Definitivamente vivemos outros tempos. Muito confusos, por sinal. Há dez anos, minha mãe costumava dizer:
- Filho! Se você não estudar, vai apanhar.
Provavelmente muitos filhos já ouviram isso de seus pais. Era um incentivo. Antipedagógico, concordo. Mas um incentivo.
Hoje as coisas estão diferentes. A regra agora é bater naqueles que desejam estudar. Principalmente naqueles que defendem uma educação pública, gratuita e de qualidade para todos.
Não há dúvidas. Os tempos são outros.
Prova maior disso foi o circo dos horrores montado há alguns dias pela reitora da Ufal, Ana Dayse Dórea. Tudo o que os estudantes queriam era discutir com toda a universidade o famigerado Reuni de Lula. Queriam apenas um plebiscito. Debater democraticamente com a comunidade acadêmica o desmonte da educação pública representado por este decreto. Não foi o que aconteceu.
A reitora, que enxerga em si mesma o último baluarte da democracia, não aceitou a proposta de plebiscito dos estudantes. Para ela, é mais democrático que 53 conselheiros definam o futuro da universidade. A resposta de Ana Dayse no Consuni veio em forma de socos e pontapés. Estudantes que protestavam pacificamente contra a falta de uma discussão mais ampla foram agredidos por seguranças patrimoniais a mando da reitoria. Estava inaugurada a democracia do porrete.
Se o Reuni é tão bom como afirma a reitora, por que não discutí-lo abertamente? Por que decidir um projeto desses num acordão de cúpula, onde existe um jogo de cartas marcadas? Ora, é muito simples. Ana Dayse é uma fiel escudeira do governo neoliberal de Lula. Governo este que tenta implementar a todo custo uma reforma universitária privatizante, destruindo os últimos vestígios do caráter público da educação. Expandir indiscriminadamente as vagas, sem aumentar os recursos para o ensino superior, criando cursos sem qualidade, precarizando a educação dos estudantes e o trabalho dos docentes, soa aos meus ouvidos como um dos maiores ataques já realizados por Lula. Para mim, já está mais do que claro: o Reuni é o coveiro da universidade pública e Ana Dayse, um títere de porrete.
Não satisfeita com sua demonstração de autoritarismo, a reitora ainda deu uma trágica e cômica declaração numa coletiva de imprensa. “Eles (os estudantes) são partidários, elitistas e agressivos.”. De fato, tenho que reconhecer. O movimento estudantil é formado por latifundiários e banqueiros. Eu mesmo só trabalho para disfarçar. Sou acionista de várias multinacionais. E, assim como os outros estudantes, também sou agressivo. Na verdade somos tão agressivos que mal podemos sair nas ruas. Queremos bater em todo mundo.
O mais ridículo disso tudo é que nem parece que foram os estudantes os agredidos. Alguém precisa dizer à reitora que foram os seguranças patrimoniais que quebraram o patrimônio em nossas cabeças. Com o consentimento dela, claro.
Ah! Uma última observação. A pedido de Ana Dayse, a Polícia Federal apareceu na Ufal para verificar o comportamento dos estudantes que montaram uma vigília no hall do prédio da reitoria. Empunhando metralhadoras, os policiais federais queriam saber se os estudantes haviam quebrado alguma coisa. Nas palavras do próprio delegado: “Estamos aqui para dialogar e evitar destruição”.
Não sei, não. Dialogar e evitar destruição com armas em punho?! Não quero ser apocalíptico nem alarmista, mas precisamos ficar atentos. Nuvens escuras despontam no horizonte.