Ausência de profissionais disponíveis para a saúde dos idosos, espaço físico limitado, carência de visitas familiares regularmente e pouca variedade no que diz respeito às atividades recreativas diárias são fatores que estão sendo repensados pouco a pouco em alguns asilos de Maceió.
O Lar São Francisco de Assis, localizado no bairro da Serraria e dirigido por Maria José de Melo, tem 60 anos de existência e encontra praticamente as mesmas dificuldades do início de suas atividades. A equipe de profissionais composta de uma assistente social, um nutricionista, uma enfermeira e dois clínicos gerais, representa um número bastante reduzido num universo de 74 idosos para cuidar. Ana Paula Ferreira, assistente social do abrigo, queixa-se da carência de profissionais como psicólogo, terapeuta ocupacional e geriatra, o que dificulta uma maior assistência no quesito saúde.
O asilo São Francisco de Assis é uma instituição filantrópica que sobrevive, basicamente, de doações espontâneas. Ele conta com o patrocínio de empresas parceiras, como a Socôco e o Sesc, sendo o primeiro responsável pela doação recente de uma kombi e o segundo pelos bailes da terceira idade e também pelas atividades recreativas do asilo. Algumas outras fundações se responsabilizam pela doação de alimentos e de materiais de limpeza e higiene, mas a maior carência do abrigo é a falta de fraldas geriátricas e de materiais de primeiros socorros, além de medicamentos necessários para a saúde do idoso (tais como remédios para diabetes e hipertensão). O asilo necessita de uma melhoria na estrutura física para poder atender as exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), como a implantação de pisos antiderrapantes, rampas de acesso e corrimões para facilitar a locomoção dos idosos.
“Nós recebemos muitas pessoas com carências físicas, mas as principais carências são as emocionais”, declara Ana Paula a respeito do principal motivo para os idosos estarem ali. Segundo ela, existem três razões para a entrada de idosos no abrigo: a solidão, as dificuldades financeiras da família para assistir o idoso em casa e a exigência de cuidados especiais nos casos de saúde debilitada. O asilo São Francisco de Assis conta, por exemplo, com dezoito acamados, com idade entre 80 e 90 anos, que necessitam de constante acompanhamento por parte dos enfermeiros. Esses mesmos idosos recebem visitas quinzenais da família e, em alguns casos, é preciso que a equipe contate parentes para que venham visitá-los.
QUALIDADE DE VIDA – Numa realidade bem diferente, encontra-se a Casa para Velhice Luíza de Marilac, um abrigo composto somente de mulheres e fundado em 1958. A denominação “Casa” é adequada para o abrigo, já que o ambiente é caseiro e se assemelha a um lar de idosas. Para Tânia Crisley, coordenadora administrativa do abrigo, “é necessário envelhecer com qualidade de vida” e é em prol desse lema que o abrigo promove diariamente atividades que exercitam a criatividade e a inteligência dos idosos: passeios, músicas, jogos, desenhos e artesanato, todos coordenados por uma auxiliar de enfermagem contratada pela casa.
A instituição também é mantida por meio de doações voluntárias e, como tal, apresenta suas necessidades primordiais bem semelhantes as do Lar São Francisco de Assis. Entretanto, um grande diferencial da Casa Luíza de Marilac é a equipe de assistência médica disponível para as moradoras do abrigo: cardiologista, clínico-geral, educador físico, fisioterapeuta, geriatra, oftalmologista, psicólogo, entre outras especialidades. Para garantir essa assistência a instituição firmou convênio com a Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal) - só aí são sete especialidades -, com a Faculdade de Alagoas (FAL), com o Centro de Estudos Superiores de Maceió (Cesmac) e o Instituto Batista de Ensino Superior de Alagoas (Ibesa); contudo os exames que necessitam de urgência são pagos pelo próprio abrigo.
O asilo tem capacidade para cinqüenta mulheres, mas no momento existem somente 35 idosas pela falta de espaço, dentre estas há doze acamadas que, apesar da situação, não deixam de participar do passeio diário. Há um projeto de construção de suítes que está em andamento desde 2005, mas, por falta de verba, as obras estão paradas. No interior do abrigo, existe uma capela muito acolhedora, aonde se realizam as missas no terceiro domingo de cada mês. O espaço é bastante amplo, já que antes era um sítio da família Lopes, além da maior parte do piso ser horizontal e possuir rampas para facilitar o acesso aos usuários de cadeiras de roda.
A Casa para Velhice Luíza de Marilac organiza anualmente festas que já estão se tornando conhecidas e contando com a presença de mais de 500 pessoas: a festa da páscoa e do dia das mães (realizadas conjuntamente), a festa do idoso e a festa do Natal. É dessa forma que se percebem mudanças no quadro dos asilos (ou como são denominados atualmente, Instituições de Longa Permanência para Idosos (Ilpi) em Maceió, uma vez que hoje, alguns lares, como o Luíza de Marilac, oferecem diversas atividades prazerosas para os idosos, além de um ambiente amplo, sem riscos de quedas e dificuldades para locomoção. A maior prova disso é que alguns idosos optam por se dirigirem a um lar de idosos a fim de lá receberem cuidados e atenção, ao mesmo tempo em que convivem com um grupo de pessoas que enfrentam dificuldades parecidas com as suas, tal como se vê na Casa para Velhice Luíza de Marilac.