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Maria Inês Silva
Mestre em Comunicação e Cultura pela UFRJ, professora
do curso de Comunicação Social, habilitação
Publicidade e Propaganda da FAA. Membro do grupo de pesquisa Intermídia,
credenciado no CNPq. E-mail: silvamariaines132@hotmail.com.
Resumo
Este texto é resultado do nosso esforço em mostrar a comunicação
organizacional em sua prática, enfocando a possibilidade de se
trabalhar com a teoria da hipótese do agenda setting e da espiral
do silêncio. Tenta-se fazer uma leitura das teorias demonstrando
que a prática confirma a hipótese. Ao mesmo tempo em que
as ações comunicacionais que são implementadas intramuros
das organizações não podem prescindir de um conhecimento
prévio dos públicos envolvidos. Cabe a nós, profissionais
da área de comunicação, desenvolvermos nossa atividade
de forma integrada envolvendo as habilitações (jornalismo
/ relações públicas ), a fim de que nosso estudo
sobre a teoria da hipótese do agenda setting e da espiral do silêncio
possam ser reconhecidas quando da prática da comunicação
organizacional.
Palavras-chave: Comunicação Organizacional - Público
- Agendamento - Jornalismo - Opinião Pública .
Introdução
Com o ” acender das luzes ” do século XXI, encontramos
nas palavras de Fausto Neto, a seguinte assertiva: ” o homem busca
o acesso à informação da mesma maneira em que busca
o acesso ao emprego”. Sendo assim podemos afirmar que tudo que é
tocado pelo homem recebe um significado. Em qualquer atividade ou profissão,
esse mesmo homem está a transformar sua matéria-prima e
seu espaço a fim de que signifique ainda mais para si próprio
e para os outros. No entanto, para toda e qualquer compreensão
da significação dada a cada coisa realizada/construída,
é necessária a experiência da leitura do mundo.
A comunicação com suas tecnologias produz informações
que se espalham pelo mundo fazendo-o movimentar-se mais rapidamente. Com
o sistema de rede, um volume incontável de noticias atravessa o
mundo e opera em tempo real. Neste universo onde estudiosos e leigos a
seu modo de compreender, buscam uma significação para o
que é posto na sociedade atual, encontra-se a comunicação
e seus processos com antigas e novas formas de sociabilidade. Essas novas
formas de sociabilidade nos levam a vários questionamentos, que
perpassam pelas mudanças empreendidas na sociedade. Uma delas está
relacionada à pós-modernidade que encontra-se marcada também
por desajustes.
Um dos desafios encontrados na sociedade, é sem sombra de dúvida
a convivência de opostos e a coexistência de fragmentos de
diferentes origens em um mesmo espaço. A procura do entendimento
sobre este tempo pós-moderno é uma das atividades de nosso
oficio, encontrando, na superfície dos textos sociais, marcas e
pistas deixadas pelos processos sociais de produção de sentido,
que nós profissionais da área de comunicação
também participamos e influímos, sejam no âmbito das
rotinas da prática de nossas atividades/habilitações
- sejam no exercício da análise/crítica a procurar
e descobrir vestígios que possibilitem uma contextualização
do evento comunicacional, buscando um sentido novo. Para quem trabalha
com a comunicação é impossível não
penetrar no mundo das práticas significantes, ou seja, é
inevitável não produzir sentidos e fazer repercutir os efeitos
dos elementos comunicativos, destinados a capturar a atenção
e aprovação do sujeito no interior da sociedade.
Produzir sentido na sociedade, especificamente, através da compreensão,
previsão e controle dos fenômenos sociais, é fazer
comunicação. Comunicar é um ato que atinge e sustenta
todo processo social. A atividade comunicacional, ao ser exercida no interior
de um subsistema social - uma organização (pública
ou privada) - administra e ordena trocas envolvidas no processo da comunicação,
que para ser efetivado precisa ser estudado, analisado e criticado, pois,
a comunicação participa e integra a grande área das
ciências sociais aplicadas.
Entende-se, portanto, que aplicar técnicas e funções
da comunicação organizacional implica entender o universo
que nos circunda, as transformações sociais, as novas formas
de manifestação da política, o sistema econômico.
