Ele era filho de um estupro! Essa revelação ainda lhe doía como uma tapa na cara. Sempre acreditou que vivia com seus legítimos pais, até ouvir e sentir todo o ódio de sua mãe contra ele após ter tirado uma nota vermelha no boletim. “Continue assim que irá seguir o caminho de seu pai, que frustrado, me estuprou e lhe fez. Seu filho de um estupro!”. Eram palavras ditas em um momento de raiva, mas que não saiam da cabeça de Tibério, um jovem de apenas 16 anos.
O garoto soluçava e gemia de dor. Imaginar que seu pai na verdade era um estuprador e que havia abusado de sua mãe quando ela voltava da Universidade para casa. O que mais doía era pensar quantos irmãos ele teria por aí, espalhados em várias famílias, abandonados ou mortos. Seu pai era um monstro que, agora na prisão, caso esteja preso, podia estar provando um muito de seu próprio veneno.
O pai é o espelho de uma criança, qual seria o futuro de Tibério agora que a pessoa a qual devia se espelhar era um merda que violentava mulheres pelas ruas de Maceió? No momento em que sua mãe lhe revelou o segredo não sentia raiva, apenas pena. Pena por saber que ela era tão vítima quanto ele, uma pessoa que não era amada, que era oriundo de um dos mais nojentos gestos que um homem pode cometer. Qual seria o destino de alguém que era fruto de uma ação horrenda? Pensou o que sentiria quando chegasse o Dia dos Pais, a quem daria o presente?
Gostaria de saber o porquê de sua mãe o ter parido. “Podia me matar, assim não teria que carregar essa lembrança ruim por toda a vida. Porque é isso que sou: Uma lembrança ruim!”. Pensando, concluiu que sua mãe teve medo de matá-lo, afinal de contas ele também era uma vítima. Uma vítima que por causa de uma nota vermelha sofria as dores de ser uma vítima. Viu na atitude da mãe uma forma de mostrar afeto, apesar de toda a raiva que sentia ao lhe ver. Precisaria tomar uma atitude em gratidão a esse ato da mãe e o que retribuía era com notas vermelhas e tristezas. Agora entendia o porquê de ela explodir e passar-lhe na cara que ele era filho de um estupro, algo que só trazia más lembranças.
No primeiro momento sentiu vontade de fugir de casa, assim a mãe não se lembraria do que foi vítima. “Mas tem milhares de fotos minhas espalhadas pela sala, tem amigos que perguntariam por mim. Eu sempre estarei presente se fugir. Uma lembrança ruim não se afasta assim”, pensou enquanto praticava a ação que mais lhe pareceu certa. Porém teve os pensamentos interrompidos pela faca que lhe atravessou o pescoço. “Só fazendo o que minha mãe não teve coragem de fazer é que tudo ficaria como deveria ser...”.
Sangue, um corpo e uma faca ensangüentada....
No chão!