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Universidade Federal de Alagoas - UFAL
 

30/10/2013
Geral
Travestis: um universo paralelo de segregação, prostituição e morte nas ruas de Maceió

A reportagem foi às ruas de Maceió para conhecer a vida de algumas travestis, ambas excluídas do mercado de trabalho e condicionadas à marginalidade

Por Eberth Lins, Marcio Anastacio e Robson Muller

Gabriela tem 19 anos, 178 cm de altura, corpo escultural e ensino fundamental incompleto. Local de trabalho: ponto de prostituição na Avenida Menino Marcelo. O que a levou para às margens da rodovia, e da vida, tem resposta no fato de ter nascido Gabriel Bandeira, que aos 15 anos de idade se descobriu travesti. Colaborando com a filosofia dos entrevistados, todas as personagens serão tratados com seu nome social, ou seja, o nome feminino escolhido por cada um deles.

A história de Gabriela emociona e choca tanto quanto a das outros duas entrevistados (Priscila e Natasha) pela reportagem, que foi às ruas da capital conhecer de perto a trajetória dessas pessoas jogadas a uma vida marginal, resultado cruel da equação rejeição familiar e segregação social que as tira da escola, do mercado de trabalho e da convivência comum ao resto da população.

Se os números da sobrevivência humilham (média de R$ 30,00 por programa), os números da violência assustam: São quatro mortes somente este ano, e um caso de violência sem morte, porém com a mutilação do pênis da vítima.

Histórias que colocam os travestis numa espécie de universo paralelo de resignação e medo, em meio aos sonhos comuns a qualquer outro cidadão, como conclui a travesti Gabriela. “Não quero muita coisa dessa vida. Na verdade nem sei se posso querer, mas tenho o sonho de algum dia voltar a estudar, terminar os estudos e dar orgulho a minha família”.

VÍTIMA DO TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOAS, SEVERINO PEDRO/NATASHA KISS/, CONCLUIU O ENSINO MÉDIO, MAS CHEGOU A TRABALHAR SEM REMUNERAÇÃO

“Não dá para forçar a natureza. Eu queria ser diferente, ser ‘normal’. Todos querem pertencer à maioria predominante, eu também gostaria. Mas não dá para viver uma vida que não é sua, em um corpo que não é seu”. As palavras são da travesti Natasha Kiss, que nasceu Severino Pedro da Silva. O início da transformação se deu aos 13 anos, quando Severino foi ao circo e assistiu à apresentação de uma travesti que imitava a cantora Madonna. “Estava fascinada com o que vi. Ela era o que eu queria ser e ainda não sabia como. Quando ela terminou a apresentação a procurei para saber como fazer para que meus peitos também crescessem. Lembro-me dela me falando o nome do hormônio. Não poupei esforços para conseguir”, relembra.

Vinte e oito anos de idade, natural de Correntes, Agreste pernambucano, a travesti conseguiu uma conquista que para muitos pode não significar grande coisa. Natasha é uma das poucas travestis encontradas nas ruas de Maceió pela reportagem que conseguiram concluir o ensino médio. O resultado do feito é outro pioneirismo: Natasha também figura entre as raras do seu grupo que possuem emprego formal no Estado.

Filha de agricultores, Natasha se mudou para União dos Palmares, mas nas escolas da Zona da Mata o drama continuou. A travesti precisou de muita força de vontade para conseguir concluir o ensino médio. “Tive muitos problemas durante minha passagem na escola. Foi preciso ser ousada para lidar com as provocações e represálias que sofria.

Tráfico de Pessoas

Após 13 anos de prostituição nas ruas de Maceió, seguiu para São Paulo onde foi convidada para se prostituir na Espanha, iludida pelo sonho do enriquecimento num país estrangeiro. O que ela não sabia é que estava sendo vítima de tráfico internacional de pessoas. História que ela conta num tom deprimente, sem perder as gírias adquiridas nas ruas em 13 anos de prostituição.

“Fui convidada para trabalhar na Espanha por uma ‘bicha’ que considerava como amiga. Aceitei e viajei, chegando lá descobri que estava sendo vítima de um golpe. Teria que pagar 45 mil euros a quadrilha para ser liberada. Trabalhei incansavelmente, não lembro a quantidade de programas que fazia por dia para juntar o dinheiro e pagar a dívida, mas consegui”, conta.

Servidora Pública

Retornando a Maceió, a luta por emprego recomeçou. Sem alternativa, Natasha voltou a se prostituir. Mas desta vez, paralelamente, se inscreveu em um curso técnico de enfermagem. “As pessoas me chamavam para entrevista pelo meu currículo e quando viam que se tratava de uma travesti tudo mudava. Chegaram a me dizer que não servia para integrar o quadro do hospital porque iria chocar as famílias dos pacientes”, lamentou.