Tratar da comunicação organizacional pressupõe ter
como base o relacionamento da organização com seus públicos
no interior da sociedade, de uma realidade social que está aí
e temos que buscar interpretá-la. Ser capaz de identificar e analisar
criticamente a realidade dada, com argumentação articulada,
que permita uma ampliação do olhar sobre, infere que também
se é capaz de realizar o mesmo em meios pequenos, fazendo os ajustes
requisitados pela mudança no zoom do olhar. O comunicador organizacional
precisa refletir sobre sua própria atividade, despertando a vontade
de aprender, compartilhando questões.
Toda atividade comunicacional em uma organização precisa
ter como foco o contexto social e o que ele indica, buscando na sua aplicação,
através do profissional uma postura analítica/critica, como
alguém que desconfia/desconhece para procurar descobrir vestígios
que possibilitem uma contextualização do evento comunicacional.
A sociedade atual exige nova postura do comunicador organizacional tendo
em vista que os indivíduos aprenderam a exercer sua cidadania a
partir das experiências democráticas dos últimos anos,
visualizadas nas lutas e conquistas de grupos identitários, como
por exemplo, a conquista de direitos da mulher na sociedade, busca de
inclusão dos negros e índios e o respeito para com os homossexuais.
Além disto, deve ser compreendido que cada público com que
se trabalha apresentará expectativas e necessidades diferenciadas,
requerendo tratamentos diferentes, nas nem sempre podendo a organização
atender as expectativas de todos de uma só vez,
procurando a resolução de problemas do público, observando
e levando em conta a expectativa dos consumidores-cidadãos. A administração
comunicacional nas organizações entende que embora todos
desejem serviços/produtos de qualidade, cada localidade ou público,
apresenta expectativas e necessidades diferentes. E a troca se estabelece
entre cidadãos/consumidores dos serviços prestados pela
organização que deverá oferecer diversidade de bens
e mensagens, democratizando a informação a respeito dos
seus produtos/serviços.
A organização por ser um subsistema do sistema global chamado
sociedade, por tanto uma empresa, por exemplo, mesmo quando não
programa, em cada manifestação atendimento ao público,
propaganda, venda, promoção faz gerar um repertório
de informação que participa da constituição
de sua identidade conceitual perante os públicos pois “o
resultado do uso adequado da informação é uma ação
que favorece o conceito público da instituição.”
(MOURA, In: LOPES, VIEIRA, 2004, p. 99)
Microlocalizando o tema, entendemos que todo trabalho de comunicação
intramuros de uma organização, necessita estar linkado com
os interesses desta mesma organização. Essa afirmação
decorre quando do exercício da atividade Relações
Públicas frente à Assessoria de Relações Públicas
e Cerimonial da Prefeitura de Maceió. O contato com o público/cidadão
nos deu um demonstrativo muito importante para nossa pesquisa, ou seja,
nos forneceu indícios de que a instituição Prefeitura
de Maceió faz o agendamento desse público. E aí,
entendemos que todo esse processo perpassa pela divulgação
de todas as ações que são empreendidas. No entanto,
antes de exemplificarmos como as organizações agendam seus
públicos, torna-se necessário fazer uma incursão
pela teoria da Hipótese do Agenda Setting e da Espiral do Silêncio.
Esses instrumentos de informação nos indicarão caminhos
para que possamos confirmar nossa tese.
A hipótese do agenda-setting aplicada à Comunicação
Organizacional
“Impor sobre o que falar.” (BARROS FILHO, 1995, p. 169), nessa
frase do autor, podemos traduzir todo o significado da hipótese
do agenda-setting que é determinar o que o público vai falar,
ou seja , construir a agenda do público, listando os temas que
serão discutidos por eles. Nesse caso percebe-se, ou melhor, torna-se
concreta a
influência que a mídia tem sobre o público e no estudo
em questão, a influência que a organização
também tem sobre seu público/cidadão.
A hipótese do agenda-setting, traz em seu bojo, três pressupostos
teóricos que demonstram à importância de se trabalhar
a comunicação organizacional utilizando como instrumento
a informação. São eles: 1) fluxo continuo de informação,
2) a influência dos meios de comunicação a médios
e longos prazos, 3) a capacidade de influenciar o público no que
pensar e falar . Por ser identificada como matéria-prima do processo
comunicacional, esse instrumento necessita de um burilamento para que
produza resultados favoráveis para uma organização
pública ou privada. Todo comunicador organizacional, quando bem
situado no mundo que o circunda, começa a perceber quais temas
precisam ser colocados em discussão pelo público da organização
que representa.
