O toque do celular que anuncia o telefonema de minha irmã não veio acompanhado dos porquês usuais. No lugar de “Por que você pegou a minha camiseta?” ou “Por que você não dormiu em casa?”, fui gentilmente acordada com um “Por que você não avisou que ia sair na capa???”, assim mesmo, com um tom efusivo e um quê de orgulho escondidos nas múltiplas interrogações.
No auge do torpor causado pela junção do fato de ser acordada por minha irmã em termos incomuns com o horário despropositado (9 horas da manhã de sábado qualifica-se como despropositado para qualquer universitário com uma vida sócio-sexual razoável), meu cérebro semi-adormecido conseguiu formular um balbucio qualquer em vias de resposta, para só dali a três horas, quando realmente despertasse, vir a mensurar o tamanho da catástrofe.
Entenda: eu sou tímida. Tão tímida que tenho crises de choro após falar para uma platéia desconhecida. A perspectiva de reconhecimento visual me aterroriza, então ter uma sorridente foto minha estampando o canto inferior direito da primeira página do periódico de maior circulação do Estado de Alagoas pode classificar-se como um dos meus piores pesadelos.
O meu Freddie Krueger entrou em casa pela porta da frente. Chegou uma hora depois do combinado, portando uma máquina fotográfica e um sorriso automático. Conversou com a família, fotografou o cachorro para fazer graça, tirou as devidas fotos sérias e partiu para cumprir as outras três pautas do dia. Ele me trouxe o horror de informar a toda a minha família que dentre alguns dias eu sairia no jornal, além da possibilidade desastrosa (que eu julgava mínima) de ocupar um lugar de destaque na publicação.
Mas sair na grande mídia é como morrer. Depois que morre, todo mundo vira santo. Depois que sai sorrindo na capa do jornal também. Devo ter recebidos cumprimentos de centenas de pessoas naquele dia, me parabenizando pela entrevista. Elogios, palavras de incentivo (é, também não fez sentido para mim), e principalmente, saudades da parte de todos. Fiquei pensando que não teria sido diferente se ao invés de tecer breves comentários sobre a proibição dos jogos eletrônicos eu tivesse incentivado a intervenção norte-americana no Iraque.
O único comentário honesto que recebi a respeito dos meus 15 minutos de fama foi o do meu pai. Apesar da forte suspeita que tenho de que ele emoldurou o babado exemplar enviado especialmente por minha avó pelo correio, seu singelo e-mail de reconhecimento trazia apenas as palavras: “Ainda bem que não foi na página policial”.