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Universidade Federal de Alagoas - UFAL
 

27/05/2008
Opinião
Apartheid Brasileiro

Artigo: Isaac Moraes

Por Isaac Moraes

A cultura, enquanto expressão genuína de uma civilização e dos atos desenvolvidos por uma nação, existe pelo território brasileiro nas mais diferentes formas, características e heterogenia, marcando a peculiaridade de cada povo e Estado, tornando o país rico não só de uma multiplicidade étnica, mas também de uma possibilidade infinita de conhecimento para seus habitantes tanto sobre seu próprio país como sobre o estrangeiro, devido às imigrações que foram responsáveis muitas vezes por uma influência direta e forte de costumes. No entanto, não se devem confundir a absorção de uma cultura imigrante e seus fatores positivos com a incorporação de conceitos distorcidos, práticas fascistas, preconceituosas contra culturas e sociedades diversas, usando como subsídio a idéia equivocada de superioridade que permeou a civilização imigrante em questão durante algum período da sua história.

No Brasil não existe pureza de raça, expressão que já carrega em si um forte sentido de exclusividade de um tipo de cor de pele superior sobre outro inferior como um apartheid étnico que faz com que uma pigmentação tenha um valor maior que outra. O que temos é uma mistura forte, uma contribuição sangüínea de todos os continentes e povos que desencadeou nessa forte miscigenação que se apresenta em nós. Logo, dada a essa presença múltipla de tantos povos em nosso DNA, não existe razão para atrocidades cometidas por intolerantes, ignorantes e grupos de fanáticos contra irmãos de sangue, raça e nação.

Cada vez mais surgem grupos neonazistas no sul do Brasil. Orientados pelo pensamento fascista de limpeza e predominação de uma raça pura sobre todas as outras que “mancham” com sua presença seu território e ameaçam a permanência de uma linhagem única, a ariana, esses grupos geralmente de jovens entendem que seja necessário proceder da mesma forma contra toda e qualquer diferença que se apresente na sua frente no dia-a-dia. Esse preconceito vai muito além do racial, que passa a dividir a lista de razões com o regional, de crença, sexual e de classe social.

A falta de limites, de uma postura mais firme do Estado e de base educacional e familiar sólida faz com que esses “Pequenos Hitlers” se identifiquem com um tipo de pensamento doentio de superioridade, passando como seus sombrios antepassados da teoria para prática. As cenas de violência contra gays, nordestinos, negros e mendigos repetem-se com freqüência, numa animalidade assustadora e revoltante. Os nazistas tupiniquins nem mesmo são capazes de lembrar que, nas suas condições de brasileiros miscigenados colonizados, são tão arianos quanto um negro carioca ou um indígena amazonense. São brasileiros, mas também cruéis dentro de suas organizações criminosas.

Diante de atos e pensamentos tão retrógrados e intolerantes, podemos perceber uma decadência moral, social e intelectual da sociedade, incapaz tanto de proteger e orientar suas crianças e seus jovens, informando e educando, como também incapaz de puni-los de forma justa quando crimes dessa gravidade são praticados. O sucateamento geral da justiça e da educação no Brasil, os desmandos da mídia que alimentam a cultura do preconceito, da violência, da competitividade, típicos de uma sociedade capitalista, são fatores iniciais para que surjam grupos com esse tipo de desvio em comum, capazes de desvalorizar a vida e perderem o total respeito à individualidade do outro.

Os responsáveis por cenas de preconceito, discriminação e violência devem ser punidos de acordo com a lei falha que temos. Mas devem ser punidos. As crianças precisam receber uma atenção especial, cultivando-se nelas valores que hoje são cada vez mais raros tais como respeito, companheirismo, solidariedade e igualdade. Uma grande campanha de conscientização deve ser feita já, e uma bandeira pela paz e pelo respeito deve ser levantada por todos, aliados a uma firme busca pela fraternidade e pelo respeito às diferenças, para que erros mundiais não sejam repetidos em proporções menores, mas iguais em crueldade em relação ao erro atual.