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Universidade Federal de Alagoas - UFAL
 

17/12/2007
arte
A CARAPUÇA SERVIU

Além de trabalhar o teatro empresarial (ou corporativo) com montagem de espetáculos, a maioria do grupo leciona na rede pública de ensino

Por Ábia Denise Marques Pinheiro de Lima

Do teatro visto nos livros de história até o teatro cada vez mais distante do público, quase peça de museu, esse que precisa se reinventar, se redescobrir para sobreviver e, porque não, para evoluir, surge uma associação de jovens para pesquisar e fazer uso desta arte milenar para se expressar – a Carapuça Cia. Teatral. Em certa medida, é na fala deles que teremos oportunidade de reconhecer o panorama da produção teatral em Alagoas, os novos caminhos e os velhos que, se não dão tão certo, ainda inflamam e inspiram uma galera.

A maioria dos profissionais de teatro conhece no ensino fundamental um professor de artes, começa a se envolver com pequenas montagens e pronto, se o envolvimento procede temos aí um novo ator em potencial, pronto para ser lapidado.

Em Alagoas, a Universidade Federal (Ufal) oferta dois cursos nesta área: o Curso Técnico Profissionalizante de Formação do Ator/Atriz e a Licenciatura em Teatro, além de uma especialização no ensino da arte. Isto permite ao ator uma preparação tanto para o palco, quanto para sala de aula.

A Carapuça Cia. Teatral, o grupo em questão, trabalha muito bem nessas duas frentes. É uma Associação de Estudo, Pesquisa e Prática em Artes Cênicas e tem como sócios artistas, professores de teatro e interessados em artes cênicas. Criada em 2002, no curso de licenciatura da Ufal, com o intuito de pôr em prática as teorias vistas em sala de aula, hoje o Carapuça trabalha com teatro empresarial (ou corporativo), com montagem de espetáculos e, em sua maioria, os membros lecionam na rede pública de ensino.

Pois bem, a utópica carreira de sucesso no tablado, por exemplo, não existe mais, e agora, o que fazer? “Não dá para ficar parado no tempo, as coisas estão acontecendo e todos nós temos que nos adaptarmos principalmente nós artistas, que temos uma sensibilidade maior”, sugere Roberta Aureliano, secretária do Carapuça.

A seguir, uma entrevista com David Farias, o fundador da companhia.

Ábia Marpin – Quem é a Carapuça?

David Farias – Eu, David Farias (presidente), Paula Quintino (tesoureira), Roberta Aureliano (1ª secretária), Analice Sousa (2ª secretária) e Renner Cavalcante (diretor de patrimônio) e outros sócios e colaboradores.

AM – Onde e como se conheceram?

DF – A maioria no curso de Artes Cênicas Licenciatura da Ufal, a partir de trabalhos práticos no decorrer do curso. Em 2002 foi feito o primeiro trabalho prático, então os que tinham mais afinidade foram mantendo o que chamam de “panelinha” (risos), mas na verdade eram os que se afinavam com um mesmo tipo de linguagem artística de pesquisas.

AM – Como e quando o grupo se enxergou como tal, quando se oficializou?

DF – Em 2003 denominava-se de Laboratório Cia. Performática, o LCP, o que nos rendeu o apelido de "os performáticos", mas só em 2005 foi registrado como Associação de Estudo, Pesquisa e Prática em Artes Cênicas – Carapuça Cia. Teatral.

AM – Qual a formação dos membros?

DF – Todos são formados e pós-graduados em artes, sendo três em teatro e uma em dança. A exceção fica por Renner Cavalcante, que tem formação em engenharia elétrica e se aproximou do grupo através de trabalhos como técnico de iluminação.

AM – Hoje o grupo atua de que forma?

DF – Em oficinas, escolas, instituições públicas e privadas, levando o teatro onde nos convidarem/contratarem e nos projetos artísticos que geralmente acontecem nos teatros de Maceió em curtas temporadas. Não temos um tipo de teatro específico, não defendemos este ou aquele teórico, o nosso teatro é o do estudo e da pesquisa, independente da linguagem estética do espetáculo.

