Recentemente, o paraibano Ariano Suassuna disse numa entrevista que “o homem faz literatura para protestar contra a morte”. De fato, quem escreve ficção, crônica ou poesia quer ver seu trabalho publicado, quer dar uma contribuição para a intrigante história dos homens. No entanto, os caminhos para tamanha tarefa se mostram bastante tortuosos.
É inegável a existência de bons poetas e prosadores em Alagoas, porém as editoras lhes fecham as portas pelo fato de não poderem custear total ou parcialmente suas próprias obras. Abrem-se apenas para os grandes “medalhões”, sejam eles consagrados ou não, porque podem pagar pela publicação. Dessa maneira, a jovem e qualificada literatura alagoana fica à mercê dos raros prêmios literários que não privilegiam completamente o escritor iniciante. Assim, a nova literatura alagoana acaba tendo de encontrar outros meios para figurar no Estado.
“O mercado literário se fecha muito para a nova arte”. A declaração é do poeta Milton Rosendo e provavelmente resume muito bem o pensamento de outros escritores sobre os problemas enfrentados para se fazer conhecer no cenário alagoano. Em 1996, Milton teve o poema A casa dos Anos de Infância publicado numa coletânea. Mas ainda não conseguiu publicar seu projeto acabado, o livro Moinhos. A literatura do poeta possui um espírito antropofágico. O gosto pela experimentação da linguagem faz com que sua poesia evolua a partir de novas leituras. Suas influências passam pelas mais variadas produções artísticas, como Drummond, Jorge de Lima, Garcia Lorca, T.S.Elliot e Paul Celan.
Também influenciado pelo alagoano Jorge de Lima, Bruno Ribeiro é outro com dificuldades para mostrar seu trabalho. Embora seu livro seja um projeto a ser concluído daqui a dois anos, Bruno reconhece que o espaço para os novos escritores é muito cerceado. O poeta até hoje teve apenas dois poemas publicados. Em 2002, Castelo de Baralho foi selecionado por um concurso realizado pela Editora da Universidade Federal de Alagoas (Edufal) e em 2006 o poema Tangos e Fados num outro concurso na cidade de Arapiraca. Bruno Ribeiro se aproximou da literatura graças à música e vê na arte das palavras uma maneira de exercitar a linguagem.
Entendendo a literatura como “um encontro consigo mesmo”, Igor Machado, também chamado pelos amigos de Igor Trauipu, pode ser considerado um artista de múltiplas facetas. Poeta e contista, Igor também escreve roteiros de filmes e peças de teatro. Influenciado por Kafka, Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Jorge de Lima e pela música da Tropicália, o jovem escritor experimenta linguagens e produz uma literatura intimista. Mesmo transitando por vários gêneros, Igor não possui nenhum livro publicado e tenta mostrar sua arte por meio de recitais.
APOSTAR NA CRIATIVIDADE – Embora tenha quatro livros publicados, o poeta Beto Brito conhece muito bem a realidade dos que querem mostrar a cara da nova literatura alagoana. Dos seus quatro livros, apenas Manola, seu primeiro trabalho, foi publicado por uma editora. As outras três obras foram publicações independentes com ajuda de patrocínio. Para ser reconhecido no meio literário, Beto Brito aposta muito em criatividade na hora da divulgação. O livro Post-Al reúne vários poemas em postais que podem ser enviados para qualquer lugar. Já Pop Plágio & Poesia, produzido em formato de encarte de CD, nasceu para virar música. Os textos foram gravados por uma banda que adotou o mesmo nome do livro. Suas influências literárias estão no modernismo de Drummond e na poesia marginal de Leminski. Entre os alagoanos, estão Graciliano Ramos, Ledo Ivo e José Geraldo Marques.
Para os jovens autores, diante deste triste cenário, a Academia Alagoana de Letras cumpre um papel ainda mais triste ao se fechar para os novos escritores. Milton Rosendo vê na Academia “apenas um prédio muito bonito” e Bruno Ribeiro afirma que não será a partir dela que os novos vão aparecer. Um bom exemplo disso é Beto Brito. Ele enviou um convite à Academia para o lançamento de seu primeiro livro, mas ninguém apareceu. “Se no Brasil se lê pouco, em Alagoas se lê menos ainda”, afirma Beto.
Milton Rosendo, Bruno Ribeiro, Igor Machado e Beto Brito têm muitos pontos em comum. Possuem influências da música, do Modernismo brasileiro, apreciam a literatura alagoana, sobretudo na figura de Jorge de Lima, gostam da experimentação da linguagem e rechaçam o papel que cumpre a Academia Alagoana de Letras. Mas com certeza não gostariam que entre estes pontos estivesse a dificuldade de publicar seus trabalhos.