Dentro do que concerne a hipótese do agenda-setting, percebemos
que as organizações também fazem o agendamento do
público com o qual se relaciona. Quando uma organização
identifica, quer no seu trabalho intra ou extramuros, a necessidade de
transmitir informações que dizem respeito a ela mesma, está
na verdade constituindo a agenda do público. O comunicador organizacional,
assim como o jornalista na redação, também coloca
na sua pauta diária temas que devem ser aprofundados e que estejam
ligados direta ou indiretamente a cultura da oranização.
Temas como educação/ecologia/saúde/economia/política,
fazem parte do discurso organizacional articulado com as transformações
sociais. As organizações interferem na composição
da agenda de seu público, quando em determinado momento começam
a por em pauta ou na ordem do dia uma questão dando-lhe relevância,
em detrimento de uma informação que não foi tematizada
em seus periódicos.
Wolf (1999) ao percorrer caminhos sobre a teoria da comunicação
e detendo-se na hipótese do agenda-setting, identifica três
tipos de agenda do público. 1) agenda intrapessoal, 2) agenda interpessoal
e 3) a percepção que um sujeito tem do estado da opinião
do público. No entanto, para o estudo por nós proposto,
os tipos que melhor se enquadram é a agenda interpessoal e a percepção
que um sujeito tem do estado da opinião pública, onde o
público discute/fala com outros, temas que são postos pela
organização, bem como, a importância que o indivíduo/cidadão
pensa que os outros atribuem ao tema exposto.
Na fala do autor encontramos a expressão: “ clima de opinião”.
Podemos, nesse caso, dizer que a opinião pública interfere
no agendamento da organização.
A hipótese da Espiral do Silêncio contribuindo para o agendamento
da Organização
“ Impor o que falar sobre ”. ( Barros Filho,1995), essa assertiva
do autor pode parecer um tanto quanto comum. No entanto, é facilmente
percebido que impor o que falar é um reforço ao que define
o agenda setting, ou seja, é uma ampliação da hipótese
inicial de “imposição temática”. Alguns
estudiosos da área explicam que não basta efetuar estudos
sobre a coincidência da agenda da mídia com a agenda do público,
é necessário, pois, verificar, também, a coincidência
de abordagem desses temas.
Retornando aos estudos de Barros Filho, encontramos o seguinte pensamento:
“... o estudo deixa de ser sobre o que se fala e passa a ser sobre
como se fala.”
Falar sobre a hipótese da Espiral do silêncio é na
verdade fazer uma abordagem de um modelo de opinião pública.
No entanto, necessário se faz que façamos também
uma incursão sobre essa teoria, no sentido de fortalecer nosso
estudo proposto.
Primeiro vamos tentar explicar dois pontos importantes da hipótese:
sua nomenclatura.
Por que do Silêncio? Por que Espiral? De acordo com Barros Filho
( 1995), a tendência ao silêncio é manifestada quando
o individuo, por medo do isolamento, não expressa sua opinião
quando existe a possibilidade de ser monitorada. Em relação
à Espiral, o autor, explica que esta é a “dimensão
cíclica e progressiva dessa tendência ao silêncio”,
ou seja, quanto maior for a opinião dominada, dentro de um universo
social, maior será a tendência a que ela não se manifeste.
Traduzindo diríamos: O indivíduo não consegue sentir-se
à margem dos acontecimentos. Necessita está envolvido no
contexto.
Um outro ponto que devemos destacar diz respeito aos meios de comunicação.
