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Universidade Federal de Alagoas - UFAL
 

02/12/2008
Opinião
O dia em que me tornei amigo do Moacyr Scliar

Crônica: João Paulo da Silva

Por João Paulo da Silva

Foi com O Exército de Um Homem Só que tive meu primeiro contato com a literatura de Moacyr Scliar. Mesmo sendo ainda um moleque, achei o livro fabuloso, cheio de pequenas e grandes revelações. Mas o fato é que esta obra me permitiu conhecer muitos outros livros do Moacyr, como Mês de Cães Danados e A Guerra no Bom Fim. A admiração pela prosa humana e reveladora do Scliar me levou a assistir, na noite de sexta-feira, 28 de novembro de 2008, sua palestra sobre Graciliano Ramos e os 70 anos de Vidas Secas. É claro que Graciliano sozinho já é um espetáculo, entretanto, naquela noite, fiquei com a sensação de que o Velho Graça não era a estrela absoluta.

A palestra do Moacyr em Maceió estava marcada para as 19h30, mas só foi começar mesmo depois das 20 horas. Eufórico como uma tiete, me sentei na terceira fileira das cadeiras do auditório. Nas mãos, eu segurava apenas minha caneta e meu exemplar de Mãe Judia, 1964, pronto para conseguir um autógrafo. Quando vi o Moacyr Scliar entrar no auditório, virei para um amigo e falei extasiado:

- Lá vem ele! É o Moacyr! Lá vem o Moacyr, caramba!

- Sossega o fogo aí, rapaz! – repreendeu o amigo.

Minha tietagem só não foi maior porque não levei pompons e não fiquei gritando: Moacyr, Moacyr, Moacyr! O que por um lado foi bom, me fez evitar o ridículo. Mas devo confessar que uma forte emoção me assaltou naquele momento. Era a primeira vez que eu estava diante de um dos meus escritores prediletos. Além disso, também era a primeira vez que eu estava vendo de perto um gaúcho, que só conhecia das histórias que contam por aí. Fiquei esperando o momento em que ele usaria o “tu” ao invés do “você”. E ele usou. Após a palestra, fiz uma observação sobre Graciliano Ramos. Aí o Scliar respondeu: “Tu tens toda razão no que tu falas”. Achei muito engraçado aquilo. O Moacyr usou o “tu” com aquele sotaque gaúcho, mas ficou devendo um “barbaridade, tchê”.

Durante toda a palestra, fiquei atento ao que o Moacyr Scliar falava. Por quase duas horas, ele falou da vida do Graciliano, da força de Vidas Secas, revelou algumas fofocas do meio literário e contou anedotas da literatura em geral. Mas duas coisas me chamaram a atenção no palestrante. A primeira é que o Moacyr parece um bom velhinho, com aquela cara de vovô bonachão. Um pouco mais de barba e cabelo fariam dele um simpático Papai Noel. A segunda, e mais engraçada, é que ele é bem rosadinho, o que acabou me dando a impressão de estar vendo um desenho animado.

Terminada a palestra, começou a sessão tietagem. E eu estava no meio, claro. Para onde ia o Moacyr, eu ia atrás. Não sairia dali sem meu autógrafo e pelo menos uma foto. Se, por acaso, ele esboçasse qualquer movimento de fuga, eu não hesitaria em pular em seu pescoço.

Depois de ficar na cola dele por um tempo, finalmente consegui. Não tirei uma foto, tirei três. Sempre muito simpático, ele autografou meu livro com os seguintes dizeres: “Para João Paulo, leitor brilhante. Abraço do Moacyr.”. Foi o primeiro autógrafo que recebi na minha vida. E isso não é qualquer coisa. Eu até ganhei um elogio do cara, pô!

Agora, depois de ter conhecido o Moacyr Scliar, ter tirado três fotos e ter ganhado um autógrafo, vou exigir mais respeito em todos os lugares. Tão pensando o quê?! Agora eu sou amigo do Moacyr, rapá!

Na escola, durante as aulas de literatura, quando um aluno estiver bagunçando, vou dizer:

- Ô rapazinho! Você sabe com quem está assistindo aula? Com o amigo do Moacyr Scliar! Então, por favor, mais respeito, hein!

Na hora de reivindicar um salário melhor:

- Não vou aceitar essa ninharia não. Vocês sabem quem eu sou? Sabem? Sou amigo do Moacyr Scliar. Quantos amigos do Moacyr vocês conhecem, hein?! Vamos, respondam!

Bom, tudo bem que o Moacyr ainda não sabe que somos amigos. Mas nisso eu penso depois.

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