho nos Correios era de 44 horas.
86
Cabia ao Ministério do Trabalho e Emprego a aplicação da legislação vigente antes de 1988 para se fundar
sindicatos no país. Desse modo, servidores públicos e empresas paraestatais (caso dos Correios) não podiam se
organizar em sindicatos. Outra medida que visava subordinar as organizações de classe se dava pela exigência da
Carta Sindical para que o sindicato pudesse ser reconhecido pelo Estado assim como, do ponto de vista
financeiro, o imposto sindical descontado uma vez por ano de cada trabalhador e repassado aos sindicatos pelo
governo federal.
87
Trabalhador de nível básico na ECT era todo aquele cuja escolaridade mínima durante a contratação era a do
antigo primeiro grau incompleto (6ª série), hoje nível fundamental (7º ano). Exemplo: carteiros, atendentes
comerciais, operadores de triagem e transbordo, auxiliares administrativos, entre outros. Atualmente, a
escolaridade mínima para ser contratado pelos Correios é a do ensino médio completo via concurso público.
85

100

operacional –, sendo convencidos pelas lideranças sindicais (sejam das associações de
trabalhadores de correio, seja de sindicatos ou das centrais sindicais) a transcender a postura
meramente econômico-corporativa, para uma postura crítica visando um projeto de
participação democrática para o país. No âmbito interno dos Correios, esse projeto era
percebido nas duras críticas à repressão e à rigidez do modelo administrativo de inspiração
militar nas décadas de 1980 e 1990.

Foto 1 - Ato Público de trabalhadores dos Correios em Alagoas (março de 1986)

Fonte: Autor desconhecido – Arquivo do Sintect-AL

Logo, durante as pesquisas e em minhas vivências no movimento sindical dos
Correios, testemunhei o encontro da geração fundadora da organização de classe ecetista com
a geração de sindicalistas da década de 1990 que, pelo tempo, se mostrou influenciada por
seus líderes e por diferenças ideológico-partidárias, com explícita notoriedade através das
disputas internas polarizadas entre sindicalistas ligados ao PT e ao PCdoB numa clara
demonstração de interesses partidários sobre os sindicatos. Para Linden (2013, p. 277),
“sempre que possível, os partidos políticos tendem a usar os sindicatos para expandir ou

101

consolidar sua esfera de influência.” As disputas internas entre PT e PCdoB, pelo menos por
parte do PT, tinham por objetivo conquistar novos “veículos eleitorais”. Afirmação que se
confirmou ao longo da década de 1990 quando boa parte das direções do SINTECT-AL era
composta por filiados assíduos ao Partido dos Trabalhadores e saiu na defesa, perante os
ecetistas, dos projetos políticos do PT, a exemplo da criação dos Comitês Lula Presidente e do
apoio às candidaturas proporcionais e majoritárias nas eleições nacionais, estaduais e
municipais.
Protagonista na condução da classe dos empregados ecetistas durante a segunda
metade da década de 1980, a ASCOR, através de lideranças como Lourival dos Santos, José
Inácio Aguiar Ribeiro, Gilberto Francisco Macena, Luiz Batista e alguns outros que acabaram
no anonimato88, contribuiu em sua rápida existência com a pavimentação do caminho para os
embates contra o engessamento da Nova República, pela democracia e pela construção do
movimento sindical dos trabalhadores dos Correios em Alagoas. De modo que, para se refletir
sobre a história da ASCOR, de seus associados e lideranças, há de se reconhecer que “a
verdadeira imagem do passado perpassa, veloz. O passado só se deixa fixar, como imagem
que relampeja irreversivelmente, no momento em que é reconhecido” (BENJAMIN, 1994, p.
224).
É importante, num relampejar de pesquisa, trazer luz à categoria dos Correios em
Alagoas. A década de 1980 foi caracterizada pela abertura política, por uma explosão de
greves em várias categorias de trabalhadores, pelo aparecimento das centrais sindicais e de
diversas associações de trabalhadores; sendo assim, pode ser lembrada pelo renascimento do
sindicalismo combativo polarizado contra a permanência da burocrática estrutura sindical no
Brasil.
Agentes ativos enquanto categoria, o movimento sindical dos Correios deu sua parcela
de contribuição para a consolidação do processo democrático brasileiro. Essa organização de
luta se apresentou como um movimento classista sintonizado com os movimentos sociais e
com as orientações vindas da forte oposição ao governo federal nas décadas de 1980 e 1990.

88

Para saber mais sobre essas lideranças sindicais, ver: SILVA, Roberval Santos da. Carta Aberta: o movimento
sindical nos Correios de Alagoas (1985-1997). Maceió: Imprensa Oficial, 2008.

102

2.4 Redemocratização e crise econômica no Brasil dos anos 1980
A transição democrática89 brasileira é parte do processo de redemocratização ocorrido
na América Latina em fins de 1970 e durante a década de 1980. Paradoxalmente, enquanto o
país paulatinamente ensaiava a reconstrução da democracia e vivia intensa mobilização
operária, com greves gerais ocorrendo em vários estados, os Correios consolidavam cada vez
mais uma política nacional repressora a fim de evitar o advento e fortalecimento do
sindicalismo em seus espaços de trabalho.
A ojeriza da direção da ECT por qualquer manifestação de liberdade, além de sua
força e coragem prepotentes de lançar mão das atitudes repressoras mais
repugnantes contra os ECETISTAS, demonstra que a velha ditadura permanece viva
e empenhada em continuar tentando calar os trabalhadores demitindo suas lideranças
ou aqueles que expressam, na prática, a insatisfação generalizada pelas terríveis
injustiças e exploração indecente de que são vítimas não apenas os ECETISTAS,
mas todo um novo trabalhador.
As demissões sumárias, (POR JUSTA CAUSA!!! (?)), de 3 companheiros ativistas
de nossa LUTA, SEM DIREITO DE DEFESA, com a alegação de que os mesmos
estavam estimulando paralização na ECT, demonstra o quadro de intolerância
reinante na empresa e desafia os princípios mais elementares de LIBERDADE e
JUSTIÇA. (Informativo ASCOR, julho de 1987, p. 01)90

A citação acima aponta para as perseguições contra trabalhadores dos Correios em
plena redemocratização brasileira, sob a acusação de se estar organizando um movimento de
trabalhadores disposto a lutar por direitos através de paralisações. Mediante essa postura, os
Correios continuaram sendo acusados pelas lideranças sindicais de não respeitar princípios de
liberdade e justiça, princípios disputados no período e efetivamente reivindicados pelos
movimentos sociais.
Além das perseguições as lideranças sindicais, as políticas econômicas também foram
motivo de grandes protestos entre os líderes ecetistas nos anos de 1980, inserindo-se nas lutas
e nos debates em torno da democracia. O controle de preços e salários pelo regime militar

Seguiremos o conceito de transição democrática de Daniel Aarão Reis que a define como “o período que se
inicia com a revogação das leis de exceção, os Atos Institucionais, em 1979, e termina com a aprovação de uma
nova Constituição, em 1988. De transição, porque nele se fez um complicado e acidentado percurso que levou de
um estado de direito autoritário, ainda marcado pelas legislações editadas pela ditadura, conhecidas como
“entulho autoritário”, a um estado de direito democrático, definido por uma Constituição aprovada por
representantes eleitos pela sociedade.” (REIS FILHO, 2014, p. 125)
90
As grafias citadas neste trabalho são fieis aos originais utilizados durante a pesquisa, sem qualquer alteração
de acordo com as normas da ortografia vigente ou correção de palavras.
89

103

passou a sofrer forte oposição quando, a partir de 1978 91, sindicatos operários do ABC
paulista, liderados por Luiz Inácio Lula da Silva, começaram a questionar a proibição das
greves por melhores salários e o controle estatal sobre sindicatos pouco representativos e
amplamente assistencialistas.
A audácia dos metalúrgicos revogara a Lei nº 4.300, de junho de 1964, que proibia a
realização de greves (SINGER, 2014, p. 209) e serviu de incentivo para o surgimento em todo
o Brasil de novas organizações de classe, a exemplo das associações de servidores ou
empregados públicos e da luta para a retomada de sindicatos controlados pelo regime
ditatorial.
No setor privado o movimento sindical dos trabalhadores em Alagoas começou a se
insurgir com a vitória dos jornalistas, em junho de 1978, quando Freitas Neto saiu-se
vencedor e passou a presidir o sindicato da categoria após liderar chapa de oposição contra o
jornalista Alberto Jambo, apoiado por forças conservadoras lideradas por Divaldo Suruagy92 e
Albérico Cordeiro (CARVALHO, 1993, p. 25). As novas organizações e as lideranças
sindicais oposicionistas debatiam sobre a redemocratização brasileira e a consolidação de um
novo cenário político que culminou na Constituição de 1988.

Ao Sindicato dos Jornalistas de Alagoas juntou-se o Sindicato dos Radialistas,
dirigido por Adelmo dos Santos. Fruto da mobilização e da nova fase sindical dos
profissionais da área de comunicação foi decretada e deflagrada, um ano depois, a
primeira greve em Alagoas após o golpe militar. Neste mesmo ano a oposição
venceu no Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas, liderada por Pedro
Luís da Silva [...] A vitória de chapas oposicionistas nos Sindicatos dos Jornalistas e
Urbanitários é seguida de novas vitórias em outras categoriais profissionais tais
como bancários, médicos, metalúrgicos, professores, construção civil, engenheiros,
etc., assim como a criação de vários novos sindicatos e associações profissionais
(CARVALHO, 1993, p. 25/26).

A partir desta perspectiva, a oposição liderada pelos sindicalistas em Alagoas lutou
pela democracia, mas o Estado não perdeu o controle das manifestações sociais em voga
acompanhando de perto as movimentações contrárias ao governo federal. Nesse período de

91

Os sindicatos de trabalhadores, fortemente golpeados pelo regime já nos primeiros dias de abril de 1964,
conseguiram se reerguer gradualmente e realizar importantes greves em 1968, em Osasco (SP) e Contagem
(MG), retornando a um patamar de fermentação discreta até atingir novo salto em 1978, quando no ABC
paulista, voltam as mobilizações de massa que dariam início à construção de um novo sindicalismo no Brasil
(Direito à memória e à verdade, 2007, p. 24)
92
Divaldo Suruagy (São Luís do Quitunde, 5 de março de 1937 - Maceió, 21 de março de 2015) foi economista,
funcionário público e político brasileiro, que governou o estado de Alagoas por três vezes: 1975-1978, 19831986 e 1995-1997.

104

transição democrática93, até o fim da primeira metade dos anos de 1990, é importante registrar
que no campo econômico as crises da inflação alimentaram o discurso de oposição dos
movimentos sociais pela cidadania em constante conflito com boa parte da classe política
brasileira.
Na primeira metade dos anos dos anos de 1980, a inflação registrava taxas anuais de
mais de 200% e o crescimento conhecia altos e baixos. (REIS, 2014, p. 105). Nessa atmosfera
de crise econômica, com os trabalhadores tentando preservar seus ganhos frente à inflação
descontrolada, os movimentos sociais se apresentavam para criticar a política econômica do
governo federal. Em agosto de 1981 realizou-se a I Conferência Nacional das Classes
Trabalhadoras (Conclat), com participação de mais de 5 mil delegados vinculados a mais de
mil sindicatos. Em agosto de 1983, foi fundada a CUT nacional e seus opositores fundaram a
Confederação Geral dos Trabalhadores. Desse modo, se pretendia um sindicalismo
organizado pela base e autônomo em relação aos partidos e ao Estado94.
Outra modalidade grevista que se destacou nos anos de 1980 e refletiu os problemas
socioeconômicos brasileiros foram as históricas greves nacionais de 1983, 1986, 1987 e 1989
– anos em que esses movimentos de maior ou menor repercussão, a depender do momento e
somando-se suas edições, mobilizaram milhões de pessoas e se voltaram contra os governos
objetivando uma política econômica favorável aos trabalhadores.
As questões estruturais da realidade econômica e social do modelo capitalista no
Brasil, fundamentadas no capitalismo periférico com significativa dívida externa, altos
percentuais inflacionários, exclusão social e de forte exploração da mão de obra trabalhadora,
não sofreram mudanças significativas neste período. Nem mesmo a partir de 1985, quando se
instituiu um governo civil no Estado brasileiro e adotaram-se planos econômicos que se
revelaram incapazes de transformar a realidade socioeconômica no país.

93

Ainda segundo Daniel Aarão Reis, o período compreendido entre 1979 e 1988 foi de transição democrática
porque após a revogação dos atos institucionais em 1979 não se estabeleceu um regime democrático no Brasil,
embora já não houvesse uma ditadura nos moldes tradicionais.
94
Durante os anos 1980, a CUT manteve uma linha sindical de oposição à política de desenvolvimento do
Estado brasileiro. Opunha-se ao pagamento da dívida externa, às sucessivas políticas de arrocho salarial, apoiava
ativamente a luta pela reforma agrária e agitava palavras de ordem favoráveis à estatização dos bancos, da
educação, da saúde e do transporte público. Sua plataforma apontava, claramente, para a organização de um
Estado de bem-estar social no Brasil. Essa plataforma era defendida por meio de ações de massa. A luta grevista
era valorizada e, em quatro ocasiões, a CUT organizou greves nacionais de protesto contra a política econômica
dos governos Figueredo e Sarney (BOITTO JR., 2002, p. 67).

105

Os efeitos do Plano Cruzado sobre a inflação podem ser avaliados pelas cifras
oficiais do Índice Geral de Preços ao Consumidor: no ano anterior ao plano, a
inflação foi de 218,24%; entre março de 1986 e março de 1987, foi de 97,41%.
Menos que a metade da inflação em 1985. Portanto, o Plano Cruzado amenizou a
subida dos preços ao menos por um ano. Em 1987, a inflação já alcançou o nível de
363,5%, o que mostra o caráter efêmero do cruzado.
Nos anos seguintes, a inflação foi atacada ainda por outros planos, combinando
congelamento passageiro com medidas de contenção da demanda: o Plano Bresser,
em 1987; o Plano Verão, em 1989; e o Plano Collor, em 1990. Os dois primeiros,
sucessores do Plano Cruzado, combinaram congelamento de preços, corte de crédito,
elevação de impostos e redução do gasto público. Os efeitos sobre a inflação foram
pífios. (SINGER, 2014, p.217)

O termômetro balizador dessa afirmativa pode ser medido pelo crescimento na
quantidade de greves entre 1985 e 1987. Segundo Welmowicki (2004, p. 73) “Se, entre 78 e
84, o número de greves por ano era de 259, em média, a partir de 85 saltou para 1.898!”.
Representada pelo arrocho salarial, o quantitativo de greves chegou a seu maior índice em
1987, com um total de 2.259 paralisações (ANTUNES, 1991, p. 18). Uma das possibilidades
para esse aumento na quantidade de greves diz respeito à forte recessão econômica e à
excessiva exploração do trabalho no período, além das lutas dos movimentos sociais, dentre
este o sindical, pelas “liberdades democráticas” num momento em que a fundação de novos
sindicatos continuava em ascensão no país.
De modo geral, esses movimentos contribuíram para a recuperação da função básica
dos sindicatos em defesa dos salários e, em longo prazo, pela parcial recuperação da cidadania
política, possível apenas com a restauração do estado democrático de direito no Brasil. Sendo
assim, as greves praticadas nos anos de 1980 surgiram primeiramente na iniciativa privada,
mais precisamente nas indústrias do ABC paulista, a partir de 1978. Nos anos posteriores foi
se estendendo para o setor público com destaque para a luta das associações sindicais de
servidores e empregados públicos pelo que denominavam, segundo Boito (1991, p. 54) “o seu
direito de sindicalização”.
As associações de empregados dos Correios protagonizaram esta discussão pelo
direito à sindicalização. Impedidas pela legislação, nos anos posteriores a 1984, construíram
não oficialmente, mas de fato, uma estrutura sindical livre da influência do Estado, uma vez
que as intervenções se davam nos sindicatos oficialmente reconhecidos pelas leis trabalhistas
de então. Isso porque

O Estado moderno substitui o bloco mecânico dos grupos sociais por uma
subordinação destes à hegemonia ativa do grupo dirigente e dominante; portanto,

106

abole algumas autonomias, que, no entanto, renascem sob outra forma, como
partidos, sindicatos e associações de cultura. (GRAMSCI, 2002, p.139).

Essas associações, agora combativas e de representação de classe, surgidas no
processo histórico da segunda metade da década de 1980 tinham como características: a
organização dos trabalhadores a partir do local de trabalho, a representação sindical dos
empregados ecetistas, o recebimento das cotizações espontâneas e, contraditoriamente ao que
estava posto em termos de sindicatos oficiais, a realização de negociações coletivas com o
governo federal. Sendo que a primeira tentativa de organização associativa dos ecetistas, da
qual se tem notícia, ocorreu em 1979, nos Correios de São Paulo e já comentada no primeiro
capítulo deste trabalho.
Quanto às questões de bastidores relativas à organização dos funcionários dos
Correios em Alagoas, algumas delas aconteceram no PT e no PCdoB, já que as principais
lideranças desses funcionários estavam ligadas a uma dessas duas siglas95 e defendiam os
interesses destes partidos para arregimentar servidores ou empregados públicos visando
fortalecer os projetos políticos na disputa pelo poder no Brasil, inclusive com acaloradas
discussões entre Lourival dos Santos e Inácio Aguiar durante as reuniões da Associação dos
Empregados dos Correios em Alagoas. Respectivamente, duas representações partidárias que
disputavam espaço político entre os trabalhadores dos Correios.
Entretanto, apesar das greves de 1934 e 1979, antes de 1985 não havia nos Correios
nenhuma tradição de organização e de luta sindical. As greves estavam proibidas pela Lei
4.300, de junho de 1964 (SINGER, 2014, p.209) e a organização sistemática de trabalhadores
em sindicatos esbarrava no Artigo nº 566 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
restando às associações de trabalhadores dos Correios atuarem à margem do sistema sindical
brasileiro, até então controlado pelo Estado.
Identificamos apenas fatos isolados que antecederam o início da organização sindical
na categoria ecetista em Alagoas; um deles narrado pelo ex-carteiro Cícero Lourenço da
Silva, dirigente do SINDPREV-AL96, que declarou ter sido admitido pelos Correios em 1976
e que embora não houvesse um movimento organizado dos trabalhadores na estatal, os
carteiros se reuniam para discutir e reclamar das pressões e perseguições praticadas pela

95

A maioria dessas lideranças estava ligada ao PT, restando apenas ao PCdoB contar com a colaboração de José
Inácio Aguiar para disputar espaço dentro da ASCOR enquanto representação partidária.
96
SINDPREV-AL – Sindicato dos Trabalhadores em Seguridade Social e Trabalho no Estado de Alagoas.

107

empresa97. Uma dessas medidas truculentas da ECT está disposta na Portaria 0671/84, emitida
em 29 de outubro de 1984 e assinada pelo então diretor regional Celso Pinto Mangueira, cuja
penalidade era um dia de suspensão aplicada ao funcionário Sebastião Silva Monteiro,
condutor de veículos, lotado no Setor de Transportes, acusado de deixar de abastecer a viatura
que estava em seu poder. Em sua defesa, Monteiro alegava que era da ciência do auxiliar do
chefe, denominado de Juvenal, o fato de o veículo estar com marcador de combustível
defeituoso e com o tanque furado. Entretanto, a pena foi aplicada em 01 de novembro de
1984.
Ainda na primeira metade da década de 1980, iniciativa aglutinadora foi posta em
prática por Pedro Porcino, empregado dos Correios em São Paulo, que se utilizava das malas
postais para enviar panfletos a diversos estados incentivando a criação das associações de
empregados. Chegando a Maceió, os trabalhadores ao manipular as malas passavam a ter
acesso ao material “subversivo” contendo denúncias de perseguição e demissão de
trabalhadores. Um deles era o carteiro Luiz Batista, mas conhecido pela alcunha de Luizão
(SILVA, 2008, p. 38).
Esta forma de comunicação “subversiva” situava os trabalhadores sobre o quadro
nacional das perseguições e semeava nas lideranças ecetistas alagoanas a necessidade de
organização para fazer valer os interesses da categoria98. Estrategicamente foi avaliado de
forma antecipada o sentimento da categoria sobre a criação de uma associação. A avaliação
mediante pesquisa ocorreu através da distribuição de 500 questionários cujo resultado apontou
para o percentual de 80% dos votantes concordando com a criação da entidade.
À mesma época, ganhava força pelo Brasil a campanha das Diretas Já - Movimento
político-popular que acelerou a transição da ditadura para a democracia por meio das grandes
manifestações populares em todo o país. Transição que foi conduzida sob o pacto firmado
entre os militares e as elites políticas e econômicas brasileiras. Um pacto pela
redemocratização, mas, que excluía a classe trabalhadora, deixando-a efetivamente fora das

97

As declarações dadas por Cícero Lourenço foram colhidas informalmente por mim durante curso de formação
sindical realizado pelo Sindicato dos Trabalhadores na Empresa de Correios e Telégrafos em Alagoas, em 27 de
julho de 2013. Ainda segundo Lourenço, o local utilizado para as reuniões dos carteiros era a lanchonete do “seu
Luiz”, em funcionamento no edifício sede da ECT, localizado na Rua do Sol, atual Rua João Pessoa, nº 57,
Centro de Maceió.
98
Na maioria dos casos, o trabalhador não consegue prescindir totalmente de lideranças, necessitando, pelo
menos, de alguns porta-vozes para representá-lo nas negociações com o empregador e as autoridades públicas
(LINDEN, 2013, p. 224).

108

negociações que permitissem as transformações sociais – o que a tornou apta para a
radicalização com fortes críticas aos militares e a setores da política nacional.

De acordo com Rodrigues (1994), esse processo foi a continuação da transição
democrática “lenta, gradual e segura” que se iniciou no governo Geisel (1974-1979),
quando os grupos dominantes, militares, burguesia e políticos gerenciavam as
mudanças. A abertura seria feita de forma controlada, com os dispositivos de
exceção criados durante a ditadura substituídos por outros que garantissem aspectos
institucionais básicos e a participação popular dentro dos limites da lei.
A transição democrática se iniciou no Brasil em 1974, não como uma ruptura
democrática, mas como uma transição pacata, negociada, feita por meio de alianças
com setores dissidentes do regime autoritário, com compromissos que implicavam
concessões econômicas e sociais. Transição feita de cima para baixo pelo Colégio
Eleitoral sem reformas sociais e econômicas [...] (ROSTOLDO, 2014, p. 107/108)

Apesar da aproximação de setores da sociedade para uma transição negociada, ela não
foi tão pacata se levarmos em consideração as manifestações sociais ao longo dos anos de
1970 e 1980, “em torno da ampla luta sobre a forma, objetivos e ritmo da abertura, ou
transição, do regime militar implantado em 1964 em direção a um Estado de Direito” (SILVA
in FERREIRA; DELGADO, 2003, p. 247). Segundo Maciel (2012, p.20),

Da burguesia do setor de bens e capital com os defensores de um projeto
neodesenvolvimentista – os chamados ‘economistas de oposição’ –, durante a crise
da Ditadura, esta demonstrou não ser capaz de viabilizar uma aliança político-social
que envolvesse a burguesia de Estado, o médio capital e até setores assalariados em
torno de uma retomada do desenvolvimentismo (CRUZ, 1997).

Fora do pacto pela redemocratização, a proposta dos opositores ao governo, a exemplo
da CUT e do PT, era assegurar aos trabalhadores espaço na vida social do país. Dentre as
ações, o combate ao sindicalismo de Estado, a criação de associações de trabalhadores no
setor público e o exercício da greve – enquanto instrumentos básicos contra a forte crise
econômica dos anos de 1980 e contra o processo de transição conservador. Fora do processo
oficial da redemocratização, os movimentos de esquerda intensificaram as ações de fortes
críticas aos planos econômicos e ao “manco” pacto social elaborado pelas elites.

Passada a conjuntura de isolamento político do final do governo Figueiredo
(MACIEL, 2004, p. 305-320) e esgotadas as ilusões populares com as perspectivas
transformadoras da Nova República, o movimento antiautocrático das classes
subalternas conseguiu retomar sua ofensiva. Dirigido pela CUT, principalmente,
intensificou o processo de sindicalização e iniciou uma nova escalada grevista,

109

liderada pelos funcionários públicos, indicando sua resistência ao processo de cortes
no setor público, mas com forte ressonância em outros setores, como metalúrgicos,
bancários e trabalhadores rurais (BOITO JR, 2004 apud MACIEL, 2012, p. 22).

Para uma transição política operada “por cima” e, até então, exitosa, mesmo diante das
dificuldades, a irrupção dos trabalhadores foi uma surpresa (MACIEL, 2012, p. 81). Os
sindicatos sob o controle das oposições sindicais e as associações de trabalhadores
combativas, nos idos de 1985 em diante, adotaram estratégias de forte oposição contra o
recém-implantado governo civil, resistindo assim contra as políticas governamentais
excludentes e de continuidade. Segundo Almeida (1996, p. 32), “Mesmo depois que o
governo militar saiu de cena, o confronto continuou sendo a estratégia dominante do
sindicalismo ativo, embora já não fosse a única”. Ao longo de 1985, seriam contabilizadas
927 paralisações, um aumento de 50% em relação às 618 do ano anterior (MACIEL, 2012, p.
82). Esses confrontos continuaram ocorrendo nos anos posteriores e se deram também no
campo das ideias e da propaganda. A ASCOR fez coro nesses protestos conforme texto
informativo datado de abril de 1987.

Um grito de liberdade!

Num ato público promovido pela ASCOR no dia 24 passado em frente ao edf. sede
da ECT, os ECETISTAS Alagoanos deram uma clara e vigorosa demonstração de
que não aceitam conviver, pacificamente, com o regime policial-fascista encabeçado
pelos Srs. JARBAS MARANHÃO e ANILDSON MENEZES, e que se reflete mais
claramente em ATOS DE ODIOSA REPRESSÃO aos trabalhadores dos correios.
São punições arbitrárias e absurdas que acontecem diariamente. Não existe um
mínimo de liberdade e respeito aos direitos mais elementares dos ECETISTAS.
JARBAS MARANHÃO e ANILDSON MENEZES são maestros de uma orquestra
de ditadores que faz inveja a qualquer Bulhões da vida. Todo ECETISTA conhece
bem as práticas criminosas de diversas figuras de proa na direção da empresa em
Alagoas. É trágico para os trabalhadores dos correios, o histórico da atuação do
GOT
ROBERTO
CARNEIRO,
PRINCIPAL
RESPONSÁVEL
pelo
ASSASSINATO do companheiro MÁXIMO FIEL. Este companheiro morreu do
coração, em plena via pública, trabalhando, porque não pôde consultar um médico,
SOB PENA DE SER PUNIDO pela figura escabrosa do GOT, conhecido nos meios
ECETISTAS como “O TERRÍVEL”. Isso para não nos aprofundar em outras
atitudes mais corriqueiras que significam cerceamento da liberdade de pensamento e
expressão, e, até, da livre locomoção dos trabalhadores dentro de seu setor de
trabalho.
Esse clima de TERRORISMO PSICOLÓGICO imposto pela DR/AL, NÃO FOI
SUFICIENTE PARA CALAR OS ECETISTAS. A maioria de nós estávamos lá, na
manifestação promovida por nossa entidade de classe. ESTAMOS UNIDOS E
SOLIDÁRIOS EM NOSSA CAMINHADA PARA A LIBERDADE!
Este foi apenas o primeiro passo de muitos que serão dados pela ASCOR no sentido
de que possamos por um fim definitivo a essa prática de abutres a serviço dos

110

exploradores e do imperialismo. Queremos ver estabelecido dentro da ECT o nosso
DIREITO À LIBERDADE e o RESPEITO À NOSSA CONDIÇÃO DE
TRABALHADORES que de fato produzem as riquezas que hoje, pra nossa
desgraça, é usufruída por uns poucos privilegiados.
TUDO O QUE DENUNCIAMOS, TODOS SABEMOS QUE É VERDADE. É
PRECISO LUTAR PARA VENCERMOS UM DIA! VIVA OS ECETISTAS!!!
(Editorial – Informativo ASCOR, ano 2, nº 9 – Maceió, abril de 1987)

Devido ao tratamento dado pelos Correios a seus trabalhadores, sempre no
cumprimento das orientações do Ministério das Comunicações, liderado por Antônio Carlos
Magalhães e muito distante do discurso oficial do governo de transição para a democracia, as
críticas ao governo civil passaram a ser rotina em meio à categoria ecetista. Percebe-se que
nos embates de forte oposição, a ASCOR adotou um discurso de criminalização da ECT e de
seus gestores acompanhado pela descrença na transição democrática. Ou seja, para as
lideranças sindicais dos ecetistas a transição democrática não estava acontecendo nos
Correios.
Nos boletins informativos, nas reuniões com os trabalhadores, a exemplo das
assembleias gerais ou em encontros informais entre grupos de ecetistas nos bares de Maceió,
o assunto sempre descambava para a vida difícil nos Correios, quando se falava dos chefes
arbitrários e das medidas políticas e econômicas do governo federal. O teor desses momentos
estava sempre arraigado e fortemente influenciado pela conjuntura de luta dos movimentos
sociais pelas liberdades democráticas com participação ativa dos trabalhadores em todo o
processo.
No plano nacional, setores conservadores reagiram às mobilizações, às ondas de greve
e ao protagonismo do movimento sindical nacional liderados pelas centrais sindicais.

As disputas internas da burguesia pelo projeto político que deveria dar consequência
à “nova” República causaram tensionamentos que foram resolvidos
momentaneamente em 1987/88 com uma reorganização das forças políticas mais
reacionárias em torno do Governo Sarney e do chamado “centrão”. Mandato de 5
anos para Sarney, defesa do papel dos militares como tutores do regime
institucional, da propriedade privada sem restrições sobre sua função social, defesa
do grande capital transnacional ou nacional, do latifúndio, etc., e uma ordenação do
Estado que mantém todos os mecanismos de repressão e controle sobre o
movimento operário e popular, esse foi o programa dessa articulação hegemônica da
“Nova” República. (Resoluções do 3º CECUT/CUT/AL, 1989, p. 02)

No entanto, a forte rejeição popular ao governo Sarney, em razão de não ter
solucionado os problemas econômicos nacionais, fez com que a burguesia e o aparelho

111

governamental perdessem o controle da crise e recorressem as receitas do Fundo Monetário
Internacional e suas imposições.

2.5 Greve: como prevenir e desmobilizar

A grande quantidade de greves no período, seguramente preocupou a classe patronal.
Mesmo sendo um fato isolado, nos arquivos do SINTECT-AL encontramos uma cartilha,
apócrifa, portanto de origem desconhecida, possivelmente de 1989, de caráter confidencial e
intitulada: Greve: como prevenir e desmobilizar. Não sabemos como chegou aos arquivos do
sindicato. Seu conteúdo foi escrito para fazer parte de alguma formação de chefes ou para
diretamente instruir gestores de como proceder para prevenir e desmobilizar greves, elaborar
estratégias para evitá-las, conquistar o maior número possível de trabalhadores, evitando a
adesão às causas da classe e/ou para municiar os gestores de conceitos que os habilitassem a
lidar com as paralizações.
A riqueza de detalhes chama atenção para a preocupação com a insatisfação dos
trabalhadores e as definições dos tipos de greve. “Greve de zelo”, “operação tartaruga”,
“greve branca ou braços cruzados”, “greve pipoca ou de tempo”, “greve de ocupação”, “greve
de confrontação ou de piquetes”, além das definições sobre alguns tipos de líderes sindicais, a
exemplo do “líder ideológico ou politizado”, o “líder informal adotado pelo politizado”, o
“líder informal leal ao chefe”. Em sequência, um quadro contendo toda dinâmica para a
prevenção e desmobilização das greves.
A cartilha encerra com algumas recomendações para o “plano de emergência em
situações de greve” e que entendemos valer a pena transcrevê-las abaixo.

- Após a greve, a empresa não deve manter o núcleo de mobilização que gerou o
movimento. Assim recomendamos: diluir (ou seja, demitir progressivamente) sem
justa causa: anarquistas; líderes sem estabilidade; chefias comprometidas; e últimos
da lista de retorno ao trabalho (desestimulando as futuras greves).
- Haverá elementos de confiança da empresa infiltrado como grevista. Elementos
infiltrados nas assembleias;
- Pessoal dormindo na empresa;
- Filtragem psicológica;
- Plano de Chamada atualizada durante todo o ano, consolidando novos endereços,
quem irá chamar quem, etc;
- Deixe passar 30 dias e comece a diluir os mais mobilizáveis através de demissões
sem justa causa (3 ou 4) nas sextas-feiras, ao fim do expediente.
Essas recomendações fazem parte de um estudo confidencial, bastante detalhado,
que vem sendo utilizado pela classe patronal para se prevenir e combater as lutas dos

112

trabalhadores contra a exploração. Não é preciso ressaltar a utilidade desse estudo
para o movimento sindical. A discussão ampla do modo como age o inimigo de
classe vai contribuir para elevar a consciência e a organização da classe
trabalhadora.

De toda maneira, apesar da confidencialidade, o documento foi parar nas mãos de
algum dirigente do SINTECT-AL. Presume-se que se foi posto um carimbo da instituição
sobre a capa e arquivado é porque havia no documento alguma importância para entender o
modus operandi das chefias dos Correios sobre os trabalhadores e os adeptos das ideias
sindicais na empresa. É possível também que este material tenha sido desenvolvido pelos
Correios para ser trabalhado nas formações de seu corpo gerencial, mas não há certeza.

Foto 2 - Cartilha Greve: como prevenir e desmobilizar.

Foto: Roberval S. da Silva

De modo geral, é possível identificar na cartilha algumas práticas dos Correios contra
os trabalhadores no período estudado. Aguardar um tempo de 30 dias pós-greve para começar
a dispensar os grevistas ou simpatizantes do movimento sindical; demissão sem justa causa
para dificultar contestações na Justiça do Trabalho; dispensa de poucos trabalhadores (02 ou

113

03) as sextas-feiras para evitar um clima de desânimo e descontentamento dos colegas no dia
seguinte, já que seria um sábado e depois um domingo para que o fato fosse melhor
assimilado, etc.

2.6 Uma Associação para os Ecetistas: a ASCOR

Em 1985, o Brasil estava entre os países com as maiores taxas de greves
(ROSTOLDO, 2014, p. 101)99. Naquele momento, houve um grande aumento nas
paralisações do setor público, que em 1985 representaram 31,2% devido à adesão dos
assalariados da classe média (professores, médicos, bancários, etc.) e os trabalhadores da base
(correios, motoristas, comerciários, funcionários de escola e universidades, etc.) (MACIEL,
2012, p. 82).
Nessa conjuntura de ebulição social ocorrida na década de 1980, a partir de 1985, ano
em que vários segmentos realizaram sua primeira greve (idem, p. 101), associações de
trabalhadores de Correios começaram a surgir por todo o Brasil. Ainda segundo Rostoldo
(2014, p. 102),

As mudanças do sindicalismo brasileiro na década de 1980 apontaram um
indiscutível fortalecimento do movimento, que se expandiu e criou centenas de
novos sindicatos oficiais e associações do setor público de caráter sindical. [...] As
associações de funcionários públicos se converteram em ativos sindicatos e
passaram a demonstrar que era possível organizar os trabalhadores sem a tutela do
Estado. Mostraram que era possível a representação sem o aval estatal, assim como
se manter financeiramente sem as contribuições sindicais compulsórias e negociar
com os patrões fora de datas-bases e do controle da Justiça do Trabalho.

Diante da perspectiva da representação sindical por meio de associações de classe,
levados por um difícil período político-econômico e inspirados no movimento de
trabalhadores do ABC paulista, os trabalhadores ecetistas perceberam que era chegada a hora
das mudanças administrativas nos Correios e de acompanhar o desejo de transformação social
e econômica, muitas vezes sinalizados pelas greves no Brasil.

Apesar de a onda grevista ter-se iniciado já no primeiro trimestre, contabilizando
cerca de 100 movimentos só no Estado de São Paulo, a greve dos metalúrgicos do
ABC paulista, cujos sindicatos eram controlados pela CUT, em abril galvanizou o
99

Entre 1978 e 1984 registraram-se 259 movimentos grevistas no Brasil. Número pequeno, se comparado com o
período entre 1985 e 1990, quando ocorreram 2203 greves no país. (ROSTOLDO, 2014, p. 100)

114

movimento sindical, espalhando-se entre os metalúrgicos de outras cidades do
interior e diversas outras categorias, como os químicos, professores, trabalhadores
nos setores de energia elétrica, transporte, correios, totalizando 142 greves entre
abril e junho, 58 delas em São Paulo (OLIVEIRA, 1987 apud MACIEL, 2012, p.83)
(Grifo nosso)

No âmbito interno dos Correios, esse desejo de transformação indicava uma oposição
ao corpo burocrático de formação conservadora na ECT anteriormente inspirado em conceitos
militares transmitidos por oficiais do Exército e por administradores da Escola Superior de
Administração Postal – ESAP, cujo quadro docente, como já dito, era composto por civis e
por oficiais instrutores das Forças Armadas.
As associações também surgiram em meio a trabalhadores vitimados pela política de
baixos salários e pelos altos índices de inflação. Contrapondo essa política econômica dos
Correios, as associações nasceram de maneira espontânea, forjadas nas greves, plantadas nos
centros de distribuição domiciliária e com singela estrutura e apoio logístico. Tratava-se de
uma resposta às medidas econômicas alinhadas à formação e práticas administrativas de
influência militar na ECT.
A história do movimento das estatais tem sido marcada pelas demissões de
funcionários. São melhores os companheiros que perderam seus empregos nas lutas
por nossos direitos. Em particular, o quadro de funcionários dos correios foi um dos
mais atingidos por essa ação fascista da ditadura militar e do Governo da Nova
República de perseguir e demitir ativistas sindicais. (Informativo ASCOR, maio de
1988, p. 02 e 03).

