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Universidade Federal de Alagoas - UFAL
 

21/12/2007
Geral
FICÇÃO DE ELITE, REALIDADE PÚBLICA

Após polêmica no filme Tropa de Elite, o Batalhão de Operações Especiais ganha notoriedade na segurança pública em Alagoas

Por Myrna Vanderlei

Cenários de guerra, sons de terror, fotografias distorcidas pela violência, rostos de desespero, outros de satisfação. Dever cumprido? É isso que configura a realidade do filme dirigido por José Padilha, Tropa de Elite. Mas como vivem, como atuam e para que servem, de fato, os tão temidos “homens de preto”, o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), ou se preferir, a Tropa de Elite da Polícia Militar?

Lançado no dia 12 de outubro em Alagoas, o filme é uma obra de ficção quase real. As cenas revelam um treinamento exaustivo, humilhante, e um cotidiano degradante desses policiais. Mas é necessário estabelecer o limite entre as telas e as ruas das cidades de nosso Estado. Para o Comandante do Bope em Alagoas, Valdir Pereira de Lima, “É cinema, tem que ser sensacionalista”.

Focado numa realidade anterior a 1997, Tropa de Elite propiciou à sociedade um conhecimento sobre a funcionalidade dessa polícia, bem como, despertou o senso crítico em muitas pessoas a esse respeito, como é o caso do empresário Wagner, de São José da Laje: “A existência do Bope é essencial. Uma vez que são bem mais treinados que a polícia comum. Mas quando ultrapassa os limites, como no filme, intimida os cidadãos”. Já para Maria de Lourdes, líder comunitária, “A violência do Bope não traz segurança. Eles acham que têm mais poder do que de fato possuem”.

O filme despertou um misto de medo e admiração em toda a sociedade. Mas há muito que ser desmistificado. “Tiro pelas costas e tortura não se admite numa tropa de elite. Mesmo se todas as evidências depõem contra o suspeito. Nossa missão é prender e encaminhar para a delegacia, onde os procedimentos legais devem ser adotados”, afirma o major Jáirisson Correia, subcomandante da tropa alagoana.

O treinamento é, de fato, árduo e exige muito dos aspirantes a “caveiras” do Bope, como são chamados esses policiais. As origens dessa realidade remetem à década de 1920, em Xangai, quando um grupo de policiais foras treinados segundo táticas militares de guerra, a chamada Unidade de Reserva. Aqui no Brasil, na década de 1970, surgiu em São Paulo a primeira tropa de elite urbana, a Rota. Mas foi dos Estados Unidos que veio o exemplo de polícia especial. Com a Swat, outros grupos de operações especiais foram formados, o Gate, também em São Paulo e o Bope, no Rio de Janeiro.

MUITO ALÉM DOS LIMITES – Muitos afirmam que para se tornar caveira é necessário uma temporada no inferno. No treinamento o policial é exigido até o limite de sua força física e emocional, indo muito além do que é mostrado no filme. Outras unidades militares procuram o Bope para o aperfeiçoamento de suas técnicas. Além de vontade, é necessária aptidão física para passar no teste. Como se não bastasse tudo isso, o policial precisa ter no mínimo dois anos de policiamento ostensivo, passar pelo Estágio em Operações Especiais (Enoe) e ser aprovado numa avaliação de conduta comportamental.

Apesar dessas peculiaridades, o major Jáirisson insiste: “somos todos policiais de uma mesma corporação. Cada tropa tem sua importância. O diferencial do Bope são os treinamentos, os equipamentos e o espírito de corporação”. Ele acrescenta ainda que “a tropa é considerada o último recurso do comando-geral da Polícia Militar ou do Comando de Policiamento da Capital (CPC)”.

Além de armas e de técnicas operacionais, os policiais contam com cães bem treinados para atuarem conjuntamente em situações de risco, como rebeliões em presídios, por exemplo. De acordo com o subcomandante, a estrutura do Bope em Alagoas conta com 221 policiais e é bastante positiva, dentro do padrão nacional.

“Quando ninguém consegue resolver, chama o Bope”, essas palavras do capitão Nascimento, no filme, revelam o dia-dia da tropa. É essa a função do batalhão, resolver o problema. Para isso, se treina constantemente e cada policial deve manter seus cursos de especialização atualizados.

“Nosso policial tem que aprender que a roupa preta não é escudo. O que o faz sobreviver é o treinamento. O que faz o homem entrar na favela e voltar é a cautela e a obediência às regras e ao espírito de corpo”, conclui o major Jáirisson.

Como é mostrado em Tropa de Elite, essa situação mexe com muita gente, incluindo familiares e amigos de policiais. O convívio com o risco é constante e muito pouco se sabe sobre a humanidade que existe por trás da força física de cada componente da tropa de elite.

A sociedade divide suas opiniões quanto à importância e responsabilidade do Bope para a segurança pública do Estado. O caveirão, a roupa preta, a máscara, as armas pesadas, o treinamento massacrante, e o símbolo-chave, a caveira, podem sintetizar o motivo de tanta intimidação. Mas a marca do Bope de Alagoas, a águia, explica, por outro lado, a sua seriedade com a questão pública. Seu efetivo sabe que é preciso estar atento a todo tempo, sempre em alerta, de olhos abertos, pois a qualquer hora pode vir um chamamento, e todos devem estar preparados para atuar.

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