Alagoas é o Estado com o maior índice de analfabetismo do Brasil. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Estado apresenta um percentual de 24,6% de analfabetos entre os 15 e 64 anos que equivale ao dobro da média nacional. Diante dessa situação tão crítica, pessoas, grupos e movimentos atuam, muitas vezes de forma independente, pela educação popular. É o caso do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, que além de lutar pela reforma agrária, luta também pela educação no campo.
Se os centros urbanos já enfrentam diversas dificuldades no ensino público, a situação no meio rural é ainda pior. No campo, os estudantes sofrem com a má localização das escolas, com a falta de transporte e ainda com uma educação que não é voltada para sua realidade. O MST vem lutando pela resolução desses problemas e, aos poucos, vem alcançando conquistas como escolas permanentes e itinerantes para as crianças do 1° ao 5° ano e a educação de jovens e adultos através de um método de alfabetização cubano.
Marcela Nunes e Maria Claudivania da Silva, educadoras do Coletivo Estadual de Educação no MST, explicam que as escolas itinerantes existem para educar as crianças dos acampamentos. Como o acampamento não é um local fixo, a escola se desloca junto aos acampados. Além das escolas, existem também as cirandas que reúnem as crianças para fazer atividades lúdicas, recreativas e pedagógicas, enquanto os pais estão ocupados em alguma mobilização. Nem sempre os projetos pedagógicos do MST contam com algum apoio, com algum convênio. De maneira que os educadores do movimento trabalham, muitas vezes, como voluntários por todo o Estado de Alagoas.
A educação no MST é voltada para o campo e forma sujeitos conscientes do contexto histórico e social no qual está inserido. Ela obedece, assim, ao que a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) criada em 1996 determina em seu artigo primeiro: “A educação deve abranger os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”. De acordo com a LDB, os conteúdos de aprendizagem devem ser contextualizados, incorporando os traços socioculturais da vida no campo e em cada região. Na prática, porém, isso ainda não acontece na maioria das escolas estaduais e municipais do Estado. Como até o presente momento o MST só tem escolas de ensino básico, os alunos do ensino fundamental e médio acabam estudando nas escolas públicas do Estado e não recebem uma real educação voltada para o campo.
Conseguir dar às suas crianças e jovens uma educação completa do primário ao ensino médio, é uma luta que o movimento ainda vem travando. Mas enquanto isso não acontece, o MST cobra dos governantes a instalação de escolas dentro ou próximas dos assentamentos, pois grande parte da evasão escolar no campo se deve à dificuldade de deslocamento dos estudantes para escola. Muitas vezes, chega a acontecer de a escola mais próxima ser na cidade. Como resultado dessa cobrança, temos o exemplo da Escola de Educação Básica Dom Elder Câmara que foi construída dentro do assentamento Dom Elder Câmara em Girau do Ponciano. O movimento cobra também que as escolas tenham profissionais capacitados para ensinar de acordo com a realidade do campo, pois é comum que os estudantes do campo recebam uma educação urbana nas escolas do Estado e dos municípios.
QUERER É PODER – Outra iniciativa do movimento no combate ao analfabetismo é a utilização do método cubano “Sim, eu posso!” na alfabetização de jovens e adultos. Com a utilização desse método, o movimento pretende alfabetizar 1.500 pessoas em 24 municípios alagoanos. O “Sim, eu posso” alfabetiza através de vídeo-aulas e com a participação do educador para auxiliar e orientar os alunos. A alfabetização em seu nível mais básico se dá muito rápida num período de sete a treze semanas. É um método tão rápido e eficaz que se espalhou por toda a América Latina e chegou a baixar os índices de analfabetismo na Venezuela e na Bolívia para quase zero.
Em Alagoas, há cerca de 120 acampamentos e assentamentos espalhados que abrigam mais ou menos 8.000 famílias. Manter esses projetos de educação não é tarefa fácil, segundo a liderança do MST. Faltam professores, materiais e, principalmente, investimento. É preciso fazer as parcerias, programas e convênios funcionarem no Estado para garantir a formação de cada vez mais professores capacitados para ensinar nas escolas do campo. Programas como o Pronera (Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária) que, recentemente, tornou-se política pública e que é uma grande conquista do movimento em todo País precisa funcionar, realmente, em Alagoas. Programa que tem como objetivo reduzir as taxas de analfabetismo e elevar o nível de escolarização da população dos assentamentos, habilitando professores nos níveis médio e superior, além de dar a jovens e adultos formação técnico-profissional. Programas como esse, ainda segundo o MST, se ativos, podem permitir que a educação no movimento e no campo de uma forma geral continue avançando.