A mídia ao fazer a abordagem do mesmo fato, dá uma maior
objetividade, permitindo, assim, uma maior canalização de
um só fluxo de opinião, tornando-o dominante. Em meio a
um grande
número de posicionamentos sobre a espiral do silêncio, destacamos,
então, alguns estudiosos. São eles: Luhman a opinião
pública deve ser entendida como sendo a própria agenda pública;
Habermas vai mais além ao afirmar que a há uma dupla conotação
de opinião:1) opinião como ponto de vista ( palpite) marcada
pela falta de comprovação da verdade; e 2) opinião
com reputação de um individuo uma idéia- mutável
por um grupo. Ainda segundo esse autor, a opinião pública
manipula porque é elaborada pelos mais favorecidos em um espaço
público; Bordieu esse autor afirma que a opinião pública
não existe; Baudrillard na concepção desse autor
a simbolização da realidade pelos meios faz facilitar o
sistema de dominação que caracteriza a sociedade de consumo
e finalmente concluindo com Stuart Hall, encontramos nesse autor, o seguinte
pensamento: os meios impõe um código de leitura das relações
sociais que funcionaria em proveito da ordem estabelecida. Os pesquisadores
deixam como conclusão, que muitos são os fatores condicionantes
para a identificação de um estado de opinião pública.
Diante do exposto, ou seja, que a opinião pública e a manipulação
caminham de braços dados, indagamos: como se dá esse processo
de manipulação? Como a opinião pública se
reproduz enquanto opinião dominante? Como resposta a essas indagações,
encontramos na hipótese da espiral do silêncio uma tentativa
de explicação desse processo.
Podemos começar dizendo que: segundo Barros Filho ( 1995: 214)
“a redução progressiva das opiniões dominadas,
se dá graças a uma característica própria
da psicologia social: o medo que tem o ser humano de estar isolado, o
receio da solidão”.
É sabido que os indivíduos sucumbem às pressões
sociais quando perguntados sobre temas a respeito dos quais suas reais
opiniões são socialmente consideráveis. Perguntas
dissonantes - “ politicamente corretas”- ou de projeção
-“ sua própria opinião”. Há, também,
o feito da “ terceira pessoa”. Nessa, constata-se que as pessoas
raramente admitem sobre si os efeitos da mídia, embora reconheçam
esses efeitos sobre as demais pessoas. É Perceptível nesse
momento do nosso estudo que a teoria da espiral do silêncio passa
pelos clássicos da teoria política, por experimentos da
psicologia e por um sofisticado estudo das pesquisas de opinião.
No entanto ao discorrermos sobre essa teoria ou como já
explicitamos através de Barros Filho, “ impor o que falar
sobre”, não podemos deixar de mencionar, também, a
professora alemã Elisabeth Noelle-Neumann autora dessa hipótese
cientifica. Na verdade como sua autora mesmo diz: “ é um
modelo de opinião pública”. Noelle-Neumann em seu
estudo , ao criar “ seu modelo” de opinião pública,
foi buscar nos estudos de Alexis de Tocqueville uma fonte inspiradora
para elaboração da hipótese da espiral do silêncio,
mesmo não sendo autor de uma obra especifica sobre opinião
pública. Na verdade sua grande obra nesse sentido foi: “
L’ancien Regime et la revolution”, onde estuda o panorama
mais sociológico do histórico da revolução.
Tocqueville prognosticou os elementos destacados na espiral do silêncio.
Foram eles: 1) o medo do isolamento; 2) a tendência ao silêncio;
e 3) a necessidade de consonância. O autor observa ainda que: “a
pressão da opinião publica é mais intensa quando
a sociedade encontra-se desestruturada, ou em situação de
aparente igualdade”. No entanto, para Noelle-Neumann, a opinião
pública não e o somatório das opiniões individuais,
mas tem autonomia em relação a estes, ou seja, a opinião
pública é causa e não conseqüência da
opinião individual.
Ter como cerne a cultura organizacional e seus reflexos na comunicação
interna. Falar em cultura organizacional é traduzir um conjunto
de normas e valores compartilhados pelas pessoas da organização.
Essa mesma cultura mantém ou modifica-se nas pessoas e através
das pessoas. Eis aqui o foco do ambiente interno: o colaborador / funcionário/
cidadão.
Nesse momento da pesquisa, muitas indagações podem ser feitas,
no sentido de se estabelecer uma relação entre essas teorias
e a comunicação organizacional, visto que, nossa pesquisa
vem tentando confirmar que essa mesma organização faz o
agendamento do seu público.
