Você, provavelmente, já deve ter visto nestes últimos dias várias retrospectivas do ano de 2008. Todos os meios de comunicação costumam organizar e relembrar os fatos que marcaram estes 365 dias. Se cada um de nós fosse fazer sua própria retrospectiva, destacando o que de mais importante aconteceu no mundo, com certeza teríamos inúmeros resultados diferentes. Mas, possivelmente, os retrospectos seriam iguais num ponto: o das tragédias.
Destacaríamos, de forma esmagadora, mais tragédias do que benignidades em 2008. Mas e as Olimpíadas da China? – alguém pode argumentar. Ok. Foi um espetáculo belíssimo, concordo. Entretanto, por trás de toda aquela beleza estava escondida a exploração de milhões de trabalhadores chineses. Evidentemente uma tragédia. Mas isso nem todos colocariam em suas retrospectivas.
Ei! Espere aí. – outra pessoa pode reclamar – E a eleição do primeiro presidente negro dos EUA?! Também é uma tragédia?! Não exatamente, eu diria. Quando um país historicamente racista elege um negro, é preciso reconhecer que houve importantes avanços. O problema com Barack Obama é que ele é uma tragédia em potencial. Não por ser negro, claro. Mas por representar uma esperança que vai acabar em decepção, basta olhar o programa de governo do novo presidente. E as decepções geralmente são prelúdios de tragédias.
Não há o que discutir. 2008 foi um ano trágico. Assistimos a catástrofes ambientais inimagináveis. E olha que o planeta só deu umas sacudidelas. Nos escandalizamos bastante também. O sinistro é que o escândalo da impunidade dos corruptos é maior do que os próprios escândalos de corrupção. O caso do Daniel Dantas não é só emblemático. É também extravagante. É a falência das falências.
O retorno da dengue e o resultado das eleições municipais foram tragédias com sensação de déjà vu. Você, tragicamente, olha e diz: eu já vi isso antes. Só não achava que podia ficar pior, não é verdade? E há, também, a crise econômica, que é uma espécie de tragédia em aberto. Alguém precisa pagar a conta do crack. Espero que não seja o trabalhador. Porque aí a tragédia será completa.
Em 2008 fomos de desgraças individuais a tragédias coletivas com uma intensidade descomunal. E elas já provaram que não podem ser resolvidas em apenas 365 dias. 2008 é um ano que não pode acabar. Não enquanto não acertarmos as contas com ele. Gostaria de fazer um pedido aos deuses do tempo, mas, se não for possível, o pessoal que organiza os calendários pode dar uma forcinha. Precisamos de mais tempo. Nos dêem mais 365 dias neste ano para resolvermos nossas pendências. 2008 não pode passar imune ao nosso castigo. Do contrário, corremos o risco de 2009 já nascer velho.
Ok. Tudo bem. Entendo que talvez eu esteja pedindo tempo demais. Mas, por favor, concedam pelo menos mais um mês. Alguém precisa acertar aquela sapatada no Bush antes do ano acabar. Essa é a minha condição para entrar em 2009. E eu não abro mão!