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Universidade Federal de Alagoas - UFAL
 

10/06/2008
Saúde
MAIS QUE CORAGEM, UM ATO DE AMOR

O transplante é a solução para muitos casos de leucemia e uma série de outras doenças sangüíneas, mas não é tão fácil quanto parece conseguir um doador compatível com o paciente

Por Lorena Sena

Era uma tarde bonita e com muito sol, um final de dia normal para milhares de pessoas, mas não para Maria Cícera que acabara de descobrir, ao voltar do médico, que sofria de leucemia. Ela relata que “foi um choque”, muitas coisas passaram pela sua cabeça e por um momento viu a morte diante de si. A partir daquele instante, uma luta pela vida era travada por Maria Cícera e a sua única alternativa seria conseguir um transplante de medula óssea.

O transplante é a solução para muitos casos de leucemia e uma série de outras doenças sangüíneas, mas não é tão fácil quanto parece conseguir um doador. Primeiro existe a questão da compatibilidade; segundo, a população, de uma maneira geral, não tem conhecimento e consciência do papel que pode desempenhar salvando vidas.

Em Alagoas e no restante do Brasil falta uma política de esclarecimento sobre o tema, pois enquanto milhares de pessoas aguardam numa fila de espera por um transplante, outras tantas nem sabem que podem salvar vidas doando o mínimo de sua medula óssea sem riscos para sua saúde.

Apesar de ser um processo rápido entre a doação e o transplante, não é tão simples encontrar um doador compatível – a chance é de uma em 100 mil.

Em entrevista concedida à AUN, o biomédico Paulo Magno de Ataíde Lamenha do Hemocentro de Alagoas (Hemoal) diz que as dificuldades de cadastrar doadores de medula óssea são grandes, assim como em todo o País. O banco de dados do Estado, por exemplo, conta com aproximadamente 2.569 doadores cadastrados. Esse número só aumenta quando acontecem campanhas. Nesses eventos cerca de trinta a quarenta doadores são incluídos no banco. Diretamente no Hemoal a média fica em torno de três doações por dia.

– Paulo Lamenha explica que o doador deve ter entre 18 e 55 anos e gozar de boa saúde. Para se cadastrar o candidato deve procurar um hemocentro, esclarecer suas dúvidas e em seguida será coletada uma amostra sangüínea de aproximadamente 4ml de sangue para a tipagem de HLA (características genéticas importantes para a seleção do doador). Os dados serão inseridos no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome) para serem sempre verificados. Passando 10 anos após o cadastro, o voluntário deverá realizar um novo para atualizar os dados.

Havendo a compatibilidade com algum paciente, o doador será comunicado e passará por exames clínicos, sorológicos e hematológicos; se tudo estiver normal o transplante poderá ser realizado. Os riscos para o doador são praticamente nulos, pois em poucos dias sua medula estará recuperada e ele poderá voltar a realizar suas atividades normalmente. Já para o pacientes, o risco é de haver rejeição denominada de Doença Enxerto Contra Hospedeiro (DECH), desencadeando uma resposta às células estranhas que “invadiram” o organismo.

“A doação de medula óssea é um gesto de solidariedade e amor ao próximo, para o doador é um incômodo que logo passa, já para o paciente é a diferença entre a vida e a morte”, finaliza Paulo Lamenha.

O QUE É A LEUCEMIA – O sangue, formado por plasma e células, é um dos componentes do corpo humano. No plasma existe água na qual são dissolvidas substâncias químicas como proteínas, hormônios, minerais e anticorpos. As células são os glóbulos vermelhos (hemácias), plaquetas e glóbulos brancos (leucócitos). Cada uma dessas células desempenha uma função importante no corpo humano. Os glóbulos vermelhos, por exemplo, transportam oxigênio e gás carbônico por todo o organismo, as plaquetas auxiliam no controle de hemorragias e os glóbulos brancos são responsáveis pela defesa do organismo.

É na medula óssea – tecido esponjoso e mole localizado no interior dos ossos – que ocorre a produção e a renovação das células sangüíneas. Qualquer alteração em seu funcionamento acarretará no surgimento de inúmeras doenças – inclusive a leucemia.

A leucemia é um dos tipos de doença que decorre do mau funcionamento da medula óssea. Sua principal característica é o acúmulo de células jovens (blásticas) anormais, as quais substituem as células sangüíneas normais. Como prejudicam ou impedem a produção de hemácias, plaquetas e leucócitos, o paciente estará sujeito a quadros de anemia, hemorragia e infecções.

Segundo a hematologista Viviane Nicácio Medeiros Barboza, a leucemia pode ser aguda ou crônica, dividindo-se ainda em mielóide ou linfóide. Os sintomas de cada tipo da doença variam, “palidez, febre sem causa, aumento das vísceras, sangramentos nasais e gengivais, hematomas, são alguns dos sinais e sintomas clínicos”, diz a hematologista. Sua causa também é desconhecida, mas sabe-se que fatores genéticos e ambientais como contato com produtos químicos – querosene, inseticidas, derivados do petróleo, radiação – podem desencadear a doença.

Para confirmar a suspeita do diagnóstico, o primeiro exame solicitado é o hemograma, que indica as alterações nos elementos sangüíneos. Porém, a ratificação da leucemia só pode ser feita através de um exame denominado mielograma. Esse exame é realizado por meio de uma punção óssea seguida de uma aspiração. O procedimento é feito sob anestesia local, sedação ou analgesia sistêmica e são retirados de 5 a 7 mililitros de sangue. Se o diagnóstico for positivo, inicia-se o tratamento que tem como objetivo destruir as células malignas para que a medula óssea volte a funcionar normalmente.

PROCEDIMENTOS NO TRATAMENTO – O tratamento é realizado em várias fases: indução, consolidação e manutenção. Na indução o paciente passa a maior parte do tempo internado, a meta é atingir um aparente estado de normalidade após a quimioterapia. Apesar disso, algumas células ainda ficam no organismo, é o que os especialistas chamam de doença residual mínima e por isso é necessário haver uma continuação dos procedimentos médicos. Nessa fase – consolidação – acontece o tratamento intensivo com substâncias não utilizadas anteriormente empregadas de acordo com o tipo de leucemia. Por fim, a manutenção em que o tratamento é mais brando e continuado ao longo dos meses.

Os principais procedimentos utilizados no tratamento da leucemia são o mielograma para avaliar a resposta do paciente ao tratamento; a punção lombar que consiste na aspiração do líquor – líquido claro que circula entre as meninges –, para a realização de exames e injeção de substâncias utilizadas na quimioterapia; a implantação de um cateter venoso central que facilita a aplicação de medicamentos e derivados do sangue, além de favorecer a coleta do próprio sangue do paciente para análises posteriores, evitando as punções venosas; e as transfusões que são constantes principalmente na fase da indução.

Em alguns casos de leucemia é indicado o Transplante de Medula Óssea (TMO) que se resume na substituição da medula óssea doente por outra saudável. O procedimento apesar de ser realizado em centro cirúrgico é simples (realizado com o auxílio de seringas e agulhas especiais), consistindo na retirada de uma quantidade da medula óssea do doador (600 ml aproximadamente). Feito isso o paciente receberá como se fosse uma transfusão sangüínea a medula sadia.

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