Adalberto Moreira Cardoso colabora com essa hipótese ao confirmar que “as relações
de trabalho no nível micro eram profundamente adversárias devido a regimes autoritários de
trabalho e ao uso predatório da força de trabalho, expressa em gerência despótica, baixos
salários, altas taxas de rotatividade e extensão das horas de trabalho via horas-extras”
(CARDOSO, 2003, p. 35).
Em Alagoas, coube à ASCOR combater a continuidade das práticas ditatoriais
comandadas pelos Correios e fielmente executadas no estado. Em Maceió, a associação
contou com o apoio logístico do Sindicato dos Bancários. Colaboração que contribuiu para a
sua criação no dia 19 de abril de 1985, em auditório pertencente a este sindicato. A comissão

115

de fundação era composta por Judson Cabral de Santana100, Adilson Batista Leite, Édile
Tenório Barros Lima, José Carlos Andrade Rocha e Ana Lúcia Fernandes de Lima.
Durante a assembleia de fundação, que contou com significativa participação de
funcionários, foram apresentados como pontos de pauta: a fundação da associação e
aprovação dos estatutos, eleição da diretoria, valor da contribuição mensal e outros temas de
interesse dos ecetistas.
O fato de todos os carteiros de Maceió trabalharem concentrados num único centro de
distribuição domiciliária, executando as mesmas tarefas, contribuiu para o trabalho de
conscientização sobre a importância da unidade entre todos e para propagar as queixas
relacionadas às dificuldades econômicas no meio familiar. Até porque, “na comunidade em
que a orientação pelas tarefas é comum parece haver pouca separação entre o ‘trabalho’ e a
‘vida’. As relações sociais e o trabalho são misturados” (THOMPSON, 1998, p. 271).
O trabalho diário sempre se dava pelo recebimento das cartas e encomendas, sua
separação por distritos (bairros e ruas) e o consecutivo ordenamento pela manhã sempre
acompanhado pelo olhar atento do chefe do centro de distribuição domiciliária. O turno da
tarde era reservado para a distribuição externa, quando o carteiro ao sair para entregar as
cartas, se deparava com as condições insalubres da chuva, do sol, do peso da bolsa e das
iminentes possibilidades de acidentes de trabalho.
Nessas condições, a concentração dos carteiros num único setor de trabalho facilitou a
propagação, pelas lideranças da ASCOR, da comunicação de resistência, da difusão de ideias
e a mobilização para as manifestações, seguindo o modelo da organização de base dos
trabalhadores do ABC paulista101.

O espaço público foi recuperado pelos trabalhadores que, a partir das greves de 1978
no ABC e Zona Sul paulistas, veem o movimento se alastrar pelo país, não apenas
como retomada do movimento reivindicatório, mas como rompimento de uma
prática que submetia a organização das categorias profissionais aos limites impostos
pelo Estado aos sindicatos, buscando uma maior proximidade com os trabalhadores.

100

Judson Cabral de Santana foi engenheiro civil nos Correios de Alagoas. Teve que deixar a empresa para
assumir a presidência do Sindicato dos Engenheiros, transferindo-se para a Telasa (Empresa de
Telecomunicações de Alagoas – extinta no governo FHC). Foi vereador de Maceió pelo PT por dois mandatos.
Foi candidato a governador de Alagoas e a prefeito de Maceió. Na década de 1990, após considerável
amadurecimento político, prestou importantes serviços para a categoria dos Correios em Alagoas e para os
movimentos sociais. Foi deputado até fevereiro de 2015, quando afastou-se da Assembleia Legislativa de
Alagoas por não conseguir a reeleição.
101
As principais manifestações no ABC paulista em fins dos anos de 1970 ocorreram em virtude das
mobilizações iniciadas nos locais de trabalho através das organizações de base.

116

Essa nova organização nos locais de trabalho proporcionou novas formas de
negociações entre patrões e empregados, a participação no movimento de
trabalhadores não sindicalizados e a manutenção de greves como, a dos metalúrgicos
do ABC paulista. (ROSTOLDO, 2014, p. 103)

Nos Correios a noção de hierarquia e disciplina foi tão rígida que, durante muito
tempo, as punições foram utilizadas com o intuito de intimidar e pressionar coletivamente
(BARROS NETO, 2014, p. 140). O Centro de Distribuição Domiciliária de Maceió possuía
uma efetiva organização no local de trabalho que foi decisiva para a criação da ASCOR. Era
um “barril de pólvora” onde os carteiros viviam reprimidos pelas regras internas plenamente
cumpridas pelo chefe da unidade. Intransigente, Carlos Roberto Davi102 fazia uso das
comunicações internas (CI’s) para ameaçar e punir os carteiros. As CI’s deveriam ter a
finalidade de fazer o trabalhador tomar ciência de certo fato, ordem ou orientação de serviço.
Entretanto, tornaram-se instrumentos de intimidação no qual o trabalhador, após ser indagado
sobre algum ocorrido e respondê-la, aguardava uma punição administrativa praticamente
certa.

Ao sancionar um empregado, a penalidade era divulgada nos meios de comunicação
interna da Empresa e, nos tempos mais duros, lida em voz alta para todos os
empregados, sendo depois fixada no quadro de avisos das unidades de trabalho.
Mesmo depois da abertura política, promovida inclusive na empresa, era comum a
divulgação das penas máximas (demissão por justa causa) aplicadas a empregados,
prática que só deixou de ser legítima com a promulgação da Constituição da
República Federativa do Brasil em 05 de outubro de 1988 (BARROS NETO, 2014,
p. 141).

Após confirmar que os Correios praticavam sessões de constrangimentos ao expor
publicamente as penalidades aplicadas aos trabalhadores, Barros Neto tenta remediar a
péssima relação de trabalho na ECT ao afirmar que, no período [1980-1990] a abertura
política também foi promovida nos Correios. Discordamos dessa afirmação porque o processo
de prática administrativa militar exercida por diversos gestores oriundos das escolas de
correio, em meio ao massacre político capitaneado por Antônio Carlos Magalhães, com
perseguições as lideranças e simpatizantes da organização de classe na empresa inviabilizou
sobremaneira a abertura política nos Correios.

102

Carlos Roberto Davi hoje é aposentado dos Correios, na década de 1980 era o gestor responsável pelos
carteiros no único Centro de Distribuição Domiciliária de Maceió. É considerado por muitos como algoz dos
carteiros e responsável por várias demissões e punições a seus subordinados no período. Na informalidade dos
carteiros era apelidado de “Jacaré”, devido ao pouco trato e às truculências cometidas a serviço da ECT.

117

É fato que os militares utilizaram as escolas de correios para difundir uma cultura e
valores comuns em toda a organização, que possibilitou aos Correios uma continuidade e
efetividade administrativa e garantiu, aos militares e à organização, a consecução de seus
respectivos objetivos (BARROS NETO, 2014, p. 142). Entretanto, essa mesma efetividade
administrativa representou para os trabalhadores perseguição política, intolerância, milhares
de demissões e o medo que os Correios nutriam em seus empregados.
Diversas comunicações internas foram sentenças condenatórias, punições de
advertência, suspensão ou de carta demissionária sem o direito a ampla defesa. Assim, nos
anos de 1980 e 1990, as temidas CI’s levavam o terror psicológico aos ecetistas que passaram
a entender que a saída contra todas as dificuldades até então relatadas seria a organização de
classe por meio de uma associação profissional. De modo que, com nomenclatura
diferenciada e participação nos momentos iniciais de trabalhadores da área administrativa, a
ASCOR rapidamente passou para o controle dos empregados da área operacional, em especial
dos carteiros. Uma das razões para esse feito foi à aglomeração num único setor de trabalho
desses profissionais que assumiram a linha de frente da ASCOR num claro apoio político ao
presidente Lourival dos Santos e contra a lógica antidemocrática e de exploração na empresa.

2.7 A luta pelo controle da ASCOR e as seguidas retaliações da ECT

Imediatamente após a criação da ASCOR ocorreu seu primeiro embate interno. Sendo
uma organização criada pela participação de funcionários administrativos e operacionais da
ECT, sua natureza combativa ou recreativa foi discutida na primeira reunião de trabalho,
ocorrida em 12 de junho de 1985. A reunião teve como principal ponto de pauta o
afastamento das funções de chefia nos Correios do primeiro-secretário José Inácio Aguiar
Ribeiro. O fato dividiu a diretoria e originou um embate sobre a natureza de atuação da
ASCOR tendo o grupo liderado pelo vice-presidente, engenheiro civil Judson Cabral103,
defendido a atuação recreativa da associação enquanto o grupo liderado pelo presidente da
entidade, telegrafista Lourival dos Santos, defendeu a combatividade (SILVA, 2008, p. 39).

103

O jovem engenheiro Judson Cabral de Santana era filho de militar, seu pai pelo que parece ocupava a
graduação de sargento do Exército Brasileiro e possivelmente tal situação pode ter influenciado sua postura
diante dos rumos da associação.

118

Dois meses depois, a 06 de agosto de 1985, as retaliações chegaram a Lourival dos
Santos. O motivo seria a distribuição de boletins informativos da ASCOR nos setores de
trabalho. A punição foi uma advertência por escrito de Celso Pinto Mangueira, então diretor
regional dos Correios em Alagoas.
O fato repercutiu na Gazeta de Alagoas, edição de 08 de agosto de 1985, após protesto
do deputado estadual Eduardo Bonfim, que classificou a punição como “medida policialesca
incompatível com o novo clima de liberdade instaurada no país.” O deputado afirmou ainda
que a “Nova República” não chegara aos Correios de Alagoas e lembrou que a empresa ficou
conhecida ao longo do regime ditatorial como um foco de controle severo da parte do Serviço
Nacional de Informação, instaurando-se nos Correios um clima de perseguição e intimidações
que não condizia com o novo momento. Ainda segundo a Gazeta de Alagoas,

O deputado estadual Eduardo Bonfim, do PMDB, denunciou ontem, através de
indicação na Assembléia Legislativa, as perseguições contra funcionários da
Empresa de Correios e Telégrafos em Alagoas, por parte da direção regional da
empresa. Segundo o parlamentar, um numeroso grupo de funcionários da EBCT o
procurou para denunciar essas perseguições.
“A direção dos Correios em Alagoas está ameaçando funcionários com
transferências para o interior ou inquéritos administrativos para demitir aqueles que
decidem reivindicar qualquer coisa”.
Um fato que comprova as denúncias formuladas pelos servidores está acontecendo.
Usando o pretexto de que o presidente da Associação dos Servidores dos Correios,
Lourival dos Santos, estava distribuindo documentos da entidade dentro da empresa,
o diretor regional da ECT, Sr. Celso Pinto Mangueira, mandou abrir inquérito
visando punir o funcionário, e se possível demiti-lo – afirmou Eduardo Bonfim.
O deputado oposicionista diz que “essas perseguições estão atingindo todos os
servidores que não concordem com os métodos militaristas implantados na ECT
pelo citado diretor”. (Gazeta de Alagoas, edição de 08 de agosto de 1985, p. 03)

Defender uma associação de natureza recreativa e ser contra a greve geral dos ecetistas
em uma conjuntura extremamente desfavorável, deve ter sido tarefa difícil para o grupo da
área administrativa. O impasse foi decidido pela categoria três meses após a reunião que
iniciou o debate sobre a natureza da ASCOR. Em assembleia geral realizada na noite de 30 de
setembro de 1985, no auditório da Ordem dos Advogados do Brasil-seccional Alagoas, o
presidente Lourival dos Santos fez um discurso inflamado criticando a política econômica do
governo Sarney e conclamou a plenária para a greve geral dos trabalhadores, prontamente
decretada pela categoria na mesma noite, mas com vigência a partir do dia 02 de outubro de
1985. Naquele momento, Judson Cabral, discordando da natureza combativa da ASCOR,

119

renunciou a vice-presidência e foi seguido por outros funcionários da área administrativa,
principalmente os que compuseram a comissão de fundação da associação.
A divisão, embora politicamente fragilizasse a ASCOR, não a descredenciou quanto à
representatividade dos ecetistas. Seu fim foi preservado, tanto que nos textos divulgados em
seus boletins informativos, a defesa era para uma categoria unida e fortalecida contra as ações
da ECT e do governo federal. Nas negociações com os Correios, os resultados alcançavam
todos os funcionários e Alagoas estava sempre representada pela Associação.
O segundo embate se deu entre as representações partidárias do PT e PCdoB dentro da
associação. Com a predominância do Partido dos Trabalhadores representado por Lourival
dos Santos, evidenciou-se o controle deste grupo político sobre a ASCOR. José Inácio Aguiar,
oposição representativa do PCdoB, não conseguindo maioria durante os embates foi preterido
por Lourival e excluído da chapa que disputaria as eleições para a próxima diretoria da
ASCOR104. Essas disputas entre PT e PCdoB já vinham ocorrendo há alguns anos a exemplo
do que aconteceu durante o III ENCLAT/Alagoas, em 1983, quando após acusar o PCdoB de
tentar manobrar o encontro em seu favor político ao tentar eleger delegados afinados com a
sigla para o I CONCLAT que fundaria a CUT nacional, o PT provocou um racha no
movimento sindical alagoano arrastando para sua influência a maioria dos sindicatos e
associações de então, dentre estes os mais influentes e com maior número de trabalhadores.
Logo se percebe que os momentos iniciais de existência da Associação foram pautados
por divergências externas e internas quanto a sua natureza e controle político ideológico105.
Este fato nos remete a Gramsci (2002, p. 135) quando este afirma que

A história dos grupos sociais subalternos é necessariamente desagregada e episódica.
É indubitável que, na atividade histórica destes grupos, existe tendência à
unificação, ainda que em termos provisórios, mas esta tendência é continuamente
rompida pela iniciativa dos grupos dominantes e, portanto, só pode ser demonstrada
com o ciclo histórico encerrado, se este se encerra com sucesso. Os grupos
subalternos sofrem sempre a iniciativa dos grupos dominantes, mesmo quando se
rebelam e insurgem: só a vitória “permanente” rompe, e não imediatamente, a
subordinação. Na realidade, mesmo quando parecem vitoriosos, os grupos
subalternos estão apenas em estado de defesa, sob alerta.

104

A postura de Lourival em deixar José Inácio Aguiar, representação do PCdoB, fora da diretoria da ASCOR na
eleição seguinte contribui para confirmar a radicalidade dos petistas a frente da associação no período. Visão
confirmada pelo professor Alberto Saldanha (militante do PCdoB à época) durante processo de qualificação
deste trabalho.
105
Nos referimos também à disputa interna ocorrida entre os trabalhadores da área administrativa de viés mais
conservador e próximo dos gestores e os trabalhadores da área operacional com características mais combativas
na defesa dos interesses da categoria.

120

Os embates e divergências entre os líderes da ASCOR e a diretoria regional dos
Correios continuariam ocorrendo. Tais atritos acabariam influenciando diversos trabalhadores
de base que passaram a ser simpatizantes das ideias de organização de classe nos Correios.
Sem vitória para os ecetistas, mas apenas ações e parcas conquistas de defesa, a resistência
dos trabalhadores dos Correios ganhava corpo e notoriedade no movimento sindical
brasileiro. Além do mais, a conjuntura era propícia para as mobilizações e o fortalecimento
das instituições combativas de classe, pois além das lutas por questões salariais, indo contra
os pacotes econômicos, havia ainda no governo de José Sarney a péssima relação de trabalho
nos Correios.

Aliás, este processo de mobilização sentido desde a virada da década, amplia-se
ainda mais em plena transição democrática, ao longo do governo de José Sarney
(1985-1989), o qual enfrentou um elevado número de movimentos reivindicativos
por parte dos trabalhadores, que foram desde a luta pela inserção de direitos sociais e
trabalhistas na Constituição de 1988, passando pelas greves locais e nacionais por
categorias, até as greves gerais contra diversos planos econômicos de seu governo
(Plano Cruzado e Plano Bresser, por exemplo). (SANTANA, 2003, p. 294-295)

Isso significa que taxas crescentes de inflação tornaram racionais as estratégias
contenciosas baseadas em greves de massa demandando a indexação dos salários. Isso
ocorreu, ademais, contra políticas públicas de controle da inflação baseadas justamente na
contenção dos salários reais (Tavares de Almeida, 1992) o que, como efeito colateral, verteu
greves estritamente econômicas em protestos políticos diretos contra o governo (CARDOSO,
2003, p. 35). A título de exemplo, pode-se citar a greve nacional conduzida pela CUT e CGT
em dezembro de 1986. Nela os trabalhadores de aproximadamente 23 estados brasileiros
cruzaram os braços. Sindicatos e associações de classe, a exemplo da ASCOR apoiaram o
movimento.
Todavia, o Estado não respeitava a organização de classe ecetista. Posição claramente
demonstrada pelo governo federal quando, sem o necessário diálogo e a mínima prudência
política numa conjuntura de “redemocratização”, o ministro das Comunicações Antônio
Carlos Magalhães determinou a demissão, por todo o país, de funcionários envolvidos com o
movimento paredista. Em Alagoas, 30 funcionários da estatal106, entre simpatizantes da

106

Praticamente toda a diretoria da ASCOR estava entre os demitidos pelo ministro Antônio Carlos Magalhães.

121

ASCOR e lideranças da categoria diretamente envolvidos com o movimento classista foram
sumariamente demitidos por participação na greve geral dos Correios em 1985.

Foto 3 - Manifestação de trabalhadores dos Correios em Alagoas na década de 1980.

Fonte: autor desconhecido – Arquivo do Sintect-AL

O Jornal de Alagoas, edição de 19 de outubro de 1985, noticiou o fato com a matéria
intitulada Alagoas pára a greve na ECT. Em entrevista ao jornal, o então diretor regional dos
Correios, Celso Pinto Mangueira, justificava as demissões como sendo uma reação da
empresa contra “os elementos considerados cabeças do movimento grevista.” A questão foi
discutida na Assembleia Legislativa de Alagoas e os demitidos contaram com o apoio de
vários deputados.

A Assembleia Legislativa do Estado e diversos sindicatos de trabalhadores aderiram
às manifestações. Os deputados Moacir Andrade e Eduardo Bonfim denunciaram em
sessão parlamentar o ministro das Comunicações, como “ditador” e a Assembleia
aprovou por unanimidade uma indicação do deputado Eduardo Bonfim pedindo a
imediata readmissão dos demitidos. (SILVA, 2008, p. 47)

Os demitidos tiveram também o apoio do presidente da Assembleia Legislativa,
deputado Roberto Torres, dos sindicatos dos médicos, dos radialistas, assistente social,
jornalistas, metalúrgicos, bancários, Conclat, além de diversos profissionais liberais. Nessa
relação com o público em geral, Linden (2013, p. 211) aponta para o fato de que “caso [os

122

trabalhadores] consigam mobilizar um apoio significativo da opinião pública para sua
campanha, os grevistas, direta ou indiretamente, irão aumentar as pressões sobre o
adversário.” Tanto que no desenrolar da greve e após protestos de várias lideranças políticas e
um movimento de solidariedade que contou com o apoio da opinião pública, Antônio Carlos
Magalhães voltou atrás e os demitidos da ASCOR retornaram ao trabalho.

2.8 Trabalhadores dos Correios vão à luta: a greve de 1985107
A primeira greve da categoria dos Correios em Alagoas108 seguiu a tendência nacional
de paralisações por vários estados do país em meio à conjuntura de progressivos cortes nos
investimentos das empresas estatais, por aumento salarial em razão dos altos índices de
inflação e diminuição do poder de compra dos trabalhadores. As restrições econômicas se
deram desde o início da década de 1980 e foram as principais medidas adotadas pelo governo
federal para conter o déficit público (SOUZA, 1983 apud MACIEL, 2012, p.21). Precavidas
contra esses cortes, as associações de classe nos Correios passaram a defender, principalmente
nas greves, bandeiras econômicas nacionais relacionadas à quebra do monopólio postal. Havia
o temor da demissão em massa e do agravamento da desvalorização profissional e salarial.
Outras bandeiras de luta eram defendidas por todo o país nos primeiros meses de 1985, eis
algumas: redução da jornada de trabalho de 48 horas para 40 horas semanais, estabilidade de
dois anos e a incorporação aos salários dos 30% de antecipação salarial concedidos em maio
de 1985 em razão de movimento grevista nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.
Em meio à onda de greves no ano de 1985, o governo agiu de forma autocrática,
defendendo as leis herdadas do regime anterior, fazendo uso de mecanismos repressivos ao
seu dispor (MACIEL, 2012, p. 86). Há um relato disponível no site da Rede Brasil Atual109
que reflete bem as ações autocráticas do governo federal nos Correios.

107

Texto parcialmente publicado no livro Carta Aberta: o movimento sindical nos Correios de Alagoas (19851997), de minha autoria.
108
Inicialmente a greve de 1985 restringiu-se ao estado de São Paulo, no período de 6 a 8 de março. A greve
contou com a participação de, aproximadamente, 20 mil empregados reivindicando 155% de aumento salarial;
conseguiram 133%. Em abril de 1985, trabalhadores de vários estados também entraram em greve,
reivindicando, com sucesso, o mesmo aumento obtido pelos paulistas. (BOVO, 1997, p. 79)
109
http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2013/06/comissao-da-verdade-pedira-ao-ministerio-do-trabalhodados-de-sindicalistas-perseguidos-4881.html

123

A VERDADE QUE O CORREIO ESCONDE
Em 1985, a inspetoria dos Correios e os agentes do SNI invadiram a sede da nossa
Associação - ACETESP, na Praça Princesa Isabel, Centro de São Paulo, cortaram
água e luz, levaram todo nosso arquivo com o fichário dos nossos diretores e de
todos os sócios registrados. Em seguida, lacraram a porta e deixaram um aviso, uma
ordem judicial.
Todos os diretores foram enquadrados na Lei de Segurança Nacional. Fomos
intimados a depor no DEOP’S da Rua Piauí... Graças a interferência e, atuação, em
nosso processo, do advogado Eduardo Greenhalgh, enviado pelo “PT”, o processo
foi arquivado.
26 anos depois, conseguimos resgatar o nosso fichário, com uma relação de 956
nomes, encontramos no arquivo da “ABIN”, em Brasília. (Comentário de Paulo
Bezerra110 referente à matéria Comissão da Verdade pedirá ao Ministério do
Trabalho dados de sindicalistas perseguidos, publicado 11/06/2013 no site da Rede
Brasil Atual)

Com esta lista em mãos, a empresa executou a mando de Antônio Carlos Magalhães,
uma verdadeira varredura em cima dos funcionários filiados à Acetesp. Foram 3.000
demissões nos anos de 1985 e 1986 (Injustiça na Anistia in Inverta – Semanário Comunista
Voz Operária, edição 439, 12/09 a 06/10/2009, p. 04).
Em setembro de 1985, os ecetistas de São Paulo voltaram a protestar para denunciar
que mil e quinhentos funcionários haviam sido demitidos em razão da última paralisação
ocorrida no mês de maio. Os ministros militares não aceitavam, principalmente, as greves no
serviço público, proibidas pela Lei de Greve em vigor, exigindo sua aplicação pelo governo e
pela Justiça do Trabalho (Isto É, 8.5.1985 apud MACIEL, 2012, p. 86) À época, conforme
noticiou a Folha de São Paulo, edição de 11 de maio de 1985, Marco Antônio Angeiras
Bulhões, irritado, declarou que demitiria os responsáveis pelo movimento por considerá-lo um
ato irresponsável. O movimento foi classificado como de desordem pelo então Ministro das
Comunicações, Antônio Carlos Magalhães. Leia o que ele disse:
“Com certeza há um certo tipo de infiltração, que não pode ser bem recebido pelo
governo. Os pleitos dos trabalhadores merecem nosso apreço, mas a desordem não
pode merecer o respeito do governo.” Disse Antônio Carlos Magalhães, sem
explicar o que seria esta “infiltração”, alegando não pertencer a nenhum órgão de
informação. (ECT pede decretação de ilegalidade. Folha de São Paulo, edição de
11 de maio de 1985, p. 19) (Grifo nosso)
“Vamos tomar todas as providências cabíveis na lei contra aqueles que não querem
trabalhar nem deixam que seus colegas trabalhem.” Considerou a greve “absurda”
por se tratar de um serviço essencial.
“Dialogamos com movimentos reivindicatórios justos, mas não aceitamos os que
fazem greve para perturbar a ordem democrática. Assim vamos tomar todas as
110

Paulo Bezerra é ex-sindicalista demitido dos Correios na década de 1980 e presidente da Associação dos
Anistiados dos Correios de São Paulo.

124

providências cabíveis na lei”, enfatizou o ministro. (Ministro garante que vai acabar
com a greve nos Correios. Folha de São Paulo, edição de 15 de maio de 1985, p. 19)

Maciel (2012, p. 86) esclarece a citação acima identificando de onde partiam as
infiltrações ao afirmar que “em junho, foi a vez de o ministro das Comunicações, Antônio
Carlos Magalhães, criticar duramente a “infiltração esquerdista” no governo, o predomínio
das “esquerdas” no pacto social, além dos projetos de Lei de Greve e de reforma agrária do
governo.”
No Rio de Janeiro, grevistas chegaram a entrar em conflito com a Polícia Militar
devido a piquetes para reivindicar estabilidade para as lideranças da associação e a garantia de
que não haveria punição aos grevistas.

De acordo com o comando de greve, houve seis feridos durante os conflitos com a
polícia, iniciados pouco depois da meia noite, quando cerca de quarenta policiais
militares utilizaram jatos d’água e bombas de gás lacrimogêneo para garantir a saída,
do prédio central da ECT, de veículos da empresa carregados de malotes. Muitos dos
cinqüentas grevistas de plantão na porta do prédio tiveram que ser carregados pelos
policiais, pois insistiam em ficar deitados na calçada para impedir a saída dos
veículos. Ao final da assembléia de ontem, os grevistas decidiram organizar grandes
piquetes, no prédio central e nos centros operacionais da ECT, para evitar novas
retiradas de malotes. (Piquetes reprimidos no Rio. Folha de São Paulo, edição de 16
de maio de 1985, p.28)

Em 18 de maio de 1985, o diretor regional dos Correios de São Paulo, Marco Antônio
Angeiras Bulhões, puniu com demissão por “justa causa” onze membros do comando de
greve e integrantes da associação dos ecetistas em São Paulo111.
“Além das demissões, virão suspensões, e advertências. A cada ativista caberá a
punição na exata medida de sua participação nas atividades ilegais, como furar pneu
de carro dos Correios, botar cola na fechadura das portas e realizar pressão física nos
colegas para que não trabalhem,” disse um assessor da ECT, em Brasília. (Correio
prepara dossiê para punir “ativistas” da greve. Folha de São Paulo, edição de 20 de
maio de 1985, p. 13)

Segundo notícia da Folha de São Paulo, edição de 19 de maio de 1985, p. 26, “além de Marilena e Edvaldo,
foram demitidos: Pedro Porcino de Araújo (presidente da Acetesp), José Américo Queirós, Paulo Bezerra de
Melo, Sebastião Bezerra Sobrinho, Edivaldo Gerônimo de Brito, Claudecir Vengel, Efigênio de Souza Pereira,
Carlos Alberto Mihara, Manuel Teles de Souza.”
111

125

Em resposta às demissões, cerca de mil e quinhentos grevistas bloquearam, em 20 de
maio de 1985, o acesso à agência central dos Correios de São Paulo. Os funcionários
chegaram em passeata, após assembleia no Sindicato dos Bancários na qual decidiram manter
a greve. Em Brasília, o presidente da ECT, Laumar Melo Vasconcelos, prometeu aumentar as
punições após ter demitido toda a diretoria da Associação dos Empregados dos Correios no
Rio de Janeiro.
A greve só acabou em 22 de maio, quando em assembleia geral, cerca de dois mil
trabalhadores paulistas decidiram, após 13 dias de paralisação, suspender o movimento e
retornar às atividades normais sem que as principais reivindicações tivessem sido atendidas e
com saldo de 53 demitidos em São Paulo e 20 no Rio de Janeiro. Iniciava-se uma longa
batalha pelo retorno dos demitidos. Em 27 de junho de 1985, ainda havia movimentação da
Acetesp para reverter as demissões que aumentavam a cada dia.

Desde a última greve dos funcionários da Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos (ECT), em maio, cerca de duzentos empregados foram demitidos e a
empresa não pretende negociar as dispensas, segundo denunciou ontem ao ministro
Almir Pazzianotto, do Trabalho, o presidente da Associação dos Funcionários dos
Correios e Telégrafos (Acetesp), Pedro Porcino de Araújo. Porcino pediu ao
ministro que faça gestões junto à empresa para que sejam reabertas as negociações,
sustadas as dispensas e readmitidos os funcionários. (“Acetesp diz que 200
funcionários foram demitidos desde maio”. Folha de São Paulo, edição de 27 de
junho de 1985, p. 24)

Ao longo da greve, destaque para o monitor postal José Américo Queiroz, o Alemão,
então com 28 anos de idade, vice-presidente da Acetesp e que na ausência de Pedro Porcino,
que estava em Brasília para negociações, foi o principal líder do movimento em constante
diálogo com o presidente do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, principal ícone da corrente
política que influenciou de forma marcante várias lideranças dos ecetistas em Alagoas e no
país.
Na recente greve dos funcionários dos Correios – mais política que essencialmente
reivindicatória -, a segunda deflagrada neste ano, o sr. Luiz Inácio Lula da Silva,
conforme o noticiário da imprensa, foi um orientador preponderante. Como
experimentado consultor esteve traçando diretrizes aos dirigentes paredistas dos
carteiros, inexperientes, porém comprometidos, simpatizantes e filiados ao PT que
faz das greves, também, um movimento expansionista de propaganda política. (O
pacto e o pato. Folha de São Paulo, edição de 01 de junho de 1985, p. 3).

126

No Rio de Janeiro, sete demitidos fizeram greve de fome por 72 horas na Câmara
Municipal do Rio. Eles pediam a reintegração de 24 funcionários demitidos na capital
fluminense. Os grevistas eram: Fernando Antônio da Silva, Elias Laje, João Anchieta, Ernani
Coelho, Antônio Fernando Cardoso, Luís Mário e Sérgio Simões.
Nova mobilização aconteceu em alguns estados no mês de setembro de 1985. Em
Maceió, no auditório da Ordem dos Advogados do Brasil – Secional de Alagoas, cerca de 250
trabalhadores se reuniram em assembleia extraordinária, em 18 de setembro, coordenada pela
ASCOR, e deliberaram pela realização de ato público em protesto contra o não cumprimento,
por parte da ECT, da incorporação de 30% de reajuste salarial como estabelecia a Carta de
Brasília. A orientação para a realização de ato público em todo o Brasil partia da UNECT112 e
o primeiro secretário da ASCOR, José Inácio Aguiar, utilizando-se de uma característica do
“novo sindicalismo”, conclamou todos os trabalhadores a fazerem a mobilização em todos os
setores de trabalho para que o ato público demonstrasse a unidade da categoria.
Com uma possível greve nacional em andamento, havia uma preocupação por parte do
grupo de diretores liderados pelo vice-presidente da ASCOR quanto aos encaminhamentos
que estavam sendo tomados. Judson Cabral procurou esclarecer a diferença existente entre um
ato público e uma greve, pois naquele momento entendia que uma greve seria imatura
trazendo possíveis prejuízos para os trabalhadores. Possivelmente, Judson Cabral estivesse
preocupado com as demissões ocorridas em São Paulo e Rio de Janeiro após as mobilizações
de maio, quando dezenas de trabalhadores foram demitidos em razão da greve. Entretanto, o
carteiro José da Silva Correia113 e o empregado Jarbas conclamaram todos os trabalhadores
para dobrar o número de presentes ao ato público.
Naquele período, havia uma mobilização nacional pela greve. Em Alagoas o periódico
Luta Popular, em matéria intitulada “Servidores dos Correios decidem hoje se vão parar.”, fez

UNECT – Embora não tenha conseguido informação oficial dessa sigla, provavelmente seu significado seja
União Nacional dos Empregados dos Correios e Telégrafos. Movimento ligado aos primeiros momentos das
associações. Nas fontes primárias consultadas, ela aparece uma única vez sob a forma de sigla em fala de Judson
Cabral, conforme registro em Ata de Reunião da Diretoria da Ascor. Entretanto, durante as pesquisas foi
encontrada, em alguns boletins Informativos da ASCOR a sigla UNAC – União Nacional das Associações dos
Trabalhadores dos Correios. (Informativo ASCOR, setembro de 1986).
112

113

José da Silva Correia nasceu em Maceió, no dia 01 de agosto de 1960. Ingressou nos Correios em março de
1980 no cargo de carteiro, sob a matrícula 8.026.373-9. Após atuação na construção do movimento sindical
ecetista, foi demitido em 20 de julho de 1987 por perseguição política. Como coordenador da Anistia do SintectAL, onde atuou em prol dos demitidos por razões políticas, conseguiu ser anistiado no governo Lula.

127

alusão a um Ato Público realizado no final da tarde do dia 23 de setembro de 1985, com
participação de aproximadamente 400 funcionários, no Calçadão da Rua do Comércio, Centro
de Maceió. O encontro tinha como principal objetivo chamar a atenção da sociedade e
protestar contra o descumprimento de acordo pelos Correios para reposição salarial.
Em resposta ao Ato Público, a empresa tentou desmobilizar o movimento paredista
pressionando os trabalhadores que já passavam por situação econômica difícil. Na época, as
ameaças de demissão eram constantes. Em clima muito tenso, o presidente Lourival dos
Santos já havia sofrido tentativa de agressão do então diretor regional, Celso Pinto Mangueira,
porque insistiu em participar de reunião na qual os funcionários da Agência Central seriam
ameaçados de demissão pelo diretor dos Correios, caso aderissem à greve.
Em 24 do mesmo mês, a Folha de São Paulo noticiava que na noite anterior “cerca de
setenta trabalhadores dos Correios promoveram um ato público na Praça Ramos de Azevedo,
centro de São Paulo.” Em entrevista, Maria Anacleta Nunes dos Santos, componente do
Conselho de Representantes da Associação dos Funcionários da ECT em São Paulo, afirmava
que as demissões continuavam acontecendo todos os dias desde a greve de maio, além das
pressões contra os ativistas e as pessoas que estavam a fim de trabalhar pelos direitos políticos
e trabalhistas nos Correios.
Além de Alagoas, cerca de quatrocentos ecetistas de Curitiba/PR participaram de
manifestação em apoio às reivindicações da categoria. Ernani Coelho, presidente da
Associação dos Empregados da Empresa de Correios e Telégrafos do Rio de Janeiro, admitiu
para a Folha de São Paulo que os ecetistas cariocas estavam dispostos a aderir ao movimento
e que uma greve poderia ganhar proporções nacionais caso a ECT não atendesse às
reivindicações da categoria. Para Coelho, 23 das 31 diretorias regionais espalhadas pelo Brasil
estariam dispostas à paralisação. À época, nos Correios trabalhavam cerca de sessenta e oito
mil trabalhadores, sendo que São Paulo era o estado com maior número de ecetistas –
dezenove mil e novecentos funcionários.
Em Alagoas, no dia 30 de setembro, no mesmo auditório da OAB, por volta das 19
horas, o presidente Lourival dos Santos fez um discurso inflamado refletindo sobre a atual
política econômica do governo federal e suas consequências para os trabalhadores dos
Correios. Estes compareceram em massa à Assembleia, vários ficaram em pé. Dos 500
empregados que trabalhavam em Maceió, cerca de 450 estiveram presentes (SILVA 2008, p.
43).

128

Durante os encaminhamentos da assembleia para o movimento grevista, um fato
chamou a atenção. Diante de todos na assembleia, Judson Cabral se posicionou contrário à
greve e justificava seu posicionamento por entender que não havia razões para a paralisação,
uma vez que o salário dos carteiros era razoável para a realidade do mercado. Entretanto,
diante de toda a categoria reconheceu a difícil situação da classe, mas manteve o discurso
contrário à greve e foi apoiado por Adilson Batista. De toda a sorte, os trabalhadores queriam
greve e o grupo de diretores contrário ao movimento não convenceu. Voto vencido, Judson
Cabral e Adilson Batista foram ainda contrariados pelos carteiros Andrade, José Correia e por
Jorge Santos, este último operador de triagem e transbordo na Agência Central de Maceió.
Por fim, a greve geral foi decretada por tempo indeterminado sob o olhar de diversas
personalidades dos partidos de esquerda e líderes sindicais de outras categorias que
participaram desta assembleia, a exemplo de Kátia Born, Reinaldo Cabral, Djalma Falcão,
Sérgio Barroso, Edberto Ticianelli e Claudionor Araújo114. Essas mesmas lideranças políticas
testemunharam, após a decretação da greve, a renúncia de Judson Cabral e de outros diretores
lotados na área administrativa dos Correios, optando assim por deixarem a ASCOR.
Antes dessa greve nacional, em março de 1985 havia sido deflagrada uma greve de
três dias (6 a 8 de março) em São Paulo e outras greves menores em capitais como Rio de
Janeiro e Porto Alegre. Um indício de que os ecetistas estavam atentos à conjuntura política e
econômica que tomava conta do país desde fins dos anos de 1970.
Sem sucesso quanto às exigências pontuadas nas manifestações de setembro, em 15 de
outubro de 1985, quatro estados decretaram greve. Pernambuco, Minas Gerais, Rio Grande do
Sul e Pará.

Os funcionários da ECT reivindicavam a incorporação da antecipação salarial de
30%, concedida em maio pela empresa e descontada no reajuste semestral de
setembro (em vez de reajuste de 68,33%, receberam 29,4%). Além disso, querem a
readmissão de 1.500 funcionários demitidos em São Paulo após a greve de maio
(praticamente 10% da categoria na área da diretoria de São Paulo), trimestralidade,
114

Neste período destacam-se as dificuldades quanto à consolidação dos partidos de esquerda em Alagoas.
Segundo Carvalho (1993, p. 84), o PT em Alagoas viveu sua primeira década de existência administrando suas
crises internas causadas essencialmente pela incapacidade de fazer política num quadro que não tinha a moldura
de São Bernardo do Campo. Diferentemente de sua estrutura nacional, em Alagoas o PT conta com poucos
quadros no movimento sindical urbano e uma quase ausência no movimento sindical no campo. O Partido
Comunista do Brasil/PCdoB despontou no início da década de 80 como o mais organizado partido de esquerda
em Alagoas. Em determinado momento o PCdoB tinha a hegemonia no movimento estudantil, presença nos
movimentos sindicais urbano e rural. O partido Popular Socialista/PPS (ex-PCB), recém-saído de um Congresso
de refundação, estreia a nova legenda. (...) A reconstituição dos laços com o novo movimento sindical e o
crescimento enquanto legenda eleitoral, foram enormemente prejudicadas por suas dissensões internas.