Eis aqui, o foco de nossa pesquisa : A Comunicação Organizacional
fazendo uso da Hipótese do Agenda Setting e da Espiral do Silêncio,
para se fazer comunicar com seu público ( interno e externo). Dentro
do trabalho desenvolvido pela comunicação organizacional
na atualidade, encontramos ações que são postas em
práticas, a partir das informações oriundas dos públicos
(internos/externos). Muitas vezes a organização busca em
seus públicos, soluções para problemas enfrentados.
Nesse sentido, voltamos ao agendamento no qual com base em seus pressupostos
teóricos, podemos extrair uma hipótese: o fluxo contínuo
de informação nesse caso a organização precisa
incorporar à sua cultura interna, um contínuo fluxo de informação,
ou seja, esse fluxo passa a ser o sustentáculo para a prática
de suas ações. Aprofundando a importância do fluxo
de informação, podemos dizer que: o cenário organizacional
mudou. A luta desempenhada pelo acesso a informação traça
a melhor maneira de uma práxis comunicacional. Alguns estudiosos
da área destacamos Vieira ( 2004)- imprimem uma regra básica
para obtermos resultados positivos, começando pelo conhecimento
da cultura organizacional.
Todo trabalho desenvolvido pela comunicação em uma organização
necessita que contenha responsabilidade social e isto não prescinde
de pleno conhecimento do potencial humano que está sob sua responsabilidade.
Isso significa: saber dizer, a quem dizer, porque dizer e saber o momento
certo de dizer, cobrar, alertar, apoiar, motivar, calar. No entanto, devemos
levar em consideração um ponto muito importante que é
a preparação, ou melhor, a transição entre
o conhecimento do ambiente interno, até a aplicabilidade das ações.
Nessa transição as organizações ao colocarem
em prática ações de comunicação, paripassu
começam a percorrer o caminho que levará ao diálogo.
Começam a ouvir o que os públicos têm a dizer. Assim
a busca pelo entendimento levará à confiança e, consequentemente,
chega à credibilidade conquistada através do diálogo.
Na conquista dessa credibilidade, está implícito o relacionamento
com seus públicos, pois, é na instrumentalização
deste, que as organizações mostram que estão a serviço
da comunidade e apresentam como estão desempenhando sua política
interna.
Um outro ponto a destacar reside no trato com o público externo
da organização. Esse fluxo de informação do
qual estamos tratando, ao ser bem desenvolvido é o cerne de todo
o trabalho junto ao público externo. Por desenvolver ações
junto a públicos multiplicadores, a comunicação organizacional
deve ter como objeto num primeiro momento, o público interno ou
como queiram alguns, deve “começar em casa”. Estando
os funcionários satisfeitos o nível de produtividade se
eleva. “Começando em casa, a organização dá
passo decisivo para assegurar sua credibilidade junto à opinião
pública” (VIEIRA, 2004, p.45). Percorrendo esse mesmo caminho,
podemos conquistar também o público externo, pois transformar
os funcionários /
colaboradores/ cidadão em pessoas satisfeitas, estamos, também
conquistando o público externo. Marc / Legrain (1992) da um indicativo
dessa realidade ao dizer: “... é preferível funcionário
satisfeito do que cliente satisfeito, porque funcionário satisfeito,
torna cliente satisfeito”. Embora possa parecer simples essa assertiva,
devemos ter plena consciência do tempo que deverá ser empreendido
para a conquista desses públicos.
No entanto cabe uma observação nesse momento do estudo.
Ao indicarmos a possibilidade de trabalharmos a hipótese do agenda-setting
e da espiral do silêncio nas organizações, temos que
mostrar caminhos que nos levem a demonstrar de que maneira as organizações
podem agendar para seus públicos as informações que
serão transmitidas.
Os anos de atuação profissional em Assessorias de relações
públicas nos, levou a uma reflexão sobre as informações
que eram/são enviadas para os públicos com o qual se trabalha.
Várias foram as nossas indagações, principalmente
no que tange a aceitabilidade dos públicos em se tratando do conteúdo
dessas informações transmitidas. O período que passamos
à frente da Assessoria de Relações Públicas
e cerimonial da prefeitura municipal de Maceió é um demonstrativo
de uma realidade nunca antes concebida. Percebia-se claramente que ao
procurar a Prefeitura, o cidadão buscava ser ouvido, mesmo quando
algumas vezes sua solicitação não podia ser atendida.
