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Universidade Federal de Alagoas - UFAL
 

18/11/2009
Educação
PAESPE: UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL

Prejudicados pela má qualidade de ensino nas escolas públicas de Alagoas, alunos contam hoje com programa que os estimula a estudar e ingressar na universidade

Por Roberta Batista

É na sala 5 do Centro de Tecnologia (Cetec) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) que funciona de segundas às sextas-feiras, de 18h30min às 21 horas, e aos sábados, de 8 às 12 horas, um programa de estímulo a inclusão de alunos provenientes de escolas públicas de Alagoas na Universidade: trata-se do Programa de Apoio às Escolas Públicas do Estado (Paespe).

Criado em 1992, o programa idealizado e coordenado pelo professor do Curso de Engenharia Civil da Ufal Roberaldo de Carvalho Souza, desde 2005 (ano de sua nova versão) funciona no Ctec e atende às escolas estaduais circunvizinhas à Ufal, tem suas ações registradas na Pró-Reitora de Extensão (Proex) e a partir de 2006 passou a fazer parte do Programa Pedagógico do Curso (PPC) de Engenharia Civil. O Paespe tem como uma das alunas da primeira turma, a hoje, doutora em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professora do Ctec, Adriana de Oliveira Santos.

Mas não é porque o tempo passou que as histórias do Paespe deixam de ser interessantes. Dois dias de conversas com os alunos participantes, descobre-se que naquela sala 5 existem pessoas inteligentes que no futuro podem ser de grande valia para a Universidade, ou melhor, para a sociedade. Alunos privilegiados por passarem nas duas etapas de seleção, uma prova de matemática e uma redação, já que os que se preparam nas escolas não têm a chance de receber material didático grátis, aulas com professores da Ufal e alunos-instrutores, plantão de dúvidas, biblioteca, laboratório de informática, lanche aos sábados e o mais almejado e mais difícil de conseguir, o vale-transporte.

Alunos que têm em comum em suas escolas a ausência de professores, geralmente em disciplinas como matemática, química e biologia; também possuem pais humildes que se preocupam com a educação de seus filhos, mas que não podem pagar os melhores colégios privados de Maceió ou os melhores cursinhos pré-vestibulares para ingressar na Universidade.

EXEMPLOS DE SUPERAÇÃO – São os casos de Ayane Adelina da Silva, aluna da Escola Estadual Romeu de Avelar, no Tabuleiro, Álida Camila Ribeiro do Nascimento, aluna da Escola Estadual Geraldo Melo dos Santos, no Graciliano Ramos, e de Luciano José Rego Bezerra Júnior, aluno da Escola Estadual Margarez Lacet, também no Tabuleiro. Todos com 17 anos, são alunos da 3 ª série do ensino médio e têm histórias de superação e motivação para contar, apesar da falta de professores nas suas respectivas escolas.

Álida Ribeiro, filha de um vendedor de peixes Antônio do Nascimento, 43 anos, e de uma voluntária da Sociedade Pestalozzi de Maceió, Luciene Ribeiro dos Santos, 42, que vai prestar vestibular para Serviço Social fala da importância do programa na sua vida: “Se não fosse o Paespe, eu não ia fazer vestibular, porque no colégio não tenho, desde o começo do ano, professores de matemática, física e química, e a de português já avisou que vai se aposentar em breve e não tenho como pagar um cursinho”. Sobre o que aprendeu nas matérias dos 3 anos do ensino médio ela afirma que os professores ensinam até onde os alunos querem e podem chegar, “basta a gente querer, ter a vontade”.

Luciano Bezerra Júnior ressalta a má vontade de alguns professores de sua escola, afirmando que em função disso não sabia nada de física, e só veio aprender alguma coisa no 1º e 2º anos no Paespe. “Também aprendi a ter mais dedicação aos estudos, disciplina, a estar mais focado no que buscar, que é o vestibular”, ressalta o aluno, que prestará vestibular para Engenharia Civil. Tamanho é o entusiasmo de Luciano e da irmã, que estuda em casa, que influenciou o pai, Luciano José Rego Bezerra, um autônomo de 44 anos, a voltar a estudar e se inscrever para o curso de Geografia Bacharelado, fazendo prova na mesma época que os filhos.

Luciano ficou responsável por descobrir na sala de aula quais alunos tentarão uma vaga nos cursos de exatas da Ufal. Toda as terças e quintas, o grupo estuda com a “lenda viva” de cálculo da Universidade, Chico Potiguar. Além dessas aulas, ele estuda também às quartas-feiras, num programa denominado Conhecer e Experimentar a Engenharia (CEENG).

Ayane da Silva é bolsista de iniciação científica júnior, a Bic Júnior da Fundação de Amparo à Pesquisa de Alagoas (Fapeal). Apesar da carência de professores de exatas na Romeu de Avelar, vai prestar vestibular para Matemática Licenciatura e credita ao Paespe a disciplina adquirida nos horários de estudo, o maior respeito à figura do professor e a oportunidade de passar no vestibular.

Mas não só de jovens é composto o programa em que são ministrados todos os assuntos referentes aos 3 anos do ensino médio, em 10 meses, e conta com a dedicação voluntária e gratuita de todos os envolvidos. Os professores voluntários são do Cetec, do Instituto de Matemática, do Instituto de Química e Biotecnologia, do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde, da Faculdade de Letras, mestrandos em Recursos Hídricos e Engenharia Civil, alunos instrutores de todos estes cursos citados e alunos do Programa de Educação Tutorial (Pet) dos cursos de Engenharia Civil e Letras.

Alda Felix Ribeiro, 34 anos, funcionária da A. J. Serviços Terceirizados que presta serviços para a Ufal, faz parte da turma dos mais experientes. Soube por uma colega de trabalho que haveria seleção para o Paespe, inscreveu-se e passou. Ela afirma que apesar das dificuldades iniciais, só chegou onde está devido às boas aulas e ao estímulo dos professores na retirada de dúvidas, e na entrada constante do coordenador Roberaldo Carvalho na sala de aula para incentivá-lo, ou mesmo para chamar a atenção da turma que está eufórica, hoje, serve de estímulo para os colegas “Depois que me viram fazendo, eles querem fazer também”, diz a disciplinada aluna, que apesar de uma cansativa jornada de trabalho não deixa a simpatia de lado. “A parte mais difícil é conciliar estudo com o trabalho, mas o aluno tem que fazer a parte dele”, afirma Alda.

A funcionária da A.J. vai prestar vestibular para História Licenciatura e mostra um largo sorriso e um entusiasmo contagiante ao falar que voltaria, com muito prazer, a dar aula no Paespe. Entusiasmo tão evidente que além de contagiar os colegas de trabalho contagiou também o casal de filhos que logo prestará vestibular.

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