129

estabilidade, redução da jornada de trabalho, manutenção do monopólio postal.
(Greve nos Correios atinge quatro estados no primeiro dia. Folha de São Paulo,
edição de 16 de outubro de 1985)

Em comunicado, a ECT classificou a greve como movimento político desagregador
promovido por elementos estranhos aos serviços postais. Sendo que a nota não identificava
quais eram os elementos estranhos. A 17 de outubro, a Folha de São Paulo noticiava as
agressões da Polícia Militar do Rio de Janeiro contra os grevistas parados há dois dias e a
adesão de nove capitais, incluindo São Paulo e Brasília.

No segundo dia de paralisação no Rio, oito grevistas ficaram feridos em choque com
a Polícia Militar. Os choques ocorreram na madrugada e na manhã de ontem, em
frente a sede da diretoria regional da empresa, no centro da cidade. Os PMs usaram
cassetete e bombas de gás para dispersar um piquete. A noite, cerca de setecentos
funcionários – 7% do pessoal da ECT no Rio – decidiram manter a paralisação. O
governador Brizola condenou os incidentes e anunciou a abertura de inquérito.
Em Brasília, o ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães disse que não
vai negociar com os grevistas. (São Paulo adere à greve nos Correios. Folha de São
Paulo, edição de 17 de outubro de 1985, p.01).
Durante a madrugada, a PM, apesar de ter agido com violência, não conseguiu que
os caminhões deixassem o prédio. Por volta das 8h, a PM voltou à sede da ECT com
um contingente maior: 130 homens, cem deles do Batalhão de Choque. Os soldados
tentaram negociar com os piqueteiros. Estes, porém, notaram que, enquanto
conversavam, os caminhões se preparavam para sair do prédio. Começou então o
conflito, que duraria quase uma hora. Os policiais investiram contra os piqueteiros,
agredindo-os a golpes de cassetetes. Os grevistas reagiram com pedras, que também
eram lançadas de prédios vizinhos. (idem, p. 29)

A Folha também anunciava conflitos com a polícia em Belo Horizonte e Porto Alegre,
inclusive com dois jornalistas feridos. Nos dois primeiros dias de greve, Antônio Carlos
Magalhães já havia determinado a demissão de quarenta funcionários. Naquele momento, a
greve era total ou parcial no Rio de Janeiro, Porto Alegre (RS), Belo Horizonte (MG), Recife
(PE), Curitiba (PR), São Luiz (MA), Belém (PA), Manaus (AM) e Maceió (AL). Antônio
Carlos Magalhães tentava desqualificar o movimento de todas as formas, inclusive com
declarações do tipo: “existem muito mais anarquistas115 que empregados dos Correios nesse
movimento. Quem não for trabalhar terá seu ponto cortado e será demitido.” (ECT demite 40
e ministro faz ameaças. Folha de São Paulo, edição de 17 de outubro de 1985, p. 29)

115

O uso do termo anarquista teve o sentido deturpado pelo ministro, tendo uma conotação de desordeiros fora
da lei.

130

Em Maceió, a adesão à greve foi maciça e os dados colhidos nesta mesma edição da
Folha de São Paulo são semelhantes aos verificados nos boletins informativos da ASCOR.
Veja o que diz o jornal paulista: “Em Maceió, 92% (480) dos 520 funcionários da empresa
entraram em greve ontem116, segundo o presidente da associação dos carteiros, Lourival dos
Santos.” (Idem)
No terceiro dia de greve, a ECT demitiu mais trinta funcionários em todo o país,
chegando a setenta o número de demitidos. Personalidades políticas nacionais, a exemplo de
Ulysses Guimarães, e regionais a exemplo de Eduardo Bonfim, além de setores da imprensa,
intercederam para apaziguar os ânimos e passaram a criticar duramente o ministro das
Comunicações. Veja o que escreveu Paulo Sérgio Pinheiro, colunista da Folha de São Paulo:

Se os corredores brasileiros não se dão conta da luta contra o apartheid, na mesma
semana tivemos no Brasil outro grande deslocado, o ministro Antônio Carlos
Magalhães e sua atuação República Velha (não a da ditadura, a da República antes
de 1930, a Velhíssima). [...] sua Excelência demonstra extraordinária consistência
para não mudar nada na sua compleição original. Ao lidar com grevistas, seu
ministério está dando uma lição para o mundo democrático. No ano passado, houve
greve de correios na França e, este ano, nos Estados Unidos. Há dois anos, a Itália
também se viu parada por um movimento semelhante. Greves longuíssimas, cheias
de incidentes, negociações penosas. Lá, como aqui, os correios são julgados como
serviços públicos essenciais. Nem por isso os governantes desses países se sentiram
à vontade para usar da arma secreta que o ministro Antônio Carlos Magalhães tem
com tanta proverbialidade e segurança: despedir as lideranças grevistas. Atenção
Reagan, Mitterrand, Craxi, os senhores estão sendo incomodados por líderes e
grevistas de associações de funcionários dos correios: façam como o Toninho, rua
neles! Senhores líderes democráticos, não esqueçam também de fotografar e filmar
todos os piqueteiros para depois enviar (como na recente Velha República) para a
Polícia Federal poder processar com mais base as lideranças grevistas. Nada como a
Lei de Segurança Nacional para se lidar com movimentos grevistas. Outras práticas
mesclam com rara felicidade o moderno e o tradicional. Para intimidar a maioria dos
funcionários, filas enormes de candidatos a vagas de carteiros, balconistas e
inspetores foram formadas em lugares bem visíveis.
Assim não vale, ministro Antônio Carlos Magalhães. Era assim que seus
antecessores na Velhíssima República liquidavam com as estruturas do movimento
operário. Demitir lideranças de associações para depois dizer que o movimento não
tinha “estrutura” é retomar as práticas do autoritarismo. Até sexta-feira passada eram
mais de cem demitidos. Desse jeito é fácil acabar a greve: queremos ver é o mago da
Bahia lidar com movimentos grevistas como fazem seus coleguinhas das
democracias capitalistas. Negociando, dialogando, sem poderem recorrer à violência
das demissões arbitrárias. A nota do presidente da ECT é um doce da Velhíssima e
da Velha República: a greve dos funcionários dos correios é classificada de
116

A Folha de São Paulo leva a entender que a greve dos Correios em Alagoas tenha começado no dia 16 de
outubro de 1985, porém em ata da assembleia geral disponibilizada no Sintect-AL, afirma-se que a greve em
Alagoas foi decretada em 30 de setembro de 1985, mas com vigência a partir da zero hora do dia 02 de outubro
de 1985 e com adesão de alguns estados a partir de 16 de outubro de 1985, conforme noticiado acima. Não ficou
esclarecido porém se Alagoas realmente entrou em greve em 02 de outubro ou no dia 16 do mesmo mês
conforme noticiado pela Folha de São Paulo.

131

“movimento político desagregador, promovido por elementos estranhos aos serviços
postais.” Mas qual a greve que não tem a participação de sindicatos articulados com
partidos políticos aqui e no mundo inteiro? Por que a diretoria da ECT, que pratica
com tanta arte a integração polícia-empresa, não expõe com clareza quem são esses
“elementos estranhos”? A tese da conspiração para explicar surtos grevistas já era,
especialmente na transição democrática. (PINHEIRO, Paulo Sérgio. Insensíveis e
ternos. In Folha de São Paulo, edição de 22 de outubro de 1985, p. 03)

Após as severas críticas, com o fim da greve em Brasília, no dia 20 de outubro, o
ministro Antônio Carlos Magalhães começou a ceder e deu um ultimato aos demais estados,
ainda em greve, para que encerrassem a paralisação garantindo que não haveria mais
demissão e prometendo rever as já realizadas. Após cinco dias parados, os funcionários
voltaram ao trabalho sem que as reivindicações tivessem sido atendidas. Entretanto, os casos
de demissão passaram a ser ponto de negociação que contou com a mediação do presidente da
Ordem dos Advogados do Brasil (Seccional Brasília), Maurício Correa. Porém, a
determinação para a revogação das demissões nesta greve ocorreu somente em 23 de outubro,
quando o ministro Antônio Carlos Magalhães determinou ao presidente dos Correios, Laumar
Melo Vasconcelos, a anulação de todas as demissões de funcionários. A decisão saiu após
reunião com a comissão de negociação dos grevistas e mediada pela OAB. Até aquele
momento não se conseguia precisar o número de demitidos, entretanto, a Folha de São Paulo
(edição de 24 de outubro de 1985, p. 32) publicava que no Rio de Janeiro havia 146
demitidos, seguidos por Brasília, 116, Pernambuco, 32, Rio Grande do Sul, 28, Amazonas,
25, Paraná, 24, Maranhão, 04, Minas Gerais, 01 e Alagoas, com 30 demissões, a maioria de
lideranças da ASCOR.
O Jornal de Alagoas, de 19 de outubro de 1985, Ano XXIV, edição nº 238, noticiou o
fato com a matéria intitulada “Alagoas pára a greve na ECT.” Em entrevista ao jornal, o
diretor regional dos Correios, Celso Pinto Mangueira, declarou que os prejuízos com a greve
giravam em torno de 150 milhões de cruzeiros diários e justificava as demissões como sendo
uma reação da empresa contra “os elementos considerados cabeças do movimento grevista.”
Na mesma matéria, o demitido Lourival dos Santos, em tom de lamento, denunciava que os
Correios haviam usado a repressão policial contra os empregados.
O Jornal do Brasil, de 24 de outubro de 1985, também noticiou o resultado da reunião
entre Antônio Carlos Magalhães e a comissão de representantes dos servidores de 10 estados,
inclusive Alagoas, representada pelo presidente Lourival dos Santos. Segundo o periódico,

132

seriam anuladas 411 demissões em função do movimento grevista encerrado no dia 22 de
outubro.
O ato de Antônio Carlos Magalhães, conhecido no movimento sindical como
“Toninho Malvadeza”, não expressou em nenhum momento um sentimento de
arrependimento pelas demissões. Em matéria do jornal Gazeta de Alagoas, edição de 26 de
outubro de 1985, intitulada “Correios readmitirão os 30 funcionários.”, ficou evidenciado que
as demissões chamaram a atenção da opinião pública em todo o Brasil e o retorno dos
demitidos em Alagoas só foi possível devido a um amplo movimento de solidariedade e de
protestos contra as punições. A Assembleia Legislativa do Estado e diversos sindicatos de
trabalhadores aderiram às manifestações. Os deputados Moacir Andrade e Eduardo Bonfim
denunciaram em sessão parlamentar o ministro Antônio Carlos Magalhães, como “ditador.”
Em seguida, a Assembleia aprovou por unanimidade uma indicação do deputado Eduardo
Bonfim pedindo a imediata readmissão dos demitidos. Bonfim e Moacir Andrade foram
aparteados por outros deputados que apoiaram o pedido de readmissão. Severas críticas foram
feitas à maneira arbitrária e truculenta adotada pela direção dos Correios em Alagoas para
reprimir a greve e punir as lideranças dos trabalhadores.

2.8.1 Protestos de trabalhadores contrários às demissões e perseguições nos Correios
Durante a sessão da Assembleia Legislativa, um abaixo-assinado encabeçado pelos
demitidos pedia a readmissão dos servidores punidos e denunciava a repressão nos Correios.
O documento teve imediata adesão dos parlamentares, inclusive de seu presidente, deputado
Roberto Torres e seguia assinado por líderes de várias áreas que lá estiveram em solidariedade
aos funcionários dos Correios. Também assinaram o manifesto os Sindicatos dos Médicos,
Radialistas, Jornalistas, Assistentes Sociais, Metalúrgicos, Bancários, Associação dos
Processadores de Dados, Conclat, além de jornalistas, advogados e profissionais de vários
outros setores.
A indicação de Eduardo Bonfim, pedindo a readmissão dos punidos, bem como o
abaixo-assinado, foram enviados ao Presidente da República, aos ministros do Trabalho,
Almir Pazzianoto e Antônio Carlos Magalhães, das Comunicações. Os demitidos também

133

buscaram apoio do governador Divaldo Suruagy117 após mediação de João Sampaio118. A
ideia era que o Governo do Estado fizesse uma intervenção junto ao ministro Antônio Carlos
Magalhães para que este voltasse atrás de sua decisão. A pressão sobre o ministro ganhou
conotação nacional nos diversos segmentos da sociedade, o que o fez ceder e determinar o
retorno de grande parte dos funcionários demitidos.
Com a revogação das demissões, a categoria continuou sendo oprimida por chefes
obedientes ao modelo administrativo militar praticado na empresa, a exemplo de Carlos
Roberto Davi, chefe do Centro de Distribuição Domiciliária de Maceió, que era temido pela
maioria dos carteiros e que, segundo depoimentos, pertencia à linha dura da empresa tendo
sido o responsável por diversas demissões.
Os ecetistas, principalmente os da área operacional que militavam junto a ASCOR,
viviam momentos de incerteza quanto ao futuro profissional. As lideranças dos trabalhadores
não gozavam de estabilidade e a Associação passava por sérias dificuldades financeiras. Uma
parcela dos trabalhadores resistia em contribuir com uma entidade que, segundo eles, tinha
fins políticos. Devido à conjuntura intransigente nos Correios, com muitas demissões por todo
o Brasil, vários viam nos diretores da ASCOR uma ameaça aos seus empregos caso aderissem
às mobilizações. O sentimento de solidariedade não era unanimidade entre os ecetistas, muito
menos a tão sonhada, pelas lideranças sindicais, combatividade entre todos os funcionários; se
percebia claramente a dificuldade para aglomerar toda a categoria em torno do movimento
sindical.
A estrutura administrativa com resquícios militares nos Correios intimidava a
participação em massa nas mobilizações, o discurso anticomunista se fazia presente
diariamente na empresa enquanto a força da ASCOR se concentrava na área operacional. Não
pela assimilação do discurso marxista, praticamente inexistente entre os trabalhadores, mas
pela natureza penosa do serviço e pela repressão dos gestores que gerava um
descontentamento reforçado pelos baixos salários119 e pelas dificuldades econômicas do país.
Por outra parte, embora os funcionários da área administrativa sofressem as mesmas restrições
117

Segundo depoimento informal de José da Silva Correia e Luiz Batista (Luizão), o ecetista José Inácio Aguiar
Ribeiro foi contra o pedido de ajuda a Divaldo Suruagy para que intervisse junto ao ministro Antônio Carlos
Magalhães objetivando o retorno dos demitidos à ECT.
118
João Rodrigues Sampaio Filho - Prefeito de Maceió por duas vezes (1971-1975/1990-1992). Atualmente
(janeiro de 2016) é reitor do Centro Universitário CESMAC.
119
A crise fiscal do Estado degradou a qualidade dos serviços públicos e conteve os salários reais dos servidores,
sobretudo em nível federal, que tiveram seu poder de compra corroído em quase 60% entre 1983 e 1989
(NORONHA, 1992 apud CARDOSO, 2003, p. 36)

134

salariais, a natureza do trabalho em ambiente salubre, climatizado, livre das intempéries e do
grande esforço físico, além da convivência diária com diversos gestores dos mais variados
níveis acabaram por seduzi-los a aparente indiferença com a luta e a organização de classe.
Minha experiência de doze anos no cargo de carteiro, me permitiu testemunhar alguns
casos de carteiros ou operadores de triagem ativos na luta sindical que quando reabilitados ou
desviados de função para a área administrativa, se afastaram do movimento e passaram a
compor com os não grevistas, com os que não estavam dispostos a reivindicar.
As lideranças buscavam alternativas para unificar os ecetistas. As atividades de lazer
promovidas pela ASCOR na ASTEL120 serviam de momentos de confraternização e, de certa
maneira, para aproximar e desenvolver o espírito de solidariedade entre os trabalhadores.
Muitos se filiaram à Associação, ajudando-a financeiramente, mas se recusavam a marchar
durante as mobilizações. Ficava clara a insegurança desses trabalhadores e o precário
sentimento de solidariedade, que reforçados pela eficiente perseguição às lideranças de classe,
criou um fosso entre os trabalhadores da área operacional e os da área administrativa.
Entretanto,

Uma mesma situação social e um mesmo objetivo de superá-la levam os vários
personagens a registrarem suas formas de pensar e interpretar a sociedade, o
momento político, as manifestações de poder e toda uma gama de percepções e
sensibilidades com uma mesma frequência (FERREIRA, 2011, p.33)

Por isso, após a greve de 1985 parte dos carteiros, maioria dentre os ecetistas,
assumiram a vanguarda do movimento sindical nos Correios enquanto diversos membros da
categoria, boa parte da área administrativa, apenas se beneficiavam das conquistas
alavancadas nas campanhas salariais. Muitos, sequer procuravam contribuir financeiramente
com a manutenção estrutural do movimento, enquanto outros, se comportavam de forma
oportunista trabalhando pelo enfraquecimento e destruição da organização de classe nos
Correios. Esse fato pode ser fundamentado no pensamento de Linden (2013, p. 211) quando o
autor afirma que “os empregadores podem empregar outros métodos para complicar a
mobilização das greves. Eles podem elevar os custos da ação coletiva, por exemplo, jogando
grupos de trabalhadores uns contra os outros, ou ameaçando-os de demissão.”
Possivelmente, salve-me do engano, a sigla ASTEL significava Associação dos Trabalhadores da Telasa –
Telecomunicações de Alagoas.
120

135

Desse modo, a partir das greves de 1985, estava posta uma nova forma de relação
entre os ecetistas, os Correios e o governo federal. Uma relação conflituosa que evidenciou
um protagonismo de parte dos trabalhadores da ECT. De maneira que, conforme avançava a
crise econômica durante o governo Sarney “e na medida em que seu continuísmo em relação
ao governo militar ficava cada vez mais patente” (MACIEL, 2012, p. 27), o movimento de
classe nos Correios se fortalecia e ampliava seu poder de mobilização por todo o país.
Por conseguinte, os Correios continuavam com suas práticas arbitrárias, a exemplo do
diretor regional de São Paulo, Marco Antônio Angeiras Bulhões, que não respeitando o
princípio do contraditório, em fevereiro de 1986 determinou a demissão de um carteiro após
acusação sem provas de uma usuária. De modo que a Folha de São Paulo assim noticiou:

Carteiro demitido

A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (regional São Paulo) afirma que a
denúncia da Sra. Ida Angela Krueger, culpando funcionários pelo extravio de quatro
cartas sem registro, não pode ser comprovada. O diretor regional da empresa, Marco
Antônio Angeiras Bulhões, afirma: “Como nosso interesse não é levantar dúvidas
quanto as afirmativas de nossos clientes, mas comprovar fatos, optamos pela
substituição do carteiro acusado, evitando a continuidade da inamistosa situação
mencionada pela Sra. Ida em sua carta.” (Folha de São Paulo, edição de 12 de
fevereiro de 1986, p. 13)

Nesse clima hostil e de muita radicalidade, no mês de novembro de 1986, os estados
de Pernambuco, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro decretaram
greve, mesmo com a ECT ameaçando usar a Lei de Greve para punir os trabalhadores. As
reivindicações eram de 36,5% de reposição salarial, direito à sindicalização e readmissão dos
demitidos durante a greve de maio de 1985.
No Rio de Janeiro, treze carteiros foram presos por agentes da Polícia Federal sob a
acusação de estarem fazendo piquete na agência postal 1º de Março, no Centro da cidade
(Folha de São Paulo, edição de 26 de novembro de 1986, p. 16). Ao todo foram treze
funcionários presos e em seguida demitidos sob a acusação de piquete (Idem, 26 de novembro
de 1986, p. 15).
A ASCOR não participou diretamente da greve dos Correios nesse ano. Havia uma
preocupação das lideranças, que percebiam uma fragilidade do movimento ao classificá-lo
como desarticulado e num contexto em que os ecetistas estavam temerosos, em razão das

136

centenas de demissões ocorridas nos Correios por determinação do ministro das
Comunicações, Antônio Carlos Magalhães121.

O 1º secretário José Inácio Aguiar Ribeiro deixou transparecer a sua preocupação
quanto ao nível de organização nacional, fazendo ver que ainda existiam muitas
debilidades que precisavam ser superadas e em caso de uma precipitação de um
movimento desarticulado, poderia implodir todo movimento, quando as associações
mais combativas sofreriam golpes profundos com possíveis demissões das principais
lideranças, podendo a partir daí surgir associações puramente recreativas, o que é
pretensão da ECT. (Ata da Assembleia Geral Extraordinária dos Empregados dos
Correios em Alagoas, realizada em 26 de setembro de 1986).

Em 04 de novembro de 1986, a ASCOR realizou assembleia geral extraordinária para
deliberar pela greve nacional dos empregados dos Correios. Em sua fala, o presidente
Lourival dos Santos fez uma exposição do cenário nacional e informou os estados que
estavam realizando assembleia para decretar greve geral122. Cinquenta e dois associados
estavam presentes na assembleia, número considerado pequeno pelas lideranças da ASCOR.
Diante disso, ficou definido que não seria possível decretar greve geral em Alagoas em razão
da pequena presença de ecetistas na assembleia123. Decidiu-se, porém, a realização de ato
público em frente ao edifício sede da estatal em Alagoas em protesto pela intransigência da
direção dos Correios e em apoio aos ecetistas de outros estados que estavam em greve.
Em Maceió, notícia do Jornal de Alagoas dava conta de que os ecetistas alagoanos,
após a greve geral coordenada pelas centrais sindicais e ocorrida em 12 de dezembro de 1986,
estavam sofrendo forte reação da diretoria regional e que esta determinou investigação
implacável para identificar os empregados que participaram do movimento paredista nacional
ao distribuir panfletos e incentivar a adesão dos ecetistas. Dentre os investigados, o carteiro
José da Silva Correia passou pelo interrogatório “policial” realizado pelos Correios para punir
os participantes do movimento reivindicatório. O fato aponta para uma postura antagônica
dentro da ECT em relação ao período considerado por intelectuais, a exemplo de Daniel
Aarão Reis, como transição democrática.

121

Ata da Assembleia Extraordinária realizada no dia 26/09/1986, às 18:30 horas no auditório da Delegacia
Regional do Trabalho em Alagoas para cumprir o calendário de mobilização nacional.
122
Segundo Lourival dos Santos, Santa Maria (RS), Porto Alegre (RS) e Pernambuco e outros estados estariam
na mesma data realizando assembleia geral para definir se aderiam a paralisação.
123
Segundo consta em Ata da Assembleia Geral de 04/11/1986, os Correios de Alagoas contava com 800
funcionários em seus quadros.

137

Por fim, sem avanços econômicos e enfraquecida pelo tempo, a greve terminou com a
ECT se negando a readmitir os treze trabalhadores presos pela Polícia Federal e os demais
demitidos em maio de 1985.

2.9 O I Congresso Nacional dos Trabalhadores dos Correios124

Maceió sediou o primeiro Congresso Nacional dos Trabalhadores dos Correios. O
evento confirmou a organização em nível nacional das associações dos empregados com a
predominância da natureza combativa, sindical e da forte militância dos ecetistas alagoanos
nos momentos iniciais dessa organização.
O Congresso ocorreu de 08 a 10 de agosto de 1986 após deliberação do Encontro
Nacional das Associações, realizado em São Paulo para debater a campanha salarial de 1986 e
eleger uma diretoria executiva para encaminhar as questões nacionais dos trabalhadores.
Delegações de grande parte do Brasil compostas por 120 delegados representando 21
associações participaram do evento com bandeiras de luta que definiram os rumos do
movimento classista pelos anos posteriores.

Foto 4 - 1º Congresso Nacional dos Trabalhadores dos Correios, realizado em Maceió.

Fonte: autor desconhecido – Arquivo do Sintect-AL

124

Texto inicialmente publicado no livro Carta Aberta: o movimento sindical nos Correios de Alagoas (19851997), de minha autoria.

138

As demissões ocorridas após a greve de 1985 foram tema de destaque ao longo do
encontro. Entretanto, a discussão em torno do Instituto de Seguridade Social dos Correios
(Postalis) já demonstrava uma preocupação dos empregados quanto ao tempo de serviço para
a aposentadoria. Outros temas paralelos, mas de significativa importância, também foram
tratados no Congresso, a exemplo do direito ao vale-transporte, liberação de diretores das
associações para organizar o movimento classista, viabilização de desconto das mensalidades
em folha de pagamento, redução da jornada de trabalho para 40 horas125, além de outros
pontos que denunciavam o tratamento dado pelos Correios a seus trabalhadores.
Obviamente que os temas discutidos durante o Congresso orbitaram em torno da
política econômica do governo Sarney. Principalmente em virtude do Plano Cruzado, lançado
pelo governo em 28 de fevereiro de 1986 e que afetou diretamente os empregados dos
Correios em meio a troca da moeda nacional, o congelamento de preços - que levou a uma
crise de desabastecimento nacional e a redução do poder de compra dos salários.
Centenas de trabalhadores dos Correios em São Paulo estavam desempregados neste
período. As greves eram decretadas ilegais e a Nova República utilizava-se da Lei de
Segurança Nacional126, de Imprensa, dos Estrangeiros e de Greve como instrumentos de
repressão contra as manifestações que denunciavam as medidas adotadas pelo governo federal
(SILVA, 2008, p.51).
Essa conjuntura, em pleno processo de redemocratização, levou a ASCOR a debater
sobre a manutenção do monopólio postal, a autonomia sindical, a manutenção do emprego de
70 mil trabalhadores dos Correios, o direito a sindicalização e o direito de greve. Ainda no
boletim informativo datado de agosto de 1986, a ASCOR percebe no primeiro congresso da
categoria um papel fundamental para a unificação da classe em nível nacional.

COMPANHEIROS CONGRESSISTAS,

A luta é grande, as pressões são muitas mas nossa organização em associações
avança rapidamente em todo o País. O resultado é este nosso 1º CONGRESSO
NACIONAL, que cumpre um papel fundamental na unificação de nossa ação
nacionalmente.
Estamos, em pouco tempo, somando vitórias importantes, tanto no aspecto de nossa
organização, quanto no avanço da consciência dos ECETISTAS de que é preciso
125

I Congresso Nacional dos Trabalhadores dos Correios. Bandeiras prioritárias. Maceió: 1986, p. 01 e 02.
Sua orientação era marcada por forte ideologia anticomunista e objetivava a limitação das liberdades
individuais, a introdução da censura aos meios de comunicação e a repressão total aos que se opunham por meio
de atividades clandestinas.
126

139

LUTAR! LUTAR! Temos o DIREITO À ESTABILIDADE NO EMPREGO,
SALÁRIO JUSTO, JORNADA SEMANAL DE 40 HORAS. Exigimos o FIM DAS
DEMISSÕES POLÍTICAS, A EFETIVAÇÃO DO PLANO DE CARGOS E
SALÁRIOS e a DEFESA DO MONOPÓLIO POSTAL, em defesa do emprego de
70.000 companheiros e do patrimônio da nação ameaçado pelo capital internacional,
articulado com o capital nacional e da falsa “Nova República”. Exigimos o
DIREITO À SINDICALIZAÇÃO, e estamos, na prática, enfrentando uma legislação
trabalhista fascista que nos nega este e muitos outros direitos, como a liberdade e
autonomia sindical e o direito irrestrito de greve. Venceremos se cada vez houver
mais unidade e participação dos ECETISTAS em nossas associações.
FELIZ CONGRESSO. VITÓRIA!!! VITÓRIA!!! (Boletim Informativo ASCOR,
1986, p.02).

Vê-se na citação que, após um ano de fundação da ASCOR, havia um clamor pela
união nacional dos trabalhadores dos Correios acompanhada de uma tônica de forte crítica à
Nova República e ao governo Sarney, defendendo a estabilidade no emprego, salário justo,
jornada semanal de 40 horas, fim das demissões políticas e pela manutenção do monopólio
postal. As críticas das lideranças dos ecetistas contra a Nova República acompanhavam a
posição política da CUT referente ao tema. Para os cutistas,
O projeto da “Nova” República nasceu marcado pela tradição do poder burguês do
Brasil de manter-se sempre tutelado pelos militares em razão de não ter a classe
dominante partidos políticos fortes, com feições ideológicas nítidas e aglutinadoras
de forças sociais expressivas. A “Nova” República é o projeto de reciclagem do
poder burguês através da constituição de uma nova ordem política, jurídica e
administrativa que corresponda a novas iniciativas implementadas para dar saídas à
crise do capitalismo. É o projeto da continuidade da adequação do capitalismo no
Brasil às novas condições da divisão internacional do trabalho, continuidade que se
expressa particularmente na política econômica de “austeridade” que marcou todos
os ministros econômicos da “velha” e da “nova” República. (Resoluções do 3º
CECUT/CUT/AL, 1989, p. 01/02)

Orientados pelas críticas da CUT e do Partido dos Trabalhadores contra a Nova
República, as lideranças dos ecetistas procuravam através da comunicação visual
conscientizar o trabalhador dos Correios sobre os problemas nacionais.
A figura abaixo alerta para a má distribuição de renda no Brasil em 1983. Três anos
depois foi utilizada em boletim informativo da ASCOR (1986) como propaganda contra o
governo e sua política econômica.

140

Figura 2 – É justo? Distribuição e Renda no Brasil (1983)

Fonte: Informativo ASCOR, agosto de 1986, p. 03.

Em 1983, o governo federal estava nas mãos dos militares e Alagoas se apresentava
com 42% da população economicamente ativa desempregada ou subempregada; 55% da
população acima de 15 anos era analfabeta e 38% das crianças entre 7 e 14 anos não
frequentavam escolas (CARVALHO, 1993, p. 23). Resgatar um documento desse período,
três anos após sua elaboração, indica que as lideranças da ASCOR tinham uma visão de
continuidade das mazelas do regime ditatorial durante a Nova República, inclusive nos
Correios. Deste modo, em alguns momentos, as lideranças buscaram apoio de representações
partidárias para mediar o conflito com a ECT. Em 24 de abril de 1987, o jornal Gazeta de
Alagoas tornou público o pronunciamento do vereador por Maceió, Edberto Ticianelli, que
fez duras críticas ao então diretor regional Jarbas Maranhão. Ticianelli o acusava de “não
fazer outra coisa senão perseguir funcionários que não rezam pela sua cartilha partidária.”
A Justiça do Trabalho também foi alvo de críticas. Num período em que praticamente
não havia avanço nas reivindicações ao governo federal, a justiça trabalhista estava
desacreditada pelos ecetistas, principalmente porque não havia uma intervenção quanto às
questões econômicas nem a reversão das centenas de demissões ocorridas desde 1985 nos
Correios por todo o país. Em matéria intitulada “Nas Garras dos Urubus?”, divulgada no
informativo ASCOR, edição de março de 1987, há referência contra o julgamento de Mauro
Lapa, presidente da Associação dos Empregados dos Correios de Pernambuco e demitido em
novembro de 1986 em razão de ter liderado a greve no estado. A legislação era duramente

141

criticada em seu código de leis com rótulos do tipo: “legislação trabalhista fascista” e
“tribunal das elites”. A visão que se tinha era a de que a Justiça do Trabalho compactuava
com as ações mais odiosas da repressão (SILVA, 2008, p.52).

A legislação trabalhista fascista respalda OS FASCISTAS DA ECT, legalizando as
ações mais ODIOSAS DA REPRESSÃO. Por isso o companheiro MAURO LAPA,
que liderou os ECETISTA pernambucanos na GREVE DE NOVEMBRO, teve SEU
CONTRATO DE TRABALHO SUSPENSO e, agora, será SUBMETIDO AO
JULGAMENTO DOS TRIBUNAIS DAS ELITES. O deleite dos fascistas não
esconde de nenhum ECETISTA a certeza de que quem deveria ser julgado, seriam
eles, opressores, repressores e exploradores de quem de fato TRABALHA e
PRODUZ: OS TRABALHADORES. Confiamos, contudo, que seja feita justiça e
MAURO LAPA SEJA ABSOLVIDO. (Nas Garras dos Urubus - Informativo
ASCOR - Boletim dos Ecetistas de Alagoas, março de 1987, p. ?).

Em abril de 1987, a ASCOR anunciava a absolvição de Mauro Lapa e sua reintegração
aos quadros dos Correios de Pernambuco. Nos pronunciamentos das lideranças dos
trabalhadores, se destacavam a decisão da justiça como uma importante vitória contra os
“fascistas da ECT” e sua condenação pela imaginária “Justiça dos Trabalhadores”. (Mauro
Lapa absolvido in Informativo ASCOR – Boletim dos Ecetistas de Alagoas, ano 02, nº 09,
abril de 1987).
Após sua absolvição, Mauro Lapa esteve em Maceió para participar da assembleia
geral realizada em 08 de junho de 1987. No encontro, passou os informes sobre a reunião que
as lideranças das associações de correio tiveram com o presidente da ECT para tratar sobre os
pontos da pauta de negociação elaborada no II Congresso Nacional dos Trabalhadores dos
Correios, realizado em Campinas/SP, em fevereiro de 1987. Mauro Lapa agradeceu o apoio
dado pelos ecetistas alagoanos durante seu julgamento na Justiça do Trabalho, ressaltou a
postura antidemocrática do presidente dos Correios e teceu diversas críticas contra a ECT e
Antônio Carlos Magalhães.

2.9.1 Greve e demissões nos últimos anos da década de 1980
Linden (2013, p. 203) “define a greve como uma forma de luta, coerção e poder”. Para
o autor, a greve pressupõe um conflito numa situação onde os interesses entre trabalhadores e
empregadores divergem entre si. É fato que na relação capital-trabalho ambas as partes

142

desejam obter resultados favoráveis que, quando não alcançados, desencadeiam fortes reações
com reflexos no cotidiano de todos. Pressão para o atingimento de metas, punições, assédio,
demissões etc., podem ser instrumentos utilizados pela classe patronal para ter seus
objetivos127 alcançados. No caso dos Correios, as fontes primárias pertinentes a segunda
metade da década de 1980 indicam que as ameaças se davam de forma constante na gestão do
diretor regional Jarbas Maranhão. Por várias vezes nas manchetes de jornais de grande
circulação, o diretor sempre era acusado pelas lideranças dos trabalhadores e por políticos de
esquerda, a exemplo de Freitas Neto128, de perseguir e demitir dezenas de trabalhadores dos
Correios. Jarbas Maranhão chegou a publicar, segundo a Gazeta de Alagoas de 02 de abril de
1987, nota impedindo qualquer manifestação de caráter político ou ideológico por parte dos
funcionários nos recintos da empresa. Para Ticianelli, o diretor regional, de forma repressiva,
atentava contra o direito que os trabalhadores tinham para discutir livremente, sem
imposições, os problemas econômicos, políticos e sociais do País.
Nesse ambiente hostil, em meados de 1987, a morte do carteiro Jackson da Silva
Lima129, ocorrida no dia 24 de junho de 1987, serviu de estopim para a demissão de José da
Silva Correia, diretor social da ASCOR e carteiro do Centro de Distribuição Domiciliária130.
Correia foi demitido por justa causa ao emitir opinião entre seus colegas de trabalho para que
todos os carteiros fossem prestar as últimas homenagens ao carteiro Jackson. O fato gerou
controvérsia quando o carteiro Correia, seguido pelo colega José Hébio Albuquerque
Ramalho131, entrou em discussão com o chefe do CDD, Carlos Roberto Davi dos Santos.

127

Os objetivos podem estar relacionados a produção, ao lucro e, até mesmo, ao impedimento ou
enfraquecimento da organização de classe nas empresas.
128
Freitas Neto nasceu na capital alagoana, em 19 de dezembro de 1949, e morou por muitos anos no tradicional
bairro de Bebedouro. Depois de uma ativa trajetória como estudante secundário e universitário, abraçou as
carreiras de jornalista, e radialista muito cedo, passando pelas principais redações de esporte e política dos
principais veículos de comunicação de Alagoas e correspondente, por 19 anos, do Jornal Estado de São Paulo, o
"Estadão". João Vicente Freitas Neto (47) e sua esposa, Maria das Graças de Carvalho Freitas (49) morreram em
um desastre aéreo, envolvendo um avião bi-motor Antonov 24, da empresa Cubana de Aviación, no mar do
Caribe, numa noite de sexta-feira em 11 de julho de 1997, minutos depois de decolar de Santiago de Cuba em
direção à capital cubana, Havana. (disponível em http://www.cadaminuto.com.br/noticia/178144/2012/07/11/ha15-anos-jornalismo-alagoano-perdia-freitas-neto)
129
Segundo informações constantes na Ata de Reunião Extraordinária da ASCOR, de 17 de outubro de 1986, o
carteiro Jackson da Silva já se encontrava enfermo e passando por dificuldades financeiras, a ponto de ser
aprovada uma doação no valor de Cz$ 800,00 pela ASCOR em solidariedade ao carteiro. Quando procurado nos
registros ou nas conversas informais com carteiros contemporâneos, a exemplo de José da Silva Correia, não
obtivemos maiores detalhes sobre a vida profissional e familiar do carteiro Jackson.
130
Neste período, Maceió possuía apenas um Centro de Distribuição Domiciliária para atender a toda cidade.
131
Atualmente é professor da Rede Estadual de Ensino em Alagoas.

143

Aproveitando-se do momento oportuno, pois demitir um diretor da ASCOR por
motivação política agravaria o mal-estar estabelecido na opinião pública através das
manchetes de jornais que logo seriam publicadas, Jarbas Maranhão e seu diretor adjunto,
Anildson Meneses Silva132, no dia 20 de julho de 1987 demitiram por justa causa José da
Silva Correia e José Hébio sem qualquer oportunidade de defesa. Após a demissão, o clima
entre os carteiros e demais funcionários dos Correios era de extrema apreensão e revolta,
conforme noticiou a Tribuna de Alagoas, de 22 de julho de 1987. Em 09 de agosto do mesmo
ano, o fato ainda era matéria jornalística na imprensa alagoana através da Gazeta de Alagoas,
que noticiou a realização de um ato público coordenado pela ASCOR defronte à agência
central dos Correios para denunciar o caso à população.
Em 13 de agosto de 1987, preocupados com a opinião pública quanto às denúncias de
perseguição, os Correios emitiram nota no Jornal de Alagoas desmentindo a ASCOR e
justificando as demissões de José Correia e de José Hébio por indisciplina, insubordinação e
desacato a diretoria e gerentes. Ainda na nota, os Correios insistem em afirmar que os
demitidos pregavam a desordem, a indisciplina e a baixa produtividade.
Uma contra argumentação teórico-metodológica para a queixa dos Correios se
encontra em Linden (2013, p. 195), quando este afirma que
Os trabalhadores subalternos podem recorrer a uma vasta gama de estratégias.
Quais, exatamente, serão as formas de protestos usadas vai depender de muitos
fatores. [...] Até mesmo os segmentos mais fracos da classe trabalhadora subalterna
podem recorrer a métodos como fingir não entender as tarefas confiadas a eles,
realizar trabalho de baixa qualidade, produzir pouco ou combinar roubos coletivos.

