Estava em Garanhuns jogando cartas com meu sobrinho quando escuto ao fundo Lenine cantando na novela
Caminho das Índias. Fiquei estupefato! Disse para minha mãe de pronto: "Rapaz! A outra novela, aquela
Duas Caras, também tocava uma música de Lenine, e agora ele engata mais uma na novela das oito seguinte!"
Fiquei realmente pasmado. Daí a primeira pergunta que me veio foi: "Será que não há artistas no Brasil suficientes para ocupar a grade sonora das novelas globais, a ponto de termos um mesmo artista gozando dos benefícios de ter um música numa telenovela?"
É óbvio que existem centenas ou milhares de artistas com uma qualidade de produção suficiente para serem ouvidos por milhões de telespectadores. O problema é que nem todos moram no Rio de Janeiro, terreiro-mor da Rede Globo. Também nem todos pertencem a uma grande gravadora como a de Lenine, que é a Universal.
Longe de mim duvidar da qualidade técnica e artística do pernambucano Lenine. Pelo contrário, eu gosto de suas canções, tenho em meu mp3 player as músicas de seu mais recente CD, intitulado Labiata, que é uma primorosa obra da Música Popular Brasileira. No entanto, a minha crítica fica aqui registrada para a Rede Globo, que é uma empresa que funciona por concessão pública, mas não abre espaço democrático para que um número maior de artistas sejam apreciados. Assim, a empresa não faz jus ao slogan “A gente se vê por aqui”, uma vez que todos os dias vemos o Cristo Redentor nas novelas, mas nunca assistimos ao Teatro Municipal de Manaus, nem escutamos Vitor Pirralho ou a Banda Eddie nos folhetins.
Precisamos de um modelo de comunicação mais democrático que o atual, para que mais pessoas tenham oportunidade de chegar a um público maior. A Reforma Agrária do Ar* de Wado não serve só para o rádio, a televisão também precisa de uma reformulação.
(*) Para ouvir Reforma Agrária, de Wado, baixe o CD Terceiro Mundo Festivo em www.uol.com/wado.