Em meio à geração da música eletrônica, do forró, do rock, do pagode e do pop, o guerreiro, o pastoril, o coco de roda, o quilombo, a cavalhada e outros tantos folguedos, forjados no colorido de suas fitas, no brilho de seus espelhos e lantejoulas, e no gingado de suas danças, parecem se perder no mundo globalizado em que grande parte dos jovens não veem as cores do folclore e a beleza de suas tradições.
O guerreiro, característico de Alagoas, é constituído por uma sequência de cantigas cantadas por pessoas com vestimentas multicoloridas; o pastoril, o mais difundido e conhecido folguedo, representa o nascimento de Jesus, composto por jornadas, canções e danças.
Sob o ritmo entoado, palmas e coreografia simples, o coco de roda acontece quando os participantes estão numa roda; o quilombo é uma adaptação alagoana de danças que representam lutas, ora entre brancos e negros, ora índios, ora mouros e cristãos, enquanto a cavalhada é um folguedo popular com origem ou inspiração nos torneios medievais que representam os heróis da dinastia Carolíngia, em número de doze cavaleiros.
Para a estudante do curso de Educação Física da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Marcia Cristina, 21 anos, “o folclore alagoano está esquecido, mal divulgado e explorado. Se você pedir pra alguém falar sobre (o folclore) ninguém sabe”. Para a estudante, os órgãos públicos devem incentivar as manifestações artísticas do Estado, para que assim sua cultura seja divulgada e a população receba informações de manifestações folclóricas.
Everson Alves, 25 anos, diz não gostar das manifestações folclóricas por considerá-las “sem graça”, mas acredita que o resgate do folclore deve partir das famílias e das escolas. Já para Raniere Félix, 23 anos, o folclore vem para mostrar nossas raízes, pois a seu ver, ao valorizar as crenças e a tradição de nossos antepassados, o folclore resgata a cultura.
Andréa Silva, 46 anos, diz que apesar de serem poucos os jovens que participam das manifestações culturais, ainda é possível ver alguns deles que se dedicam às atividades folclóricas. Para Andréa, a cultura popular do Estado é pura e sem maldade. “Eu acho bonito. Essas atividades deveriam ser mais incentivadas, mais mostradas, ou se assim não for, caem no esquecimento”, desabafa.
São muitas as opiniões sobre o folclore alagoano. Diante de tantos testemunhos, é possível ver algo bastante comum: grande parte das pessoas, ainda que não o conheçam de suas manifestações, reconhecem a sua importância. No dizer do pesquisador e folclorista Ranilson França, “nosso estado possui a maior diversidade de folguedos do País. Alagoas é um estado privilegiado”.
Segundo Ranilson, para garantir a continuidade dos folguedos alagoanos, os órgãos públicos devem fornecer aos grupos um espaço físico para a realização de ensaios, um calendário com o número de apresentações que deverão ocorrer durante o ano e ajuda de custo para a compra de material.
O FOLCLORE E A FÉ – “Se eu cantar minha brincadeira (termo usado como sinônimo de dança, festa) com meu povo e o pessoal tiverem aquela capacidade, o entendimento e o cuidado no que tá fazendo, o folclore de Alagoas vai ser sempre animado, sempre ativo e vamo de fé que com fé em Deus a gente vai fazendo o melhor. Eu, como mestre, tenho o pessoal que me ajuda, tenho meu grupo. O mestre sozinho não faz brincadeira, preciso do povo. O nosso Folclore tem que ter o povo. Eu levo a vida da maneira que puder ser. O folclore de Alagoas que é uma cultura muito bonita é sempre uma coisa linda, excelente pra gente, e vai dar certo até o dia que eu terminar”. É este o testemunho do Mestre Juvenal, que apesar de seus 77 anos comanda com vigor o Guerreiro Vencedor Alagoano.
A história do Mestre Juvenal como folclorista começou quando tinha apenas 10 anos de idade. Empolgado com o ritmo e a alegria do folclore, mestre Juvenal começou apenas dançando. Aos 24 anos começou a mestrar (ser responsável pelo grupo e por manter a tradição do folguedo) a “brincadeira”. Sempre com muita disposição e com muitos anos como folclorista, as pessoas costumam chamá-lo de professor. “O primeiro guerreiro que eu dancei foi em Coqueiro Seco, tinha 24 anos quando comecei a mestrar, aí o pessoal diz que eu sou professor, mas professor sabe ler, e eu não sei ler. Sei só fazer minha brincadeira”.
O guerreiro, um dos 27 folguedos de Alagoas, resulta da fusão de reisados alagoanos, do desaparecido auto das caboclinhas, da chegança e dos pastoris. Assim como o Mestre Juvenal, é possível ver em outros folcloristas como Ranilson França, Carmen Lúcia Dantas e Théo Brandão, este através de seu legado bibliográfico, a fé e o desejo de permanecer viva a cultura popular do Estado.
MUSEU THÉO BRANDÃO –Ao assumir o compromisso com a preservação e a divulgação da cultura alagoana, o museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore, criado em 20 de agosto de 1975, é o único no Estado que possui grande acervo capaz de manter viva a arte popular de Alagoas.
Localizado na Avenida da Paz, no centro de Maceió, o museu possui dez salas temáticas que mostram a cultura de Alagoas. No andar superior do prédio, o museu dedica o espaço aos festejos da cultura popular, com destaque aos folguedos populares, principalmente o guerreiro que é genuinamente alagoano.