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Universidade Federal de Alagoas - UFAL
 

07/01/2009
Opinião
Sobre nosso déjà vu e escolhas infames

Crônica: João Paulo da Silva

Por João Paulo da Silva

Déjà vu. A expressão é de origem francesa e quer dizer, literalmente, “já visto”. Usando uma explicação bem simples, o fenômeno pode ser definido como uma reação psicológica que causa a sensação esquisita de estar revivendo experiências do passado. Ficamos com uma impressão de estranheza na cabeça. “Isto já aconteceu antes?” – nos perguntamos muitas vezes.

A cada ano que passa, Maceió vive um déjà vu. O último ocorreu no dia 31 de dezembro de 2008. Com o decreto que estabeleceu o novo valor da passagem de ônibus na capital alagoana para R$ 2, o prefeito Cícero Almeida ofereceu a seus eleitores mais uma daquelas incômodas impressões de repetição. Mas há um problema nisso tudo.

O déjà vu maceioense não é um déjà vu clássico. Possui uma diferença. Além do conhecido efeito repetitivo, nossa sensação do “já visto” provoca também um reajuste de preço. Há quatro anos é o mesmo déjà vu, mas sempre com um peso a mais no bolso. Penso, inclusive, que Almeida deveria ter ido a Pequim. Só em 2008 foram dois aumentos de passagem de ônibus. De fato, um recorde. Um déjà vu olímpico.

O novo valor do transporte urbano imposto por Cícero fez com que 2009 já nascesse maculado. Como se não bastassem a crise econômica e as demissões feitas pelas empresas com a permissão dos governos, Almeida ainda resolveu dar uma forcinha para aprofundar a miséria em Maceió. Não é apenas um novo aumento de passagem que está sendo imposto.

Cícero está impondo também uma opção. Agora, os trabalhadores e pobres de Maceió terão de fazer uma escolha infame: colocar mais comida em suas mesas ou pegar um ônibus para ir ao trabalho. Isso para aqueles que possuem algum tipo de renda, claro. Porque para todo o resto não há nem escolhas, o que não deixa de ser infame.

Parece que “2000inove” não será tão inovador assim. Tudo indica que os mais de 8,6 milhões de passageiros que por mês utilizam os coletivos continuarão se espremendo na insuficiente frota de 648 ônibus de Maceió. Com uma única diferença: vão pagar mais caro por isso.

A justificativa para o aumento da tarifa do transporte é uma velha desculpa esfarrapada: a elevação do preço dos insumos. Debitando na conta do povo os gastos com diesel, pneus e peças, o lucrativo setor do transporte coletivo realimenta uma conhecida máxima: privatizar os lucros e socializar os prejuízos. Há quase vinte anos utilizo os ônibus de Maceió e nunca vi os empresários pagarem a conta.

Esse ano será déjà vu atrás de déjà vu. E cada um mais infame que o outro.



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