Nota de repúdio


16/11/2019 09h53 - Atualizado em 18/10/2022 às 07h59
Os cursos de graduação em História da Universidade Federal de Alagoas - UFAL (Campus A. C. Simões/Maceió) vêm a público repudiar, de forma veemente e indignada, a perseguição a pesquisa no país empreendida pelo Palácio do Planalto e sua base de apoio política, que além de expor e atacar pesquisadores e projetos de pesquisas que refletem a criticidade e a pluralidade de objetos e perspectivas de estudos existentes na área de História, visa também extinguir e/ou enfraquecer os dois principais órgãos de fomento e promoção da pesquisa e da formação em nível superior existentes no país, quais sejam: a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
Notícias veiculadas na impressa nacional esta semana dão conta que “emissários do Palácio do Planalto” produziram um dossiê em que expõem pesquisadores e projetos na área do gênero, sexualidade e ditadura aprovados em concorridos editais de pesquisas em âmbito nacional.
De acordo com o dossiê, há uma comparação confusa entre o total de bolsas e os valores investidos em “humanidades” e em “áreas estratégicas”, sugerindo que essas áreas estratégicas receberiam menos aportes que a área das Ciências Humanas e Sociais. Esses dados, divulgados de forma seletiva e leviana são um evidente absurdo se comparados com os números disponíveis tanto em órgãos oficiais do Estado brasileiro como em estudos realizados por pesquisadores/as que se dedicam ao tema do financiamento e a estrutura da pesquisa em Ciência, Tecnologia e Inovação no Brasil. 
As Ciências Humanas e Sociais sempre foram relegadas a um segundo ou terceiro patamar no financiamento da pesquisa no país, e isso se mantém ao longo de várias décadas, independentemente de governo. Apesar dessa realidade concreta, a circulação massiva desse referido dossiê, de modo típico e análogo às mentiras digitais circuladas em redes no Brasil nos últimos anos, constrói uma imagem distorcida e cria um ambiente na opinião pública que favoreça ataques à ciência em geral e à área das humanidades, em particular.
Em seguida, são expostos alguns professores pesquisadores que tiveram projetos aprovados. Todos da área de História!  Além do nome e foto pessoal desses professores, expõe-se os títulos de seus projetos e resumos iniciais da área de pesquisa. Os projetos abordam temas relativos à história das relações de gênero, sexualidade e às ditaduras que ocorreram na América do Sul. Em um dos casos, são expostas atividades acadêmicas divulgadas nas redes sociais por um dos professores. O professor Dr. Elias Ferreira Veras (Campus A. C. Simões), coordenador do projeto de pesquisa "Existências e Resistências homossexuais no Brasil a Abertura" é um desses pesquisadores expostos.
Em que pese a qualidade do currículo desses professores e de suas temáticas de pesquisas no conjunto mais amplo das pesquisas na área de História ou nas Humanidades, esta pequena seleção é absolutamente parcial e representa um minúsculo universo das pesquisas realizadas com financiamento público no país. A área reflete um conjunto imensamente plural e diverso de temáticas e abordagem que dificilmente caberiam num mísero dossiê de 10 páginas. Contudo, essa seleção realizada por adeptos do ultra-conservadorismo que ocupa o Palácio do Planalto possui um sentido claro de construir na opinião pública a ideia de que os professores pesquisadores das universidades brasileiras ou pesquisam assuntos irrelevantes ou temas comprometidos com uma suposta “ideologia de gênero” ou um falseamento da história para defender supostos comunistas e terroristas que atacavam as democracias cristãs da América Latina.
Não nos calaremos!
Os/as historiadores/as do Brasil estão resolutos/as em defender a qualidade da pesquisa na área, a pluralidade de abordagens e a diversidade de temáticas!
Estamos também empenhados/as em explorar, nas pesquisas relativas á nossa História recente ou remota, as possibilidades de construção de um passado que rompa a clausura do tempo presente e que nos possibilite futuros democráticos, solidários e fraternos, e não aquele autoritário e de fechamento que se apresenta nos dias atuais!
Defendemos as liberdades democráticas!
Defendemos a plural amplidão das pesquisas sobre nosso passado!
Denunciamos esse tipo de ataque às ciências humanas e sociais no país!
Maceió, 16 de novembro de 2019.
Cursos de História (Licenciatura e Bacharelado) da Universidade Federal de Alagoas (Campus A. C Simões).