A inserção de Natasha no mercado formal de trabalho teve início há pouco mais de dois anos, quando foi chamada para ocupar um cargo comissionado na Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Maceió. A travesti compõe o quadro do Consultório de Rua, equipe que leva às comunidades mais carentes os serviços básicos de atenção à saúde. “Fiquei sete meses trabalhando de graça aqui na SMS, tinha que mostrar que tinha qualificação para assumir a vaga. Hoje sou tida como uma das peças fundamentais na equipe”, comemora.

GABRIEL BANDEIRA/GABRIELA: PROGRAMAS FINANCIAM TRANSFORMAÇÃO FÍSICA

Gabriela nasceu Gabriel Bandeira, hoje com 19 anos trabalha todos os dias fazendo programas num trecho da Avenida Menino Marcelo ou na orla de Maceió.

Moradora do bairro Santa Lúcia, periferia da capital alagoana, Gabriela não esconde a falta de expectativas. Ela estudou apenas até a quinta série (atual 6º ano do ensino fundamental). Gabriela disse ter tentado algumas vezes voltar às salas de aula, mas lembra de não mais ter se encontrado no ambiente escolar.

“Eu gostava de estudar, era boa aluna e geralmente tinha boas notas. Mas chegou um período em que o meu desenvolvimento – a fase em que começava a ganhar aparência feminina – foi mais forte do que meus estudos. Ficou impossível conciliar. Sofri preconceito da parte dos colegas de sala, dos educadores. Era tudo contra a minha formação, não tive forças para persistir”, rememorou ela.

“Minha família foi a primeira a me minar”

A travesti, hoje “aceita” pela família, lembra-se dos preconceitos que enfrentou em casa. Questionada pela reportagem se já teve interesse ou participou de alguma seleção para ingressar no mercado de trabalho formal ela choca ao dizer que a família foi quem mais lhe “minou”.

“Minha família foi a primeira a me minar. Não perdiam uma oportunidade de evidenciar o quanto as minhas atitudes em busca do meu verdadeiro eu iria influenciar na minha vida profissional. Eles repetiram tanto que eu absorvi, confesso que nunca tentei fazer algo diferente na vida que não fosse programas. Nem sei se conseguiria”, constatou.

A busca de Gabriela pelo que entende como verdadeira identidade começou cedo. A travesti faz uso de hormônios religiosamente desde os 15 anos de idade. Um dos motivos para os programas é a aquisição do medicamento já que, segundo ela, a família custeia as necessidades básicas para a sobrevivência como alimentação e higiene. “Minha família cumpre o que acha ser obrigação, me dá comida e moradia, mas todas as coisas da Gabriela, que para eles é minha criação, têm de ser compradas por mim”, conta.

ROBERTO/PRISCILA TROCOU ESCOLA PELA “PISTA”

Desde os sete anos, Priscila já usava roupas femininas em casa e aos doze começou a assumir uma identidade feminina também fora do ambiente familiar. Foi nessa época que ela começou a usar hormônios femininos e a deixar o cabelo crescer.

Priscila diz que trabalha na “pista” (ruas) eventualmente porque tem medo que essa prática acabe sendo sua única fonte de sobrevivência. “Você ganha o dinheiro pela primeira vez e depois começa a depender. Não deixei essa vida ainda porque o mundo da prostituição é muito tentador”, declarou.

A jovem revelou que estava estudando, mas acabou abandonando a escola por causa da “pista”. Ela diz que não consegue se sentir incluída na sociedade trajando uma identidade masculina. “Meus pais sabem que eu faço programa e não apoiam. Eu sei que é mais fácil conseguir emprego usando roupas masculinas e se comportando como um homem, mas, eu não me enxergo assim, por isso, não consigo largar essa vida”, afirma com convicção.

Cobrando entre R$ 30,00 e R$ 50,00 por programa, Priscila revela que geralmente faz programas três vezes na semana. Entre os anseios e lamentações da travesti está o de se transformar em uma “mulher de verdade”. “Meu maior objetivo é fazer a cirurgia de mudança de sexo. Eu quero ser mulher”, afirmou.

O SILÊNCIO DAS FAMÍLIAS

O desprezo das famílias pelos filhos ou irmãos travestis pode ser traduzido pelo silêncio com que a reportagem se deparou ao tentar contato com familiares das entrevistadas.