Obviamente que outros casos de trabalhadores rotulados de improdutivos,
indisciplinados e desordeiros estão presentes na história dos Correios. Em parte dos casos,
tratava-se de estratégia para legitimar as demissões e criminalizar os resistentes dentro da
estatal. Em outras situações, o comportamento “marginalizado” se dava em reação ao rigor e à
repressão administrativa na ECT.
No caso dos carteiros Correia e Hébio, a ASCOR, pleiteando a simpatia da opinião
pública revidou a nota reafirmando no Jornal de Alagoas, de 16 de agosto de 1987, todas as
denúncias de perseguição política praticada pela então diretoria regional. Ao diretor Jarbas

132

Atualmente é assessor jurídico nos Correios.

144

Maranhão foi sugerido o livre acesso da imprensa aos setores de trabalho a fim de comprovar
as perseguições contra os trabalhadores. A sugestão não foi acatada pelo diretor regional.
De todo modo, os trabalhadores estão propensos a usar de forte pressão para alcançar
reivindicações econômicas, sociais e ou/políticas de interesse da classe diretamente envolvida
ou de outras (LINDEN, 2013, p. 204), a exemplo do que ocorreu em 10 de dezembro de 1987,
quando o jornal Folha de São Paulo noticiava que na noite anterior, os carteiros de Brasília
decretaram greve para reivindicar reajuste salarial de 105%, tíquete-refeição no valor de Cz$
120,00 com reajuste trimestral a partir de 1988. Em São Paulo, a assembleia da categoria
optou pela continuidade das negociações com a ECT e não decretou greve.
A paralisação logo levou o ministro Antônio Carlos Magalhães a declarar que não
haveria qualquer tipo de diálogo e classificar o movimento de “político e injustificado”
determinando a demissão sumária dos funcionários que participassem de piquetes. (Folha de
São Paulo, edição de 11 de dezembro de 1987). Além de Brasília, Amazonas e Pernambuco
decretaram greve. Em Alagoas, a paralisação durou apenas meio período tendo sido encerrada
às 11 horas e 15 minutos do dia 10 de dezembro, segundo noticiou a Folha de São Paulo. O
periódico ainda afirmava que, segundo Lourival dos Santos, presidente da ASCOR, cerca de
70% dos carteiros aderiram ao movimento e toda a entrega de correspondência foi paralisada
(idem).
O curto período de greve em Alagoas se justificava devido a truculência de Antônio
Carlos Magalhães, que tratava as lideranças do movimento com demissão sumária. A não
adesão dos ecetistas de São Paulo ao movimento era outro fator importante. A época, o estado
era uma referência para o movimento de classe nos Correios por abrigar a maioria dos
ecetistas do país. Quando não parava as atividades, o movimento nacional dos trabalhadores
dos Correios ficava enfraquecido e com menos poder de barganha junto ao governo federal.
Uma nova greve ocorreu no ano seguinte (1988). Iniciada na capital paulista, somente
24 dias depois da paralisação em São Paulo, os ecetistas em nível nacional começaram a
realizar suas assembleias para avaliar a possibilidade de paralisação em vários estados. Para
reprimir o movimento, em 03 de agosto de 1988, a diretoria dos Correios paulistas demitiu 50
funcionários, totalizando 1200 demissões desde julho do mesmo ano no estado (Folha de São
Paulo, edição de 04 de agosto de 1988, p. 18).
Durante o movimento paredista, o ministro Antônio Carlos Magalhães demitiu o
presidente da ECT, Laumar Melo Vasconcelos, sob a acusação de transações irregulares para

145

a venda de um terreno da ECT na Ponta do Arpoador, no Rio de Janeiro (Idem). Enquanto o
presidente era demitido, os grevistas reivindicavam 45% de reposição salarial, aumento do
vale-refeição de Cz$ 200,00 para Cz$ 320,00, retorno dos demitidos e pagamento dos dias
parados. Porém, em assembleia realizada em 04 de agosto, Rio de Janeiro e Brasília não
aderiram à greve. Os ecetistas de Brasília optaram por negociar com o ministro das
Comunicações. Já no Rio de Janeiro, foi marcada uma nova assembleia para o dia 09 de
agosto de 1988 para reavaliar a decisão.
Antônio Carlos Magalhães cedeu parcialmente às reivindicações dos grevistas
autorizando reajuste de 35% nos salários e o pagamento do vale alimentação no valor de Cz$
300,00. Entretanto, se negou a anular as demissões realizadas por motivo de greve.

Quando a reunião começou, Antônio Carlos disse que estava ali para discutir
problemas salariais. Em seguida, falou o representante de Pernambuco, Mauro Lapa,
44, que pediu a readmissão dos 1.150 empregados demitidos em São Paulo por
causa da greve. O ministro, segundo versão dos funcionários e de sua assessoria,
retrucou que não iria readmitir grevistas, em hipótese alguma, já que não contrariaria
um princípio seu. Ouviu do representante dos funcionários a resposta de que “então
não podemos negociar, porque combinamos isso antes de entrar em reunião.” Muito
irritado, segundo Lapa, o ministro teria levantado da mesa e dito: “vou provar a você
que acabo com o movimento em suas bases com o aumento que vou dar. E vou criar
um correio particular se houver greve”. (Folha de São Paulo, edição de 09 de agosto
de 1988, p.02)

Sem o retorno dos demitidos e a negociação dos dias parados, São Paulo manteve a
greve no estado. No Rio de Janeiro, os ecetistas mantiveram durante assembleia geral,
realizada em 09 de agosto, a posição de não parar as atividades em razão do reajuste salarial
de 35%. Entretanto, Antônio Carlos Magalhães sofreu forte crítica do ministro da Fazenda,
Mailson da Nóbrega, que determinou ao Tesouro, auditoria nos Correios. Contrariado,
Antônio Carlos ameaçou deixar o governo caso o aumento não fosse concedido. Ambos os
ministros apresentavam seus argumentos para o fato. Antônio Carlos Magalhães temia que a
paralisação dos Correios se alastrasse para o sistema telefônico, prestes a entrar em greve
antes do reajuste. Tinha informações de que o Serviço Nacional de Informações (SNI)133
havia detectado um plano para emudecer telefones públicos, incluindo palácios e o
Congresso. “A bomba cairia no colo do ministro, apontado como responsável pela paralisação
133

Criado em 13 de junho de 1964 para recolher e processar todas as informações de interesse da segurança
nacional. Seu comandante, com status de ministro, mantinha encontros diários com o presidente da República e
tinha uma grande influência sobre as decisões políticas do governo (Direito à Memória e à Verdade, 2007, p.
23).

146

de dois serviços que, apesar dos pesares, funcionam bem. Em especial os Correios”. (Folha de
São Paulo, edição de 11 de agosto de 1988). Em contrapartida, o ministro Maílson da
Nóbrega temia que o reajuste concedido aos Correios incentivasse outras greves,
desmoralizando de vez o plano de austeridade para conter a inflação. Contraditoriamente, o
mesmo reajuste já havia sido concedido aos funcionários do Banco do Brasil, subordinado ao
Ministério da Fazenda, sem nenhum sinal de insatisfação de Maílson.
Durante o impasse entre os dois ministros, os funcionários dos Correios de São Paulo
realizaram assembleia geral no dia 10 de agosto de 1988 para deliberar sobre o fim da greve
no estado. Do ponto de vista econômico134, os grevistas consideraram vitoriosa a paralisação
de 30 dias e definiram que as lideranças deveriam procurar o ministro do Trabalho, Almir
Pazzianotto, para tentar reverter às demissões ocorridas durante a greve. Entretanto, em meio
à crise dentro do governo, Antônio Carlos Magalhães intransigentemente afirmava que não
voltaria atrás das 1.050 demissões.

Segundo a CUT Alagoas,

A crise do governo no final do mandato do Sarney abre espaço para a ampliação da
tutela militar, que passa a ser exercida em todas as áreas, de maneira aberta, e
notadamente, no tratamento da relação entre o regime e o movimento dos
trabalhadores. A violência das Forças Armadas e da PM, para dar dois exemplos, no
caso de Volta Redonda e dos Sem-Terra de Rio Grande do Sul, pôs em evidência
que o aparato repressivo será usado amplamente para tratar casos em que a
impotência do governo abra espaços para ampliação das conquistas populares. (Mas
os recursos à violência só tem ampliado o isolamento do governo, o que por sua vez
incentiva a maior intervenção direta dos militares) (Resoluções do 3º
CECUT/CUT/AL, 1989, p. 03/04)

De todo modo, o argumento quanto à eficácia ou não das greves no período, em
especial nos Correios, pode estar presente entre os que refletem a temática das paralisações de
trabalhadores no Brasil. Para Linden (2013, p. 225), o sucesso de uma greve, portanto, não
depende apenas das pressões imediatas colocadas sobre o empregador pelos grevistas, mas
também de até que ponto outros atores sociais importantes – o Estado, outros capitalistas, a
Justiça do Trabalho, os meios de comunicação, os partidos políticos, a opinião pública e os
consumidores – contribuem para essas pressões em razão da perturbação causada pela greve
em todo o sistema econômico.
134

O salário do carteiro iniciante, que em junho era igual a Cz$ 27 mil, após o reajuste de 35% subiu para Cz$
51.831,00, incluída a URP do mês. (Folha de São Paulo, edição de 11 de agosto de 1988, p. 04).

147

No caso dos Correios, ficou evidente que além dos recursos militares para impedir o
movimento dos trabalhadores de modo geral, o governo Sarney utilizou-se do instituto da
demissão para inibir a organização de classe na ECT. Em meio às fortes críticas ao regime
militar e ao governo federal, à medida que a crise econômica se agravava, as estratégias
sindicais, tendo como maior exemplo as greves e em particular o surgimento das associações
de classe, revelaram-se insuficientes e incapazes de assegurar a imediata melhoria econômica
para os trabalhadores em razão do descontrolado crescimento inflacionário no país. Tal
conjuntura não desqualificou a luta dos ecetistas ou apontou para sua inviabilidade, pois a
organização de classe se fez necessária; uma vez que sem representação, esses trabalhadores
ficariam bem mais vulneráveis diante das intransigências e das ações de mercado dos
Correios.

148

3 O SINTECT-AL E SEUS EMBATES: COLLOR E OS TRABALHADORES

O Brasil iniciou os anos de 1990 fragilizado econômica e politicamente. A nova
década sentia em seus primeiros momentos os reflexos do conturbado período de instabilidade
da moeda; instabilidade do crescimento e instabilidade na condução das políticas públicas dos
anos de 1980. Ao todo, oito planos de estabilização monetária, quatro diferentes moedas, onze
índices de cálculo inflacionário, cinco congelamentos de preços e salários, catorze políticas
salariais, dezoito modificações nas regras de câmbio, cinquenta e quatro alterações nas regras
de controle de preços, vinte e uma propostas de negociação da dívida externa e dezenove
decretos sobre a autoridade fiscal (SOARES, 2009, p. 36). O insucesso dessas tentativas de
estabilização da economia trouxe consequências econômicas e sociais para a vida do país e
dos trabalhadores. Recessão sem limites, desemprego e aumento da pobreza estão dentre as
consequências no período.
No âmbito dos Correios, após a abertura política e o processo de redemocratização nos
governos Collor (1990-1992) e Itamar Franco (1992-1994), a anterior presença militar
caracterizada por rígida disciplina e por constantes abusos e excessos, deixou uma marca
saudosista no médio corpo gerencial (gerentes de CDD’s, supervisores operacionais, etc).
Executores fiéis das ordens de um alto comando administrativo, parte desses gerentes
subalternos cumpriu o papel de algozes dos trabalhadores de nível básico. O alvo era
funcionários simpatizantes ou adeptos de partidos de esquerda, que vislumbrando a
consolidação do movimento sindical ecetista, questionavam a continuidade nos governos
Collor e Itamar Franco das práticas administrativas antidemocráticas nos Correios,
principalmente contra lideranças de trabalhadores ou simpatizantes de um movimento de
resistência ainda em gestação135.
Para o alto escalão da ECT, não se percebeu apenas um saudosismo do tempo dos
militares. Com uma formação coordenada, nos anos de 1980, pela caserna na Escola Superior
de Administração Postal, diversos administradores postais juntamente com ocupantes de
outros cargos, simpatizantes do regime, preservaram (durante a segunda metade da década de
1980 e praticamente por toda a década de 1990) hábitos de truculência como parâmetro

135

Obviamente que outros funcionários sem qualquer participação ou simpatia pelo movimento sindical ecetista
também foram atingidos e demitidos no governo Collor.

149

administrativo cujo principal objetivo, em nome da produtividade ou da vaidade pelo poder,
era ameaçar, punir, perseguir e demitir as lideranças sindicais. Com o lema “nos Correios não
há espaço para comunistas”, vigente desde a década de 1980, as perseguições alcançavam os
trabalhadores que defendiam o fortalecimento do SINTECT-AL. Segundo Barros Neto (2004,
p. 81),

Isto se deve, é claro, porque mesmo não tendo convivido com os militares
propriamente ditos, conviveram com o “regime” perpetuado por aqueles que
ingressaram na organização nos anos mais duros. Mesmo não sendo militares, uma
rápida conversa com a liderança da Empresa permitia perceber um certo ar de
autoritarismo e alto grau de centralismo. (...) Este estilo militar de administrar a
empresa foi algo presente durante muitos anos, muito difícil de mudar de uma hora
para outra e, mesmo as leis do País encontraram resistências na Empresa quando se
tratava o status quo. Exemplo claro disso foi o medo que nutriam os empregados
quanto a associarem-se a sindicatos...

Desde os tempos da ASCOR, as punições vinham sendo aplicadas para enfraquecer a
organização de caráter sindical dos trabalhadores ecetistas. Antes, as principais lideranças dos
ecetistas já vinham refletindo sobre o papel, o alcance e a finalidade do sindicalismo para a
defesa dos interesses dos trabalhadores dos Correios. Essa necessidade, conforme declarações
de José Inácio Aguiar e Lourival dos Santos, levou a ASCOR a discutir o tema sindicalismo,
inclusive em assembleia realizada em 21 de junho de 1988. As lideranças da ASCOR não
enxergavam o sindicato como uma organização apolítica e neutra. As ações organizadas
contra as medidas econômicas do governo federal, a participação nas greves gerais
coordenadas pela CUT e a militância de alguns de seus diretores no Partido dos Trabalhadores
e no PCdoB, demonstraram esse ponto de vista.

3.1 A Fundação do SINTECT-AL

Ao longo da segunda metade da década de 1980, as lideranças sindicais dos Correios
em Alagoas vislumbravam a possibilidade de a ASCOR se transformar em sindicato da
categoria. Contudo, diante da impossibilidade jurídica de se fundar um sindicato ecetista,
surgiu a proposta de filiação ao Sindicato dos Trabalhadores das Telecomunicações – Sinttel.
Entretanto, a sugestão não foi efetivada porque com o advento da Constituição de 1988, os
ecetistas passaram a ter o direito de fundar seus sindicatos. Fora as questões legais, em

150

conversa informal com José Inácio Aguiar, este declarou que não foi dado prosseguimento ao
processo de filiação ao sindicato dos telefônicos porque a Diretoria da ASCOR percebeu,
após a assembleia de 21 de junho de 1988, que não teria a oportunidade de participar da
diretoria do Sinttel, possivelmente por ser um sindicato com um grupo político já formado que
não estaria disposto a imediatamente abrir mão de cargos em sua Diretoria para outra
categoria que estivesse chegando. A alternativa, então, foi seguir a tendência nacional de se
criar em todos os estados sindicatos próprios da categoria ecetista. Um exemplo próximo foi
seguido. Os trabalhadores dos Correios de Pernambuco, segundo informe constante em Ata de
Reunião Extraordinária da ASCOR, datada de 19 de outubro de 1988, estariam criando seu
sindicato no dia 26 de agosto de 1988, antes da promulgação da Constituição.
A instituição pernambucana despertou o interesse dos trabalhadores dos Correios em
Alagoas, tanto que Lourival foi enviado pela ASCOR para participar da assembleia de
fundação do sindicato pernambucano. Sua missão era observar os trâmites percorridos para
depois criar o sindicato dos trabalhadores dos Correios em Alagoas.
Assim, em 10 de novembro de 1988, respaldados pela nova Constituição promulgada
em 05 de outubro, oitenta e seis ecetistas alagoanos reunidos em Assembleia Geral, no
auditório do Sindicato dos Bancários136, situado na Rua Barão de Atalaia, Centro de Maceió,
deliberaram pela criação do Sindicato dos Trabalhadores na Empresa de Correios e Telégrafos
em Alagoas, pela criação da diretoria provisória e pela aprovação do Estatuto da nova
instituição. Contudo, por decisão da plenária, toda a diretoria da ASCOR foi conduzida para
ocupar em caráter provisório os cargos da nova diretoria do SINTECT-AL durante três meses.
Ficando assim definida a primeira diretoria do novo sindicato:

Presidente: Lourival dos Santos
Vice-presidente: Luiz Carlos Bastos
Secretário Geral: Walmiro Zacarias
Diretor Financeiro: José Benedito Nazário
Diretor de Divulgação e Imprensa: Osvaldo Teixeira
Diretor de Formação Sindical: José Hermes da Silva
136

Nos registros da lista de presença dessa assembleia constam que a reunião se deu no Sindicato dos Jornalistas.
Possivelmente houve um equívoco de quem elaborou o documento, já que não se tem notícias da existência do
Sindicato dos Jornalistas no endereço citado e nenhum registro de assembleias do Sintect-AL no âmbito desses
profissionais da imprensa. O que se sabe é que na Rua Barão de Atalaia, está localizada até os dias de hoje a sede
do Sindicato dos Bancários em Alagoas, possível local de fundação do SINTECT-AL.

151

Diretor de Patrimônio: Luciano Mendonça
Suplentes: Edmilson Correia da Silva; Jarbas Bezerra; Gerson Luiz dos Santos; José
Gonçalves da Silva; Everaldo Cabral da Silva; José Severo da Silva e José Cláudio dos
Santos.
Conselho Fiscal: Marcino Costa de Souza; Antônio dos Santos Filho e Talvanes Maurino
Lopes.

Na mesma Assembleia, os bens da ASCOR foram transferidos para a instituição
sindical que recebeu todo o seu ativo e passivo a partir de sua data de criação. Concedida a
palavra ao presidente do Sinttel, Edvaldo Feijó, este registrou a importância daquele momento
histórico para os trabalhadores dos Correios.
Com a extinção da ASCOR, o SINTECT-AL passou a representar os trabalhadores
dos Correios em Alagoas e a defender seus interesses de classe. A mudança permitiu a
continuidade da luta ecetista no estado com reconhecimento nacional entre os trabalhadores
dos Correios. Esse reconhecimento resultou na realização do segundo encontro nacional dos
ecetista em Maceió, nos dias 18, 19 e 20 de novembro de 1988. O evento teve como objetivo
definir as reivindicações da categoria a nível nacional para serem apresentadas a ECT. Um
dos principais temas exigidos aos Correios foi à revogação das demissões por motivo de
greve137. A CUT avaliou o ano de 1988 da seguinte forma:

O ano de 1988 ficará gravado na história do nosso movimento sindical pela forma
aberta com que se deu a luta de classe. O massacre de Volta Redonda por forças
militares, o contínuo assassinato de lideranças sindicais (Chico Mendes), as
intervenções militares nas usinas e nos portos, os pronunciamentos dos chefes
militares, etc., são manifestações que atestam a clareza dos confrontos e o papel do
Estado. A derrota nas eleições, no entanto, coloca para as forças conservadoras o
desafio de dar uma resposta convincente ao problema da crise (sobretudo a inflação,
o déficit público e a dívida externa), ao mesmo tempo em que não pode afrontar os
interesses das hierarquias internacionais e nacionais, dos empresários e dos
latifundiários (Resoluções do 3º CECUT/CUT/AL, 1989, p. 12)

A diretoria da ASCOR acompanhou as grandes discussões nacionais e procurou se
firmar, em seu curto período de existência, enquanto representação ecetista em Alagoas. No
âmbito nacional, fomentou o interesse e a necessidade de uma organização de classe entre os
ecetistas juntamente com outras associações de trabalhadores dos Correios.
137

Vários dos demitidos nesse período só retornaram a ECT durante o governo Lula, alguns foram cedidos para
outros órgãos após ser anistiados.

152

3.2 Avanços na categoria, retrocessos nos Correios

A passagem da ASCOR para SINTECT-AL no final de 1988 apontou para um grau de
amadurecimento na organização de classe dos trabalhadores dos Correios. Com um sindicato
próprio, os trabalhadores poderiam sem qualquer impedimento constitucional ter melhor
representação. Entretanto, tal mudança não significou que os Correios também estivessem em
sintonia com as transformações proporcionadas pela Constituição Federal, pois nesse período
não havia uma cultura democrática na estatal.

O ano de 1989 inicia-se com a campanha pela eliminação da URP. O governo e a
burguesia querem substituí-la por mecanismos de controle dos salários mais
“eficazes”, novamente o arrocho salarial será usado para “controlar” a inflação que
chega à marca dos 70% em janeiro. O reaquecimento das lutas sociais, em torno da
bandeira salarial, se coloca na ordem do dia (Resoluções do 3º CECUT/CUT/AL,
1989, p. 12).

O modelo administrativo e cultural repressivo dentro da ECT permaneceu em 1989 e
continuou em voga apesar da contratação de funcionários ocorrida nos anos de 1990,
inclusive no seu quadro administrativo, com a chegada de administradores e técnicos
formados nas universidades autônomas e livres da ideologia disciplinadora militar. Até
porque os cargos de comando nos Correios permaneceram sob a gerência dos que, por toda a
década de 1980, contribuíram com o modelo administrativo militar da ESAP.
A permanência da rotina austera, os baixíssimos salários, o apadrinhamento e a
imobilidade em termos de ascensão profissional dentro dos Correios, principalmente para os
trabalhadores de nível básico que não percebiam a oportunidade para avançar na carreira,
acentuou marcadamente a continuidade da rotatividade na empresa. Diversos talentos,
considerados bons profissionais, optaram pela vida profissional em outros lugares. Várias
estatais, empresas públicas, e outras instituições, hoje, abrigam esses funcionários que
poderiam ter somado nas atividades dos Correios.
Assim como nos anos de 1980, na década de 1990 o desânimo pelo tratamento
recebido era tão significativo que alguns outros trabalhadores optaram pelo pedido de
demissão sem nenhuma garantia de um novo emprego e amargaram a falta de uma nova
oportunidade no mercado de trabalho até os dias atuais. Durante o governo Lula (2003-2011),
a Comissão Nacional de Anistia, do Ministério da Justiça, reconheceu em vários casos que

153

tais pedidos de demissão tenham sido em virtude da forte repressão praticada pelas
instituições públicas entre os anos de 1980 e 1990. Ou seja, vários trabalhadores preferiram
deixar a empresa e ficar desempregados por não suportar as perseguições e os baixos salários
nos Correios.
Retornando ao tema central, pode-se dizer que a primeira missão do SINTECT-AL foi
participar das negociações em nível nacional para a readmissão dos trabalhadores demitidos
dos Correios por razões políticas e pela participação em greve durante a década de 1980
(Informativo Sintect-AL, ano 01, nº 01, NOV/DEZ 1988 & JAN de 1989). Sem êxito, devido
ao indeferimento de petição do sindicato à diretoria regional dos Correios, restou à entidade
de classe ajuizar ação na Justiça do Trabalho e aprofundar as críticas ao mundo político, ao
governo Sarney, em especial a seu ministro Antônio Carlos Magalhães, pelo tratamento dado
a estes trabalhadores e pela desobediência à Constituição de 1988138.
Quanto à presença do SINTECT-AL nas mobilizações externas coordenadas pela
CUT, há registros da participação da categoria dos Correios na Greve Geral ocorrida nos dias
14 e 15 de março de 1989 (Informativo Sintect-AL, ano 01, nº 02, março de 1989)139. As
fontes dizem que houve uma adesão de 100% da área operacional ao movimento paredista e
aborda as perdas salariais provocadas pelo Plano Verão140, além de fazer destaque para a
participação e a consciência política dos trabalhadores.
Segundo a CUT Alagoas, houve uma participação calculada em 35 milhões de
grevistas durante os dois dias de greve. Para a Central, em números absolutos, esta foi a maior
greve de trabalhadores assalariados sob o capitalismo, a nível mundial. Entretanto, na mesma
avaliação, a CUT fez uma autocrítica ao reconhecer que “não conseguiu tirar todos os frutos

138

De acordo com informações colhidas no Informativo do SINTECT-AL. Ano 01, nº 03, de junho de 1989,
cerca de nove mil trabalhadores foram demitidos nos anos de 1980. Em Alagoas entre nove e treze demitidos
entraram com pedido de readmissão.
139
Para a CUT Alagoas a greve geral não era mera somatória de greves de categoria, mas um movimento
eminentemente político geral, de todos os explorados e oprimidos e isso não pode ser medido apenas por
categoria. É preciso analisar mais profundamente os estados de ânimo coletivos da massa em relação aos
objetivos das jornadas de luta. Para tanto, é necessário que os dirigentes sindicais cutistas deixem de ser apenas
dirigentes das suas categorias para ser dirigentes da classe trabalhadora e seus aliados. (Resoluções do 3º
CECUT/CUT/AL, 1989, p. 04).
140
O “Plano Verão” representou uma tentativa desesperada do Governo Sarney de buscar sua redenção junto à
opinião pública e a unificação da burguesia. Um plano que não ataca as bases da crise (dívida externa e dívida
pública interna) mas que em nome da contenção da hiperinflação impõe o mais profundo arrocho salarial à classe
trabalhadora. O Plano de fato naufragou, seja pelo caráter limitado de suas medidas frente ao tamanho da crise,
seja pela resistência dos trabalhadores ao arrocho salarial, fora a desmoralização do governo imerso num mar de
lama de escândalos e corrupções. (Resoluções do 3º CECUT/CUT/AL, 1989, p. 02/03).

154

políticos deste impressionante movimento grevista (Resoluções do 3º CECUT/CUT/AL, 1989,
p. 04)
Em resposta às mobilizações nacionais das diversas categorias de trabalhadores, o
governo Sarney encaminhou ao Congresso Nacional Medida Provisória que regulava a Lei de
Greve. Considerada pelo movimento sindical como uma medida mais reacionária que a antiga
Lei de Greve, o tema foi motivo de debate entre os trabalhadores dos Correios chegando a ser
notícia nos meios de informação do sindicato (Informativo Sintect-AL – Ano 01, nº 04,
abril/maio de 1989).

Foto 5 - Uma das primeiras manifestações públicas do SINTECT-AL em 1989

Fonte: autor desconhecido – Arquivo do Sintect-AL

Para as paralisações ocorridas nos Correios, a empresa mudou o discurso das
demissões ainda no final da década de 1980. Em julho de 1989 elas passaram a ser
justificadas como reforma administrativa ou uma reestruturação dentro da empresa (Jornal de
Alagoas, 05 de julho de 1989). Diversos trabalhadores foram demitidos sob esse argumento e
para preencher as vagas, os substitutos foram indicados pelo próprio diretor Jarbas Maranhão,
o que se presume a não realização de concurso público (Informativo Sintect-AL, ano 01, nº 06,
julho de 1989). As demissões, tidas como ilegais pelos sindicalistas, foram contestadas

155

mediante ação na justiça por estarem em desacordo com a Lei Eleitoral, uma vez que haveria
descumprimento de prazo que as tornavam ilegais em decorrência das eleições de 1989.
Jarbas Maranhão, descontente com as denúncias, enviou carta ao SINTECT-AL
questionando a matéria publicada no jornal Gazeta de Alagoas141. Segundo o jornal, o diretor
ameaçava acionar os meios jurídicos contra o sindicato. O fato é que nem a Delegacia
Regional do Trabalho se dispôs a realizar as homologações dos demitidos.
Outro agravante contra Jarbas Maranhão perante à opinião pública foi a notícia
veiculada pelo Jornal de Alagoas142, que também noticiou o fato já abordado pela Gazeta. A
matéria, além de fazer referência às demissões sem justa causa, informava que o diretor
regional emitira várias correspondências ao SINTECT-AL pedindo esclarecimentos sobre as
críticas contidas no jornal do sindicato (Informativo Sintect-AL, nº 06, julho de 1989). Só que
dessa vez o Jornal de Alagoas abordava a morte do carteiro Neumário Machado de Lima, 41
anos, vulgo Torino, casado e pai de dois filhos, como sendo de responsabilidade da
administração dos Correios em Alagoas. O periódico alagoano segue a matéria afirmando que

Segundo o Sindicato, a direção da ECT colocou o funcionário Neumário Machado
Lima na “lista negra” por causa do grande número de licença médica que ele vinha
apresentando para poder tratar da sua doença. “Com medo de perder o emprego o
servidor foi obrigado a voltar ao trabalho e, não agüentando, morreu ao sair de casa
para a empresa”, dizia o sindicato. (Jornal de Alagoas, 26 de julho de 1989)

A morte de Neumário causou comoção entre os trabalhadores dos Correios e ficou
bem definido na Coluna Fala Ecetista, do Informativo acima mencionado e redigido por José
Anelito de Azevedo, cujo trecho vale à pena reproduzir como indício que poderá definir o
sentimento dos trabalhadores à época. Texto intitulado: Palavras para você, garotinho
Neumário. Segue:

Você se foi, de súbito você se foi, se foi para o vale das sombras e da serenidade
(...). E agora garotinho? E os teus algozes que te impregnaram um terrorismo
psicológico como suspense da verdadeira caça-bruxas? Voltamos à idade média por
ventura? Retroagimos ao tempo ou são eles pedra sem lápide? E os direitos
humanos, inalienáveis coincidentemente comemorados com o bi-centenário da
revolução que os incrementou? (...) serás o símbolo do martírio ecetista, um marco
na história funcional dos Correios, um incentivo para a luta (...). (Informativo
Sintect-AL – Ano 01, nº 06, julho de 1989)

141
142

Jornal Gazeta de Alagoas, 23 de julho de 1989
Jornal de Alagoas, 26 de julho de 1989

156

As lamentações pela morte do carteiro incomodavam a diretoria regional, a impressão
entre os trabalhadores era de que a história se repetia a exemplo do ocorrido com o também
carteiro Máximo Fiel. Entretanto, o constrangimento não serviu de reflexão ou de trégua para
que os trabalhadores fossem mais bem compreendidos pelos Correios quando estivessem na
luta por seus direitos.

3.3 O Comitê Ecetista Lula Presidente

Em 1989, imbuídos no processo de disputa eleitoral para presidente, os trabalhadores
dos Correios foram uma das primeiras categorias em Alagoas a criar um comitê de apoio ao
então candidato Luís Inácio Lula da Silva à Presidência da República.
Havia uma preocupação no SINTECT-AL em refletir as propostas de Collor e Lula no
sentido de conscientizar os trabalhadores a apoiar o candidato petista. A CUT Alagoas
acreditava nas possibilidades ampliadas de um deslocamento da correlação de forças em favor
do proletariado. A ideia seria uma vitória da esquerda nas eleições presidenciais resultante de
uma grande campanha de massas que combine o plano eleitoral com ações de lutas diretas dos
trabalhadores e o incremento de sua organização massiva de base. A CUT chegou a equiparar
os candidatos Fernando Collor, Ulisses Guimarães, Mário Covas e Leonel Brizola como
candidatos com perfil idealizado pela burguesia à Presidência da República nas eleições de
1989.

O candidato ideal da burguesia deve combinar um perfil conservador ou liberal na
questão econômica com um perfil populista capaz de dar novo rosto ao padrão de
dominação burguesa. Neste sentido, em diversos graus, Collor, Ulisses, Covas e
Brizola podem corresponder ao perfil idealizado pela burguesia, travando-se no
momento a disputa entre si e estabelecendo uma política de alianças no
enfrentamento das alternativas colocadas pelo campo operário e popular.
(Resoluções do 3º CECUT/CUT/AL, 1989, p. 07).

Segue a CUT Alagoas em suas resoluções,

No entanto, os trabalhadores também perceberam que a sua ferramenta fundamental
é a luta de massas, sem a qual a sua participação na luta institucional se fragiliza e é
neutralizada facilmente pela burguesia. Devemos evitar a caracterização equivocada
de que o momento é de acumulação de forças para viabilizar as eleições
presidenciais e a vitória de um candidato comprometido com os trabalhadores,
pressupondo uma “radicalização limitada”, que não desestabilize o processo político

157

lançando mão dos viciados meandros da negociação já experimentados e fracassados
durante o processo constituinte. Esta posição não pode ser levada adiante, pois
apenas a intensificação das lutas contra o Estado, a burguesia e o imperialismo é que
aprofundará a crise de dominação burguesa e sustentará o aprofundamento da
democracia, levando à possibilidade de implantação de um governo comprometido
com os trabalhadores, com as necessárias medidas democráticas populares e antiimperialistas. (Resoluções do 3º CECUT/CUT/AL, 1989, p. 07).

Em informativo distribuído aos trabalhadores pelo Sindicato, as lideranças sindicais
dos Correios chamavam atenção para os 29 anos sem processo eleitoral direto para presidente.
Os sindicalistas acreditavam que o candidato do Partido dos Trabalhadores não iria privatizar
os Correios143 e que faria um governo popular, com a suspensão do pagamento da dívida
externa e a implantação da reforma agrária.

Segundo panfleto elaborado pelo Comitê,

Os ecetistas também vão votar em LULA porque é o único que sempre esteve ao
lado dos trabalhadores. LULA não vai privatizar os Correios. A democracia e
participação são os novos rumos adotados no governo popular. Os filhotes da
ditadura perderam e não mais poderão reprimir.
No dia 17 de dezembro temos um encontro marcado com a liberdade. Pela
suspensão do pagamento da dívida externa, reforma agrária, garantias de melhores
salários, mais escolas, saúde decente, e pelo desenvolvimento do Brasil só temos
uma escolha: LULA!!!” (Panfleto do Comitê Ecetista Pró Lula Presidente, s/d)

A criação deste Comitê seguia recomendação da CUT Alagoas que orientava seus
sindicatos e oposições a engajar-se no processo eleitoral e na ampliação da consciência
política dos trabalhadores. A Central incentivava as categorias a debater a conjuntura nacional
em assembleias, boletins e outras formas de comunicação das massas, a exemplo dos cursos
de formação. “A CUT deve estimular os trabalhadores para formar comitês populares para
intervir organizada e unilateralmente no processo eleitoral.” (Resoluções do 3º
CECUT/CUT/AL, 1989, p. 11).
Em sua plataforma de exigências, elaborada para orientar a intervenção da CUT na
questão das eleições presidenciais, bandeiras de luta como reforma agrária ampla e massiva
sob controle dos trabalhadores, liberdade e autonomia sindical; contra a privatização das

143

O debate sobre a privatização dos Correios e a consecutiva perda de milhares de postos de trabalho sempre foi
motivo de preocupação dos trabalhadores desde os tempos da ASCOR. Um dos argumentos para tal estava
atrelado ao projeto neoliberal de Fernando Henrique Cardoso. Mas, antes havia sido reflexo das transformações
econômicas pelas quais passava o mundo em fins da década de 1980 e início da década de 1990.

158

estatais, estatização do sistema financeiro, transporte público e indústria, controle operário da
produção, reforma radical urbana, entre outras.
A Resolução da CUT também defendia as bandeiras com temáticas internacionais, a
exemplo de ser contra a agressão dos Estados Unidos à América Central, na defesa dos
direitos do povo palestino à autodeterminação, contra o apartheid e pelo rompimento de
relações diplomáticas com a África do Sul e pelo apoio aos trabalhadores na luta por
democracia nos Estados operários burocratizados (Idem).
Foto 6 - Encontro do Comitê Lula Presidente – (Maceió – 1989)

Fonte: autor desconhecido – Arquivo do Sintect-AL

Ainda em meados de 1989, durante o apoio explícito ao candidato metalúrgico,
aconteceu um fato inusitado. Tudo começou quando uma faixa de campanha à candidatura de
Lula, fixada pelo SINTECT-AL em frente à sede dos Correios localizada na Rua João Pessoa,
Centro de Maceió, foi retirada por determinação do diretor regional adjunto Anildson
Menezes Silva (Informativo Sintect-AL, ano 01, nº 07, agosto de 1989). O fato virou caso de
polícia, pois o Sindicato prestou queixa na delegacia à autoridade policial sobre o sumiço da
faixa. Após tomar ciência do ocorrido, o delegado intimou o diretor adjunto até a delegacia
para que o material de campanha fosse devolvido. O vexame passado pelo alto funcionário
dos Correios por muito tempo foi lembrado entre os ecetistas com muito humor e irreverência.

