Dia desses na universidade me acomodava melhor na carteira quando tentei mexer minha perna e... Não consegui, puxei, me movi, foi quando percebi que uma goma de mascar grudara em minha calça, um educado e incógnito aluno havia delicadamente fixado seu chiclete desgastado na cadeira da frente. Mais do que a indignação de ter a roupa manchada e ver a cadeira recém-adquirida pela universidade maculada, esse ocorrido desencadeou em mim uma série de ponderações.
Se este tipo de material demora cerca de 5 anos para se decompor na natureza, significa que, caso não seja retirada, cogitei, essa goma será vista pelos estudantes que ingressarão na universidade futuramente, mesmo por aqueles que, hoje, ainda estão na 7ª série do ensino fundamental.
Parece retórica de ambientalista, mas permeia princípios humanos fundamentais, inicia na educação e deságua na consciência de si e do outro.
Recordei ainda de um tropical passeio de barco que fiz pela lagoa Mundaú. Em meio à vegetação, admirava o cenário composto por garças brancas sobrevoando a área, lagoa ao redor e peixes que esporadicamente saltavam para fora da água. Enquanto navegava sob os galhos do manguezal, me deparei com uma desagradável intervenção antrópica. Uma fralda descartável, descartada no mangue!
Calculei. Fiquei surpresa ao constatar que a imagem que vi naquele dia será compartilhada com meus descendentes. Não, não fotografei, mas os tataranetos dos bisnetos dos netos dos netos dos meus netos verão a mesma fralda que vi se forem àquele local nos próximos 500 anos – isto é, se este bioma sobreviver até lá.
Ouvi um especialista refletir que o lixo que produzimos não irá para a Lua ou para Marte, mas ficará aqui, na Terra. O consumo desenfreado parece conduzir-nos à ruína. Isso nos convida a pensar duas vezes antes de jogar aquela latinha de refrigerante vazia no meio da rua, a menos que queiramos reencontrá-la daqui a uma década. Ou lembrar que o cigarro consumido e depois lançado fora vai se decompor em um ou dois anos... Sem esquecer do palito de fósforo usado para acendê-lo, que sumirá em 6 meses.
A garrafa Pet abandonada na praia após um domingo de sol, vai compor a paisagem litorânea por, no mínimo, um século e não precisa ser especialista para constatar que embalagens plásticas não combinam em nada com o mar azul e areia branca.
As garrafas de vidro dispendiosamente consumidas, mesmo que inutilizadas por nós e, claro, pela natureza não evaporarão como a água, não serão reaproveitadas ou recicladas como o papel nem entrarão em decomposição nos próximos cinco, dez, vinte ou cinqüenta anos. Mas sumirão um dia... porém não espere isso acontecer, você não estará mais aqui em cem anos.
Resíduos sólidos como sacolas plásticas, restos de alimentos, tecido ou folhas de papel também são despejados inconscientemente. Entre o consumo e o desperdício a lógica do capital permeia e demanda.
Não pense que me orgulho disso, mas foi preciso estragar uma de minhas roupas para que eu pudesse me dar conta do quão alarmante é a situação. É aí que reside a estupidez: no individualismo e no comodismo de achar que é pura balela esse papo de consciência ambiental e essa história de reduzir, reutilizar e reciclar. De qualquer forma, não espere o chiclete grudar para acordar. Quantas calças terá que prejudicar até entender que é da sua genealogia que estamos falando?
Multiplique o 1kg (aproximadamente) de lixo que você produz durante o dia pelos anos de sua vida e responda: É esse o legado material que você pretende deixar de herança aos seus descendentes?