Entrevista: professor do COS fala sobre comunicação e Copa do Mundo
José Guibson Dantas fala sobre seu artigo publicado no livro "Comunicação e Esporte: Copa do Mundo 2014”
- Atualizado em
por Tatyane Barbosa
Estudante de Jornalismo
O professor da Universidade Federal de Alagoas José Guibson Dantas é um dos autores do livro “Comunicação e Esporte: Copa do Mundo 2014”. Recentemente lançado em maio, na cidade São Paulo, a obra foi organizada por Ary José Rocco e traz uma coletânea de artigos sobre um dos maiores eventos esportivos do globo. Dividido em três partes – A Memória, A Prática e o Legado – procura trabalhar o resgate histórico, a reflexão atual e a projeção do futuro das relações existentes entre a Comunicação e o Esporte. Em entrevista à Assessoria de Comunicação (Ascom) do COS, José Guibson falou sobre a publicação e o tema. Dantas abre a primeira parte do livro com seu artigo, “Espetáculo para além das quatro linhas: as interfaces entre, futebol, propaganda e autoritarismo nas copas do mundo de 34 e 78”. É o único texto produzido fora do Sudeste.
Ascom-COS - Na primeira parte, denominada Memória, do livro “Comunicação e Esporte: Copa do Mundo 2014”, observa-se elementos para compreender a história. Sendo contada através da Copa do Mundo de 1934 na Itália e a 1978, na Argentina, onde prevalecia regimes ditatoriais. Qual foi a forma encontrada pelos governantes para conquistar toda a massa nessa época?
José Guibson Dantas - Há diferenças na forma como esses regimes exploraram a Copa do Mundo com o fim de difundir suas ideologias e lograr um controle social. Entretanto, podemos afirmar que em qualquer regime político os meios de comunicação de massa tem um papel fundamental nesse processo. Por exemplo: na Copa da Itália, em 1934, o cinema e o rádio foram os instrumentos de difusão mais utilizados por Mussolini - que era um ótimo orador. Já na Argentina, em 1978, o governo militar aproveitou a ocasião para inaugurar a televisão em cores no país para cooptar a simpatia da parte da população mais desavisada e encobrir as violações dos direitos humanos no país.
Qual conexão pode ser feita com a Copa do Mundo que será sediada no Brasil?
JGD - Não podemos comparar Copas organizadas por regimes ditatoriais, como é o caso de 34 e 78, com o Governo Dilma, pois a Copa do Mundo de 2014 acontecerá em meio a um regime democrático. Porém, creio que toda Copa do Mundo possui um víeis propagandístico de quem a organiza. Na Copa de 2010, por exemplo, eram visíveis os esforços do governo sul-africano em difundir uma imagem de democracia racial com o intuito de demonstrar que o período do apartheid tinha sido definitivamente superado. Já na Copa de 1974, na Alemanha, foi a vez do governo da Alemanha Ocidental tentar mostrar ao mundo que os problemas de segurança vistos na Olimpíada de 1972 já haviam sido resolvidos.
Porque o governo não está preocupado em atender as reivindicações das manifestações populares contrárias a Copa no país? O que o preocupa mais?
JGD - O Governo firmou compromissos com a FIFA e não pode mais descumpri-los. Infelizmente, para nós brasileiros, o mundial não deixará nenhum legado em termos de infraestrutura e melhora na qualidade de vida da população.
Quais os reais objetivos do governo brasileiro?
JGD - Penso que o governo quer utilizar a Copa do Mundo - como também as Olimpíadas - para projetar a imagem do Brasil no exterior. Vale lembrar que o Brasil pleiteia um assento permanente na ONU e ambas as competições podem ser utilizados como demonstração da capacidade do Brasil em acolher povos de todo o mundo e gerir suas diferenças.
O senhor acredita que se houver uma vitória brasileira na Copa do Mundo, o atual governo terá êxito em uma reeleição?
JGD - Creio que uma vitória brasileira na Copa amenizará as contestações em relação ao dinheiro gasto na organização do torneio, o que beneficiará a candidatura do PT. Caso o Brasil perca a competição, a insatisfação social aumentará, gerando protestos violentos, com feridos e possíveis excessos da polícia. Isso certamente afetaria o desempenho do PT nas urnas. Estou convicto de que a Copa do Mundo de 2014 é uma peça chave para as pretensões políticas do PT nas eleições presidenciais deste ano.
Serviço:
O livro, publicado no formato e-book, pode ser baixado gratuitamente. Para baixar o arquivo com a obra, basta clicar na imagem abaixo: