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Universidade Federal de Alagoas - UFAL
 

28/05/2008
Opinião
Liberou geral!! Quer dizer, mais ou menos

Crônica: João Paulo da Silva

Por João Paulo da Silva

Há alguns dias, uma notícia me tomou a atenção de assalto. Sim, porque em tempos de capitalismo decadente até mesmo as notícias estão assaltando. Mas não era exatamente sobre isso que eu ia falar. Você, caro leitor ou leitora, a esta altura do campeonato já deve saber que a Holanda vai liberar sexo em praças públicas a partir de julho.

A decisão levantou polêmicas y otras cositas más. Os mais conservadores acham um exagero, safadeza e coisa e tal. Dizem que lugar de sexo é entre quatro paredes. “Parque não é motel, caramba! Olha as crianças aí, pô!”. Mas tem gente achando a medida bastante progressista. “Deve ser tão excitante, uma delícia! Ai que loucura!” – argumentou minha vó, de 63 anos, suspirando e revirando os olhos.

Deixemos de lado, só por um momento, as polêmicas. O que o parlamento holandês acaba de fazer nada mais é do que liberar algo que já existia. Ora, as pessoas sempre fizeram sexo em lugares públicos. A diferença é que antes era proibido. Mas agora liberou geral. Quer dizer, mais ou menos. Há algumas restrições para se realizar o ato em praças públicas.

A polícia holandesa diz que não será permitido fazer sexo à luz do dia, só quando escurecer. Parece que o velho tabu de só fazer com a luz apagada ainda persiste. As camisinhas e acessórios do tipo deverão ser jogados na lata do lixo. Até mesmo porque o Vaticano incluiu, recentemente, a poluição ambiental na lista de pecados mortais. Não será liberado sexo em praças que fiquem próximas a parques infantis. Há o risco das crianças holandesas sentirem vontade de fazer o mesmo. E aí já viu, né? Criança é fogo! Além disso, os casais também não poderão fazer barulho durante o ato. Ou seja, nada de gritos, gemidos, urros, grunhidos ou similares.

Não sei. Tenho a impressão de que essa liberação pela metade trará alguns inconvenientes. Ao que parece, essas regras só serão cumpridas se houver uma certa fiscalização. Fico imaginando as cenas.

Um policial se aproxima de uma pequena moita, onde um casal se encontra em frenética atividade.

- Com licença. Boa noite. O senhor está usando camisinha?

- Claro, seu guarda. Estamos prevenidos. – diz o rapaz.

- Hum... Muito bem. Gosto de ver assim. Então não se esqueçam de jogar a camisinha no lixo, hein?!

Ou então:

Um outro policial se aproxima de outro casal.

- Com licença. Desculpe interromper, mas...

- Algum problema, seu guarda?

- Bem, na verdade sim. O senhor e sua senhora poderiam... diminuir os gritos. Ou, quem sabe, gemer um pouco mais baixo. Não que eu me incomode, mas é que o casal atrás daquela árvore diz se sentir constrangido com os ruídos vindos daqui.

Bom, de todo modo, serão situações inconvenientes. E não tenho certeza se a humanidade está preparada para este grau de civilização. Mas mesmo assim não tenho nada contra o sexo ao ar livre. Acho até um avanço em nossas liberdades democráticas. Só que eu não teria coragem. Tenho vergonha de mostrar minha bunda em público. Além do mais, se por ventura eu fosse visto nu em algum parque holandês seria imediatamente preso. Provavelmente confundido com um animal silvestre. No caso, um urso.

Mas tenho a impressão de que a questão de fundo mesmo – sem trocadilhos, por favor! – é outra. O que teria levado a Holanda a liberar o sexo nas praças? Nas palavras do vereador Paul van Grieken, responsável por um distrito em Amsterdã: “Por que manter proibido algo que atualmente é impossível de controlar?” A liberação parece ser fruto de uma revolta silenciosa – vá lá, não tão silenciosa assim – organizada pelo povo holandês, possivelmente cansado de ter que gastar com motel. “Gozações” a parte, imagino que ainda existe muita gente em outros lugares do mundo torcendo o nariz para a Holanda. Entretanto, não importa o que digam ou o que façam. As hordas avançam sobre os pilares morais da civilização ocidental cristã. Que bom.