159

Embora o acontecimento tenha sido recordado de forma cômica, expressa o
sentimento conservador dentro dos Correios e a preocupação com a possibilidade de uma
figura apoiada pela esquerda nacional vir a assumir o mais alto posto da nação brasileira. A
conjuntura de 1989 não deixava de escancarar, principalmente na empresa, uma “luta de
classes” representada pela disputa ideológica e de poder entre os setores oriundos do regime
militar e os trabalhadores há muito tão sedentos de democracia e melhor tratamento na estatal.
3.4 O bispo e a extorsão144

O ano de 1989 começou com um grave problema para o SINTECT-AL. Tratava-se do
caso de extorsão envolvendo o Arcebispo de Maceió, Dom Edvaldo Gonçalves do Amaral, e
um funcionário dos Correios. O fato repercutiu sobremaneira na imprensa alagoana que
noticiou por vários dias o caso chamando a atenção da opinião pública. O jornal Gazeta de
Alagoas, edição de 25 de janeiro de 1989, relatou que o sacerdote estava sendo vítima de
extorsão por alguém ligado à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos após ter
interceptada uma correspondência sua vinda dos Estados Unidos145.
Depois de ter atendido parcialmente às imposições do transgressor, o Arcebispo
passou a receber telefonemas ameaçadores. Acionada a polícia, logo se criou um plano para
surpreender quem estivesse arquitetando a extorsão. De prontidão na casa do bispo católico,
um oficial da polícia gravou a voz do criminoso que buscava informações sobre o paradeiro
do sacerdote. O curioso é que precipitadamente o jornal Gazeta de Alagoas apontava em sua
matéria o nome do bacharel em direito e operador telegráfico dos Correios, José Geraldo
Ferreira, como o principal suspeito pela extorsão. O tabloide continuou noticiando em sua
matéria que o sistema de segurança estadual chegou à conclusão de que José Geraldo era o
principal acusado do crime. Este, pressionado pela exposição aos fatos, negou sua
participação diante do secretário de segurança José Rubem Fonseca de Lima.
Preocupados com o escândalo, os Correios abriram inquérito administrativo para
apurar o envolvimento do funcionário e declararam à imprensa alagoana que a ficha funcional

144

Texto inicialmente publicado em 2008 quando da publicação do livro Carta Aberta: o movimento sindical nos
Correios de Alagoas (1985-1997), de minha autoria.
145
Não consegui informações sobre o conteúdo da correspondência endereçada ao bispo. Entretanto, o que
haveria de tão importante na carta a ponto de servir como objeto de extorsão?

160

de José Geraldo era limpa, tendo ele sido inclusive considerado operador telegráfico padrão
na empresa.
O Jornal de Alagoas, em 27 de janeiro de 1989, noticiou que Dom Edvaldo Amaral
estava sendo ameaçado de morte pelo criminoso. Preocupado com a execração pública do
operador telegráfico, o SINTECT-AL emitiu nota de desagravo por vários canais de
comunicação contra a Secretaria de Segurança Pública por ter acusado, sem provas, o
funcionário José Geraldo como autor da violação da correspondência e da chantagem feita a
Dom Edvaldo. Segundo a nota, as acusações eram precipitadas e irresponsáveis porque
estavam calcadas em indícios inexistentes. Para Lourival dos Santos, presidente do Sindicato,
as gravações feitas com o chantagista não correspondiam nem a voz nem ao vocabulário do
funcionário acusado.
Por fim, José Geraldo havia sido acolhido com muita solidariedade no dia 26 de
janeiro pelos demais companheiros de trabalho que certificaram sua conduta como irrefutável.
Em Informativo do SINTECT-AL146, na matéria intitulada: A Verdade Esclarecida, foi
relatado que após perícia do Departamento de Polícia Federal, a voz de José Geraldo não era a
mesma do criminoso que ameaçou e tentou extorquir o Arcebispo de Maceió. Restando ao
acusado a oportunidade para processar todos os que o execraram publicamente por calúnia e
difamação (Jornal de Alagoas, edição de 23 de fevereiro de 1989), dentre estes a Secretaria de
Segurança Pública de Alagoas, a Organização Arnon de Mello e o funcionário dos Correios
César Roberto de Souza, responsável pelo inquérito administrativo147.

3.5 As últimas perseguições dos anos de 1980 e os ecetistas na década de 1990

Mesmo com o advento da Constituição de 1988, que melhor define as garantias
sindicais, os Correios ignoraram esses direitos constitucionais e emitiram portaria orientada
pela diretoria regional para repreender os dirigentes Lourival dos Santos, José Benedito
Nazário, Luiz Carlos Bastos, Gilberto Macena148 e José Cláudio por adentrarem as instalações

146

Informativo Sintect-AL, ano 01, nº 10, outubro de 1989
Em conversa com Lourival dos Santos, então presidente do Sintect-AL, este me relatou que o processo não
chegou a ser efetivado. Seria mais uma estratégia para coibir as especulações em cima do nome de José Geraldo.
Entretanto, o presidente mantém, após tantos anos, a opinião de inocência do funcionário dos Correios.
148
Gilberto Francisco Macena nasceu em Maceió, no dia 01 de abril de 1958. É funcionário dos Correios desde
03 de outubro de 1977 sob a matrícula 8.025.985-5. Atualmente exerce a função de atendente comercial. Um dos
principais fundadores do movimento sindical nos Correios, sempre esteve na linha de frente da ASCOR e do
147

161

da empresa sem autorização. Embora os mesmos fossem dirigentes sindicais legalmente
constituídos pelos trabalhadores, essa representatividade, na prática, não era respeitada pelos
Correios.
Em julho de 1989, segundo o Informativo do SINTECT-AL149, “a dupla fascista”150
Jarbas/Anildson demitem arbitrariamente 12 companheiros ecetistas. Essas foram as últimas
demissões no governo Sarney, as dispensas desses funcionários ocorreram entre junho e
dezembro de 1989 e em alguns casos foram por motivação política, a exemplo de Edeil
Gomes Cavalcante, militante da ASCOR demitida grávida pela ECT. O quadro abaixo
apresenta a relação de funcionários dispensados na intenção de manter na memória deste
movimento sindical esses momentos de dificuldades para os ecetistas.
Quadro 7 - Demitidos pela ECT no Período de Julho a Dezembro de 1989151
NOME

CARGO

MATRÍCULA

ADMISSÃO

DEMISSÃO

Edeil Gomes Cavalcante

Auxiliar de
Escritório
Condutor de
Veículos
Executante
Operacional
-

8.026.716-5

24.03.1985

04.07.1989

8.026.593-6

25.10.1983

30.06.1989

8.026.580-4

12.07.1983

04.07.1989

Sebastião Silva Monteiro
Roseele Cristina Costa de Lima

Maria Quitéria Barbosa de Oliveira
8.026.522-7
02.09.1982
04.07.1989
Ana Paula152
8.026.748-3
23.10.1985
04.07.1989
Sílvio Santos Brandão
Carteiro
8.026.841-9
15.12.1986
04.07.1989
Carlos André Correia dos Santos
8.026.885-4
07.10.1987
04.07.1989
Alinaldo Ferreira da Silva
8.026.160-4
02.10.1978
05.07.1989
José Cândido dos Santos
8.026.281-3
26.03.1979
30.06.1989
Mário de Oliveira Lima
8.026.384-4
09.05.1980
04.07.1989
Carlos Alves Pontes
8.025.392-4
04.07.1989
Mauro Jorge Galvão dos Santos
8.026.495-6
Sandro Roberto C. Cavalcante
8.026.847-1
Fonte: Lista de demitidos pela ECT no período de junho a dezembro de 1989/Arquivo SINTECT-AL

Posteriormente, em dezembro do mesmo ano, a justiça deu ganho de causa ao
SINTECT-AL e determinou o retorno imediato dos demitidos. Com a volta desses
trabalhadores, a instituição de classe alcançou uma de suas primeiras conquistas e procurou se
Sindicato. Foi demitido em 1985, 1997 e 1998 devido a perseguições políticas. Ocupou vários cargos nas
diretorias do Sintect-AL chegando a vice-presidente.
149
Informativo Sintect-AL, ano II, nº 01, retrospectiva 1989.
150
O rótulo de fascista atribuído a Jarbas Maranhão e Anildson Menezes Silva necessariamente não é de nossa
autoria, mas um termo utilizado no período pelos informativos do SINTECT-AL.
151
É possível que tenha havido outros demitidos neste período e que por falta de registros não estão aqui
relacionados.
152
Não foi encontrado o sobrenome desta funcionária.

162

engajar no cenário sindical dos Correios pelo Brasil. Prova disso é que em 18 de julho de
1989, mergulhada num momento difícil na relação empresa versus trabalhadores, vinte e sete
ecetistas superaram a rigidez da ECT e em nome da categoria, aprovaram em Assembleia
Geral a filiação do SINTECT-AL à Federação Nacional dos Trabalhadores na Empresa de
Correios e Telégrafos – FENTECT.
Entretanto, no primeiro semestre de 1990, a FENTECT propôs uma ação popular para
que todas as admissões a partir da promulgação da Constituição de 1988 fossem feitas através
de concurso público. O que não se esperava era que de maneira extremamente legalista e
interessada em atingir a ECT, a Federação tenha proposto a anulação de todas as admissões
sem concurso feitas a partir de 05 de outubro de 1988 não levando em consideração, do ponto
de vista político, que milhares de trabalhadores perderiam seus empregos.
Em resposta, o juiz federal da 6ª Vara do Distrito Federal, através de Edital de Citação
publicado no Diário da Justiça de 24 de julho de 1990, citou mais de quatro mil funcionários
da ECT para apresentarem defesa, sob pena de anulação de suas contratações. Em Alagoas, a
medida causou preocupação entre os envolvidos. Temerosos em perder o emprego, vinte e
sete funcionários dos mais variados cargos foram citados. O quadro abaixo relaciona esses
trabalhadores.

Quadro 8 - Relação de Empregados Admitidos pela ECT/AL de Maio a Junho de 1989
NOME

MATRÍCULA

DATA DA ADMISSÃO

Cláudio Cardozo Pedroza

8.026.892-7

17.05.1989

Cícero Luiz Santos

8.026.893-7

15.06.1989

Márcio Alves de Barros

8.026.894-3

21.06.1989

Carlos Alberto Chagas

8.026.895-1

03.07.1989

Roberto Nogueira dos Santos

8.026.896-0

04.07.1989

Editelmo José Malta de Pontes

8.026.897-8

06.07.1989

Wilton Lopes Pinheiro

8.026.898-6

06.07.1989

Isnaldo Acácio Pereira Silva

8.026.899-4

07.07.1989

Elizeu Gomes de Sena

8.026.900-1

07.07.1989

Marcos Antônio de Paiva

8.026.901-0

07.07.1989

José Jadson da Silva

8.026.902-8

07.07.1989

Edmilson dos Santos

8.026.903-6

07.07.1989

Valmiro José de Araújo

8.026.904-4

07.07.1989

Amorim

163

Jaelson Vieira da Silva

8.026.905-2

07.07.1989

Leandro José da Silva Santos

8.026.906-0

07.07.1989

Jabson Antônio G. da Silva

8.026.907-9

07.07.1989

Nilson Silva de Lima

8.026.908-7

07.07.1989

Gerson Felix Ferreira

8.026.909-5

07.07.1989

Jairo Rodrigues Costa

8.026.910-9

07.07.1989

Antônio Elias da Silva

8.026.911-7

07.07.1989

José Ubiratan Cavalcante

8.026.912-5

07.07.1989

José Cícero de Araújo

8.026.913-3

07.07.1989

Jeovane Francelino da Silva

8.026.914-1

07.07.1989

Eliel Rocha de oliveira

8.026.915-1

07.07.1989

José Viana da Silva Neto

8.026.916-8

20.11.1989

Givaldo Gomes da Silva

8.026.917-6

22.11.1989

Amaro Bandeira Leal Júnior

8.026.918-4

06.12.1989

Fonte: Edital de Citação/Arquivo do SINTECT-AL.

Somente dez anos depois, a questão voltou a ser discutida pelo SINTECT-AL que
convocou assembleia geral para o dia 29 de março de 2000 a fim de decidir sobre a posição da
entidade a respeito do tema. Por fim, os trabalhadores decidiram que os contratados sem
concurso deveriam bancar os custos advocatícios, pois o SINTECT-AL não deveria
disponibilizar sua assessoria jurídica por considerar que a contratação sem concurso público
era uma ilegalidade da direção nacional dos Correios (Gazeta Ecetista, edição de 05 de abril
de 2000).
Ao final, pelo menos em Alagoas, a demissão dos funcionários acima citados acabou
não acontecendo e por fim não foi possível definir se o processo na Justiça Federal foi
encerrado ou qual o derradeiro entendimento sobre o caso.

3.6 Mobilização sindical e demissões no governo Collor

Em 1990, 56% dos eleitores classificaram os sindicatos como confiáveis, abaixo da
Igreja Católica (82%), do Judiciário (62%) e do rádio (56%). Esse foi, também, o ápice do
progresso de consolidação sindical na democracia emergente (IBOPE apud CARDOSO,
2003, p. 37). Para o SINTECT-AL, o ano de 1990 começou com a Semana de Luta dos
Ecetistas. Esta tinha por objetivo denunciar para a opinião pública as perseguições, a falta de

164

democracia nos Correios e as arbitrariedades que se reproduziam desde a década de 1980
(Gazeta de Alagoas, edição de 24 de janeiro de 1990).
De 22 a 26 de janeiro foram publicadas notas na imprensa, dadas entrevistas nas
emissoras de rádio e televisão, realizado ato público com a presença de outras entidades de
classe, parlamentares e distribuição diária de informativos à categoria. A Semana de Luta
serviu para os trabalhadores refletirem aquele momento político e fortalecer a unidade em
torno do sindicato. Ações rotineiras, a exemplos das reuniões setoriais, distribuição de
boletins informativos e as assembleias gerais eram utilizadas pelas lideranças do sindicato
para conquistar os trabalhadores e fortalecer o movimento sindical nos Correios. Certamente,
devido à conjuntura de medo estabelecida na década de 1980, as assembleias geralmente não
eram repletas de trabalhadores. Mas, os ecetistas que a elas compareciam acabavam sendo
propagadores, em seus locais de trabalho, dos encaminhamentos e temas discutidos nesses
encontros.
É fato que os pontos de pauta sempre foram definidores do quantitativo de
trabalhadores presentes nas assembleias gerais da categoria dos Correios. Geralmente as
assembleias que aglomeravam mais ecetistas eram as decisivas durante as campanhas salariais
ou quando havia algum ponto polêmico a ser discutido pela categoria.
Os quadros abaixo demonstram a frequência de ecetistas nas assembleias no final da
década de 1980 e início da década de 1990:

Quadro 9 - Número de Participantes nas Assembleias Gerais do SINTECT-AL Ocorridas em
1989.
LOCAL
Sindicato dos Bancários

DATA
07/04/1989

Nº DE PARTICIPANTES
21

Não informado

20/04/1989

35

Clube da Astel

27/04/1989

52

Não informado

08/05/1989

84

Clube da Astel

10/05/1989

67

Não informado

04/07/1989

33

Não informado

18/07/1989

27

Sindicato dos Urbanitários

22/08/1989

47

Sindicato dos Bancários de
Alagoas
Clube da Astel

22/09/1989

34

13/10/1989

48

165

Não informado

26/10/1989

51

Não informado

08/11/1989

21

Não informado

09/11/1989

59

Não informado

21/11/1989

47

Não informado

05/12/1989

63

Não informado

13/12/1989

54

Fonte: Livro de Assinaturas de Assembleias do Sintect-AL.

Seguramente outras assembleias gerais devam ter ocorrido ao longo de 1989, mas seus
registros não foram encontrados durante essas pesquisas. Entretanto, o quantitativo de
participações indicado no quadro 9, até certo ponto, se reproduziu nos anos seguintes.
Possivelmente, a menor participação continuou em face do terror provocado pelas demissões
e repressão à organização de classe nos Correios nos anos iniciais de 1990.

Quadro 10 - Número de Participantes nas Assembleias Gerais do SINTECT-AL em 1990
LOCAL

DATA

Nº DE PARTICIPANTES

Não informado

07/05/1990

27

Não informado

14/05/1990

26

Não informado

11/06/1990

27

Sindicato dos Bancários

18/07/1990

114

Sindicato dos Bancários

19/07/1990

68

Não informado

23/07/1990

26

Sintect-AL

16/08/1990

17

Não informado

30/08/1990

21

Não informado

05/09/1990

16

Não informado

11/09/1990

16

Não informado

12/09/1990

13

Sindicato dos Bancários

18/10/1990

19

Clube da Astel

27/11/1990

41

Sintect-AL

06/12/1990

22

Clube da Astel

11/12/1990

54

Fonte: Livro de Assinaturas de Assembleias do Sintect-AL.

Embora as perseguições tenham continuado no início da nova década, a insatisfação da
categoria com os Correios e a diretoria regional pode ser percebida na assembleia de 18 de
julho, quando 114 trabalhadores compareceram para protestar contra as ações repressivas dos

166

Correios. A relação abaixo identifica o nome de vários delegados sindicais ativistas que foram
demitidos no governo Collor.

Quadro 11 - Relação de Lideranças Sindicais Demitidas Entre 1990 e 1991
NOME

PUNIÇÃO

DATA

MOTIVO OFICIAL

José Jorge de Oliveira

Demissão

06/1990

Sem justa causa

Moacir José dos Santos

Demissão

06/1990

Sem justa causa

Cleonilton Alves da Silva

Demissão

06/1990

Sem justa causa

Manoel Miguel dos Santos Jr.

Demissão

06/1990

Sem justa causa

Osvaldo Teixeira de Carvalho

Demissão

06/1991

Por defender a greve em
assembleia da categoria.
Cláudio Roberto Pacheco das
Demissão
06/1991
Por defender a greve em
Chagas
assembleia da categoria.
José Francisco Simplício Filho
Demissão
Por ser contra
questionário da ECT
Fonte: Carta do Sintect-AL, de 19 de novembro de 1992, à Secretaria de Anistia e Defesa do Emprego

Em 20 de julho de 1990, o SINTECT-AL denunciou Jarbas Maranhão, Anildson
Menezes e Roberto Mota pela demissão de Orson Luís, Chagas e Osvaldo Teixeira. Em
protesto foi organizado no mesmo dia um ato público em frente à Agência Central dos
Correios em Maceió. Em resposta, a diretoria regional convocou o pelotão de choque da
Polícia Militar para reprimir os trabalhadores espalhando o medo pela empresa. O fato foi
noticiado pelo jornal Gazeta de Alagoas153, que também expôs os objetivos da Semana de
Luta organizada pelo Sindicato. Como elemento mobilizador, foi publicada pelo sindicato
uma “suposta” declaração de autoria de Roberto Mota, um alto funcionário da empresa,
afirmando que “a direção do correio em Alagoas demitirá cada ecetista que entrar em greve, e
já convocamos o Pelotão de Choque da Polícia para reprimir os grevistas. Aqui é a terra do
presidente Collor, não podendo haver greve em hipótese nenhuma” (Roberto Mota, quintafeira, 19 de julho de 1990, in Informativo SINTECT-AL, edição de 20 de julho de 1990).
As declarações de Roberto Mota ocorreram em virtude da assembleia geral realizada
no dia 18 de julho e da Semana de Luta. O fato é que associar o movimento reivindicatório
dos ecetistas com a “terra” do presidente Collor, expõe a péssima relação existente entre a
diretoria regional e as lideranças sindicais. O tom era de guerra, havendo também uma nítida

153

Jornal Gazeta de Alagoas, 26 de janeiro de 1990

167

preocupação com a imagem da instituição federal em face do então presidente da República
ser alagoano.
O clima de hostilidades intensificou-se com a campanha de desfiliação em massa do
SINTEC-AL imposta pelos Correios a todos os trabalhadores. Pelo Brasil, a empresa havia
demitido aproximadamente quatro mil trabalhadores, vinte e oito em Alagoas – difícil resistir
às pressões pela desfiliação.
Outra maneira de cooptar os trabalhadores e esvaziar o Sindicato baseou-se no
cerceamento da ascensão profissional. Os engajados no movimento sindical e que nele
insistiram em permanecer não tiveram vez. Entre os supervisores operacionais ou chefes de
CDD’s nenhum mais era filiado ao Sindicato. Entretanto, o movimento continuou, embora o
grupo de sindicalistas, fundadores da ASCOR e do SINTECT-AL, tivesse sua ascensão
profissional prejudicada e, em algumas situações, abdicado de momentos de suas vidas
pessoais em nome dos trabalhadores.
O mesmo aconteceu, por exemplo, com os carteiros Benigno e Hermes, que perderam
a gratificação de carteiro motorizado por participação em greve. Os boletins internos dos
Correios, uma espécie de terrorismo através da informação, amedrontavam alguns
trabalhadores. Anunciava-se que o importante era preservar o emprego, e quem entrasse em
greve corria o risco de se juntar à legião de desempregados (Informativo Gazeta Ecetista, ano
III, 28 de maio de 1991).
Em pleno governo Collor, quando seu plano neoliberal de “enxugar o Estado” demitia
trabalhadores por toda a parte, os ecetistas continuavam a se reunir para deliberar sobre temas
da categoria.

Quadro 12 - Número de Participantes nas Assembleias Gerais do SINTECT-AL em 1991 e 1992
LOCAL
Não informado
Não informado
Não informado
Não informado
Não informado
Não informado
Não informado
Não informado
Não informado
Não informado
Não informado
Não informado
Não informado

DATA
29/04/1991
21/05/1991
06/06/1991
11/06/1991
10/12/1991
17/03/1992
19/03/1992
27/03/1992
03/04/1992
29/05/1992
21/07/1992
29/09/1992
03/12/1992

Nº DE PARTICIPANTES
16
33
33
57
51
22
23
10
19
09
22
25
26

168

Não informado
10/12/1992
Não informado
16/12/1992
Não informado
18/12/1992
Não informado
17/03/1992
Fonte: Livro de Assinaturas de Assembleias do Sintect-AL.

66
71
30
73

Obviamente que outras categorias resistiam às incursões neoliberais através dos
protestos e greves pelo Brasil. A reação do governo veio com a tentativa de se mudar a lei de
greve, que passaria a condenar o piquete dos trabalhadores com definição de penas para a
detenção das lideranças que não respeitassem o funcionamento dos serviços essenciais. Fato
inibidor nos Correios, mas não a ponto de amordaçar o movimento sindical, conforme exposto
pelo número de participantes nas assembleias de 1991 e 1992. Reprimir, demitir e subjugar
com baixos salários e pela iminente condição do desemprego (dilemas de grande parte dos
brasileiros), não serviu para se alcançar os objetivos neoliberais do Plano Collor. Os
movimentos de trabalhadores aconteceram e contribuíram para a forte ojeriza social a qual o
presidente da República teve de enfrentar em boa parte de seu mandato.

3.7 Collor e os ecetistas: uma relação conturbada

Imediatamente após assumir a Presidência da República, em 1990, Fernando Collor de
Mello iniciou um ataque frontal aos trabalhadores, iniciou um forte programa de privatizações
e até dezembro do mesmo ano havia cortado 100 mil empregos (SCHNEIDER, 1992, p. 05).
As reformas administrativa e patrimonial, incluindo a privatização das estatais, pretendiam
reduzir o déficit público em US$ 8, 75 bilhões (Folha de São Paulo, edição de 17 de março de
1990). Para isso, o programa de demissão de funcionários e servidores públicos fazia parte do
pacote de medidas do governo. As promessas giravam em torno de cortes no funcionalismo
com o afastamento de 357 mil servidores (LACERDA, 1993, p. 162), sendo que até dezembro
de 1990 havia demitido 107 mil funcionários e colocado outros 65 mil em disponibilidade154.

Vamos considerar neste texto os dados apresentados em relatório da SAF [Secretaria
de Administração Federal] (1992), elaborado pela Escola Nacional de
154

As informações oficiais sobre os resultados da reforma administrativa no que se refere à redução do total de
servidores são muito desencontradas. Existem referências a números muito distintos. De acordo com pesquisa da
Enap, no primeiro ano do governo Collor foram reduzidos 160 mil postos de trabalho na administração direta,
inclusive fundações e autarquias. Deste total foram extintos 12.336 cargos vagos, 31.336 funções de confiança
deixaram de existir (DAS, DAI e FAZ), com uma redução de 50,21% do total existente no dia 14 de março de
1990 (LACERDA, 1993, p. 162).

169

Administração Pública (Enap). De acordo com este órgão, no início do governo
Collor o serviço público federal – administração direta, fundações e autarquias –
atingia o total de 703.517 servidores civis no serviço ativo. No final de 1991 este
total havia passado para 598.226 servidores, ou seja, uma redução de 105.291
servidores (15% do total inicial). Do total existente em 1991, havia 115.014 na
administração direta, propriamente dita, 324.439 nas 118 autarquias, 119.880 nas 42
fundações e 38.893 servidores dos antigos territórios, hoje cedidos aos novos
Estados. (LACERDA, 1993, p. 162)

Paradoxalmente, em notícia do Jornal do Brasil, edição de 23 de maio de 1990, a
reforma de impacto promovida nos primeiros meses do governo Collor não atingiu os
apadrinhados políticos. O governo gastava, em meados deste ano, Cr$ 150 milhões por mês –
não computados os ministérios militares – somente para pagar os 2.793 cargos de funções
gratificadas do tipo DAS (Direção e Assessoramento Superior). Estas funções estariam,
segundo Roberto de Melo Ramos, pesquisador do Instituto de Pesquisa Aplicada, “reservadas
a apadrinhados políticos ou a representantes da iniciativa privada, que se utilizam desses
cargos para benefício próprio ou dos interesses que representam” (LACERDA, 1993, p.
164/165).
Apesar dos apadrinhamentos, ainda segundo Lacerda (1993), um violento arrocho
salarial foi imposto aos servidores públicos com acelerada perda do poder real dos
vencimentos atingindo algo próximo dos 60% do valor existente em fevereiro de 1990.
Obviamente que essas perdas salariais eram relativas a depender da carreira específica da
administração indireta, a exemplo das empresas de economia mista, por terem maior
autonomia para definir sua política salarial por meio das negociações coletivas155. Fato que
não diminuía as dificuldades e os impedimentos impostos pelo governo durante as campanhas
salariais.
Outra contradição diz respeito à contratação de empresas prestadoras de serviço para
atender a determinadas demandas no serviço público através do fornecimento de mão-de-obra
temporária. As contratações visavam complementar as deficiências específicas de pessoal em
razão dos milhares de demitidos no período. O governo chegou a contratar 4.469 empregados,
em meados de 1991, via empresa de serviços (O Globo, edição de 25 de agosto de 1991). Esta
prática foi se generalizando enquanto alternativa para contornar as proibições de contratação
para o quadro de servidores permanente (LACERDA, 1993, p. 167).
155

Entretanto, este fenômeno de perda salarial acima referido repercute de forma muito diferenciada para o
conjunto dos servidores públicos. Existem carreiras específicas que foram muito menos atingidas do que outras
(Idem, p. 163).

170

Tratando das estatais e dos empregados públicos regidos pela Consolidação das Leis
do Trabalho (CLT), a avaliação do governo Collor era de que até 1982 havia uma sustentação
de níveis elevados de investimento financiado com o endividamento externo, o que fez
acumular nas estatais 70% da dívida externa. Porém, com a crise do financiamento externo
provocada em 1982 com a moratória mexicana, abriu-se um longo processo de ajustamento.
Ou seja, a partir de 1985, o Tesouro da União voltou a ser a principal fonte de financiamento
das empresas estatais. No final da década de 1980, a incapacidade do governo de sustentar,
por recursos fiscais, as necessidades de financiamento das estatais num ambiente de crise e
fragilização política do setor produtivo estatal levou o governo a optar pela privatização em
larga escala dessas empresas, fundamentado na perspectiva do Estado mínimo (PRADO,
1993, p.84)156. Nesse período, o fortalecimento do mercado era entendido como uma via
indispensável para a modernização da economia brasileira. Admitia-se que a redução do
Estado era uma necessidade para que o Brasil acompanhasse as mudanças tecnológicas e
organizacionais em andamento na economia internacional (LACERDA, 1993, p.167/168).

Subjacente a esta ideia de modernização estava implícita a opção por um ajuste da
economia brasileira via mercado, que passaria pela redução expressiva da
intervenção do Estado e pela seleção, através da ação da livre concorrência, dos
agentes econômicos mais aptos a sobreviver sem o apoio econômico estatal
(Dedecca; Brandão, 1993, p.335).

No campo das privatizações, somente no primeiro ano de mandato, o Plano Collor
liquidou oficialmente 23 empresas e órgãos públicos após acumular nos primeiros meses uma
inflação de 157% (Folha de São Paulo, edição de 22 de dezembro de 1990). Em sua primeira
semana no cargo, Collor extinguiu a Siderbras (a holding estatal de aço), a Portobras (holding
que administrava os portos) e a Intelbras (uma companhia em comércio internacional)
(SCHNEIDER, 1992, p.14).
Ainda segundo Schneider (1992, p. 6), a privatização é uma política normalmente
associada e preconizada por movimentos conservadores e principalmente neoliberais.
Entretanto, segue o autor:

156

Em relação ao Estado mínimo compartilhamos com a definição de Netto quando este afirma que: (...) em
alguma medida, o Estado mínimo que os neoliberais advogam não é um retorno puro e simples ao “Estado
guarda-noturno” que é o seu ideal – são forçados a reconhecer-lhes um pouco mais que a mera guarda da
propriedade: por um lado, combatem os sistemas de segurança e previdência social; por outro, toleram alguma
ação estatal em face do pauperismo (Netto, 1993, p. 79/80 apud CASTELO, 2013, p. 245).

171

No Brasil, o que causa perplexidade é que o governo Collor adotou uma política de
privatização sem um mandato eleitoral neoliberal (como teria sido o caso de Mario
Vargas Llosa no Peru), sem a pressão de partidos políticos de direita (como na
Argentina e no México) e sem que uma tecnocracia neoliberal tivesse se apoderado
do Estado (como no México nos anos 80 e no Chile e Argentina nos anos 70).

O plano privatista de Collor procurava acompanhar a tendência internacional que
desde a década de 1980 passava a favorecer cada vez mais a privatização. “O argumento
constante nos debates sobre a reforma do Estado era a preocupação de que o Brasil não
perdesse o “bonde da história” (SCHNEIDER, 1992, p. 09) abdicando da oportunidade de se
integrar aos países de primeiro mundo envolvidos com o neoliberalismo. Para isso, a
percepção era a de que o Programa de Privatização tinha como objetivo reduzir o déficit
público por entender que as empresas estatais eram um ativo com valor de mercado, portanto
passível de negociação (PRADO, 1993, p. 110).
Além do Programa de Privatização, o Plano Collor seguia em sua tentativa de destruir
as conquistas trabalhistas dos funcionários das estatais, geralmente inexistentes na iniciativa
privada, a exemplo de maior permanência no emprego, melhores salários e maiores
benefícios. À época, setenta por cento dos trabalhadores das indústrias de transformação
ganhavam até cinco salários mínimos, ao passo que oitenta e seis por cento dos trabalhadores
em empresas estatais recebiam seis ou mais (Folha de São Paulo, edição de 02 de setembro
de 1990). Situação que, segundo o governo, onerava em demasia o Estado.
O quadro abaixo aponta para os resultados de pesquisa realizada pela Confederação
Nacional da Indústria no final de 1989, quando foi pedido que 550 líderes industriais
elencassem em ordem de prioridade os elementos de uma política empresarial.

Quadro 13 - Pesquisa com Empresários Brasileiros em 1989 Sobre as Privatizações e Recursos
do BNDES
Percentual de Industriais

Prioridade

67%

Consideraram a privatização muito importante.

27%

Consideraram a contratação de empresas estatais
muito importante.
Defendiam a criação de empresas públicas.

8%
63%

Aprovavam o financiamento de áreas prioritárias pelo
BNDES.
84%
Eram favoráveis à expansão dos financiamentos de
longo prazo pelo BNDES.
Fonte: Competitividade e estratégia industrial: a visão de lideres industriais brasileiros / Confederação Nacional
da Industria, Departamento Econômico. – Rio de Janeiro, 1990, p. 17.

172

Pelos percentuais acima, percebe-se que havia um interesse da elite empresarial no
processo de privatização brasileiro e a canalização dos investimentos do Banco Nacional de
Desenvolvimento Social na iniciativa privada. O interesse, necessariamente apontava para a
abertura de mercado, principalmente o monopolizado por determinadas estatais. “Havia entre
as elites uma visão mais diversificada sobre os setores que o Estado deveria delegar à
iniciativa privada. O programa de Collor inicialmente se moldou à visão dessas elites”
(SCHNEIDER, 1992, p. 14) e buscou associar o programa da privatização à redução do
déficit e a estabilização econômica no Brasil.
Ozires Silva, ministro da Infraestrutura no governo Collor, foi um dos apoiadores do
processo de privatização. Seu ministério detinha o controle da maioria das estatais e para ele o
Estado havia tentado impor controles sobre os salários, contratações, investimentos e
publicidade em empresas que já não eram mais possíveis administrar. Portanto, julgava ser a
privatização a melhor solução (SCHNEIDER, 1992, p. 12). No caso dos Correios, esse
controle sobre salários, investimentos e contratações aprofundou o processo de sucateamento
da estatal e a crescente insatisfação de seus funcionários. Enquanto isso, os cortes de pessoal e
a irredutibilidade quanto a aumentar salários, azedavam as relações entre governo e
empregados de empresas estatais e seus sindicatos (Idem, 1992, p. 15). Além do que, deve-se
ter claro que na conjuntura de venda das estatais durante o governo Collor uma das
motivações básicas, universais, da privatização era enfraquecer o poder dos sindicatos do
setor público (PRADO, 1993, p. 140).

A Lei 8.029, sancionada pelo presidente Collor em 12 de abril de 1990, autorizou o
Poder Executivo a extinguir ou dissolver 22 entidades. Segundo a SAF, até o final
de 1991 já haviam sido efetivamente extintas treze entidades, a saber: Sudeco,
Sudesul, DNOS, Funarte, Fundação Educar, Fundação Pró-Memória, Museu do
Café, Fundação Cinema Brasileiro, Fundação Pró-Leitura, Fundacen, Portobrás,
EBTU e Embrater. (LACERDA, 1993, p. 161)

Desde os primeiros meses do governo Collor, milhares de trabalhadores perderam seus
empregos. Em cada família passou a haver um ou dois desempregados. Com a economia
recessiva em meados de 1992, o país contava com mais de sete milhões de postos de trabalho
perdidos (GIANNOTTI, 1992, p. 32). Nos Correios, a política de arrocho salarial e de
demissão que preocupava os ecetistas teve continuidade por toda a década de 1990.

173

Logo no primeiro dia, o Plano Collor I tirou 84,32% do reajuste de todos os
trabalhadores. Era a inflação do mês de março. Pela política salarial em vigor, antes
do Plano Collor, esses 84% iriam recompor o salário a partir do 1º de abril. Mas
Collor e a ministra Zélia Cardoso decretaram a inflação zero e, portanto, tornou-se
“desnecessário” aplicar esse indexador aos salários da “minha gente”. Enfim,
sumiram os 84% (GIANNOTTI, 1992, p. 33).

O arrocho salarial não ficou limitado ao confisco dos 84%. Por todo o mandato de
Collor, o salário dos ecetistas e demais trabalhadores foi definhando. As demissões como
parte da reforma administrativa em todos os órgãos da esfera federal, visando enxugar a folha
de pagamento do funcionalismo público, eram frequentes e, em junho de 1990, com seis
meses de governo, o ministro da Infraestrutura, Ozires Silva, determinou a demissão de
funcionários dos Correios em todo o Brasil. Em Alagoas, 27 trabalhadores foram demitidos
sem justa causa. Destes, quatro faziam parte da diretoria do SINTECT-AL157. Em
Pernambuco, foram cerca de 175 ecetistas demitidos158.
No caso de Alagoas, as demissões não ficaram restritas apenas a Maceió, ecetistas de
vários municípios alagoanos também foram atingidos pelas demissões. O quadro abaixo
relaciona funcionários do interior do estado que foram demitidos e seus respectivos
municípios.

Quadro 14 - Funcionários dos Correios Lotados no Interior Alagoano Demitidos no Governo
Collor
FUNCIONÁRIO

MUNICÍPIO

José Carlos B. da Silva

Messias

Natanael Messias Barbosa

Maribondo

Sonia Melo C. Vital

Arapiraca

João Soares Lima

Pão de Açúcar

Petrúcio Luis Brito

Pão de Açúcar

Antônio Alves de Melo

Pão de Açúcar

Cícero de Goes

Santana do Ipanema

Fonte: Lista de demitidos no Interior (Plano Collor)/Arquivo do SINTECT-AL
157

O Jornal de Hoje, edição de 05 de junho de 1990, relacionou os demitidos em Alagoas. Foram eles: Francisco
Assis A. da Silva, Cícero L. de Barros, Edvaldo Gomes Cavalcante, José Alberto G. da Silva, Anivaldo Anselmo
dos Santos, Carlos André, Gilberto Alves da Silva, Clemente Alves da Silva, Manoel S. Junior, José Jorge
Oliveira, João G. da Silva, Erasmo T. Cavalcante, Maria Regina L. Gomes, Maria das Graças F. da Silva,
Antonio S. Filho, Maria Rosangela Oliveira, Maria Quitéria B. Oliveira, José Carlos B. da Silva, Natanael
Barbosa, Sônia Melo C. Vital, João Soares Lima, Petrúcio Luiz Bento, Antonio Alves de Melo, Cícero Góes,
José dos Santos, João G. da Silva e Pedro Augusto da Silva. A maioria destes trabalhadores só retornaram a ECT
no governo Lula após longo processo pela anistia.
158
À época os Correios possuíam 70 mil funcionários em nível nacional.

174

Entretanto, abriu-se um parêntese para a readmissão por ordem judicial ocorrida no
mês de setembro de 1990, após ação do SINTECT-AL e da FENTECT, de alguns
trabalhadores dos Correios em Alagoas159 que foram demitidos em 1985 por motivação
política (Jornal de Hoje, edição de 03 de julho de 1990). Este fato foi de encontro à
característica neoliberal da demissão em massa de trabalhadores e deu margens para os
demais demitidos acreditarem numa possível reversão judicial ou futura anistia para as
demissões em massa de servidores ou empregados públicos no período.
A 13 de julho de 1990, o Jornal de Hoje, afirmava ter havido quatro mil demissões de
ecetistas por todo o país. Ainda na notícia intitulada Funcionários da ECT admitem fazer
greve este mês, os dirigentes sindicais em Alagoas convocavam a categoria (cerca de 800
trabalhadores) para o Dia Nacional de Luta a ser realizado em 18 de julho de 1990. A pauta
era reajuste salarial de 187% e a imediata reintegração dos demitidos pelo ministro Ozires
Silva. Em maio de 1990, os Correios da Paraíba já haviam demitido 75 trabalhadores,
conforme nota publicada no jornal Correio, edição de 01 de novembro de 1992, e declarações
de Sérgio Lucena, gestor da ECT no estado, que confirmava à época que as demissões
ocorreram por ordens superiores do governo federal.
O jornal Correio de Notícias, do estado do Paraná, edição de 19 de julho de 1990,
noticiava que as perdas salariais nos Correios eram de 213% e que os setenta e cinco mil
trabalhadores da ECT poderiam entrar em greve. Ainda segundo o jornal, três mil e
quinhentos trabalhadores realizaram assembleia geral em Curitiba e nas principais cidades do
interior para deliberar sobre o ingresso no movimento nacional. A época, a remuneração
média da categoria era de Cr$ 17 mil.
Em Santa Catarina, a greve dos Correios, cuja pauta era o reajuste de 213% e a
readmissão de 50 funcionários demitidos em maio de 1990 pelo Plano Collor, iniciava com
trinta demissões. No Piauí, o diretor regional Alfredo Ferreira Neto, solicitou intervenção da
Polícia Militar para impedir a ação dos piquetes e garantir a abertura da agência central
(Folha de São Paulo, edição de 20 de julho de 1990).

