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Universidade Federal de Alagoas - UFAL
 

02/07/2008
arte
Terror!

Crônica/conto: João Paulo da Silva

Por João Paulo da Silva

Um casal de amigos meus tem um filhinho. O moleque era os pés do cão. Travesso e desobediente, aos cinco anos já queria mandar no próprio nariz. Não gostava de tomar banho nem de comer verduras e legumes. As tarefinhas da escola – meu Deus! – nem se fala. Um terror!

- Julinho, venha fazer a tarefinha.

- Não. Não quelo!

- Oh meu filho. Se você não estudar, vai acabar ficando burrinho.

O moleque, ignorando o apelo da mãe, balançava os ombros em sinal de desdém. Quando ela ameaçava pegá-lo na marra, o pestinha corria pra debaixo da cama. E nem adiantava o pai aumentar o tom da voz ou usar os métodos mais comuns:

- Júlio Roberto da Silva! – os pais quando estão com raiva dizem o nome completo da criança – Já para o banho, rapaz!

E nada do menino sair do esconderijo. O pai tentava de novo:

- Olha, Júlio. É melhor você sair daí. Tem uma cobra embaixo da cama.

- Tem não. E eu não tenho medo.

“Putz!” – pensou o pai. E agora?

- Escuta aqui, seu moleque! Se você não sair imediatamente, eu vou chamar o Velho do saco pra te levar.

- Chame. Num tenho medo mermo.

- E vou trazer também o Bicho Papão! Ouviu?!

- Lero-lero! Lero-lero!

Estavam perdendo a autoridade. Precisavam fazer alguma coisa. Bater? Não. Nunca tinham dado uma palmadinha sequer. Nada de violência física. Procuraram um psicólogo.

- Do que é que o Julinho tem medo?

- De nada. Eu e minha mulher já tentamos de tudo, doutor. Bicho Papão, Velho do saco, monstros de filmes de terror. Sabe aquele do Exorcista?

- Sim.

- Ele deu risada.

O caso era sério.

O psicólogo disse que os pais precisavam buscar inspiração na realidade. Nada de fantasias ou coisas do tipo. As crianças não acreditam mais nisso. Era preciso encontrar no mundo real algo que motivasse o garoto.

Estavam os três na mesa do jantar. E o Julinho, como de costume, se recusava a comer as verduras e os legumes. Aí a TV começou a exibir uma matéria sobre a guerra no Iraque. Naquele mês, fazia três anos da famigerada ocupação do governo norte-americano. O pai não pensou duas vezes. Lascou pra cima do Julinho:

- Olha o Bush! Olha o Bush!

O pobre do moleque arregalou os olhos e começou a tremer descontroladamente. Ficou completamente assustado. Não deu outra. Raspou todo o prato. Não sobrou verdura sobre verdura. Sei que não é um dos melhores métodos. Mas... Agora, ao menor sinal de desobediência do Julinho, os pais ameaçam:

- Ah! Não quer tomar banho não?! Vou chamar o Bush! Olha o Bush!

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