AM - Fale um pouco da interferência de grandes instituições, como o Banco do Nordeste Brasileiro (BNB), por exemplo, na atividade de jovens que como vocês experimentam e ainda acreditam na força de expressão do teatro?

DF - Estas iniciativas só somam, pois através do BNB montamos todo o espetáculo Sã Consciência Insana (2005) com material gráfico de qualidade, o que é uma raridade, Figurino, cenário, enfim... Só assim foi possível pagar todos os profissionais envolvidos e ainda tivemos verba para registrar o grupo.

AM – E o teatro empresarial em Alagoas, como funciona?

DF – O tipo de teatro empresarial que fazemos é como o teatro empresarial em todo País: a partir de um tema o grupo se reúne e desenvolve o trabalho, porém, damos a cara da Carapuça aos trabalhos, e sempre será visto o cunho artístico, que geralmente dizem que nesse tipo de teatro não tem. A empresa/contratante nos passa um tema ou evento específico e nós estudamos e analisamos a melhor ação para desenvolver, a forma que o que o cliente pediu mais irá satisfazê-lo e também pensamos de acordo com o espaço físico e o público alvo, na linguagem, na estética, figurino... Em relação a como acontece, nos órgãos públicos, é através de licitações: no Detran-AL, por exemplo, vencemos há dois anos seguidos por desenvolver um trabalho de conscientização para a Semana Nacional de Trânsito.

AM – E os projetos artísticos, por que não ocorrem com mais freqüência?

DF – Primeiro por serem justamente artísticos. No teatro empresarial, a coisa flui com bem mais freqüência e praticidade, sem falar que o contratante, torna-se ao mesmo tempo o patrocinador da apresentação, pois no preço cobrado já vai incluso qualquer gasto que venhamos a ter com material para a ação deles. Já os artísticos são bem mais elaborados, demorados e pesquisados, basta observar o nome de nossa associação que se percebe nossa preocupação com um teatro que, independente de temas ou teóricos a serem trabalhados, nos preocupamos com a análise criteriosa do que estamos oferecendo ao público.

AM – Hoje, então, vocês têm um respaldo, mas e no começo?

DF – (risos) A fase do “vocês se apresentam e a gente dá o lanche e ainda vocês divulgam o grupo”, esta já passou. Primeiro graças a Deus não estamos passando fome e sempre os lanches que temos em casa são bem mais interessantes que estes que usam como “cachê”. Sobre a divulgação, este tipo de trabalho/prostituição, vem mais para denegrir a imagem do grupo como profissional do que agregar algum valor.

AM – O que mantêm a existência do grupo?

DF – Espiritualmente, o amor que temos ao teatro e o prazer de proporcionar momentos lúdicos, de entretenimento e reflexão ao nosso público. Estruturalmente, a guinada veio através do Programa BNB de Cultura, e dos projetos empresariais.

AM – E qual é o trabalho da vez?

DFMurro em Ponta de Faca, que é um texto pouquíssimo conhecido pelo público em geral, inclusive o de teatro, pois foi um texto feito especificamente para o Teatro de Arena, e sua montagem fez parte das peças “clandestinas” da época da ditadura militar do nosso País. O Texto trata de seis personagens exiladas em lugares e situações diferentes, numa contagem angustiante do tempo e na espera da volta ao Brasil, mas que, porém, preferem ficar lá a ter que se calarem. Tudo isto me toca muito, queria montar Murro desde 2002, mas era muito imaturo – e sei que daqui a dez anos montaria de forma diferente – mas tanto a montagem atual, como se eu tivesse montado em 2002 ou daqui a dez anos, todas elas seriam com o mesmo entusiasmo, como muito amor. Estamos homenageando os oprimidos, os que lutaram por dias melhores, os que não se calaram. Esta montagem do espetáculo faz parte do Programa de Iniciação Artística da Ufal, pelo projeto Poiésis Teatro e Literatura, O teatro do oprimido como instrumento de reflexão crítica.

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