No caso de Natasha, desde que deixou o interior de Pernambuco ela foi perdendo os laços com a família, até que soube do falecimento da mãe e rompeu totalmente o contato. Perguntada sobre a família Natasha respondeu após uma longa pausa: sou sozinha, não tenho contato com ninguém. O desconforto da travesti ao ser questionada pela família foi evidente.

Priscila diz ser aceita pela família que, segundo ela, sabe da vida de prostituição nas ruas, mas não quis que nossa equipe entrasse em contato, alegando que seria desconfortável para os pais tratar o assunto publicamente.

Já Gabriela mora com a mãe, que prefere o silêncio na hora de opinar sobre a vida do filho.

AMBIENTE HOSTIL DA SALA DE AULA ABORTA EDUCAÇÃO FORMAL

Em 2012 a mídia noticiou o caso da primeira travesti a apresentar tese de doutorado no Brasil. De fato a façanha é digna de constar no noticiário. Reconhecido pela Unesco como hostil e violento, o ambiente escolar, para os travestis, inverte a lógica tornando-se um lugar de violação dos direitos humanos.

Segundo a Unesco, 60% dos professores admitem que não têm instrução para lidar com a diversidade sexual. Em Alagoas, a realidade mostra-se ainda pior. A Secretaria de Educação e Esporte (SEE), afirma que não tem nenhuma política efetiva e continuada com finalidade de suprir essas lacunas.

Nas escolas onde as travestis estudam, diariamente, professores enfrentam situações para as quais estão despreparados. É no ensino fundamental e médio, período em que esse público está passando por mudanças físicas, que seria necessário o acompanhamento psicopedagógico.

A diretora geral da Escola Estadual Maria da Salete Gusmão de Araujo, no bairro do Osman Loureiro, Maria da Glória, revela a falta de capacitação para atender às necessidades das travestis. “Eu nunca recebi nenhum convite da SEE, muito menos passei por qualificação, coisa que até onde eu sei se repete entre os demais educadores da rede estadual de ensino”, diz Maria da Glória.

Ainda sonhando com a sala de aula

Gabriela, ouvida pela reportagem, ainda acalenta o sonho de voltar às salas de aula. Mas suas palavras revelam também a falta de perspectiva, própria de quem vive às margens da sociedade. “Não quero muita coisa dessa vida. Na verdade nem sei se posso querer, mas tenho o sonho de algum dia voltar a estudar, terminar os estudos e dar orgulho a minha família”, sonha Gabriela.

IDA AO BANHEIRO É TRAUMÁTICA

O ato aparentemente banal de usar o banheiro, para as travestis, pode representar um verdadeiro trauma psicológico.

A transfobia (fobia, aversão à travesti) irraizada na sociedade fica evidente no ambiente escolar. O momento de usar o banheiro ilustra bem o drama. “Eu me sentiria incomodada, se entrasse no banheiro e tivesse um travesti. Aqui não temos banheiro unissex”, diz Maria da Glória, educadora responsável pela vida escolar de quase 1000 jovens e adolescentes.

Durante a sua carreira como diretora já acompanhou a vida escolar de quatro travestis. Ela revela suas impressões sobre um. “Arthur era o centro das atenções na escola, sua postura era de se impor diariamente, ninguém mexia, mas ele foi durante sua passagem por aqui alvo de muitas brincadeiras por conta da sua condição sexual”, conta.

A tensão na hora de ir ao banheiro é um trauma comum às três travestis entrevistadas pela reportagem, a exemplo da Natasha Kiss. “Eu nem podia utilizar o banheiro masculino, correndo o risco de ser agredida e até violentada sexualmente pelos meninos. Já nos banheiros das meninas não me admitiam justificando de que eu era um homem. Era um sufoco”, conta.

RESOLUÇÃO ALTERA NOME NO REGISTRO ESCOLAR

A resolução nº 53/2010 do Conselho Estadual de Educação de Alagoas (CEE/AL) inclui o nome social de travestis e transexuais nos registros escolares, a exemplo de livros de chamadas, cadernetas escolares, históricos, certificados, declarações e demais registros. Um avanço comemorado pelo movimento LGBT, mas pouco conhecido pelas travestis e pelos educadores alagoanos.

Segundo Nildo Correia, a resolução é quase que desconhecida no universo travesti, principalmente, nos locais onde não há políticas públicas de apoio ao grupo LGBT.

“Infelizmente o público especifico não tem clareza dessa resolução. O grupo de travesti é formado, em sua maioria, por pessoas sem formação escolar insuficiente para entender a legislação. Isso piora quando os formadores, no caso os educadores não têm conhecimento de causa, devido à falta de informação e formação”, lamentou.

