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Universidade Federal de Alagoas - UFAL
 

03/06/2008
Comportamento
SOCIEDADE DIGITAL

A interação do homem com a Internet. Como esse meio universal vem interferindo na natureza e no perfil das relações interpessoais

Por Isaac Moraes

O homem moderno é ávido por rapidez e dinamicidade, características fortes e dominantes na atual era pela qual passa a humanidade. Naturalmente, quando se trata da informação e da diversão ele buscará o meio que pode lhe proporcionar tais privilégios de forma mais confortável e objetiva, um desses meios é a Internet.

O mundo hoje é controlado por computadores. A digitalização tomou conta das vidas, propondo, ou às vezes impondo, mudanças radicais. Até parece ser obrigado seguir a onda da informação instantânea, rápida e voraz, da simplificação das tarefas e da transposição de limites que muitas vezes pergunta-se ser realmente necessário superá-los.

A Internet, com sua capacidade de interação e exclusão caminhando juntas, veio para reunir diversas tarefas em um só lugar. Hoje se pode conversar, ouvir música, digitar a monografia, bisbilhotar a vida alheia e visitar o Louvre apreciando com detalhes suas obras sem sair do lugar. Essa dimensão e possibilidade de ações assustam e fascinam.

Estudos comprovam que os brasileiros ficam conectados por dia à Internet 23 horas e 62 minutos cada um. Resta saber como dividem essas horas, para que e qual a qualidade social e cultural dessa conexão. Desde o ano passado, o acesso à Internet cresceu 43%, e hoje são 30 milhões de brasileiros com acesso a ela através de computador doméstico. Levando em consideração os que não possuem computador, mas acessam através de lan houses e cyber cafés, esse número triplica.

Para a enfermeira Ana Lucia Ferreira, avó de Beatriz Ferreira de 7 anos e que já sabe desenhar e escrever no computador, toda escola deveria oferecer computadores e iniciar as crianças no mundo da informática desde cedo, como também o acesso à Internet. “Facilitaria o aprendizado, não só para fazer os trabalhos como também para a socialização das crianças, inserindo-as em um mundo onde, sem o acesso e a vivência com a tecnologia, elas não terão espaço” afirma.

Por outro lado existem os solitários da Web. São aqueles usuários que não conseguem absorver e digerir a noção de tempo e espaço quando estão em contato com todo um mundo num mesmo momento, tantas possibilidades de realizações e um universo digital inteiro ao seu dispor. A vida real perde todo sentido e valor quando se pode construir uma realidade inteiramente nova e da forma que lhes convier. Afinal, você é apenas mais um endereço IP, mais uma máquina a interagir com outras milhares, um amontoado de bites e de conexões que pensa, pergunta, responde e age da forma que quiser, protegido muitas vezes pelo anonimato.

AMIZADE VIRTUAL – Os solitários da Web perdem todo e qualquer interesse pelo contato com o mundo real e que lhes está acessível. Retraem-se e dedicam todas as suas horas ao uso do computador. Os amigos se resumem a um número vasto de pessoas virtuais a preencher as listas de sites de relacionamento e de serviços de mensagens instantâneas. A psicóloga Camila Alves explica melhor esse comportamento: “Não poderia se afirmar que o indivíduo ao utilizar a Internet realiza introspecção, pode-se sim, dizer que é a falta de introspecção, pois se vive em um mundo de fantasias, onde não se entra em contato consigo mesmo, ele vive no mundo em que fantasia”. Camila cita como exemplo os jogos em rede, onde os jogadores morrem na vida real, mas ainda estão vivos virtualmente. “Ainda estão vivos na vida real, porém essa sensação obtida através do virtual muitas vezes vem pelo sentimento real do fracasso e impotência, onde então traz esses sentimentos para seus relacionamentos reais, não discernindo o que é real do que é fantasia”, afirma.

A facilidade com que se encontra o que se quer e as informações que se deseja é um dos atrativos mais fortes da Internet. A barreira geográfica foi ultrapassada e o telefone perdeu seu cargo chefe de meio rápido e objetivo. Na Internet podemos ter conhecimento das notícias segundos depois de ocorridas. Para o administrador de empresas Clayton Nazareth, a possibilidade de cultura e de conhecimento é vasta. “Bem, a internet é uma forma de diversão cultural no meu caso, amo ter a possibilidade de me ver em vários mundos diferentes ao mesmo tempo, sem ter que sair de casa, realizar pesquisas, sejam elas as mais absurdas possíveis, sobre os mais diversos prismas, sem ter que obrigatoriamente ir atrás de inúmeras pessoas”, afirma.

O grande e vasto campo de atuação dos serviços da Internet possibilita realizações e grandes êxitos para a sociedade. A dicotomia que existe em relação a sua expansão e a forma que está sendo utilizada não impede a grande demanda por computadores, por cursos de informática e o surgimento desordenado de jogos e programas de computador. Através da internet se faz arte, publicidade, jornalismo, literatura, vendas, compras, namora-se e viaja-se o mundo inteiro. Entretanto, o uso desenfreado pode causar sérios danos físicos, psicológicos, mudanças radicais de comportamento nocivas à saúde e expansão de uma cultura da não-escrita, da facilitação dos estudos diminuindo o contato dos estudantes com os livros e aumentando a futilidade e narcisismos exagerados.

O veterinário Carlos Eduardo Penfold diz manter uma relação grande com a Internet a ponto de não conhecer todos com os quais se relaciona. Afirma que sua relação com a Internet é bem intensa e a usa todos os dias. Não conhece todos com os quais mantém contato, ficando cerca de 3 a 4 horas por dia conectado, além das conversas utiliza também o serviço para se manter atualizado de notícias novas a cada instante do dia e visitar sites sobre os assuntos que gosta.

O crescimento das lan-houses nas comunidades pobres tem aumentado a inclusão digital. Porém não se tem feito um estudo a cerca da qualidade cultural dessas conexões e sobre as necessidades tecnológicas dessas pessoas. É mais uma vez a Internet como uma “faca de dois gumes”, sem nem mesmo uma legislação própria que reja e dê segurança a seus usuários. O mesmo meio que possibilita transpor limites se encarrega muitas vezes de também cerceá-los. Cabe a toda sociedade a perspicácia e a capacidade de percebê-los bons ou nocivos.

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