O bispo Dom Luiz Flávio Cappio, de 60 anos, iniciou na manhã de terça-feira, 27, uma nova greve de fome contra a transposição do Rio São Francisco. Há dois anos o religioso fez um primeiro jejum que durou 11 dias na cidade de Cabrobó. Desta vez, o bispo deu início ao protesto no município de Sobradinho (BA).
Cappio afirma que está fazendo nova greve de fome porque o governo Lula “não cumpriu com o prometido”, ainda na época em que negociou o fim do primeiro protesto. “Ele (Lula) prometeu suspender o projeto e debater com a população, mas a resposta foi o início das obras, usando o Exército”, disse Cappio.
No mesmo instante do início da greve, representantes da Comissão Pastoral da Terra (CPT) anunciaram o envio de uma carta assinada por Cappio ao presidente. Na carta, o bispo critica Lula pelo não cumprimento do acordo passado. “O senhor não honrou nosso compromisso. Enganou a mim e a toda a sociedade brasileira”, disse. No documento, Cappio ainda afirma que só terminará a greve de fome com a retirada do Exército dos eixos norte e leste da transposição e o arquivamento definitivo do projeto.
Em junho passado, na época da ocupação do canteiro de obras da transposição em Cabrobó, Cappio pediu aos cerca de 1.200 manifestantes que resistissem. “Mesmo que os inimigos venham armados com as armas da morte, vamos responder com as armas da vida”, disse em discurso. O bispo ainda afirmou que Lula se transformou na voz da elite e que agora está a serviço do capital internacional.
AGRONEGÓCIO – O desvio das águas do Velho Chico não vai abastecer os sertanejos afetados pela seca, como afirma o projeto. Dom Cappio assegura que, com a transposição, Lula quer beneficiar e fortalecer o agronegócio exportador. O bispo defende a revitalização do rio São Francisco como uma saída para o problema da seca no Sertão. “Forças interessadas no projeto usarão de todos os meios para desmoralizar nossa luta e confundir a opinião pública”, declarou. Cappio disse também que está disposto a manter o jejum por tempo indeterminado.