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Universidade Federal de Alagoas - UFAL
 

12/11/2009
Saúde
MEDO: O MAL NECESSÁRIO

Esse sentimento é despertado como forma de defesa diante de situações de perigo e considerado seguro para o convívio em sociedade

Por William Correia

“Tudo começou quando a minha avó faleceu, no mesmo dia em que fazia três meses que meu tio, que também me criou, tinha falecido. A partir daí tive a primeira crise nervosa e entrei em depressão: passava os dias sem vontade de fazer qualquer coisa, pedi demissão na escola onde trabalhava, deixei de sair para festas, deixei de namorar, tinha medo de ficar completamente sozinha, ao mesmo tempo não conseguia ficar em lugares movimentados. Eu tinha medo dos outros, eu tinha medo da vida”. A declaração é de uma jovem extrovertida e muito comunicativa que viu sua vida dar um giro através de sentimentos que desenvolveram uma patologia chamada Síndrome (ou Transtorno) do Pânico, uma espécie de grau mais elevado do medo. Assim como se sentia a estudante Mayara dos Santos, de 25 anos, muitos outros jovens e adultos passam por situação parecida.

O medo é um sentimento despertado no ser humano como forma de defendê-lo de situações estranhas à sua segurança física ou mental, uma situação natural de reação a um perigo eminente. É uma sensação que pode ser considerada segura para o convívio em sociedade, pois serve para conter certas atitudes que poderiam ser tomadas instintivamente, protegendo a quem se sente ameaçado. De aversão a pequenos insetos a medo de permanecer em lugares com grande circulação de pessoas, esse estado de alerta pode levar o homem a abandonar atividades que naturalmente faziam parte do seu dia-a-dia como conversar com amigos ou ir a um supermercado próximo a sua casa.

QUANDO PROCURAR AJUDA – Trabalhando há vinte anos no tratamento de pacientes que sofrem com a Síndrome, a psiquiatra Marleide de Oliveira Araúna afirma que “o medo é natural, e o pânico é o medo exagerado”.

Por ser mais comum do que se imagina, e principalmente por possuir essa característica de refrear uma ação impulsiva, o medo é considerado uma condição saudável ou, ainda, necessária. Mas, a partir do momento em que esse simples medo passa a atrapalhar o andamento da vida social do portador, precisa-se desligar a luz de alerta que reprime nosso impulso e ligar aquela que diz estar na hora de procurar um acompanhamento especializado. O primeiro sintoma é o isolamento sem motivo aparente, sem uma causa concreta. É aí que começa a agir o que a ciência denomina como Síndrome do Pânico.

Nesse momento é de crucial importância a participação da família e de pessoas próximas. São elas que detectam, a princípio, a mudança de comportamento da pessoa que sofre do Transtorno, além de ajudarem no tratamento do paciente, que precisa ser tratado de forma natural; devem também mostrar que entendem o momento que ele está passando e que estão ao seu lado para ajudar a superar o quadro.

Grande percentual da população não conhece (ou não reconhece) os sintomas da Síndrome, então, por se tratar de um transtorno psíquico, ou seja, que envolve subjetividade, julga-se que o Transtorno do Pânico é um momento de fraqueza que termina da mesma forma que começou: do nada. Porém, esse “do nada” não tem fundamento. No mundo contemporâneo, diversos fatores são responsáveis por desencadear doenças psíquicas, entre eles estão a falta de perspectiva e o stress característico da correria diária.

Pessoas acometidas desse mal passam por momentos angustiantes (físicos e mentais) quando começa uma crise: a sensação de que vai morrer é a mais comum nesses momentos – em alguns casos, ao passo que têm medo, desejam a morte. Além desta “horrível sensação”, sentem vertigem, formigamentos, falta de ar, ansiedade, palpitações e tantas outras características que variam conforme o paciente.

TRATAMENTO: TERAPIAS E MDICAÇÃO –O tratamento de um paciente que apresenta TP dura em média seis meses, e é feito à base de terapias e medicação. A partir do 14º dia, o próprio paciente já começa a sentir uma pequena melhora. Durante os seis meses é analisado se o paciente tem alguma crise, caso não tenha apresentado nenhuma durante esse tempo, diminui-se a medicação e ele começa a receber alta. A terapia e a quantidade de remédios são aumentadas para um ano caso o paciente continue tendo episódios de pânico, e, se ainda assim o paciente não apresentar melhoras, o tratamento é prolongado para dois anos.

Não há um período exato da vida em que surgem os sintomas do TP, da mesma forma que não há um motivo específico que o faça aparecer, mas é preciso que se leve em consideração que muitos casos têm início devido a situações que foram vividas na infância e que foram retomadas por um contato com o motivo, fazendo o indivíduo resgatar a lembrança e desenvolver, a partir daí, aversão a determinada situação. A forma de criação pode também influenciar na formação de TP na criança: mães que sentem medo exagerado podem passar esse comportamento para a criança, fazendo-a desenvolver o quadro através do que a psiquiatra chama de “aprendizado do modelo”.

Também não existem estudos comprovando que o TP possui um fator genético ou hereditário desencadeante, pois se pode encontrar um mesmo gene na formação de diferentes tipos de transtornos psíquicos. Mas vem sendo verificado que a maior parte dos pacientes que apresentam o quadro de TP são mulheres, e por esse motivo se discute hoje, na psiquiatria, o motivo de essa quantidade ser maior no sexo feminino – é necessário saber se é um caso de alteração hormonal ou se a mulher é mais “frágil” que o homem.

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