A mídia tecia cotidianamente louvores à modernização pregada por Collor. Palavras
antes reservadas a uma pequena elite – como “economia de mercado”,
159

Os funcionários readmitidos foram: Agliberto Barbosa de Oliveira, Arlindo da Rocha e Silva, José Almeida
Mendes, José Dival Daniel, Kleber Costa Santos e Maurício E. de M. Sarmento.

175

“flexibilização”, “desregulamentação da economia”, “privatização” – são ouvidas
diariamente e repetidas nas rodas mais simples da sociedade. Junto com a miséria e a
fome que se espalhavam, o projeto neoliberal pregado por Collor foi sendo
implantado. Associada à onda neoliberal que está varrendo desde a Europa o mundo
nesta última década do século vinte, a pregação colorida da modernização da
economia avançou em vastas área da sociedade (Idem, 1992, p. 38).

As demissões em massa de empregados e servidores públicos faziam parte do projeto
neoliberal de Collor160 enquanto receita para se alcançar o Primeiro Mundo. Ainda segundo
Giannotti (1992, p.50),

O projeto neoliberal não leva em conta as consequências sociais. Estas não pesam,
não são indicadores ponderáveis nesta matemática. Se o custo da implantação das
medidas traz consigo milhões de desempregados, aumento generalizado da miséria e
outras consequências parecidas, isto não vem ao caso.

Para Antunes (2005, p. 12),

O projeto Collor, substância e essência dos Planos 1 e 2, não caminha. Ao contrário,
retrocede e desorganiza o país. Sonha com uma nação que participe, como filhote
crescido, do clube dos países ricos, de fotografia neoliberal, uma espécie de grande
Coréia no Atlântico Sul. Dócil ao grande capital externo, aproveitando-se da
concorrência intramonopólica, vislumbra a modernização capitalista sucateando o
capital estatal, destruindo o pequeno e médio capital, implodindo a tecnologia
nacional, substituindo-a por uma tecnologia forânea e abrindo nosso parque
produtivo para o capital que detém esta tecnologia. E, claro, tornando ainda mais
miseráveis o enorme contingente de assalariados que vivem a brutalização mais
aguda de sua história republicana.

Collor planejou a redução do papel do Estado com a desregulamentação da economia,
o corte nas despesas públicas e sociais, a importação de tecnologia, privatização de estatais,
além da supressão de direitos e demissão em massa de servidores e empregados públicos. Sob
o argumento de redução e modernização da máquina estatal, o Ministério da Infraestrutura
determinou em março de 1991 um corte de 12,3% dos funcionários empregados nas 238
empresas que controlava entre holdings, subsidiárias, empresas associadas e coligadas e até
autarquias, como o Departamento Nacional de Estradas e Rodagens (DNER). As ordens de
Collor eram para demitir 59.363 funcionários até dezembro do mesmo ano (O Estado de São
Paulo, edição de 13 de março de 1991).
160

Mesmo considerando a presença de medidas e determinadas políticas de cunho neoliberal nos governos
Figueiredo (1979-1985) e Sarney (1985-1990), consideramos que a implantação do projeto neoliberal no Brasil,
como elemento condutor da ação governamental em todas as suas esferas, inicia-se no governo de Fernando
Collor de Melo (1990-1992) (MACIEL, 2011, p. 98)

176

Figura 3 - Charge de carteiro recebendo carta de demissão.

Fonte: Jornal de Alagoas, edição de 23 de maio de 1990.

As empresas ligadas ao Ministério da Infraestrutura respondiam até o ano de 1990 por
540.022 funcionários. Após a posse de Collor, até março de 1991 esse quadro já havia sido
reduzido para 480.659 trabalhadores após a primeira onda demissionária ocorrida no ano
anterior. O quadro abaixo retrata a segunda fase do plano demissionário a ser cumprido até
dezembro de 1991 (Idem).

Quadro 15 - Estimativa de funcionários para serem demitidos das estatais federais até dezembro
de 1991 em cumprimento a segunda fase do Plano Collor
Empresa

Número de Funcionários a serem
Demitidos até dezembro de 1991
Correios
2.500
Eletrobrás
15.896
Petrobras
1.763
Siderúrgicas
8.745
Portos
3.567
Sistema Aquaviário
2.869
Sistema Ferroviário
11.091
Telebrás
4.614
Sistema Rodoviário
8.327
Fonte: O Estado de São Paulo, edição de 13 de março de 1991 – Política, p. 4

177

Os Correios aproveitaram a conjuntura de privatizações e demissões de servidores e
empregados públicos para intensificar suas práticas abusivas contra os trabalhadores e sua
organização de classe. O Jornal do Estado Folha do Paraná, de Curitiba, edição de 21 de
março de 1991, noticiava que “o processo de privatização das estatais que o governo pretende
implantar a pretexto de sanear a economia, fez pipocar uma onda de greves no país. Além dos
previdenciários e petroleiros, os funcionários dos Correios resolveram deflagrar um protesto
contra a ‘falta de liberdade de atuação do sindicato...’” A reclamação se deu em virtude da
demissão do sindicalista Alfredo Alves do Nascimento e a suspensão do contrato de outros
cinco funcionários após protesto em frente à sede dos Correios do Paraná durante o Fórum
Nacional contra a Fome e a Recessão, organizado pela CUT em todo o país. À época, o estado
do Paraná contava com 3.265 funcionários dos Correios (Gazeta do Povo, Curitiba/PR, edição
de 19 de março de 1991).
É certo que a recessão e o desemprego não atingiram apenas o setor público brasileiro.
A iniciativa privada também sofreu com significativas taxas de desemprego a partir de 1990 e
com o aumento do tempo de procura por trabalho. Veja o que dizem Dedecca; Brandão (1993,
p. 337),
Quanto ao comportamento da ocupação, ele adquiriu marcante trajetória
descendente, ainda mais intensa que a verificada no período 1981/83. A indústria,
que, a partir de 1984, não havia alterado de forma expressiva sua estrutura
ocupacional, iniciou um acelerado movimento de redução de seu contingente de
ocupados, afetando fortemente o nível de emprego assalariado.

As demissões do setor privado foram acompanhadas pela queda nos rendimentos dos
trabalhadores. Esta combinação enfraqueceu diversas categorias nas negociações salariais,
pois a persistência de elevadas taxas de desemprego e baixos salários demonstrou as reais
consequências do Plano Collor e fortaleceu o discurso de sindicatos e centrais sindicais contra
a onda capitalista neoliberal durante a década de 1990.

Naquele período, a taxa de desemprego da região metropolitana de São Paulo saltou
de 8,7%, em 1989, para 15,2%, em 1992, segundo o Dieese. A origem da crise do
mercado de trabalho estava na aplicação de políticas de cunho liberal na economia
brasileira, quando sua base produtiva, repentinamente, foi exposta à competição
externa (GOMES, 2011).

Em reação à onda demissionária, o movimento sindical brasileiro, antecipando-se aos
escândalos de 1992, começava a empunhar a bandeira do “Fora Collor!”. Atos públicos com

178

essas palavras já estavam sendo realizados em dezembro de 1991. A época, a CUT foi uma
das principais opositoras ao projeto neoliberal do presidente. Naquele momento, a central
estava dividida em duas posições relacionadas ao governo e a seu projeto neoliberal.

O centro da questão era a atitude que a CUT pretendia ter frente à implantação do
projeto Collor. Duas posições apareceram. Uma que, embora condenasse os
resultados catastróficos do plano para os trabalhadores, defendia o ponto de vista de
que seria possível retomar o crescimento, visando uma distribuição de renda com o
próprio governo Collor. Neste sentido, chamava a participar de várias tentativas de
entendimento, de Fóruns, de Câmaras Setoriais, com a esperança e o firme desejo de
obter conquistas e vantagens para a classe representada pela central.
A outra visão se definia por “aprofundar a ingovernabilidade” do governo Collor e
julgava a primeira visão como um abandono da perspectiva histórica da Central, de
contestação global do sistema capitalista, em troca de uma política de convivência
com este sistema. (GIANNOTTI, 1992, p. 81/82)

Essa primeira posição da CUT possivelmente tenha se dado após a Plenária Nacional
ocorrida em agosto de 1990, quando a central começou uma redefinição de sua perspectiva de
luta sindical abalada pela derrota de Lula em 1989. Para Maciel (2011, p. 104/105), nesta
nova orientação, a prática cutista de enfrentamento com o governo e o patronato, passou a ser
questionada como insuficiente e meramente “reativa” ou “defensiva”, devendo ser substituída
por uma nova postura, “propositiva”, oferecendo alternativas, ao invés do simples
oposicionismo. Porém, os escândalos relacionados à Presidência da República deram fôlego
para a ala conservadora da CUT que pregava a manutenção das perspectivas históricas da
central.
A definição veio em 1992 com o processo de impeachment. Segundo Santana (2003,
p. 301), “o movimento sindical, em grande parcela se dedicou às manifestações de rua
favoráveis ao processo.” A confirmação do impeachment demonstrava que a união política
das diversas frações burguesas em torno da candidatura de Collor evitou a vitória da esquerda
em 1989, mas ao longo dos dois anos de mandato não obteve êxito na construção de uma
hegemonia burguesa no país para a consolidação do ideário neoliberal. Além do que, as
divergências relacionadas à privatização das estatais através do Programa Nacional de
Desestatização, a ofensiva contra os direitos sociais e trabalhistas, entre outras, eram fortes
para impedir a formação de uma sólida base de apoio do governo no Congresso Nacional
(MACIEL, 2011, p. 101).
Paralelamente, o processo de redefinição do papel econômico e social do Estado se
iniciou com a venda das estatais, principalmente dos setores de siderurgia e

179

petroquímico/fertilizantes, e segue com a extinção de órgãos e com os primeiros cortes de
pessoal no funcionalismo público (Gremaud, Saes e Toneto Jr., 1997 apud Maciel, 2011, p.
102), a exemplo dos Correios que à época demitiu empregados por todo o Brasil e introduziu
o temor da privatização entre seus funcionários.
A ofensiva neoliberal de Collor havia contado com o apoio de parte da mídia e até de
setores do sindicalismo de resultados liderados pelo então ministro do Trabalho, Antônio
Rogério Magri. Entretanto, em razão das graves denúncias de corrupção, em 1992 surgiu um
amplo movimento político pela derrubada do presidente. “Apoiado por diversas forças sociais
e partidos políticos, o “Fora Collor” se notabilizou por reeditar uma campanha política poli
classista e de perfil nacional, como nas “Diretas já” de 1984” (MACIEL, 2011, p. 104).
Mesmo com a postura ofensiva e autoritária de Collor em relação aos trabalhadores e
aos direitos trabalhistas, neste espaço de tempo, a partir do IV Concut, realizado em setembro
de 1991 e da V Plenária Nacional, em julho de 1992, a CUT avançou em sua flexibilização
com o capital priorizando o diálogo com a elite político-econômica e reforçou a ideia da via
parlamentar como conquista para que os partidários do PT ocupassem os espaços de poder via
processo eleitoral. Além disso,

O aprofundamento da democratização reduziu o efeito expressivo de práticas e
discursos contestatórios. O engajamento de partidos de esquerda em eleições formais
e “burguesas”, com apoio do sindicalismo, deslegitimou as demandas
revolucionárias de parte dos líderes cutistas. Ao contrário de Sarney, tanto Collor
como Fernando Henrique Cardoso venceram eleições limpas com grande apoio
popular, nos dois casos contra Lula. Para ser politicamente eficaz novamente, a CUT
teria que mudar sua estratégia de ação para além da pura confrontação ao “sistema
político ilegítimo” (CARDOSO, 2003, p. 39).

Apesar de o crescimento econômico e o emprego terem sofrido mais do que o
necessário com a eliminação de setores inteiros da produção e do emprego em nome do
Estado mínimo, a partir do debate pela flexibilização nas negociações em nome dos
trabalhadores e em sintonia com o projeto político do Partido dos Trabalhadores, a
identificação do socialismo com os meios de produção e a criação de um governo dos
proletários perdeu força prevalecendo uma aproximação da CUT e do Partido dos
Trabalhadores com os liberais e a identificação do socialismo com a democracia burguesa.
Paralelamente a essas discussões, a CUT e os movimentos sociais encabeçavam o movimento

180

nacional Fora Collor engajando-se em amplo debate e mobilizações pelo impeachment de
Fernando Collor da Presidência da República.
Figura 4 – Povo Exige Fora Collor!

Panfleto distribuído pelos movimentos sociais alagoanos convidando a população para ato público contra o
governo Collor (setembro de 1992) – Arquivo do Sintect-AL

Quanto aos destinos do presidente Collor, a debilidade política estrutural foi decisiva
para sua queda, suscitando a retomada do projeto neoliberal em novas bases políticas
(MACIEL, 2011, p.107). As incursões e sua política de governo, justificadas na busca pela
estabilização da economia brasileira, baseando-se na total abertura do mercado nacional ao
capital e mercado estrangeiros, na privatização de empresas estatais, no corte de incentivos
fiscais às exportações e na restrição do fluxo de dinheiro a fim de barrar a inflação inercial,
congelando o mercado interno (POSSAS, 2008, p.07) continuam sendo objeto de análise para
as ciências humanas, em especial para a História Social do Trabalho no Brasil.

181

4 VENTOS DO “PROGRESSO”: NEOLIBERALISMO E OPOSIÇÃO SINDICAL
NOS GOVERNOS FHC (1995-2003)

Para a historiadora Michelle Reis de Macedo (2014, p. 32), “um conceito é criado
quando há a necessidade de reunir em uma única palavra representações de uma realidade.” O
neoliberalismo pode ser um destes conceitos. Ele adentrou as fronteiras do mundo sindical e,
pela imprensa, passou a fazer parte da realidade de milhares de trabalhadores. Sendo assim,
neste quarto e último capítulo a ideia é investigar seu alcance no cotidiano dos trabalhadores
dos Correios durante os anos de 1990, em especial, no período neoliberal brasileiro em que se
convencionou chamar de “Era FHC (1995-2003).”

Estudos específicos apontam que

O neoliberalismo inaugura uma nova etapa na correlação de forças entre Estado,
capital e trabalho. Corroídas a base da acumulação keynesiana, o Estado neoliberal
lança mão de três políticas estatais específicas: a) políticas desregulamentadoras,
isto é, da redução reguladora e disciplinadora do Estado no terreno da economia e
das relações de trabalho; b) políticas de privatização, ou seja, desestatização de
empresas produtoras de serviços e bens públicos e c) políticas de abertura da
economia ao capital internacional, eliminando as reservas de mercado e o
protecionismo econômico (SAES, 2001, p. 82 apud GUIOT, 2006, p. 49).

Ciente de que o termo leva a várias facetas, nossas reflexões seguirão Moraes (2001, p.
10) quando este afirma que o neoliberalismo é um conjunto de políticas adotadas pelos
governos neoconservadores, sobretudo a partir da segunda metade dos anos 1970, e
propagadas pelo mundo a partir das organizações multilaterais criadas pelo acordo de Bretton
Woods (1945)161, isto é, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Moraes
aponta ainda o neoliberalismo como a ideologia do capitalismo na era de máxima
financeirização da riqueza, a era da riqueza mais líquida, a era do capital volátil e um ataque
às formas de regulação econômica do século XX, dentre estas o socialismo. Já para Boitto Jr.
(2002, p. 61), “no plano da política de Estado, o neoliberalismo no Brasil e, em geral, na
161

Acordo de Bretton Woods ou ainda "Acordos de Bretton Woods" é o nome com que ficou conhecida uma
série de disposições acertadas por cerca de 45 países aliados em julho de 1944, na mesma cidade norteamericana que deu nome ao acordo, no estado de New Hampshire, no hotel Mount Washington. O objetivo de tal
concerto de nações era definir os parâmetros que iriam reger a economia mundial após a Segunda Guerra
Mundial (disponível em: http://www.infoescola.com/historia/acordo-de-bretton-woods/).

182

América Latina, assenta-se sobre quatro eixos: abertura comercial, privatização da produção
de mercadorias e serviços, desregulamentação do mercado de trabalho e redução dos gastos
sociais do Estado.”
Quanto a sua ascensão, a experiência neoliberal no Velho Mundo e no Continente
Americano começou em 1979 com Margareth Thatcher à frente do Partido Conservador. O
neoliberalismo alcançou as economias centrais com força: em 1980 Reagan (EUA), em 1983
Schluter (Dinamarca), em 1982 Khol (Alemanha) espalhando-se pelos Países Baixos e,
depois, pela Escandinávia (GUIOT, 2006, p. 51).
Deste modo, o conjunto de definições que caracteriza o neoliberalismo: introdução de
maior flexibilidade nos mercados de trabalho, desregulação das operações financeiras,
privatização de setores nas mãos do Estado e a percepção do socialismo e dos sindicatos como
sabotadores das bases da acumulação privada foram articuladas pelos Estados neoliberais
contra os trabalhadores nos anos de 1990. Por fim, durante os movimentos pelas
reivindicações salariais, os neoliberais entendiam que os sindicatos de classe teriam
empurrado o Estado para um crescimento parasitário, impondo despesas sociais e
investimentos que não tinham perspectiva de retorno (MORAES, 2001, p. 28).
No caso do Estado brasileiro, a reação para combater as reivindicações e a ação sindical
na década de 1990 se sustentava, em parte, pela pregação midiática de um cenário
apocalíptico. A imprensa conservadora atacava os sindicatos que, por suas greves e
mobilizações, foram rotulados de perturbadores da ordem pública e acusados de impedir a
expansão do emprego e prejudicar os pobres ao se opor as ideias neoliberais.

Quem se preocupa sinceramente com os pobres deve buscar, obsessivamente, elevar
a demanda de mão-de-obra através de medidas como: 1) a privatização de empresas
estatais, pois o governo falido perdeu a capacidade de investir; 2) a eliminação de
restrições ao capital estrangeiro, que geraria empregos e traria tecnologia; 3) a
diminuição dos encargos sociais e burocráticos, que oneram o custo da contratação
de mão-de-obra. Uma outra maneira de prejudicar os pobres é a exacerbação do
poder sindical. Os operários são uma criação do capitalismo (no socialismo os
sindicatos são mera linha auxiliar da ideologia dominante), que exercem papel útil
no balanço democrático. Mas, eles são úteis sobretudo para defender e melhorar a
situação dos já empregados. Paradoxalmente, podem ser cruéis para os
desempregados, isto é, os mais pobres. Frequentemente negam-lhes o direito de
trabalhar, impondo pisos salariais que impedem as empresas de contratar mais gente
(CAMPOS, Roberto. Folha de São Paulo, edição de 12 de fevereiro de 1995, p. 1-4)

183

Durante os ataques aos sindicatos e sua responsabilização pelo desemprego no país,
parte da grande imprensa nacional ocupava-se em divulgar as soluções “salvacionistas” que
visavam a forte ação governamental pela privatização a fim de garantir investimentos na
saúde e educação. A exemplo do discurso em rede nacional do presidente Fernando Henrique
Cardoso e publicado pela Folha de São Paulo.

Nós vamos apressar a privatização e vender este ano 17 empresas, a maioria da área
petroquímica. Além disso, incluímos as empresas do setor elétrico na lista da
privatização. São algumas dezenas de bilhões de reais. Com o dinheiro da venda,
nós vamos reduzir a dívida do governo e investir no setor social. É melhor nós
termos dinheiro para aplicar em saúde e educação, prioridades do meu governo
(Folha de São Paulo, edição de 27 de abril de 1995, p. 1-4).

A justificativa neoliberal de obtenção de mais recursos através da privatização para
investimento na área social foi mero discurso para angariar apoio popular para as ações do
governo162. De todo modo, a preocupação com o social limitava-se apenas ao discurso de
governo, pois o maior interesse era satisfazer o mercado financeiro e entregar à iniciativa
privada, além das estatais, o sistema brasileiro da saúde e da educação.

Do mesmo modo que as demais campanhas de privatização, esta não se apoiava em
nenhum estudo ou pesquisa internacional para justificar a vantagem da transferência
para o setor privado. Embora vários dos membros do governo tenham estudado em
universidades públicas e, portanto, gratuitas, e tenham se beneficiado de pósgraduações em universidades europeias, onde o sistema universitário é
fundamentalmente púbico, embora a alta qualidade dos estudos nestas universidades
nunca tenha sido questionada, a universidade “tinha de ir” para o mercado
(LESBAUPIN; MINEIRO, 2002, p. 46).

O governo tentou de todas as formas tornar o ensino superior gratuito inviável. Desde o
primeiro ano de mandato de FHC os salários dos professores foram congelados; as verbas
para a manutenção das universidades foram reduzidas; as bolsas de mestrado e doutorado
foram pouco a pouco cortadas; as aposentadorias sendo ameaçadas. Milhares de professores
com vasta experiência começaram a se aposentar para escapar do risco de serem atingidos em
seus direitos (LESBAUPIN; MINEIRO, 2002, p. 46).
O governo insistia na ideia do ensino pago. Para isso, o BNDES investiu seus recursos
no desenvolvimento das universidades privadas enquanto que para as universidades públicas
De 1991 a 1997 “o governo federal do Brasil vendeu 45 empresas estatais, valendo US$ 12 bilhões.”
(COGGIOLA, 1997, p. 75). Entretanto, não encontrei qualquer fonte de pesquisa que comprovasse o
investimento desses recursos na área social.
162

184

os investimentos foram se tornando cada vez mais escassos. A antropóloga Eunice Ribeiro
Durham se demitiu do Conselho Nacional de Educação, em 2001, por discordar das ideias de
FHC quanto ao financiamento da rede privada do ensino superior no Brasil. “Tem havido um
crescimento desmensurado do sistema privado. Esse crescimento está sendo governado pelo
mercado, pelo processo de lucro, e está ameaçando a universalidade do sistema de ensino
superior no Brasil” (Folha de São Paulo, edição de 23 de julho de 2001, A6). Acontece que,
em 2001, com a política neoliberal para a educação superior, 2/3 (66%) dos estudantes
universitários estavam matriculados em universidades privadas (LESBAUPIN; MINEIRO, 2002, p.
49).

Por fim, sucatear as instituições para justificar sua entrega para a iniciativa privada era
ação rotineira nos dois governos de Fernando Henrique Cardoso. Assim como na saúde e na
educação, os Correios também passaram ao longo dos oito anos de mandato de FHC em
completo processo de sucateamento e de precarização das atividades fins para obter o apoio
da opinião pública em seu processo de entrega para o setor privado.

4.1 Neoliberalismo e demissões nos Correios durante a década de 1990

Hilary Wainwright (1998, p. 09), na introdução à edição brasileira de seu livro Uma
resposta

ao

neoliberalismo:

argumentos

para

uma

nova

esquerda

aponta

a

desregulamentação, a privatização, a macroeconomia monetarista e a legislação
antissindicalista como o grupo de políticas que caracteriza o neoliberalismo. No Brasil, a
partir de 1989, o neoliberalismo ganhou força nas políticas econômicas de Fernando Collor
(1990-1992) e Fernando Henrique Cardoso. Quando a frente do Ministério da Fazenda no
governo Itamar Franco (1992-1994) e logo em seguida na condição de presidente da
República (1995-2003), FHC, de maneira incisiva e sistematizada, pôs em prática os
princípios neoliberais no país com o apoio de partidos aliados e, principalmente, com o aval
do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
O fato foi que a social-democracia não conseguiu evitar o “canto da sereia”
neoliberal. As recíprocas relações de hostilidades iniciais entre o ideário neoliberal e
os social-democratas foram postas de lado não só fazendo com que estes últimos se
deixassem levar pela “maré da economia global”, mas também mostrando-se “os
mais resolutos em aplicar políticas neoliberais.” A nova correlação de forças
imposta pelo paradigma hegemônico neoliberal a partir dos anos 80, convenceu boa

185

parte dos partidos antes identificados com a social-democracia do welfare state de
que “não havia outra alternativa” e não apenas mudaram radicalmente sua
programática (com vistas às disputas eleitorais) como também se transfiguraram em
neoliberais convictos – novos apologetas e personificações do capital (GUIOT,
2006, p. 52).

Antes, porém, no governo Itamar Franco, a privatização da Companhia Siderúrgica
Nacional (CSN) demonstrou que seu governo não estava disposto a recuar nas intenções de
acelerar o processo de desestatização iniciado no governo de seu antecessor. A pressão
exercida pelo FMI e pelos credores internacionais deixa claro que o objetivo era entregar o
patrimônio estatal brasileiro e acabar com todos os monopólios até o final do governo
(VIEIRA, 2000, p. 24/25).
Aceitar as imposições do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI)163
era condição sine qua non para patrocinar uma política amplamente excludente no campo
social. Sob a lógica do Estado mínimo, FHC deu continuidade ao neoliberalismo de Collor 164,
proporcionou um projeto de privatização que abarcou milhares de trabalhadores e os
submeteu a uma relação de trabalho precarizada sob o controle do capital. O que ocorreu no
sistema de telefonia brasileiro, por exemplo, culminou na onda demissionária dos
funcionários das estatais, embora em seguida tenha alcançado relativo emprego, mas sempre
acompanhado das baixas taxas de remuneração e de efetiva precarização do trabalho.
Adepto do discurso apocalíptico, Fernando Henrique pregava a necessidade do “ajuste”
neoliberal como condição para se renegociar a dívida externa brasileira e atrair investimentos
que beneficiassem investidores internacionais em prejuízo das camadas subalternas. A
aceitação do programa neoliberal visava o controle da inflação e a solidez das finanças
públicas em detrimento do emprego e das proteções sociais. Ademais, o governo FHC reagiu
contra a organização sindical combativa no Brasil acenando positivamente para as declarações
do chefe do FMI, Michel Camdessus, diante da Confederação Internacional dos Sindicatos
163

Como o grau de neoliberalização estava sendo cada vez mais considerado pelo FMI e pelo Banco Mundial
uma medida de bom clima de negócios, houve um incrível aumento da pressão sobre os Estados para que
adotassem reformas neoliberais (HARVEY, 2012, p. 100). Os Estados Unidos também usaram o acesso
preferencial a seu imenso mercado de consumo para pressionar diversos países a adequar sua economia
conforme as exigências neoliberais (em alguns casos por meio de acordos bilaterais de comércio) (Idem, p. 102).
164
Oficialmente, o governo Collor estabeleceu a vitória incontestável do neoliberalismo e nele, sem tardança,
operou-se o desmantelamento do aparelho de Estado, especialmente a apelidada “reforma administrativa” que
consistiu apenas na demissão ou aposentadoria compulsória de milhares de servidores públicos. O desemprego
era então apresentado como meta vencedora que, por si só, levaria ao sucesso as reformas neoliberais em curso.
Defenestrado Collor, seu substituto manteve as linhas gerais de uma política de mercado. Só havia um mal a
combater: a inflação. Para combatê-la, havia que além de desmantelar o Estado, dar curso à privatização das
empresas estatais, tida como fonte de todos os males (SODRÉ, 1999, p. 41).

186

Livres (CIOSL). Na reunião da CIOLS, Camdessus declarou que “os sindicatos devem
marchar lado a lado com os governos e mercados.” Senão, ameaça, “os mercados serão
impiedosos com quem não se adaptar” (Quinzena nº 235, São Paulo, 15 de agosto de 1996
apud COGGIOLA, 1997, p. 68). Ou seja, era inconcebível para o governo de FHC o
movimento sindical brasileiro organizar-se no universo político para a defesa de classe indo
de encontro ao mercado globalizado.
Além disso, para o neoliberalismo, “a criação de políticas redistributivas – políticas
sociais do Estado voltadas para os pobres – constitui assim o destino inexorável da
democracia sem limites, um regime político que gasta cada vez mais (e mal) e taxa cada vez
mais (e mal)” (MORAES, 2001, p. 62).

Esse era um dos argumentos neoliberais que

alcançava a ideia de que a efetiva presença do Estado nas políticas sociais em expansão seria
responsável pelas crises econômicas, sobrecarga do governo e endividamento do Estado.
E assim continuavam se defendendo:

Cortemos o mal pela raiz, dizem nossos liberais. É urgente barrar a vulnerabilidade
do mundo político à influência perniciosa dos pobres, incompetentes, malsucedidas.
Em primeiro lugar, reduzindo esse universo político – ou o campo das atividades
sobre as quais eles podem influir, desregulamentando, privatizando, emagrecendo o
Estado. Em segundo lugar, reduzindo o número de funcionários estatais que estejam
submetidos à pressão das massas (MORAES, 2001, p. 63).

Outro ponto importante diz respeito aos mercados financeiros internacionais. Para o
neoliberalismo, eles devem ser menos vulneráveis à voz das urnas e das ruas, pois estas são
inconsequentes, volúveis e insaciáveis. Em suma, se já não é possível evitar o voto, é preciso
esterilizá-lo165. Moraes vai além ao afirmar que: “a participação extra eleitoral das massas
também tem de ser limitada – e por isso os processos de “ajuste” neoliberais golpeiam
exemplarmente os sindicatos e associações de defesa dos trabalhadores” (idem, p. 63).
No campo das privatizações, a receita era se livrar de pesadas obrigações com as
empresas estatais privatizando-as sob o argumento de que “o setor público se caracteriza, em
qualquer circunstância, como ineficiente e ineficaz, ao contrário do setor privado, o único a
possuir uma “racionalidade” e uma “vocação” capazes de levar ao crescimento econômico”
(MORAES, 2009, p. 40). Porém, a privatização não poderia ocorrer sem antes reduzir parte

Em seu livro Neoliberalismo: de onde vem, para onde vai?, o autor não define claramente os “possíveis”
caminhos para a esterilização do voto nem para a limitação da participação extra eleitoral das classes subalternas.
165

187

das dívidas das estatais demitindo trabalhadores e tratando o trabalho e seu ambiente como
meras mercadorias.
Mas, no modelo neoliberal, encontrava-se também a ideia de que com a privatização e o
Estado mínimo se reduziria o gasto público e se eliminaria o déficit público, considerados os
causadores de inflação. Para atingir esses objetivos, o Brasil adotou uma série de medidas
denominadas de Reforma Administrativa, a exemplo da demissão de funcionários, venda de
patrimônios públicos e a expressiva redução do gasto social. De todo modo, a Reforma
Administrativa sob esses termos não resultou na eliminação do déficit público, nem na
redução da inflação durante o governo Collor (SOARES, 2009, p. 40/41).
Contudo, a lógica neoliberal não parou no campo das privatizações. Atacar setores como
educação, assistência social, saúde, universidades fez parte dos planos de FHC. Ou seja, para
o governo, “setores antes geridos ou regulados pelo Estado têm de ser passados à iniciativa
privada e desregulados (libertos de todo tipo de interferências)” (HARVEY, 2012, p. 76). Isso
significa que as privatizações iniciadas pelo presidente Fernando Collor tiveram continuidade
nos anos 1990 quando FHC transcendeu a desestatização das empresas públicas estatais e
ampliou seu leque para a educação e saúde com forte estímulo também para a previdência
social.
Em reação, um conflito direto com os movimentos sociais e dentre estes, o movimento
sindical, se estabeleceu a partir de 1995 com profundos reflexos na dinâmica operacional de
diversas categorias ao longo dos governos FHC. Sobretudo com um acentuado refluxo ou
diminuição das ações grevistas entre 1997 e 2002, inclusive nos Correios, quando o governo
federal reagiu com a força das demissões para inibir ou até enfraquecer a ação sindical na
estatal.
Para o estrategista governamental, tornou-se urgente encontrar uma forma adicional
para fragilizar o sindicalismo, inviabilizando as suas ações de resistência. Mais do
que isso, era preciso atraí-lo e incorporá-lo, na medida do possível, ao próprio
projeto neoliberal. A construção do desemprego em massa seria assim transformado
em um dos principais instrumentos usados pelos arquitetos do novo projeto para
enfraquecer o sindicato de luta (POCHMANN; BORGES, 2002, p. 26).

Quando não era possível enfraquecer, incorporar ou cooptar o sindicato de acordo com
as intenções neoliberais, Coggiola (1997, p. 71/72) afirma que

As empresas brasileiras parecem estar optando por um modelo nitidamente antisindical, envidando inúmeros esforços para afastar as entidades representativas dos

188

trabalhadores do processo de mudanças, bem como eliminar as formas de
organização dos operários dentro das fábricas. Todas as medidas anti-sindicais e as
reformas antipopulares do governo FHC – destruição do serviço público e quebra da
estabilidade do servidor, reforma reacionária da Previdência Social, arrocho salarial,
perspectiva de legalização do contrato temporário de trabalho, quebra da isonomia e
dos regimes jurídicos únicos, denúncia da Convenção 158, etc – se enquadram
dentro dessa lógica. O ponto alto foi atingido com a repressão militar da greve dos
petroleiros de 1995.

Harvey (2012, p. 85) retrata bem esse objetivo neoliberal ao afirmar que,

No plano doméstico, o Estado neoliberal é necessariamente hostil a toda forma de
solidariedade social que imponha restrições à acumulação do capital. Sindicatos
independentes ou outros movimentos sociais (como o socialismo municipal do tipo
de Greater London Council), que adquiriram substancial poder sob o liberalismo
embutido, têm, portanto, de ser disciplinados, se não destruídos – em nome da
supostamente sacrossanta liberdade individual do trabalhador isolado.

O que Harvey nos leva a compreender é que no âmbito dos Correios, as perseguições,
demissões e demais medidas punitivas contra seus funcionários eram medidas restritivas pela
coação contra todo e qualquer simpatizante ou ativista sindical decidido a fortalecer a
organização de classe na empresa. Quando não, a ECT recorria às normas coercitivas, a
exemplo do MANPES166, e táticas internas de “policiamento” executadas pela GINSP167 a fim
de incriminar o trabalhador que não se adequasse às determinações ou tentasse se
insubordinar contra práticas administrativas voltadas para a exploração através da rotina de
trabalho insalubre e desumana aplicada contra carteiros e demais funcionários da área
operacional.
Além do interesse na exploração pelo trabalho, a ideia era continuar dispersando ou
reprimindo formas coletivas de organização e de oposição na ECT. Como resultado, no
âmbito sindical brasileiro

A cena sindical mudou muito ao longo da década de 1990, que é a década dos
governos neoliberais no Brasil. Num período que alterna crescimento econômico
baixo com recessão, que apresenta um aumento inaudito do desemprego e, no plano
político, tem se caracterizado pela ofensiva das forças conservadoras, em um
período como esse a luta sindical enfrenta grandes dificuldades. A atividade grevista
caiu e a pauta de reivindicações dos sindicatos encontra-se cada vez mais rebaixada
– aceitação da redução de salários, de demissões em massa etc (BOITO JR., 2002, p.
59).

166
167

Manual de Pessoal dos Correios.
Gerência de Inspeção.

189

Para Linden (2013, p. 211), “muitas estratégias ‘de cima para baixo’ têm como efeito
direto ou indireto reprimir os possíveis grevistas. Estes correm sempre grandes riscos e, em
alguns casos, podem estar pondo em cheque toda a sua vida.” Seguindo este raciocínio, uma
das formas de dispersão praticadas pela ECT em Alagoas era amedrontar pela chantagem,
chegando-se ao ponto de horas antes da decretação da greve de 1997, ser anunciado pelo
supervisor do CDD Mundaú que não se fizesse greve, pois caso contrário haveria
demissões168. A questão é que o fato se confirmou: 31 trabalhadores169 de vários CDD’s
foram demitidos nos primeiros meses após o fim dos 15 dias de greve. As demissões a “contagotas” serviram para se gerar apreensão entre os trabalhadores, pois quando menos se
esperava, algum ecetista era informado de sua demissão sem justa causa, sendo que, nos
bastidores, os demitidos estavam sendo dispensados por motivo de greve170. O quadro abaixo
identifica os ecetistas alagoanos demitidos no período pós-greve de 1997.