SONHO DO CORPO FEMININO CHEGA A CUSTAR R$ 30 MIL

A cada dia mais próxima da perfeição, a migração da aparência masculina para a feminina tem um custo alto, e normalmente é financiada pelos programas feitos nas ruas. A primeira parte da transformação são os hormônios. De acordo com as entrevistadas nesta reportagem, o custo chega a R$ 200,00 por mês, o que não é pouco considerando o valor cobrado por programa, que fica entre R$ 30,00 e R$ 50,00.

Mas a busca pela perfeição tem cifras bem acima disso. O corpo feminino almejado pelas travestis, incluindo hormônios, ultrapassa a barreira dos R$ 10,000,00. Esse é o valor médio calculado nas ruas para se conseguir o básico de um corpo feminino por meio de cirurgias plásticas, hormônios e maquiagem.

No caso da travesti Natasha Kiss, para chegar aos resultados esperados, ela precisou gastar mais de RS 30 mil em cirurgias plásticas, que variam desde a aplicação de próteses de silicone as alterações que realizou em alguns pontos do rosto.

“Fora isso ainda tem as roupas, cosméticos e maquiagem”, acrescenta Natasha, que fez alguns procedimentos cirúrgicos na Itália.

PORTARIA DEFINE REGRAS PARA MUDANÇA DE SEXO PELO SUS

Desde 31 de julho deste ano a portaria Nº 859, do Ministério da Saúde, trouxe novas regras para a cirurgia de troca de sexo e outros tratamentos destinados a travestis e transexuais usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).

O primeiro e mais debatido ponto foi a redução da idade mínima para a realização da cirurgia, que baixou de 31 para 18 anos de idade. Mas para isso é exigida indicação específica e acompanhamento prévio de dois anos pela equipe multidisciplinar de especialistas.

A mesma portaria determina idade mínima de 16 anos para a terapia hormonal para a mudança de sexo, necessária antes da operação. Mas o tratamento só pode ser feito com consentimento dos pais ou responsável legal.

O perigo escondido nos hormônios

Entre os hormônios mais conhecidos em meio ao mundo travesti estão os medicamentos a base de Algestona, Perlutan e Androcur. Mas o sonho do corpo menininho oferece riscos.

Desses, o uso do silicone industrial é considerado há tempos um problema de saúde pública. Muitas travestis se infectam pelo HIV e hepatites, por meio uso de seringa compartilhada, além de se deformam e até mesmo morrem por causa das consequências do uso desse material.

O uso inadequado de hormônios causa uma série de efeitos colaterais, a exemplo de tromboses e acidente vascular cerebral (AVC).

INTOLERÂNCIA E PRECONCEITO ACABAM EM CRIMES COM REQUINTES DE CRUELDADE

Se a violência é uma constante na vida das mulheres que vivem da prostituição, para as travestis chega a ser uma rotina. Os números do Grupo Gay de Alagoas (GGAL) mostram que o elemento “preconceito” não apenas provoca episódios de violência como a torna ainda mais cruel. Geralmente os crimes contra travestis são ainda mais cruéis do que aqueles praticados contra as mulheres prostitutas. O caso mais recente ocorreu no último mês de agosto, quando a travesti conhecida como “Flavia” ou “Babá”, foi torturada, mutilada e jogada em uma fossa. Dois homens espancaram a travesti, lhe cortaram a genitália e a jogaram em uma fossa de aproximadamente 15 metros de profundidade. Atualmente ela está na cidade de Coruripe, onde segue em recuperação. Os suspeitos do crime foram presos em flagrante e as investigações já são tidas como encerradas na Delegacia de Rio Largo.

12 assassinatos e 40 denúncias

Os números são alarmantes. De acordo com os dados informados pelo Grupo Gay de Alagoas (GGAL), só neste ano, foram 12 assassinatos, sendo quatro travestis e mais de 40 denúncias de agressão contra homossexuais em Alagoas. As estatísticas também indicam que, durante a última década, o Estado estagnou numa margem sangrenta de crimes motivados pela homofobia com uma média de 5,6 para um grupo de 1 milhão de habitantes, seguido da Paraíba, com 4,9, e Piauí, com 4,7. Além disso, o homossexual tem 300 vezes mais chances de ser assassinado em Maceió.

Para o presidente do GGAL, Nildo Correia, o nível de vulnerabilidade e impunidade coloca Alagoas na posição mais elevada entre os Estados que apresentam os maiores índices de violência contra esse grupo. “Alagoas é o estado líder em proporção onde mais se matam homossexuais. Na lista, também temos São Paulo, Bahia, Pernambuco e Paraíba, mas, quando avaliamos por um ângulo proporcional, o nosso estado dispara nas estatísticas”, assegurou o militante.

