Já é quase noite em Maceió. Em pleno sábado, enquanto muitos se preparam para agitação das boates e barzinhos, um pequeno grupo se reúne em uma casa na Rua Clarêncio Jucá, no bairro do Farol. Sentados em almofadas e rodeados por objetos coloridos que consideram sagrados, eles pronunciam ritmicamente palavras de um idioma que vem do outro lado do mundo: o tibetano. Sinos dourados soam acompanhando a cadência da poesia. Religião? Para eles, os budistas, não é disso que se trata.
O Budismo surgiu cerca de 500 anos antes de cristo. Um príncipe do reino de Kapilavastu, localizado numa região que é atualmente parte da Índia, decidiu abandonar todo o conforto da vida no palácio para viver como um mendigo. Sidharta Gautama buscava compreender o sentido da vida e a razão de tanto sofrimento pelo qual os seres vivos passam. Meditando, sentado sob a sombra de uma árvore, ele encontraria a verdade que procurava, atingindo estado de Buda. Seus ensinamentos pregam que para encontrar a paz absoluta, a verdade, o ser humano deve se afastar de qualquer tipo de apego, seja a coisas materiais ou até mesmo a algum pensamento.
É para chegar a tal nível de “iluminação” que os budistas em Maceió e no mundo cercam-se de símbolos que remetem a Sidharta Gautama e outros Budas. Não se trata de idolatrá-los, pois não são deuses, mas de conectar-se com a essência deles, para chegar ao mesmo estado que eles alcançaram. O Budismo é, para os praticantes, uma filosofia de vida que visa o crescimento pessoal e não uma religião.
Chagdud Tulku Riponche é como chamam o homem quem trouxe o Budismo Tibetano para o Brasil. Tulku é o título dado para aqueles que, segundo acreditam os budistas, poderiam já ter se fundido com o universo (nirvana; iluminação), mas renascem apenas para ajudar outros seres. “Riponche” significa “mestre especial” e a tradução de Chagdud é “nó de ferro”. Acredita-se que ele tinha a incrível habilidade de dobrar espadas com as mãos. Exilado do Tibet na década de 1950 por causa da invasão chinesa, o mestre viveu alguns anos na Índia e depois nos Estados Unidos. Em 1995, se mudou para Três Coroas, no Rio Grande do Sul. Ele criou o primeiro templo budista tibetano naquela cidade e, em 2001, veio a Maceió fundar o centro Kunzang Ling.
Há cerca de 3 meses, o Centro Budista de Maceió passou a contar com a presença em tempo integral de um Lama, ou seja, um mestre. Lama Kempa nasceu no Butão, um pequeno Reino vizinho ao Tibet, e foi lá onde recebeu os ensinamentos que hoje repassa aos discípulos em Alagoas.
O Lama tem a intenção de promover uma reforma no centro, que atualmente não dispõe de um templo tradicional, mas apenas um altar improvisado. Parte da reforma passará pelas mãos do próprio Kempa, que é conhecido na comunidade budista pela sua extraordinária habilidade no trabalho com madeira.
Com a reforma, espera-se que o Centro receba mais praticantes. Os rituais recomendados para iniciantes são realizados aos sábados, às 18 horas.