DEMITIDOS PELOS CORREIOS DE ALAGOAS EM 1997
01 – Valdir Soares Costa
02 – Gilberto Cosme do Nascimento
03 – Antônio José Santos
04 – José Antônio de Oliveira
05 – João de Souza
06 – Ricardo Cabral da Silva
07 – Waldeck Santiago de Almeida
08 – José Ramiro Maurício da Silva
Quando carteiro no CDD Mundaú, em uma das reuniões “pré-greve de 1997” com a chefia da unidade,
testemunhei o supervisor Everloi Cândido afirmar publicamente em alto e bom som que os carteiros refletissem,
pensassem bem e não fizessem greve, pois caso contrário haveria demissões. Como a ECT não poderia
formalizar esse tipo de ameaça, pois poderia ter problemas na Justiça do Trabalho, possivelmente o supervisor
estivesse portando uma mensagem da direção da ECT a ser transmitida de forma verbal, já que no período estava
ocorrendo seguidas reuniões com os gestores dos CDD’s. Outra possibilidade é a de que o supervisor tenha tido
acesso a essa informação durante um desses encontros e desejado alertar os colegas para o iminente desemprego.
O fato é que, após o aviso e terminada a greve, as demissões ocorreram em vários CDD’s.
169
Durante as pesquisas com arquivos fotográficos no SINTECT-AL, encontramos uma fotografia que registra
uma manifestação em Penedo/AL, em apoio aos demitidos. Chamou-nos a atenção o número de demitidos
inscritos na faixa – 33 em vez de 31. Há possibilidade de que realmente tenha havido 33 demissões após a greve
de 1997. Infelizmente não conseguimos esclarecer o número exato de demitidos ficando essa lacuna para ser
resolvida em futuras pesquisas.
170
É fato que a ECT em Alagoas aproveitou o momento para dentre esses 31 ou 33 trabalhadores também
demitir alguns funcionários tidos por ela como “problemáticos” em razão da “baixa produtividade”, do
“desleixo” e da “má fé” em suas funções profissionais. Situação passiva de verificação quando se investiga o
histórico de alguns deles e não se encontra evidências da participação em movimentos reivindicatórios do
SINTECT-AL, ou sequer a participação nas assembleias da categoria. Entretanto, a maioria dos demitidos
tiveram sua participação nas ações do SINTECT-AL devidamente comprovada por meio de testemunhos,
fotografias, assinaturas em atas, Carteira de Trabalho e Emprego e nas fichas funcionais da ECT.
168

190

09 – Alexandre dos Santos Lima
10 – Jabson Antônio Gerônimo da Silva
11 – Josivaldo Alves de França
12 – João José do Nascimento Filho
13 – José Jorge de Oliveira
14 – José Maciel Neto
15 – Cláudio Roberto Pacheco das Chagas
16 – Estanislau Cavalcante de Medeiros Neto
17 – Sidney Souza Silva
18 – José Francisco Costa Filho
19 – Valter Silva Batista
20 – José Ednaldo Ferreira
21 – José Oscar Salvador de Lima
22 – Cícero de Góes
23 – José Gomes de Lima
24 – Écio Tenório
25 – Luiz Galvão Melo
26 – Davis Fonseca da Silva
27 – Nildson Mendes Sampaio
28 – Geraldo Barros da Silva
29 – José Domício da Silva
30 – Givaldo Gomes da Silva
31 – Miguel Ângelo Barbosa Aguiar
Fonte: (SILVA, 2008, p. 66/67)

Caso marcante e insensível dos Correios foi à demissão de José Ramiro Maurício da
Silva. Portador de uma pequena deficiência física em uma das pernas, Ramiro foi demitido
após a greve de 1997 porque segundo sua chefia não atendia as expectativas de distribuição
das correspondências. Fato é que o funcionário possivelmente fora demitido em virtude da
deficiência – uma vez que não era militante político, nem possuía um passado de simpatizante
do movimento sindical devido ao pouquíssimo tempo de trabalho na ECT.
Enfim, os Correios não tinham uma política inclusiva para os portadores de
necessidades especiais, tampouco sensibilidade suficiente para respeitar as especificidades de
funcionários que precisassem de condições de trabalho adequadas para sua permanência nos
quadros da empresa. Todavia, José Ramiro foi submetido a exames médicos de admissão
tendo sido considerado apto para desempenhar as funções de carteiro.
Quanto aos demais funcionários dispensados, possivelmente estavam sendo observados
pelas chefias imediatas e pelo corpo gerencial para serem demitidos na primeira oportunidade.

191

Para a maioria, a participação na greve de 1997 foi à ocasião ou o limite para a efetivação das
dispensas, embora estas tenham sido efetuadas sem a justa causa171.
De modo geral, as demissões sem a justa causa de funcionários públicos não estáveis, os
programas de demissão voluntária, o fechamento de organismos estatais, de privatização e de
aprovação da reforma administrativa eram assumidas pelo governo federal, desde Collor,
enquanto medida necessária para a redução do número de funcionários. Como resultado,
obteve-se o enfraquecimento do setor público que com a aprovação da reforma administrativa,
associada à Lei de Responsabilidade Fiscal impôs regras rígidas para o gasto com pessoal
levando a menor participação do emprego público no total da ocupação (POCHMANN;
BORGES, 2002, p. 25).
Importante dizer que o refluxo das greves no movimento sindical não é uma
exclusividade dos governos FHC. Ele inicia-se no governo Collor de maneira antagônica,
quando comparado às greves da década de 1980.

Quadro 16 - Quantidade de Greves no Brasil entre 1989 e 1992
Ano

Quantidade de Greves

Número de Grevistas

1989

1.548

10 milhões

1990

2.200

12,3 milhões

1991

789

9,2 milhões

1992

568

2,9 milhões

Fonte: COGGIOLA, 1997, p. 81/82.

A questão é que na década de 1980, além da forte recessão econômica, outro elemento
mobilizador das categorias tenha sido, na primeira metade dessa década, a forte demanda
reprimida por liberdade democrática em razão dos 21 anos de regime de exceção no Brasil.
Como já demonstrado, essa explosão de greves começa ainda no final dos anos de 1970 com o
movimento dos metalúrgicos do ABC Paulista. Em contrapartida, com o advento do
neoliberalismo a partir do governo Collor e suas diversas facetas (desemprego, recessão,
171

Alguns dos trabalhadores relacionados na lista de demitidos de 1997 não haviam aderido ao movimento
grevista ou tinham qualquer simpatia pelo movimento sindical. Porém, aproveitando-se do momento de anistia,
após a assinatura pelo Presidente Lula, da Lei 11.282, de 23 de fevereiro de 2006, foram inseridos no processo
por suas demissões estarem dentro do prazo estabelecido no texto da lei (04 de março de 1997 a 23 de março de
1998) que assegurou o retorno dos perseguidos políticos neste período a ECT. A ação foi mais uma atitude
política do SINTECT-AL do que de fato um direito assegurado a estes poucos trabalhadores, dos quais me
reservo o direito de não os citar, especificamente por não ser meu propósito delatar carteiros após ter acesso a
informações delicadas durante as pesquisas.

192

abertura da economia brasileira ao capital estrangeiro, demissões, etc.) o movimento sindical
começou a ficar acuado devido à “nova” ordem neoliberal levando à diminuição do número
de greves inclusive na “Era FHC.”
No governo Itamar Franco (1992-1994), ocorreu uma queda na taxa de sindicalização
entre 1993 e 1995 quando a força de trabalho ocupada cresceu de 66.569.757 para
69.628.608, mas com um número de trabalhadores não-sindicalizados aumentado de
55.537.866 para 58.340.869 (O Estado de São Paulo, 8/9/1996 apud COGGIOLA, 1997, p.
82)172.
Contudo, em levantamento estatístico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) nos anos finais do governo de Fernando Henrique Cardoso, se afirma que
em dezembro de 2001 havia pouco menos de 16 mil sindicatos no país, dos quais 5.092 eram
sindicatos de empregados urbanos representando 1.449 sindicatos de trabalhadores a mais do
que os existentes em 1991. Ou seja, um aumento de 40%. Entretanto, segundo o mesmo
IBGE, o emprego formal urbano cresceu apenas 10,2%. O Censo ainda diz que em 1991
existia um sindicato urbano para cada grupo de 5.523 trabalhadores. Sendo que, em 2001 se
constatou que essa proporção havia caído para um sindicato a cada grupo de 4.356
empregados formais urbanos (CARDOSO, 2003, p. 40).

Além disso, principalmente na segunda metade da década de 1990,

Os aparelhos privados de hegemonia controlados pela burguesia reproduzem
diariamente a noção de que existiria um consenso no tocante ao debate sobre as
desigualdades: primeiro não haveria mais a divisão entre esquerda e direita, e as
disputas políticas estariam esvaziadas dos grandes projetos nacionais e populares de
transformação social, restritas somente as questões pragmáticas da pequena política,
sem ideologias a embasar as ações humanas; segundo, todos reconheceriam que as
desigualdades devem ser combatidas, mas todos também reconheceriam a
impossibilidade de superá-las dadas as diferenças entre os indivíduos. A ideia do
mercado é mais uma vez vendida como sendo algo pertencente a uma natureza
humana imutável e internalizada de modo completamente natural, inclusive por
intelectuais da esquerda que antes a combatia como uma falsa consciência. Quando
isto acontece, a derrota proletária é devastadora, restando pouco espaço para a
dissidência (CASTELO, 2013, p. 249).

Na década de 1980 “trinta por cento dos empregados formais eram filiados a sindicatos, e quatro centrais
sindicais disputavam a sua lealdade: CUT, Central Geral dos Trabalhadores (CGT), Confederação Geral dos
Trabalhadores (também CGT) e União Sindical Independente (USI)” (CARDOSO, 2003, p. 34).
172

193

Por fim, as mudanças no cenário sindical (principal base política e eleitoral do PT e da
CUT) juntamente com a insistência política após três derrotas de Lula nas eleições para
presidente da República (1989, 1994, 1998), levaram essas agremiações, ainda na década de
1990, a repensarem o combate à naturalização da ideia de mercado. Por meio da corrente
partidária hegemônica conhecida como Articulação Sindical cujo principal líder era o próprio
Lula, o neoliberalismo passou a ser recepcionado com críticas amenas objetivando uma
política e um sindicalismo propositivos173, privilegiando uma postura mais adepta a
negociação com empresários e governo. Mas, sem abrir mão de uma forte oposição ao
governo FHC, pois continuava havendo interesse em desestabilizá-lo para assegurar a
ascensão do projeto político que levaria Lula ao topo do poder174.

Nesses termos, o sindicalismo propositivo não só se manteve ao longo dos anos
1990 e 2000, como se intensificou. Passou a ser o tipo de sindicalismo padrão. Ou,
de outra forma, pode-se dizer que a CUT criou um novo tipo de sindicalismo. Se a
Força Sindical era declaradamente adepta do sindicalismo de resultado, a CUT
agregou às determinações deste aquilo que era sua essência, ou seja, a crítica à
política econômica do governo. Menos intensa que antes, limitada apenas a alguns (e
mínimos) pontos ((DUARTE; GRACIOLLI, 2010, p. 17/18).

Essas afirmações foram atestadas após a leitura da Carta ao Povo Brasileiro175, em 22
de junho de 2002, quando se tentou convencer setores da sociedade brasileira, o mercado e a
comunidade internacional de que o PT poderia chegar ao poder de forma “desarmada” através
173

As diversas transformações ocorridas no campo econômico, político, social e, principalmente, sindical,
especialmente no início dos anos 1990 – que se consubstanciou na crise do estado desenvolvimentista, na
implementação das políticas neoliberais e no surgimento do sindicalismo de resultado – pressionaram a CUT no
sentido de rever e, no limite, de reestruturar a ação combativa implementada até então. Com todos esses novos
elementos em jogo, e a vertiginosa expansão da Força Sindical, a CUT começa a perder espaço, tanto no que diz
respeito ao número de sindicatos e correntes políticas que a compunham, quanto – e consequentemente – em
termos de sua representatividade e legitimidade. Não havia saída: ou a coordenação da central comprava a briga,
e mantinha sua postura combativa, ou partia para uma adaptação as novas condições que se colocavam. A opção,
então, foi se enquadrar dentro dos novos padrões. A CUT passou a defender o contrato coletivo de trabalho,
elemento primordial não apenas da desregulamentação das relações de trabalho, mas fundamental para a própria
postura dos sindicatos, que passariam a centrar cada vez mais da defesa dos interesses de categorias específicas,
em detrimento de uma ação mais voltada à defesa da classe trabalhadora em geral. A adoção ao contrato
coletivo, por outro lado, era uma forma de definir a nova política da central, na medida em que substituía a
organização de greves em prol da melhoria salarial pela formulação de propostas contratuais, o que
necessariamente revertia em uma gradual minimização de seu papel político, especialmente no que dizia respeito
à formação e conscientização da classe trabalhadora (DUARTE; GRACIOLLI, 2010).
174
Para isso, se utilizou os movimentos sociais, dentre estes os sindicatos, para propagar a forte crítica contra a
política econômica, o desemprego, os baixos salários e as alterações na legislação visando a flexibilização nas
relações de trabalho. Atos públicos, protestos, manifestações, as mais diversas, serviram de instrumento para a
propagação das críticas ao governo. O alvo maior, não era tanto o neoliberalismo, mas sim o governo de FHC,
principal rival ao projeto petista e cutista para se chegar à Presidência da República.
175
Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u33908.shtml

194

de um amplo movimento em defesa do país. Para isso, não se levaria a cabo as alardeadas
rupturas prometidas na década de 1980. As mudanças econômicas e sociais se dariam por
meio da negociação, da ação estatal contra a pobreza na sociedade brasileira e do respeito aos
contratos. Segue trecho da Carta ao Povo Brasileiro que confirma essas ideias:

A crescente adesão à nossa candidatura assume cada vez mais o caráter de um
movimento em defesa do Brasil, de nossos direitos e anseios fundamentais enquanto
nação independente. Lideranças populares, intelectuais, artistas e religiosos dos mais
variados matizes ideológicos declaram espontaneamente seu apoio a um projeto de
mudança do Brasil. Prefeitos e parlamentares de partidos não coligados com o PT
anunciam seu apoio. Parcelas significativas do empresariado vêm somar-se ao nosso
projeto. Trata-se de uma vasta coalizão, em muitos aspectos suprapartidária, que
busca abrir novos horizontes para o país. O povo brasileiro quer mudar para valer.
Recusa qualquer forma de continuísmo, seja ele assumido ou mascarado. Quer
trilhar o caminho da redução de nossa vulnerabilidade externa pelo esforço
conjugado de exportar mais e de criar um amplo mercado interno de consumo de
massas. Quer abrir o caminho de combinar o incremento da atividade econômica
com políticas sociais consistentes e criativas. [...] Será necessária uma lúcida e
criteriosa transição entre o que temos hoje e aquilo que a sociedade reivindica. O
que se desfez ou se deixou de fazer em oito anos não será compensado em oito dias.
O novo modelo não poderá ser produto de decisões unilaterais do governo, tal como
ocorre hoje, nem será implementado por decreto, de modo voluntarista. Será fruto de
uma ampla negociação nacional, que deve conduzir a uma autêntica aliança pelo
país, a um novo contrato social, capaz de assegurar o crescimento com estabilidade.
Premissa dessa transição será naturalmente o respeito aos contratos e obrigações do
país (SILVA, 2012).

De todo modo, essa ação estatal havia sido timidamente iniciada nos governos FHC
seguindo a orientação neoliberal de implantar nos países periféricos parcos programas sociais
para apenas conter o aumento do número de pobres sem, entretanto, não atacar as causas que
geram a pobreza. Em seguida, a ação estatal do programa de Lula não propunha o caminho da
ruptura com o capitalismo. Apenas buscou assegurar uma face humana ao neoliberalismo,
porém, completamente desprovida das reais transformações sociais há muito reivindicadas
pelas classes subalternas brasileiras. “Mais uma vez, as expressões da ‘questão social’ foram
naturalizadas” (CASTELO, 2013, p. 252).
4.2 Oposição sindical, “privatização” e cultura do medo nos governos FHC

Fernando Henrique Cardoso, em seus primeiros meses de mandato à frente da
Presidência da República, já enfrentava forte oposição do movimento sindical, principalmente

195

dos sindicatos filiados à CUT, contrários ao programa coordenado pelo governo de
privatizações e de quebra dos monopólios das estatais. Com isso, evidencia-se que

Ao longo da década de 1990, a central combateu, de modo ativo, principalmente na
gestão de Jair Meneguelli, a política de privatização. Organizou atos públicos de
protestos nos leilões de empresas públicas. Mas, fato importante para se avaliar o
impacto popular do neoliberalismo, esses atos encontraram, na grande maioria das
vezes, com uma participação insignificante de trabalhadores. Na crise do governo
Collor, a CUT, em contraste com a posição adotada pela Força Sindical, teve uma
participação decisiva na campanha que levou ao impedimento de Fernando Collor de
Mello. Porém, a ação contra a política de privatização não se repetiu diante das
demais iniciativas dos governos neoliberais (BOITTO JR., 2002, p. 67/68).

Além do refluxo do sindicalismo no setor público176, em virtude das correntes
demissões e desemprego, possivelmente essa avaliação de uma menor mobilização de
trabalhadores contra a política neoliberal de privatização seja reflexo da postura adotada pela
CUT a partir de 1990, quando reunida em plenária nacional na cidade de Belo Horizonte,
adotou uma nova linha sindical que sua direção denominou, seguindo uma terminologia já
consagrada na Europa, “sindicalismo propositivo” (BOITTO JR., 2002, p. 67). Tal mudança
significou o abandono da antiga linha sindical conhecida como sindicalismo de confronto por
uma nova estratégia que valorizava a negociação com os empresários e com o governo177.
Apesar da mudança de postura da Central Única, o apoio às reivindicações do funcionalismo
público, inclusive com o incentivo à greve contra as medidas de privatização das estatais
encontrou resistência por parte do governo quando Fernando Henrique Cardoso, tentou se
impor diante do sindicalismo grevista e se utilizou de velhos atributos, como o corte de ponto
dos trabalhadores de empresas e repartições públicas paralisados. “Porém, novos instrumentos
se associariam a este. Através do Decreto-Lei nº 1.480, o governo dispôs as formas pelas
quais deveriam ser tratadas as paralisações no serviço público.” (SANTANA, 2003, p. 302)

176

Somente em 26 de março de 1999 a CUT, ao lado do MST, partidos de esquerda e movimento estudantil,
promoveram o “Dia Nacional de Luta em Defesa do Brasil”, uma série de demonstrações em cada grande capital
de Estado em protesto contra o desemprego, as privatizações e as políticas do FMI [...]. Ao longo da segunda
metade de 1999 um conjunto de greves sacudiu a cena mais uma vez: motoristas de caminhão, petroleiros
(depois de cinco anos de silêncio), metalúrgicos, servidores públicos e bancários, num revival que traria as
estatísticas de greve para os altos padrões anteriores a FHC (CARDOSO, 2003, p. 73/74).
177
A CUT tem demonstrado, também, uma boa vontade excessiva para negociar com os governos neoliberais,
primeiro com Collor e, depois, com FHC. Em todas essas ocasiões, o governo chamou a central para negociar
quando se encontrava diante de dificuldades, e rompeu unilateralmente a negociação assim que encontrou, nos
bastidores do governo e sem a participação dos sindicalistas, uma solução liberal para os problemas criados pelo
próprio liberalismo (BOITTO JR., 2002, p. 68)

196

No âmbito dos Correios, as consequências do enrijecimento do governo federal
culminaram com a demissão de aproximadamente dois mil trabalhadores em todo o Brasil
após a greve de 1997 e o corte do ponto de trabalho (15 dias) para os grevistas que
permaneceram nos quadros de funcionários da ECT. Além destes, a política de baixos
salários, o medo constante de novas demissões e o envio do Projeto de Lei Postal, que
supostamente abriria caminho para a privatização da empresa, deram o tom do refluxo quanto
às paralisações.

Na realidade, mudanças na base material do capitalismo ocorreram, impulsionando a
transformação rápida das classes trabalhadoras, com consequências importantes para
a atuação sindical. De um lado, a expansão do desemprego gerou a cultura do medo
da demissão generalizada no interior dos locais de trabalho (POCHMANN;
BORGES, 2002, p. 29).

A cultura do medo nos Correios difundida pela ampliação das demissões, na maioria
dos casos sem justa causa, arrefeceu os ímpetos da categoria. Ou seja, até então, o movimento
sindical encontrava-se na defensiva, pois o alto desemprego na década de 1990, o
sindicalismo politicamente dividido, a péssima política salarial, com índices de reajustes
muito abaixo da inflação, e sem resposta eficiente dos sindicatos de Correios, contribuíram
para a pausa das greves entre 1997 e 2002. Sendo assim, o governo FHC intensificou sua
política salarial com insignificantes reajustes e retirada de direitos assegurados em anos
anteriores pelos ecetistas.
Embora tenha havido um recuo quanto às greves, houve importante insatisfação dos
ecetistas, principalmente na área operacional, com constantes reclamações nos setores de
trabalho em razão dos baixos salários e das péssimas condições de trabalho. A resposta da
ECT era de que “os insatisfeitos deveriam deixar a empresa.” Sugestão nada interessante
diante dos baixos índices de emprego formal no país, conforme comparado quando se avalia o
percentual de trabalhadores com carteira assinada na segunda metade dos anos de 1990.

Quadro 17 - Emprego Formal (% de trabalhadores com carteira assinada nas principais regiões
metropolitanas)
1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

49,3%

48,5%

46,7%

46,4%

45,9%

44,5%

43,6%

45,0%

Fonte: IPEA, Mercado de Trabalho, Conjuntura e Análise apud (LESBAUPIN; MINEIRO, 2002, p. 19)

197

Na área da indústria (utilizando indicador da FIESP para a Região Metropolitana de
São Paulo), o emprego caiu durante os sete anos do Governo FHC a cerca de 2/3 do que era
em meados da década de 1990, ou cerca de metade de seu valor em meados da década de
1980 (LESBAUPIN; MINEIRO, 2002, p. 21). Desse jeito, no cenário do desemprego
mundial, o Brasil deixou de ocupar o 13º lugar em 1986, para ocupar o quarto lugar em 1998
e a segunda posição em 2002, no ranking mundial do desemprego (POCHMANN; BORGES,
2002, p. 26). Ainda segundo os autores (p. 27), no Brasil, em 1998, o movimento sindical
conseguiu fazer pouco menos de 400 greves, quando nos anos 1980 chegava a ser responsável
por cerca de 4 mil greves anuais.
Nos Correios, a diminuição no número de greves e as centenas de demissões
apontaram para a necessidade de se enfraquecer o movimento sindical objetivando a
consecutiva privatização da estatal. Esse suposto propósito do governo federal de privatizar a
ECT foi denunciado diversas vezes pelos sindicatos ecetistas durante toda a década de 1990.
Em Alagoas, o SINTECT-AL, a partir de 1997, intensificou o debate contra a privatização da
estatal. Em carta aberta, informava que “os bons serviços prestados pelos Correios à
população estão seriamente ameaçados.” O documento denunciava ainda que Sérgio Motta,
então ministro das Comunicações, havia declarado que os Correios serão privatizados e que
“os dirigentes da ECT, cumprindo determinação de FHC, promovem um grande desmonte na
empresa.” (Carta Aberta à população contra a privatização dos Correios, 1997).
Em dezembro do mesmo ano, o SINTECT-AL procurou fazer uma retrospectiva dos
temas de interesse dos ecetistas. O assunto neoliberalismo fez parte da pauta e chegou aos
trabalhadores em boletim informativo.

NEOLIBERALISMO

1997 foi um ano de árduas e dolorosas batalhas para a categoria ecetista. Mais
dolorosas ainda para o conjunto da classe trabalhadora no Brasil. Enquanto na
Europa, o neoliberalismo começa a cair por terra, depois de quase duas décadas de
muito discurso modernizante e globalizante e poucas ações para resolver os
problemas sociais, as ideias democráticas e socialistas ressurgem com mais força, os
nossos países periféricos tentam pegar o rescaldo e insistem numa política
econômica que torna os ricos mais ricos e os pobres cada vez mais pobres (Gazeta
Ecetista, edição de 23 de dezembro de 1997).

198

Em seguida, parte-se para o ataque ao governo federal e às autoridades diretamente
envolvidas com a questão.

CONSEQUÊNCIAS

Essa política nefasta, aqui representada por FHC, Pedro Malan, Ciro Gomes e tantos
outros, traz consequências imediatas na vida dos trabalhadores e sua luta por
melhores condições de trabalho. Rezando na cartilha de Washington, o governo do
PFL/PSDB (e demais partidos que dão sustentação) trabalha para retirar as
conquistas históricas dos trabalhadores, esfacelar o movimento sindical, trazer
instabilidade ao mercado de trabalho. Tudo isso porque o que eles chamam de
globalização precisa de mão-de-obra barata, temporária, sem tantos custos sociais
(Ibidem)

O boletim se encerra invocando um futuro de esperança para se construir “um governo
voltado para os interesses da maioria da população.” Uma referência indireta de apoio à
candidatura de Lula à Presidência da República. Tanto é que consta nos arquivos do
SINTECT-AL, panfleto intitulado FHC NUNCA MAIS!, sem data, mas que possivelmente
foi distribuído entre os ecetistas às vésperas das eleições de 1998. Nele há menções ao
neoliberalismo e às ações de Fernando Henrique Cardoso contra a categoria dos Correios e
apoio claro e veemente a Luís Inácio Lula da Silva na campanha eleitoral para presidente.

FHC NUNCA MAIS!

O trabalhador dos Correios sentiu de perto a prática desse governo e vai gritar com
todas as forças: FHC NUNCA MAIS! E a ECT não poupou esforços para atender a
cartilha do neoliberalismo de Fernando Henrique, que se interessou mais em mostrar
ao mundo capitalista que estava afinado com as exigências das grandes potências e
do FMI do que em ter o respeito da população. Nós sabemos:
- demissões injustas de ativistas e líderes sindicais, funcionários com problemas
constatados de saúde, funcionários mais antigos ou sem a simpatia dos chefes, etc.
- tentativa permanente (em todas as datas-bases) de retirar benefícios conquistados
historicamente, como a cesta-básica e os tíquetes.
- salários e benefícios diferenciados para os novatos.
- veto de FHC ao projeto de periculosidade para carteiros.
- projeto de privatização dos Correios.
Tudo isso para mostrar que todas as áreas do governo estão integradas à
globalização. Globalização que coloca a economia nacional debaixo dos interesses
dos países ricos. Só Lula pode governar o Brasil de forma diferente, com mais
justiça e mais democracia.
ESTAMOS COM LULA! (Panfleto FHC NUNCA MAIS! – SINTECT-AL: [1998])

199

Para o SINTECT-AL somente a saída de FHC poderia melhorar as condições de
trabalho. No boletim informativo Gazeta Ecetista, edição de 04 de agosto de 1998, as
lideranças sindicais pró-Lula usaram o tema da privatização para convencer os funcionários
dos Correios a votar no petista. “Se Fernando Henrique Cardoso conseguir ser reeleito, o
caminho para a ECT será a privatização, mais desemprego e mais arrocho salarial. Por tudo
isso, o Conrep178 deste ano tirou pela primeira vez uma moção de apoio a um candidato:
Lula.” E continua com a tática de convencimento afirmando que “o programa de governo de
Lula se contrapõe à privatização dos serviços postais, às demissões injustas e ao projeto
econômico de FHC, que privilegia os mais ricos e gera desemprego.” Na conclusão, um apelo
direto aos trabalhadores: “Por isso, apoiamos a iniciativa de alguns companheiros de Alagoas
em formarem um núcleo de apoio a Lula. E orientamos abertamente toda a categoria:
participem.” (Gazeta Ecetista, edição de 04 de agosto de 1998).
No mesmo boletim, as lideranças criticam a Associação dos Administradores Postais,
acusada de apoiar o projeto de privatização dos Correios e chama seus associados de
entreguistas.

DEFENSORES DA PRIVATIZAÇÃO

A associação dos administradores postais já espera a privatização dos Correios.
Trabalha com arrecadação de fundos para comprar possíveis ações da ECT e tornar
seus filiados sócios da empresa, na esperança de garantir seus empregos. Ao fazerem
isso, os administradores reforçam a tese da privatização. Entreguistas! (Ibidem)

Nesse período, o sistema Telebrás havia sido privatizado e o SINTECT-AL usou o
fato para convencimento dos trabalhadores. Inclusive denunciando que após a privatização, o
desemprego já havia começado no sistema e a imprensa não divulgava o fato. E concluía
dizendo: “A facilidade com que o sistema Telebrás foi privatizado pode acelerar outros planos
de privatização do governo: os Correios estão na mira.”

Conrep – Conselho de Representantes da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresa de Correios,
Telégrafos e Similares (FENTECT). Órgão deliberativo dos ecetistas em nível nacional.
178

200

Além do debate sobre a privatização dos Correios, circulava a ideia da terceirização
dos serviços postais, principalmente os mais lucrativos que, pela interpretação dos
sindicalistas, seriam entregues à iniciativa privada conforme as portarias 310 e 311179 emitidas
pelo Ministério das Comunicações no final de 1998.
Analisando a Portaria 310, o movimento sindical tinha uma interpretação de que o
documento objetivava diminuir o tamanho da ECT reduzindo o quadro de funcionários e de
salários, além de repassar a maioria dos serviços postais à iniciativa privada, inclusive com
prazos para o ajuste dos serviços às novas finalidades operacionais. (Gazeta Ecetista, edição
de 29 de janeiro de 1999).
Além da preocupação com a privatização dos Correios, percebe-se nas entrelinhas uma
preocupação com a manutenção do monopólio postal – tema de importante debate na década
de 1990 e que posteriormente chegou ao Supremo Tribunal Federal para julgamento de sua
constitucionalidade. De qualquer forma, há indícios de que havia uma intenção na ECT de
acabar com o monopólio postal. Veja o que diz Egídio Bianchi, então presidente dos Correios:

Do anteprojeto da Lei Geral do Sistema Nacional de Correios, elaborado ao longo de
um ano, constam as seguintes principais mudanças: extinção do monopólio postal
no prazo de dez anos; criação da Agência Nacional de Serviços de Correios;
disciplina do regime de concessões de serviços públicos postais, para ampliar a
participação da iniciativa privada; definição objetiva dos serviços universais
(essenciais) (BIANCHI, 1999, p. 387). (Grifo nosso)

Quanto à Portaria 311, esta estabelece a frequência mínima de distribuição postal nos
municípios brasileiros, inclusive com redução dos dias de entrega a depender do número de
habitantes em cada cidade.
Pela avaliação do SINTECT-AL, haveria um agravamento no descumprimento dos
prazos de entrega e um acúmulo de correspondências. Se no final de 1998 e início de 1999 a
ECT já não executava a entrega em dia nos prazos definidos (cinco dias) de distribuição das
cartas nas cidades acima de 50.000 habitantes, imagine nos municípios que pela quantidade de

Ministério das Comunicações/Secretaria de Serviços Postais – Portaria Nº 310, de 18 de dezembro de 1998.
Publicada no D.O.U. de 18/12/1998.
Ministério das Comunicações/Secretaria de Serviços Postais – Portaria Nº 311, de 18 de dezembro de 1998.
Publicada no D.O.U. de 18/12/1998.
179

201

moradores a entrega passaria a ser duas vezes por semana. A tendência seria de que o atraso
fosse ainda maior180.

Quadro 18 - Frequência da Distribuição Postal nos Municípios Brasileiros
Frequência Mínima

População dos Municípios

Duas vezes por semana

Até 5.000 habitantes

Três vezes por semana

Acima de 5.000 até 50.000 habitantes

Cinco vezes por semana

Acima de 50.000 habitantes

(BIANCHI, 1999, p. 384).

Diante de tamanha precariedade, para as lideranças sindicais havia uma proposital
intenção de provocar insatisfação na opinião pública para favorecer o processo de
privatização. Até porque,

FHC quer entregar para a iniciativa privada 90% das agências postais existentes em
cidades com até 200 mil habitantes. Nas cidades com até 50 mil habitantes,
moradores de pequenas comunidades rurais e urbanas podem ficar sem receber
cartas em casa, pois a entrega deixará de ser diária (Gazeta Ecetista, edição de 24 de
março de 1999).

Entretanto, a Diretoria do SINTECT-AL reagiu as exigências para a distribuição das
cartas e organizou uma sessão pública na Câmara de Vereadores de Maceió181 para debater o
tema. A sessão ocorreu no dia 31 de março de 1999 com o objetivo de alertar o Poder
Legislativo, a Prefeitura e as lideranças comunitárias para o “perigo” que representava as
portarias 310 e 311 e o projeto de caixa postal comunitária182. O então diretor regional dos
Correios em Alagoas, Paulo Machado, não compareceu à sessão e foi duramente criticado
pelo SINTECT-AL sob a alcunha de “fujão.” (Gazeta Ecetista, edição de 28 de maio de
1999).

180

O prazo regular para a entrega das correspondências em cidades acima de 50.000 habitantes era de dois dias a
partir da data da postagem.
181
A sessão foi convocada pelos vereadores Aliomar Lins e Judson Cabral.
182
O projeto das caixas postais comunitárias foi elaborado pelos Correios para todo o Brasil e basicamente
visava eliminar a utilização de carteiros nas periferias das cidades. As cartas seriam depositadas em módulos de
180 caixas postais administradas pela comunidade, onde o carteiro iria duas vezes por semana para colocar e
recolher as cartas da semana (A Tarde – Salvador/BA, edição de 27 de maio de 1999). Ou seja, uma vez as cartas
disponibilizadas, os moradores deveriam buscá-las nos módulos sem qualquer mediação com funcionários dos
Correios, havendo o risco iminente de violação das correspondências.

202

Além da Câmara de Vereadores de Maceió, o SINTECT-AL esteve a 23 de maio de
1999 no bairro do Jacintinho, região periférica de Maceió, para participar de um debate sobre
cidadania no Colégio Estadual Teonilo Gama. O incumbido da missão foi o líder sindical
Benedito Nazário que aproveitando a oportunidade falou sobre o projeto de privatização dos
Correios e suas consequências na vida dos moradores da periferia. A ideia era atrair o
movimento comunitário para participar de ações conjuntas com o sindicato contra a
privatização da ECT.

O sindicato está realizando uma série de caminhadas e debates em bairros
periféricos de Maceió com o objetivo de conscientizar a população sobre os riscos
da privatização dos Correios, além de colher assinaturas para um projeto de Lei de
iniciativa popular que vai se contrapor ao projeto de Lei Postal da empresa. Na
sexta-feira e no sábado passados, a caminhada foi realizada no bairro do Jacintinho.
Houve uma boa cobertura da imprensa, com matérias em todos os jornais e em uma
emissora de televisão. A recepção da população ao nosso projeto é muito boa. E o
mais importante: trata-se de um contato com os clientes dos Correios, um momento
de conscientização e educação do povo (Informe SINTECT-AL, edição de 22 de
junho de 1999).

Fato é que a imprensa deu boa repercussão às caminhadas promovidas pelo sindicato
nos bairros periféricos de Maceió.

ECETISTAS FAZEM NOVA CAMINHADA

Trabalhadores dos Correios realizam hoje, a partir das 9 horas, nos bairros do
Jacintinho e Bebedouro, mais uma caminhada para coleta de assinaturas em prol de
um projeto de lei contra a privatização da Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos (ECT). O Sindicato dos Trabalhadores na ECT em Alagoas (Sintect-AL)
dá continuidade a um trabalho iniciado na semana passada que tem como objetivo
denunciar à população sobre a intenção do governo federal de repassar os serviços
rentáveis dos Correios para a iniciativa privada. De acordo com o presidente da
entidade, José Cícero Cavalcante Pereira, a nova Lei Postal encaminhada ao
Congresso pela direção da ECT “vai transformar a empresa em sociedade anônima,
de economia mista, mantendo sob o monopólio do Governo somente os serviços
considerados sociais, como “carta simples e telegramas” (Tribuna de Alagoas,
edição de 26 de junho de 1999).

Com o projeto 1.491/99 que trata da Nova Lei Postal, temia-se a demissão em massa
de funcionários dos Correios e o repasse de serviços rentáveis como o de encomendas (Sedex
e outras) à iniciativa privada. Restaria para os Correios apenas a parte social (entrega de
cartas) à população, mas na maioria das localidades sem a utilização do carteiro, já que o
programa de caixas postais coletivas dispensaria estes profissionais.

203

Por fim, as lideranças sindicais acreditavam que a Nova Lei Postal fazia parte das
imposições do FMI ao governo brasileiro. Veja o que diz um panfleto distribuído pelo
SINTECT-AL na campanha salarial de 1999: “Mas o governo FHC, a mando do FMI, vem
tentando privatizar os Correios. E na hora de assinar um Acordo Coletivo que reconheça o
esforço e a capacidade dos empregados dos Correios, o governo orienta arrocho salarial.”
Foto 7 – Abaixo assinado no Centro de Maceió contra a privatização dos Correios (anos
de 1990)

Fonte: autor desconhecido – Arquivo do Sintect-AL

De certo que a privatização dos Correios, a quebra do monopólio e o mercado postal
interessavam à iniciativa privada. Em levantamento do SINTECT-AL estipulava-se que no
Brasil, 74% da população, ou cerca de 120 milhões de pessoas, recebiam suas
correspondências no conforto de suas casas; que a ECT obteve um lucro de mais de 200
milhões de reais em 1998; que os Correios estavam presentes em todos os municípios
brasileiros, que a ECT mantinha-se com seus próprios recursos, sem recorrer ao Tesouro
Nacional e que o patrimônio operacional era de 5.500 veículos, 5.124 motocicletas, 25 mil
bicicletas, 11.700 agências de atendimento, 25.432 caixas de coletas e 82.500 empregados,
dos quais 37.640 eram carteiros, tornando os Correios a maior empresa empregadora do país

204

entre as públicas e as privadas (Gazeta Ecetista, edição de 02 de julho de 1999). Ainda em
1999, os Correios tinham a quinta maior receita operacional bruta entre as empresas do setor
público, superando os R$ 3,3 bilhões no ano de 1998.
Disponibilizando mais algumas informações sobre os Correios, no ano seguinte
(1999), a ECT tratava e entregava, por dia, cerca de 26 milhões de objetos e seu efetivo
contava com mais de 80 mil funcionários distribuídos em 23 Diretorias Regionais e na
Administração Central, em Brasília (BIANCHI, 1999, p. 382). Contudo, o tráfego postal na
década de 1990 variou bruscamente conforme demonstrado no quadro abaixo.

