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Universidade Federal de Alagoas - UFAL
 

20/12/2010
Comportamento
FANTASIA EM CARNE E OSSO

Trabalho e criatividade fazem surgir no palco dos costumes players personagens vindos direto da imaginação dos fãs para a realidade

Por Ludmila Monteiro de Lima & Rafaela Albuquerque de Moraes Pereira

No palco, uma pessoa de peruca colorida desfila com o uniforme que só existia no papel e nas telas da televisão ou cinema. É um vestido vitoriano, uma roupa de colegial ou até uma armadura, mas em conjunto com todos os trejeitos e frases interpretados, transforma aquele indivíduo num personagem que antes era limitado ao mundo dos quadrinhos, animações e cinema, ou apenas à imaginação. E naquele momento, o personagem é carne e osso, quase real diante dos olhos do público. E tudo isso foi o resultado de semanas, até meses de preparação, ensaio, pesquisa de materiais e toda uma correria que começou no instante em que um fã decidiu: “quero fazer um cosplay”.

A palavra cosplay é abreviação de costume play ou costume roleplay e significa, em sua tradução literal, “representação de personagem a caráter”. A atividade consiste em fantasiar-se de um personagem, real ou ficcional, e tentar interpretá-los da forma mais fiel possível. O cosplay surgiu nos Estados Unidos, no final da década de 1930, e popularizou-se posteriormente aos anos 1970, também em solo americano, quando surgiram os primeiros cosplay de personagens de desenhos animados japoneses, popularmente conhecidos como anime. A mania chegou ao Japão na década de 1980 e desde então seus horizontes se ampliaram para além do mundo dos quadrinhos e animação, atingindo filmes, games e livros.

Na maioria dos eventos direcionados aos amantes de anime, mangá, games e RPG, são comumente realizados concursos de cosplay, em que os cosplayes competem em diversas categorias e chegam a levar prêmios em dinheiro.

Aelita Oliveira, 20 anos, é estudante de Análise de Sistemas e em cinco anos já foi jurada em pelo menos nove concursos de cosplay nos eventos voltados para o público alagoano fã de quadrinhos, RPG e animação japonesa, tendo começado ela mesma a fazer cosplay há cerca de sete anos. Ela conta que normalmente os principais critérios analisados nos concursos são fidelidade, originalidade, interpretação e fantasia, embora isso possa variar de evento para evento. “Aqui (em Maceió), o primeiro evento foi o Tadaima, que no início só tinha exibição de anime e o concurso, que nem tinha muitos critérios”, ressalta. “Depois vieram, em ordem cronológica, EA RPG, Daisuke, Nippon Seito e, mais recentemente, o Super Conquest”.

Laís Campos, 23, faz cosplay há mais ou menos dez e acredita que é uma atividade divertida e sem prazo de validade. “Nunca vou parar, e quando tiver meus filhos, eles também vão fazer cosplay”, brinca ela. Na sua opinião, produzir uma fantasia e se vestir e interpretar um personagem é uma maneira de brincar um pouco com a realidade. “Quando eu faço cosplay, eu brinco, alcanço um pouco o meu Id, porque o Superego eu alcanço todos os dias...”. Ela conta que passou a se interessar pelo cosplay depois de ter começado uma banda de anime music, como é chamada a música japonesa popular nos animes, e fala das diferenças que o cosplayer alagoano encara em relação a Estados maiores como São Paulo; principalmente a menor quantidade de recursos, que dificulta encontrar os acessórios necessários, por exemplo. “Mas eu acho até interessante essa dificuldade”, acrescenta Laís. “É quase um artesanato. Aqui você vem mais por paixão que por premiação. Acho que todo mundo quer se divertir.”

Dário Filho, 32, que faz cosplay há 12 anos e trabalha fornecendo acessórios para outros cosplayers, fala que não existe uma diferença entre Estados, mas entre pessoas. “Tem as pessoas que fazem cosplay por diversão, e tem as que fazem pra competir, independente do Estado”, diz ele. “Existem pessoas que fazem cosplays fantásticos aqui, e existem pessoas que fazem cosplays medíocres em São Paulo”. Ele mesmo conta que no começo participava muito de concursos, mas que atualmente faz cosplay mais por paixão que por competição, acreditando que a diversão é a parte mais importante do hobby.

Entre os que fazem cosplay voltado para os concursos está Júnior Barros, 23, que também concorda que mais importante é a atitude com que o cosplayer encara seu projeto. “Tem gente que faz por hobby, mas que ainda assim é muito dedicada”, diz ele. Júnior participou do concurso de cosplay individual do Super Conquest 2010 – evento que ocorreu nos dias 4 e 5 deste mês deste ano no Sesc-Poço – interpretando o Coringa, personagem do filme Batman: O Cavaleiro das Trevas, e conta que desde que começou a fazer cosplay, em 2007, aprendeu muita coisa. “Quando eu comecei o curso de Design, eu já sabia mexer em muito material por causa do cosplay”. Ele também concorda que em certos estados alguns cosplayers têm mais acesso a materiais mais sofisticados, mas que isso não impede que muitos realizem apresentações impressionantes em Maceió.

Júnior conta que o processo de criação do cosplay começa, para ele, com uma coleta de idéias, para ver como cada coisa se encaixa e para organizar o que quer construir. Laís resume ainda mais: “Primeiro você tem que gostar do personagem, daí tudo fica fácil.”

Gostar do personagem, aparentemente, é mesmo o início de tudo para a maioria dos cosplayers. Uma apresentação de cosplay traz consigo não apenas a interpretação de um personagem, mas de tudo que ele representa para o cosplayer e para a platéia que está assistindo. Dário fala que é uma maneira de interpretar o ‘herói’ admirado, seja ele o personagem que for. “Um herói é aquela pessoa que você admira. Pode ser um vilão, um personagem marcante... Não deixa de ser um herói para alguém”. Aelita também concorda que tudo começa na admiração: “Você é fã de um personagem, você tem coisas dele e chega uma hora em que você quer, pelo menos por um breve momento, ter a aparência dele, agir como ele.”

Sem negar toda a diversão proveniente da atividade, Dário também acrescenta que o cosplay é saudável para quem curte: “Eu tenho clientes que são filhos de psicólogos que me disseram que melhoraram muito como pessoas, aprenderam a lidar com os outros, a se entrosar mais”. Talvez por isso, nenhum cosplayer pensa em algum dia parar de brincar ou se apresentar, enxergando apenas pontos positivos em seu hobby. “Não tenho porque parar”, diz Dário. “Só pararia se estivesse me prejudicando de alguma maneira”. Júnior pensa do mesmo modo: “É a experiência estressante mais divertida que eu tenho.” E um grande público de apreciadores da arte concorda plenamente.

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