Todo mundo conhece a história.
Nos tempos do Rei Ricardo Coração de Leão, a floresta de Sherwood era habitada por um lendário herói inglês. Habilidoso com o arco e a flecha, Robin Hood ficou famoso porque roubava dos ricos para dar aos pobres. O charmoso ladrão (digo isso por causa do Kevin Costner) era ajudado por seus amigos João Pequeno e Frei Tuck, bem como por outros moradores da floresta. O “Príncipe dos ladrões” também gostava de vaguear pelas árvores e de defender a liberdade. Tenha existido ou não, o certo é que o simpático fora-da-lei é um símbolo.
O cinema já fez várias adaptações da história de Robin Hood. Algumas boas, outras bastante ruins. Mas existe uma versão brasileira que está causando muita confusão e merece ser analisada.
Na verdade o Brasil não é o Brasil. É Sherwood. E, sendo Sherwood, não poderia deixar de ter também o seu “Príncipe dos ladrões”. Lula é o nosso Robin Hood. Só que às avessas. Tira dos pobres para dar aos ricos. Nunca na história desse país – como costuma dizer o presidente – os ricos lucraram tanto. Só no ano passado, Lula retirou do bolso dos trabalhadores a espantosa quantia de R$ 275 bilhões para pagar os juros das dívidas externa e interna ao FMI. Detalhe: dívidas que não são dos trabalhadores. Uma grande fatia do orçamento de 2006 (quase 40%!) foi tirada do povo e entregue aos banqueiros nacionais e internacionais. A situação calamitosa da saúde, da educação, a paralisia da reforma agrária e o desemprego são frutos da política econômica neoliberal de Lula. Uma política muito mais perigosa do que qualquer arco e flecha.
Vivemos a era dos contrários, a era da marcha à ré. Todas as conquistas que os trabalhadores arrancaram da burguesia no século passado estão sendo escandalosamente retiradas. Fome, miséria, desemprego, arrocho salarial, tudo isso para que as empresas retomem suas taxas de lucros. As reformas neoliberais (trabalhista, sindical, previdenciária etc) cortam direitos históricos, muitos conseguidos com o sangue e a vida de milhares de trabalhadores. Sob o governo de nosso Robin Hood às avessas, os banqueiros estão faturando uma fortuna. Em 2005, foram R$ 33,8 bilhões. Em 2006, R$ 42 bilhões, bem mais que todos os recursos gastos pelo governo com saúde e reforma agrária. Se você ainda não percebeu, abra bem os olhos. Lula é o FHC com cara de operário. Mas só a cara.
O enigma de nossa Sherwood tupiniquim não é a falta de recursos, mas com quem eles ficam. Se parássemos de pagar as dívidas, poderíamos resolver graves problemas. Com os R$ 275 bilhões, acabaríamos com o déficit habitacional, com o desemprego, assentaríamos as famílias sem-terra e ainda dobraríamos o orçamento destinado à saúde e educação. Mas só se o Brasil não fosse Sherwood e nós não tivéssemos um Robin Hood que tira dos pobres para dar aos ricos.
Nem é preciso pensar muito. O Kevin Costner é bem melhor.