Quadro 19 - Crescimento do Tráfego Postal na Década de 1990.
Ano

Tráfego (bilhões)

Crescimento (%)

1990

3,496

-

1991

3,371

-3,6

1992

3,336

-1,0

1993

4,310

29,2

1994

4,668

8,3

1995

6,127

31,3

1996

6,009

-1,9

1997

6,047

0,6

1998

6,825

12,9

(BIANCHI, 1999, p. 382)

Diante de números, certamente divulgados durante as mobilizações pelos bairros
periféricos, a Câmara de Vereadores de Maceió aprovou por unanimidade o projeto de Lei do
vereador Judson Cabral (PT), que garantia o direito da população de receber suas
correspondências pelas mãos dos carteiros. Com a sanção da Lei 4.482/99 pela prefeita Kátia
Born, os Correios ficaram proibidos de instalar as caixas postais coletivas em Maceió.
As ações contra a privatização contaram ainda com 7.779 assinaturas recolhidas em
abaixo assinados durante as reuniões em igrejas, associações e escolas, nas visitas ao interior
e pelo esforço individual de diversos funcionários que aderiram ao movimento (Gazeta
Ecetista, edição de 29 de outubro de 1999). Contou-se também com o apoio do Partido dos
Trabalhadores, da CUT e da Pastoral da Terra numa tentativa de interiorizar o debate,

205

inclusive com visitas a acampamentos rurais da CPT183 nos municípios de Messias, Murici e
Flexeiras (Gazeta Ecetista, edição de 16 de julho de 1999).
As investidas do movimento sindical contra a privatização tiveram um custo
operacional que foi assumido pela maioria dos ecetistas. Em agosto de 1999, em assembleias
gerais por todo o país, os trabalhadores aprovaram desconto assistencial de 1% sobre os
salários nos meses de setembro, outubro e novembro. O objetivo era contribuir com as
despesas da campanha contra a privatização dos Correios. O desconto foi efetuado durante os
meses de setembro, outubro e novembro.
Para combater a ofensiva do discurso da direção da empresa em favor da terceirização
e privatização, a Fentect e os sindicatos tiveram uma série de despesas extras. Elaboração do
jornal especial da Fentect para se contrapor à campanha de contrainformação da empresa e
uma série de atividades nos estados, a exemplo do recolhimento de assinaturas, reuniões nos
bairros periféricos e nas escolas serviram de justificativas para os descontos (Gazeta Ecetista,
edição de 26 de agosto de 1999). Em junho de 2002, o SINTECT-AL realizou Congresso
Estadual, na sede da FETAG, em Maceió, para debater a privatização com a categoria.
Foto 8 – I Congresso Estadual dos Trabalhadores dos Correios

Fonte: autor desconhecido – Aquivo do Sintect-AL
183

CPT – Comissão Pastoral da Terra.

206

Foto 9 – Plenária do I Congresso dos Trabalhadores dos Correios em Alagoas

Fonte: autor desconhecido – Arquivo do Sintect-AL

Fica claro que as ações em Alagoas contra a privatização da ECT tinham uma
orientação nacional através da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de
Correios e Telégrafos e Similares e que o movimento ocorria por todo o Brasil com a adesão
de outros sindicatos ecetistas. Havia, contudo, a intenção de ampliar ainda mais as ações da
campanha e o SINTECT-AL contava com a participação dos ecetistas para sugerir em
assembleia geral, realizada no dia 11 de fevereiro de 2000, outras medidas para barrar a Nova
Lei Postal (Informe Sintect-AL, edição de 11 de fevereiro de 2000).
Em nível nacional, a Fentect definiu de 21 a 23 de março de 2000 o plano de lutas
contra a privatização dos Correios. Denúncia, ampliação das formas de comunicação com a
sociedade, atos públicos, reuniões com moradores dos bairros, atos e sessões públicas nas
Câmaras de Vereadores e Assembleias Estaduais e a mobilização das bancadas federais contra
a aprovação da Nova Lei Postal184fizeram parte do plano de lutas para o ano 2000.
Para fortalecer o debate, o Conselho de Representantes da Fentect resolveu fundir a
campanha salarial de 2000 com a campanha contra a privatização. Durante o encontro,
184

Na Bancada Federal de Alagoas, os deputados Joaquim Brito e Régis Cavalcante declararam apoio a causa da
categoria.

207

representantes dos estados presentes no CONREP (mais de duzentos trabalhadores) ocuparam
por mais de quatro horas o Plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília185. O objetivo era
pressionar os deputados e o relator do projeto de Lei, deputado Marcelo Barbieri (PMDB-SP)
a desistirem da nova Lei Postal.

COMISSÃO

O clima ficou tenso quando a segurança da Casa foi acionada, mas os ecetistas
somente se retiraram do plenário quando foi aceita uma comissão de representantes
para ser recebida pelo presidente da Câmara, o deputado Michel Temer. A comissão
conseguiu a reunião, apresentou a preocupação da categoria com a privatização e
denunciou as demissões ocorridas na empresa (Gazeta Ecetista, edição de 20 de
junho de 2000).

Por fim, a Câmara dos Deputados, através do deputado Paulo Paim (PT/RS),
recomendou à direção da ECT a revisão de todas as demissões ocorridas a partir de 1997186 e
adiou a data de votação do projeto, que seria 28 de junho de 2000. O feito foi considerado
vitorioso para o movimento sindical ecetista e um importante passo para protelar a votação da
Nova Lei Postal.
Após o adiamento da votação e com a demissão de Egydio Bianchi, presidente da
ECT, passaram a ocorrer algumas divergências sobre a Nova Lei Postal dentro do próprio
governo. De acordo com a grande imprensa, o pivô da crise teriam sido as divergências acerca
do uso da verba publicitária dos Correios. O ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga,
achou que Bianchi estava se autopromovendo através da propaganda da ECT. Ao deixar o
cargo, Bianchi saiu atirando:

Na entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, Bianchi não economizou a
metralhadora: “caso a Lei Postal seja sancionada, os Correios perderão R$ 830
milhões por ano, ou 25% da receita obtida no ano passado”. Esse prejuízo ocorrerá
em razão da perda do monopólio da remessa de cartas comerciais (cobranças
bancárias, cartões de crédito ou envio de talões de cheque), segundo ele. O expresidente foi mais além e disse que, em conseqüência das mudanças impostas pela
Lei Postal, ele prevê a demissão de 50 mil empregados (Gazeta Ecetista, edição de
20 de julho de 2000).

185

Os representantes do ecetistas em Alagoas, José Cícero Cavalcante Pereira e Gilberto Macena participaram da
ocupação.
186
Fato que não ocorreu, pois os demitidos de 1997 só foram anistiados em 2006 após amplo processo de anistia.

208

Em meio às possíveis declarações do ex-presidente da ECT, pesquisa realizada pela
CNI-IBOPE apontava em Boletim Técnico nº 97/2000, que cinco mil usuários em todo o país,
entre 11 e 24 de maio de 2000, consideraram o serviço dos Correios muito eficiente ou
eficiente. Para 92% dos entrevistados, os Correios foram considerados a estatal mais eficiente.
A Caixa Econômica Federal ficou em segundo lugar com 67%, o Banco do Brasil com 64% e
as empresas de energia elétrica ficaram com 63% de avaliação positiva. Quanto a concordar
ou não com a privatização dos Correios, as campanhas realizadas pelos sindicatos de ecetistas
pelo Brasil parecem ter surtido efeito, pois entre os entrevistados 18% concordavam com a
privatização e 74% discordavam (Gazeta Ecetista, edição de 20 de julho de 2000).
Como o tema continuava em pauta, em agosto de 2000, no auditório do Sindicato dos
Bancários, o SINTECT-AL promoveu um debate entre a Fentect e a ADCAP sobre a Nova
Lei Postal. O secretário-geral da Federação, Luís Eduardo, e Maurício Lorenzo, diretor de
Comunicação da ADCAP nacional concordaram e divergiram durante as discussões. A
ADCAP não via como negativa a transformação dos Correios em S.A (Sociedade Anônima)
por entender que era favorável a participação privada em algumas áreas de atuação postal.
Mas, discordava do processo de reestruturação da empresa. A Fentect rejeitava a mudança da
razão social dos Correios e pressionava os congressistas com passeatas, invasões e
manifestações. As duas entidades, concordavam, porém, com a manutenção do monopólio
postal como garantia dos serviços de qualidade e empregos (Gazeta Ecetista, edição de 24 de
agosto de 2000).

4.3 Gestão Paulo Machado: nenhum sinal de mudança

Segundo o Boletim Gazeta Ecetista, de 16 de fevereiro de 1995, Paulo Machado
assumiu o comando dos Correios alagoanos em 30 de abril de 1993 em substituição a Roberto
Mota. Para as lideranças sindicais e pelo teor dos textos de seus boletins informativos, durante
sua gestão, o novo diretor parecia estar bem determinado a pôr em prática na ECT o projeto
neoliberal de FHC. Para isso, estabeleceu-se um verdadeiro campo de guerra entre sua
diretoria e o SINTECT-AL.
Chamou atenção as várias farpas trocadas entre o diretor regional e o presidente do
sindicato José Cícero Cavalcante Pereira, indo muitas vezes parar no campo pessoal.
Denúncias de perseguição, descumprimento de acordos, greves agressivas com ações de

209

piquetes, pesadas críticas em reuniões setoriais, boletins informativos polêmicos e possível
apadrinhamento político do senador Renan Calheiros deram a tônica na relação entre
sindicato e empresa por praticamente toda a década de 1990.
Em dezembro de 1994, a relação de hostilidade levou a categoria a repudiar em
assembleia geral a “falta de palavra” de Paulo Machado por não cumprir acordo firmado com
o SINTECT-AL e ter chamado o Pelotão de Choque da Polícia Militar para reprimir os
grevistas que se encontravam mobilizados em frente a várias unidades de trabalho dos
Correios. A indignação levou os trabalhadores a elaborar uma lista tríplice acompanhada de
abaixo-assinado contendo os nomes de Plistheus Mota de Souza, Antônio Mauro de Freitas
Lapa e José Valmir Barbosa Barros para diretor regional em lugar de Paulo Machado. O
documento foi entregue à diretoria nacional dos Correios em Brasília e embora não tenha
surtido efeito, demonstrou o grau de insatisfação dos trabalhadores com o então diretor
regional187.
Em 1995, outro abaixo-assinado contra Paulo Machado voltou a circular. Dessa vez,
devendo ser encaminhado aos parlamentares federais em Brasília pedindo seu afastamento
imediato. Ao reagir contra a ação, o diretor foi denunciado no Informativo Gazeta Ecetista,
edição de 13 de abril de 1995, acusado de estar tentando confundir a categoria contra o
sindicato. O texto denuncia a pressão sobre os trabalhadores que assinassem o documento
além da campanha pela desfiliação contra o SINTECT-AL.
A hostilidade refletiu na Campanha Salarial do mesmo ano. A Gazeta de Alagoas,
edição de 15 de julho de 1995, noticiou, em matéria intitulada: Grevistas da ECT denunciam
agressão, a invasão da Polícia Militar ao pátio dos Correios acompanhada de agressão aos
trabalhadores grevistas. Ainda segundo a matéria, o diretor regional admite ter solicitado a
presença dos policiais para acabar com os excessos de alguns grevistas e negou ter autorizado
a invasão da PM às dependências dos Correios. Entretanto, a presença marcante do Pelotão de
Choque da Polícia Militar se deu de forma assídua nas greves ocorridas nos Correios entre
1993 e 1997.

O Boletim Informativo do SINTECT-AL noticiou o fato dizendo que

187

Ata da Assembleia Geral Permanente do SINTECT-AL, 12 de dezembro de 1994.

210

Já esperávamos a atitude do diretor Paulo Machado de convocar o pelotão de choque
para reprimir o movimento grevista da categoria. A Polícia Militar invadiu as
dependências das agências para transportar o malote de correspondências e outros
documentos e coibir o nosso direito de greve.
Alguns companheiros foram agredidos covardemente pelos policiais. Só não houve
prisões porque a imprensa estava no local.
A presença da PM nos Correios foi mais um ato de arbitrariedade do Sr. Paulo
Machado, que se soma a outros. O Sr. Paulo Machado não engana a mais ninguém: a
postura de democrático, sempre aberto ao diálogo que ele apresenta na imprensa
local já era. “Tanto os ecetistas quanto os usuários o conhecem muito bem.” (Diretor
Convoca pelotão de choque. Gazeta Ecetista, Ano VI, 28 de julho de 1995.)

Em Carta Aberta à população, os trabalhadores dos Correios chamavam atenção para a
falsa imagem de democrata que Paulo Machado passava para a imprensa. No mesmo
documento há uma denúncia inusitada, trata-se da transferência de três funcionários de Pão de
Açúcar: os carteiros Manoel Messias, Antônio Alves e João Soares, todos com mais de 20
anos de serviços prestados aos Correios. A transferência se deu para Maceió, distante mais de
duzentos quilômetros da cidade sertaneja. Outra transferência, provavelmente sem
justificativa aceitável, foi aplicada contra o ativista político Luiz Batista, o Luizão, transferido
para Barra de São Miguel de forma sumária (Gazeta Ecetista, ano VI, edição de 20 de outubro
de 1995).
Após forte reação do SINTECT-AL contra as transferências, o caso foi parar na
Procuradoria Regional do Trabalho. Depois de muita pressão de políticos e do Sindicato,
Paulo Machado se antecipou à decisão da Procuradoria e cedeu, revertendo às transferências
de Pão de Açúcar.
4.4 A greve de 1997 e o movimento contra a “privatização” dos Correios

A greve dos funcionários dos Correios em 1997 foi a última ocorrida no governo de
Fernando Henrique Cardoso. A Folha de São Paulo, (edição de 04 de setembro de 1997, p.
11) afirmava que onze estados (Alagoas, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná,
Santa Catarina, Paraíba, Maranhão, Pará, Amazonas e o Distrito Federal) haviam aderido à
paralisação. A categoria reivindicava 5% de aumento real, piso salarial de R$ 820,00 e
reposição da inflação de dezembro de 1996 a julho de 1997, igual a 24,07%. Na época, o
SINTECT-SP estimava uma participação de 70% dos trabalhadores do estado, cerca de
23.500 no primeiro dia de greve com a adesão de 85% dos trabalhadores da área operacional,
a maioria carteiros.

211

Sem avanço nas negociações, no décimo segundo dia de paralisação, os Correios
radicalizaram e demitiram cento e cinquenta e três trabalhadores sob a acusação de excesso
durante a greve. Entretanto, não esclareceu a imprensa quais teriam sido esses excessos. A
maior parte dessas demissões ocorreram no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília (Folha de
São Paulo, edição de 18 de setembro de 1997). Porém, as dispensas não ficaram apenas em
meio aos grevistas. Irritado pelos protestos em frente a sua residência, quando grevistas
fizeram acampamento para pressionar, o ministro das Comunicações, Sérgio Motta,
determinou a demissão de toda a diretoria nacional dos Correios. A Folha de São Paulo,
edição de 21 de setembro de 1997, transcreveu uma fala irritada do ministro sobre os grevistas
em frente a sua residência. “Eu quero a evacuação daqui. É a minha casa e está atrapalhando
os moradores. O senhor quer que eu fale com o governador?” (Sérgio Motta, ministro das
Comunicações, a um policial da tropa de choque que ajudava a proteger sua casa, em São
Paulo, sobre os grevistas dos Correios que estavam em frente ao local). Na época, se
comentava entre os grevistas aqui em Alagoas, que Sérgio Motta também mandou demitir
todos os funcionários que estavam protestando em frente a sua residência188.
Após 15 dias de paralisação, os grevistas resolveram, em 23 de setembro de 1997,
encerrar a greve sem qualquer avanço nas reivindicações contidas na Pauta Nacional de
Reivindicação. Derrotados, amargaram centenas de demissões em nível nacional, desconto
dos dias parados, inclusive no vale-alimentação e meses de apreensão em virtude das
dispensas “sem justa causa” que aconteciam a todo momento nas diretorias regionais por todo
país.
Em Alagoas, cerca de trinta e um trabalhadores foram demitidos. Ao longo dos meses
pós-greve o “terrorismo” devido às famosas listas semanais de demissão gerou um trauma
coletivo entre os trabalhadores somente superado em 2003, com a primeira greve dos Correios
no governo Lula. Por seis anos, temendo demissões em massa no governo FHC, a categoria
amargou, durante as negociações salariais, reajustes entre 2% e 3% sempre abaixo da
inflação, quando o governo federal aplicava a política do abono para “obrigar” ecetistas
fragilizados economicamente a aceitar propostas rebaixadas nos acordos coletivos de trabalho.

Para os trabalhadores empregados, a realidade não é melhor. De acordo com o
Dieese, quase metade dos acordos trabalhistas de 1996 não conseguiu repor a
188

Não consegui confirmar a veracidade dessa informação por meio das fontes de pesquisa. Entretanto, entre
alguns que participaram da greve de 1997, a lembrança é de que os manifestantes também foram demitidos.

212

inflação aos salários, isto sem falar na reposição das perdas dos “planos” anteriores.
Até a reposição parcial da inflação passada vem adotando a forma de uma esmola (o
chamado “abono”) não incorporada ao salário e instável por natureza: “uma nova
tendência está se firmando nos acordos trabalhistas: a negociação de abonos no lugar
de reajustes salariais baseados na inflação. Nos últimos cinco meses, as negociações
de quatro categorias importantes – petroleiros, bancários, bebidas e metalúrgicos
envolveram ofertas de abono. Em todos os casos, o abono foi proposto como
substituto ao aumento salarial ou como complemento a reajustes menores que a
inflação dos últimos 12 meses” (Folha de São Paulo, 10/11/1996 apud
COGGIOLA, 1997, p. 78)

Tal política salarial gerou perdas significativas no poder aquisitivo da categoria
levando-a à situação de pobreza. Muitos estavam residindo em vilas nas periferias de Maceió,
adquiriram dívidas por inadimplência e só não passaram por necessidades alimentares graças
à conquista do vale alimentação na década de 1980.
Em meio a essas negociações salariais, Paulo Machado de Carvalho continuou sendo
acusado pelo Sindicato por desorganização administrativa, apuração pela metade de
irregularidades e processos arbitrários de demissão. Defensor da ideia de que os Correios não
seriam privatizados, Paulo Machado sofreu fortes críticas nos atos públicos realizados pelo
SINTECT-AL em 23 de junho189 e 07 de julho de 2001, no Centro de Maceió, contra a
privatização.
Enquanto as ações prosseguiam nos estados, na tarde do dia 22 de agosto de 2001,
apesar de cerca de 280 trabalhadores dos Correios terem invadido a sala onde estava reunida a
Comissão de Ciência e Tecnologia, no Congresso Nacional, não conseguiram impedir a
aprovação do Projeto de Lei 1491/99. Alagoas esteve representada na invasão pelos líderes
sindicais Benedito Nazário, Gilberto Macena e José Cícero Cavalcante Pereira (Gazeta
Ecetista, edição de 24 de agosto de 2001).
Após a aprovação na Comissão de Ciência e Tecnologia, o Projeto de Lei foi
encaminhado para a Comissão de Trabalho da Câmara dos Deputados e teve como relator o
deputado Freire Jr. (PMDB-TO) (Jornal da Fentect, edição especial, 2001). Em Alagoas, a
campanha teve prosseguimento no interior quando as lideranças sindicais realizaram ato
público no Centro de Arapiraca, em 27 de agosto de 2001 e colheram 553 assinaturas contra o
Projeto da Nova Lei Postal (Gazeta Ecetista, edição de 30 de agosto de 2001).

189

No ato público do dia 23 de junho de 2001 foram recolhidas 445 assinaturas contra o Projeto de Lei 1491/99.

213

Em meio ao avanço desse Projeto de Lei, os Correios variavam o quantitativo de
carteiros efetivos em seus quadros de acordo com o tempo de serviço desses profissionais na
estatal. O quadro a seguir esboça bem essas variações:

Quadro 20 - Número de Carteiros e Tempo de Serviço nos Correios.
Tempo de Serviço

Número de Carteiros

Percentual

Até 5 anos

19.255

50,78%

De 6 a 10 anos

5.434

14,33%

De 11 a 20 anos

8.288

21,85%

De 21 a 30 anos

4.851

12,81%

Mais de 30 anos

86

0,23%

Total

37.914

100%

Fonte: Jornal Correios do Brasil, nº 32, janeiro e fevereiro de 2001.

Se comparado os dois primeiros casos, verifica-se que 65% dos carteiros não possuíam
10 anos de serviço, o que significa rotatividade da mão de obra e um menor custo para a ECT
já que esses trabalhadores perderam vários benefícios por força de acordos coletivos
rebaixados entre 1995 e 2002, nos governos FHC. Anuênios, gratificações de férias,
parcelamento das antecipações de férias e do 13º salário são algumas das vantagens que
deixaram de ser concedidas aos ecetistas. Quanto ao lucro da ECT, foi alvo de indagação do
SINTECT-AL.

E para onde, afinal, se destina o lucro da ECT tão alardeado no superávit dos últimos
exercícios? Certamente não é destinado apenas para privilegiar seus administradores
nos trenzinhos da alegria. Com certeza tem sido direcionado para o governo federal
bancar inúmeras falcatruas nos bastidores do poder. Além é claro de sustentar os
juros intermináveis da dívida externa brasileira junto ao FMI (Gazeta Ecetista,
edição de 14 de setembro de 2001).

Analisando o número de trabalhadores a disposição dos Correios entre 1995 e 2000,
percebe-se o alto quantitativo de estagiários, autônomos, adolescentes e terceirizados
envolvidos com os serviços postais no Brasil. Vários destes exerciam atividades fins em
discordância com a legislação vigente, a exemplo da Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT).

214

Quadro 21 - Quantitativo de Trabalhadores nos Correios entre 1995 e 2000.
Ano

Efetivos

1995

79.779

Estagiários, autônomos,
adolescentes e terceirizados
14.861

1996

78.879

20.254

1997

80.622

20.342

1998

82.598

19.798

1999

82.253

21.375

2000

82.426

26.498

Fonte: Jornal O Mensageiro – Sintect-RS apud Gazeta Ecetista, edição de 14 de setembro de 2001.

Com a precarização do trabalho, característica encontrada no neoliberalismo, os
adolescentes foram amplamente utilizados no período para a execução das atividades de
carteiros, recebendo salários inferiores e talvez sem qualquer garantia trabalhista 190. Em
oposição a esta prática, o SINTECT-AL impetrou denúncia na Procuradoria Regional do
Trabalho contra os Correios de Alagoas por adolescentes advindos da Associação do
Movimento de Amparo à Infância (AMAI) através de convênio com a ECT, estarem
exercendo ilegalmente as funções de carteiro. A denúncia do Sindicato foi considerada
procedente e a ECT foi proibida de continuar explorando essa mão de obra.
Quanto a Paulo Machado, após uma gestão conturbada, com diversas demissões de
trabalhadores, algumas greves, forte ataque das lideranças sindicais e em meio a uma série de
denúncias por supostas irregularidades, em novembro de 2001, foi exonerado da função.
Ainda em 2002, o SINTECT-AL continuava especulando sobre sua saída alegando má gestão.

Ainda é sigiloso. Mas, informações extra-oficiais, indicam que o resultado das
investigações de Brasília sobre irregularidades na DR/AL pode culminar na
demissão do ex-diretor Paulo Machado e atingir praticamente toda sua coordenação.
Paulo Machado está sendo investigado por uma série de denúncias. O Sintect-AL fez
denúncias na Procuradoria Geral da República sobre possíveis irregularidades na
reforma da garagem, e na Procuradoria Regional do Trabalho sobre contratações
irregulares de estagiários por indicação política. Outras denúncias, levadas até rádios
de Maceió, partiram de um vereador de Rio Largo, o Dadá. Paulo Machado teria
cometido várias ilegalidades em licitações para serviços e obras de engenharia.
190

Não foi possível obter qualquer informação oficial sobre os direitos assegurados para esses menores
“estagiários”. Entretanto, o Jornal de Hoje, edição de 26 de novembro de 1995, p. A4, dava publicidade a
denúncia do SINTECT-AL e afirmava que segundo o presidente do Sindicato, José Cícero Cavalcante Pereira, os
menores estavam recebendo salário mínimo, trabalhando 08 horas diárias, as vezes ultrapassando o horário, não
tinham direito a ticket alimentação, nem qualquer outro direito social. A denúncia continuava dizendo que os
menores iniciavam a jornada as 07 horas e largavam as 17 horas sem tempo para o estudo e que alguns chegaram
a desmaiar com tanto trabalho.

215

Segundo as denúncias, a grande maioria das licitações teria sido vencida por uma
mesma empresa. As licitações são referentes a reforma de agências no interior e na
capital (Gazeta Ecetista, edição de 15 de março de 2002).

Com a exoneração de Paulo Machado, assumiu em caráter de intervenção, o diretor
regional da ECT na Bahia, Alceu Rech, ligado ao PSDB. Embora tenha deixado a função de
confiança, o SINTECT-AL insistia em lembrar de Paulo Machado em seus boletins
informativos.

Se há culpados, que eles paguem. A posição da categoria, referendada por seu
sindicato, em relação às denúncias de irregularidades com o dinheiro público
envolvendo a diretoria anterior da ECT em Alagoas, foi levada de forma clara aos
representantes do Ministério Público Federal em Alagoas. O presidente do sindicato,
Benedito Nazário, o vice, Manoel Cantoara, e o diretor James Magalhães,
acompanhados do assessor jurídico da entidade, Eli Gessé, participaram de uma
reunião na semana passada no MP Federal e cobraram transparência no andamento
dos processos investigativos (Gazeta Ecetista, edição de 18 de abril de 2002).

Os Correios confirmaram as apurações sobre as supostas irregularidades do ex-diretor.

Em um documento oficial (CI/DAUDI-02.0010.0375/2002), a direção nacional da
ECT, atendendo solicitação do Sintect-AL, confirmou que foi instaurada por meio
da PRT/PR-321/2001 uma sindicância para apurar “indícios de irregularidades na
DR/AL, apontadas pela Secretaria Federal de Controle e supostamente praticadas
pelo ex-diretor regional de Alagoas, Paulo Machado.” (Gazeta Ecetista, edição de
10 de maio de 2002).

Fato é que, até esta data (março de 2016), Paulo Machado continua no quadro de
funcionários da ECT sem qualquer função de relevância na administração postal, sem que
tenha se dado qualquer outra publicidade sobre as acusações ou investigações por ele sofrida.
Quanto à Nova Lei Postal, até o último dia do governo FHC, o Projeto de Lei 1491/99
não retornou mais a qualquer processo de votação no Congresso Nacional. Com a ascensão de
Lula à Presidência da República, o projeto foi retirado do Congresso e os Correios
continuaram Empresa Pública de Direito Privado com 100% do capital pertencente à União,
conforme estabelecido no Decreto 509/69 e na Lei 6538/78.
Fato é que embora o movimento sindical ecetista nacional tenha realizado um grande
esforço ao longo dos dois governos de Fernando Henrique Cardoso para fazer vingar a tese de
que os Correios seriam privatizados, o que se percebe é que toda a movimentação do governo
federal se deu, a princípio, em aprovar o Projeto de Lei 1491/99, a fim de flexibilizar os

216

serviços da estatal para a iniciativa privada legitimando o processo de terceirização, a criação
de subsidiárias, as alterações nas relações de trabalho e mudança de sua razão social para
Sociedade Anônima. Para muitos, essas questões incidem em privatização. Para outros, não,
pelo menos no sentido tradicional de privatização, a exemplo do que ocorreu com diversas
estatais desde o governo Collor, quando foram diretamente a leilão para suas vendas e
desestatização. Quiçá, não se tenha inaugurado na ECT uma outra forma de se tentar
privatizar.
Atualmente os Correios contam em seus quadros com mais de cento e vinte e cinco
mil funcionários. Esta história é dedicada a eles.

217

5 CONCLUSÃO

Ao longo dos últimos trinta anos, o movimento sindical dos Correios se deparou com
importantes desafios. Para superá-los, as lideranças sindicais ecetistas teceram uma série de
críticas ao governo federal, a título de supostos instrumentos de defesa ou de oposição política
alinhada à CUT e ao Partido dos Trabalhadores.
Esta dissertação demonstrou historicamente a luta da categoria dos Correios a partir
das primeiras décadas da República brasileira; a influência militar na administração postal e
sua continuidade, na década de 1990, através dos cargos civis da administração na estatal.
Surgida em 1985, a ASCOR, pelas suas lideranças, protagonizou em meio as ações
dos movimentos sociais uma forte oposição ao governo Sarney. Numa conjuntura de
importante clamor pela democracia, pelos direitos trabalhistas, a organização de classe
ecetista surgiu com a proposta de dar voz aos trabalhadores dos Correios em Alagoas.
Em seguida, com o advento do neoliberalismo, em função da chegada de Fernando
Collor de Mello (1990-1992) à Presidência da República e seu continuísmo nos dois governos
de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003), resquícios da administração dos Correios
pautada na caserna contribuíram sobremaneira para fragilizar e manter sob controle os
ímpetos do movimento sindical ecetista. Tanto que, somente com a ascensão de Luiz Inácio
Lula da Silva à Presidência da República (2003-2011), os trabalhadores dos Correios voltaram
ao movimento paredista.
Como já dito, durante a República Velha os militares já se faziam presentes nos
Correios, entretanto, foi entre o governo Vargas (1930 a 1945) e o regime ditatorial pós 1964,
que os militares assumiram o controle das instâncias mais importantes da administração dos
Correios e cuidaram para que fosse consolidado, com a criação da Escola Superior de
Administração Postal, em 1978, um modelo administrativo especificamente voltado para a
rígida disciplina, hierarquia e mérito que pautaram ao longo de vários governos as relações de
trabalho na estatal.
Entretanto, no mesmo governo Vargas, mais precisamente em 1934, na então capital
federal (Rio de Janeiro), São Paulo e outros poucos estados, a categoria dos Correios,
desprovida de qualquer entidade sindical organizada, pela primeira vez se voltou contra o
governo e reivindicou melhoria salarial. Outro movimento paredista desprovido de instituição

218

organizadora da categoria ecetista voltou a ocorrer apenas em 1979, também motivado por
questões econômicas e pelo direito de uma organização de classe na estatal.
Antes disso, sob o argumento de reestruturar, modernizar e, principalmente,
flexibilizar191 as relações de trabalho nos Correios, em 1969, o Departamento de Correios e
Telégrafos foi extinto passando a atividade postal a ser executada pela Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos.
Nesta perspectiva de tornar os Correios rentáveis, seu projeto de modernização acabou
sendo implantado em desacordo com a política salarial que, deficitária, levou a vários
protestos na década de 1980. Contudo, o arrocho salarial e a repressão ao sindicalismo para
evitar as pressões salariais serviu de combustível para motivar as lideranças da estatal a
incentivar a organização dos ecetistas contra os problemas econômicos que assolavam o país
naquele período.
Em resposta, as administrações na ECT introduziram um novo modo de
relacionamento, ignorando os ideais democráticos para percorrer o caminho do
desenvolvimento econômico pelo autoritarismo político-administrativo. Para isso, as missões
francesas impuseram um novo processo de trabalho através de documentos e da fiscalização
das atividades laborais com as devidas punições em caso de descumprimento. Portanto,
conceitos de concepção e execução foram aplicados pelas missões francesas enquanto parte
da organização racional do trabalho no correio brasileiro.
Em 1985, a organização de classe ecetista compôs, juntamente com os trabalhadores
da iniciativa privada, o núcleo duro da oposição ao governo federal. Essa oposição era
resultado da tendência existente no final dos anos de 1970, referente à combinação de leis
restritivas à liberdade sindical, militância comunista nas fábricas e o reforço de intelectuais
advindos do PT que influenciaram as principais lideranças de trabalhadores nos Correios.
Entretanto, sem desconsiderar outros fatores relevantes aqui apontados, é inegável que
o movimento de classe nos Correios teve como grande elemento propulsor de sua organização
sindical, o modelo administrativo inspirado pelos militares e as questões econômicas do
período em análise. Sem qualquer intensão determinista, pode-se afirmar que devido ao
excessivo rigor disciplinar, à má política salarial e às críticas às medidas econômicas nos
191

Entenda-se a flexibilização nos Correios como a passagem de seus funcionários da categoria de servidores
públicos para a de empregados públicos regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho dando a ECT o direito
de demitir sem justa causa de seus quadros qualquer trabalhador que não mais lhe interessasse.

219

governos Sarney, Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, as lideranças sindicais
ecetistas encontraram terreno fértil para a organização de classe na ECT.
Contudo, em 1990, após assumir a Presidência da República, Fernando Collor de
Mello iniciou um ataque frontal aos trabalhadores dos Correios. Com um forte controle sob
salários, investimentos e contratações, aprofundou o processo de sucateamento da estatal e a
crescente insatisfação dos ecetistas.
Em junho do mesmo ano, com seis meses de governo, o ministro da Infraestrutura,
Ozires Silva, determinou a demissão de funcionários dos Correios em todo o Brasil – Alagoas
teve 27 trabalhadores demitidos sem justa causa. De modo geral, Collor em seu governo
planejou a redução do papel do Estado com a desregulamentação da economia, o corte nas
despesas públicas e sociais, a importação de tecnologia, privatização de estatais, além da
supressão de direitos e demissão em massa de servidores e empregados públicos.
Os Correios aproveitaram a conjuntura de privatização e demissão de servidores e
empregados públicos para intensificar suas práticas abusivas contra os trabalhadores e sua
organização de classe. Em reação à onda demissionária, o movimento sindical brasileiro,
antecipando-se aos escândalos de 1992, empunhou a bandeira do “Fora Collor!”. Atos
públicos com essas palavras foram realizados em dezembro de 1991 e continuaram até o
impeachment de Collor da Presidência da República (SILVA, 2008).
Por fim, sucatear as instituições para justificar sua entrega para a iniciativa privada era
ação rotineira nos dois governos de Fernando Henrique Cardoso. Assim como na saúde e na
educação, os Correios também passaram, ao longo dos oito anos de mandato de FHC, em
completo processo de sucateamento e de precarização das atividades fins para, supostamente,
obter o apoio da opinião pública em seu processo de entrega para o setor privado.
FHC, de maneira incisiva e sistematizada, pôs em prática os princípios neoliberais no
país com o apoio de partidos aliados e, principalmente, com o aval do Partido da Social
Democracia Brasileira (PSDB). Além do mais, aceitar as imposições do Banco Mundial e do
Fundo Monetário Internacional (FMI) significou patrocinar uma política amplamente
excludente no campo social. Sob a lógica do Estado mínimo, FHC deu continuidade e
ampliou o neoliberalismo iniciado no governo Collor, proporcionando um projeto de
privatização que abarcou milhares de trabalhadores e os submeteu a uma relação de trabalho
precarizada sob o controle do capital.

220

Nos Correios, um conflito direto com o movimento sindical se estabeleceu a partir de
1995 com reflexos na dinâmica operacional dos sindicatos ecetistas. Sobretudo com a
diminuição das ações grevistas entre 1997 e 2002 devido a ação enérgica e desmobilizadora
do governo federal pela força das demissões para enfraquecer a ação sindical na estatal. Como
resultado, as consequências do enrijecimento do governo federal culminaram com a demissão
de aproximadamente dois mil trabalhadores em todo o Brasil após a greve de 1997 e o corte
do ponto de trabalho (15 dias) para os grevistas que permaneceram nos quadros de
funcionários da ECT. Além destes, a política de baixos salários, o medo constante de novas
demissões e o Projeto de Lei Postal, que supostamente abriria caminho para a privatização da
empresa, deram o tom do refluxo quanto às paralisações.
O propalado propósito do governo federal de “privatizar” a ECT foi denunciado diversas
vezes pelos sindicatos ecetistas durante toda a década de 1990. Em Alagoas, o SINTECT-AL,
a partir de 1997, intensificou o debate contra a “privatização” dos Correios com ações locais
nos bairros da capital e interior do estado a fim de obter o apoio da opinião pública e
reafirmar sua oposição ao governo de FHC.
Além da preocupação com a “privatização” dos Correios, havia também uma
preocupação com a manutenção do monopólio postal. Até porque, a privatização, a quebra do
monopólio e o mercado postal interessavam à iniciativa privada. Entretanto, até o último dia
do governo FHC, o Projeto de Lei 1491/99 não retornou mais a qualquer processo de votação
no Congresso Nacional e, com a ascensão de Lula à Presidência da República, o projeto foi
retirado do Congresso mantendo os Correios empresa pública de direito privado com 100% do
capital pertencente à União, conforme estabelecido no Decreto 509/69 e na Lei 6538/78.
Quanto ao movimento sindical, este continuou sua jornada e, ao contrário do que muitos
pensavam, novos e velhos dilemas continuaram sendo enfrentados apesar da ascensão do PT à
Presidência da República. Logo, reconhecer a história, a identidade e as ações coletivas dos
trabalhadores dos Correios, distancia o paradigma da vitimização, da categoria facilmente
manipulável desprovida de necessidades que norteiam sua trajetória sindical.

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ANEXOS

237

ANEXO A – Ata de Fundação da ASCOR

Ata de Assembleia Geral para Fundação da ASCOR, realizada no dia 19 de abril de 1985; p. 01

238

Ata de Assembleia Geral para Fundação da ASCOR, realizada no dia 19 de abril de 1985; p. 02

239

Ata de Assembleia Geral para Fundação da ASCOR, realizada no dia 19 de abril de 1985; p. 03

240

Ata de Assembleia Geral para Fundação da ASCOR, realizada no dia 19 de abril de 1985; p. 04

241

Ata de Assembleia Geral para Fundação da ASCOR, realizada no dia 19 de abril de 1985; p. 05

242

ANEXO B – Carta de Demissão

Carta comunicando a demissão de José Inácio Aguiar (após movimento contra os Correios) – Maceió, 21 de
outubro de 1985.

243

ANEXO C – Capa de Boletim Informativo da ASCOR

Informativo ASCOR – Boletim dos Ecetistas de Alagoas - março de 1987, p. 01

244

ANEXO D – Capa do Boletim Informativo SINTECT-AL

Informativo SINTECT-AL – Boletim dos Ecetistas de Alagoas – Novembro e Dezembro de 1988 & Janeiro de
1989, p. 01.

245

ANEXO E – Manifestação contra a Privatização dos Correios (década de 1990)

Fonte: autor desconhecido – Arquivo do Sintect-AL

Fonte: autor desconhecido – Arquivo do Sintect-AL

246

ANEXO F – Intervenção da Polícia Militar em Greve dos Correios (década de 1990)

Fonte: autor desconhecido – Arquivo do Sintect-AL

Fonte: autor desconhecido – Arquivo do Sintect-AL

247

ANEXO G – Assembleia Geral dos Trabalhadores dos Correios no SINDPETRO – 1997

Fonte: autor desconhecido – Arquivo do Sintect-AL

Fonte: autor desconhecido – Arquivo do Sintect-AL

248

Anexo H – Greve dos Correios em Alagoas – 1997

Fonte: autor desconhecido – Arquivo do Sintect-AL

Fonte: autor desconhecido – Arquivo do Sintect-AL

249

ANEXO I – Antiga Sede do Sintect-AL, localizada na Rua Ceará – Prado (década de 1990)

Fonte: autor desconhecido – Arquivo do Sintect-AL

Posse de Delegados Sindicais nos anos 2000 – Interior da Sede do Sintect-AL

Foto: Roberval S. da Silva – Arquivo do Sintect-AL