Gabriela, ouvida na reportagem, conta um episódio que não foi fatal, porém muito traumático. Mesmo com o linguajar típico das ruas, o relato é dramático. “Uma ‘bicha’ (referindo-se a uma companheira de trabalho) foi dar um psiu para uns homens. Eles não gostaram e vieram para cima. Minhas amigas correram e eu fiquei. Fui agredida com uma barra de ferro, que não achando suficiente ainda me pisaram. Fiquei mais de 15 dias de cama”, relatou.

GGAL COBRA POLÍTICAS PÚBLICAS HÁ 18 ANOS

“As travestis e transexuais podem ter outras linhas de sustentação, além do mercado da prostituição, mas, lamentavelmente, a maioria é expulsa de casa muito cedo. Longe do ambiente familiar, elas não conseguem encontrar alternativas de sobrevivência e acabam se rendendo aos caminhos da marginalidade”. A afirmação é do presidente do Grupo Gay de Alagoas GGAL, Nildo Correia, que também associa a segregação à falta de oportunidades no mercado de trabalho.

Mas para Nildo Correia, antes de desenvolver políticas públicas de inclusão social e profissional, é necessário combater o preconceito trabalhando a cultura da sociedade. “Se essa travesti ou transexual tiver uma vida equilibrada dentro de casa, dificilmente, ela vai preferir deixar o ambiente familiar para passar por todas as dificuldades encontradas no mundo da marginalidade”, afirma o presidente do GGAL.

Desde a sua criação, em 1995, o GGAL vem cobrando políticas públicas dos gestores para a comunidade LGBT. Mas segundo o presidente da entidade, até agora, as propostas dos gestores públicos para a comunidade LBGT ainda são irrisórias. “Digamos que quase nada saiu do papel. Não existem ações de combate ao bullyng nas escolas, que visem à inserção das travestis e transexuais no mercado de trabalho. Não há nada de incentivo à cultura do grupo LGBT aqui no Estado, por exemplo. O que existe e, ainda assim de forma maquiada, são as campanhas de saúde. O que, na verdade, é uma iniciativa do Governo Federal”, pontuou.

TRAVESTI, TRANSEXUAL E TRANSTORNO DE GÊNERO: CONCEITOS E PRECONCEITOS

Distinguir travesti de transexual, e tantas outras nomenclaturas, quase sempre usadas equivocadamente, tem sido um desafio para quem lida com o tema. Em alguns casos, nem mesmo os estudiosos chegam a um consenso.

Porém, a tese mais aceita fala que travesti é o homem ou a mulher que se veste e assume características psicossociais atribuídas culturalmente ao sexo oposto. Essa transformação pode ser por fetiche sexual, ou para pertencer publicamente ao gênero desejado.

Para esclarecer alguns conceitos, a reportagem conversou com o psicólogo Anderson Gomes, formado pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Ele explica que o transexual não se reconhece no corpo em que nasceu. Para ele ou ela, a sua identidade psicológica precisa combinar com condição física. Desta forma, a cirurgia de mudança de sexo é uma alternativa. As principais características que apontam a transexualidade de um indivíduo são: aversão a sua genitália, convicção de pertencer ao sexo oposto e interesse pelo procedimento cirúrgico de mudança de sexo.

Para o psicólogo, é preciso desfazer o estereótipo que se instalou ao redor da comunidade LGBT. “Não podemos falar de ‘um’ em nome de ‘todos’, e vice-versa. Mudar o discurso social que sentencia e coisifica a classe LGBT passa pela singularidade. Ou seja, temos que tratar e valorizar cada homossexual (feminino ou masculino), cada travesti, transexual ou transgênero, como sujeitos dotados de uma subjetividade particular”, explicou.

Transtorno de identidade de gênero

Outro termo usado equivocadamente é o chamado “transtorno de gênero”. “No âmbito da psicologia moderna é considerado transtorno aquilo que ocasiona desajuste, ou um enorme sofrimento mental ao sujeito. Em outras palavras, ele pode, ou não, sentir-se em harmonia com sua sexualidade,” diz Anderson Gomes.

O termo “transtorno de identidade de gênero” não é um termo psicológico, mas psiquiátrico. Refere-se à classificação descrita pelo DSM-IV. Ou seja, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, que foi elaborado pelos psiquiatras da Associação de Psiquiatria Norte-americana.

A identidade de gênero refere-se à convicção de que o indivíduo tem, quanto a sua feminilidade ou masculinidade.



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