No trato com o público da organização devemos levar
em consideração um fator importante: a comunicação
precisa ser tratada como uma atividade central, pois, é no momento
da transmissão da informação que são identificadas
visões de mundo, troca de informação e de valores.
Nessa troca de informação estão implícitas,
crenças, preconceitos, que num dado momento pode ser reafirmado,
rejeitado ou mudado. Todo esse processo reside na circulação
da informação.
Quando da circulação de informação, devemos
nos preocupar com os conteúdos que possam interessar ao público.
A nossa preocupação perpassa a lógica da preparação
do público com o qual se vai trabalhar, objetivando uma boa aceitação
da informação transmitida, estamos ao mesmo tempo formatando
a agenda desse público.
Estamos utilizando a teoria da hipótese do agenda setting e da
espiral do silêncio para nos fazer compreender com nossos públicos.
Através destas teorias poderemos concluir ou não se as organizações
também agendam as informações para seus públicos.
Num primeiro momento pode parecer um pouco fora do contexto essa pesquisa,
em virtude das teorias que estudamos aonde o público sempre vem
em primeiro lugar e principalmente o conteúdo das informações
que serão recebidas por eles (público). Na verdade, o fato
de agendarmos o público não descaracteriza essa assertiva
de que o público sempre vem em primeiro lugar.
Quando do trabalho desenvolvido na prefeitura de Maceió, percebemos
que o público / cidadão tinha o direito em tomar conhecimento
das ações empreendidas pela administração
municipal. O administrador ao permitir que esse mesmo público /
cidadão tenha acesso a tudo o que se passa na organização
está na verdade fazendo uma prestação de contas.
Aliás, esse ato, deve fazer parte das estratégias adotadas
pelo gestor organizacional.
A administração municipal no período 1997 2000 utilizou,
como instrumento de divulgações das ações
empreendidas, o informativo “agenda da cidade”, veiculado
na mídia eletrônica. Essas ações poderiam ser
inaugurações de: escolas, posto de saúde, escadarias,
pontilhões, calçamento de vias públicas, recuperação
de praças, enfim, tudo que contribuísse para melhorar a
qualidade de vida do público/cidadão. Outro ponto que podemos
destacar é que se procurava colocar na ordem do dia os temas que
seriam abordados numa escala hierárquica de importância e
de prioridade.
Nossa grande preocupação reside no fato de que formatar
uma agenda para determinado público, não é tarefa
fácil. Na verdade “impor sobre o que falar” e “
impor o que falar sobre” deve ser executado com responsabilidade.
Daí a importância de se levar em conta os interesses desses
públicos. O simples fato de o comunicador organizacional começar
a pensar em como trabalhar determinado público, já pode
ser um diferencial no desenvolvimento de seu trabalho em uma organização.
Atualmente, o quadro que se estabelece é de que muito precisa ser
feito. Despertar o interesse do público/ cidadão vai depender
do grau de confiabilidade desse público em relação
à organização e
principalmente à administração do fluxo informacional
que, operando de forma clara, poderá eliminar os possíveis
mal entendidos. Tratar com o outro envolve, sobretudo, o lado afetivo
dos indivíduos.
Considerações Finais
A construção de uma agenda para seu público há
de ser pensada frente às novas perspectivas de atuação
do comunicador organizacional. No entanto, necessário se faz que
esse trabalho seja construído, num primeiro momento, intramuros
das organizações indicando possibilidades e limites sempre
dentro de uma contextualização global. O público
para se deixar agendar, precisa estar sintonizado com a estrutura da organização.
Em contrapartida é necessário que o comunicador social especialize-se
no público. A nossa experiência quando do exercício
da atividade de comunicador organizacional em uma instituição
pública nos permitiu visualizar, através dos escritos de
Wolf ( 1999), o exercício de um dos tipos de agendamento descrito
por ele: a agenda interpessoal e a percepão que um sujeito tem
do estado da opinião pública . Nesse tipo de agendamento,
o público/cidadão discute/fala com outros, temas que são
postos pela instituição. No entanto o profissional precisa
estar sintonizado com a teoria da hipótese do agenda setting e
da espiral do silêncio numa perspectiva de utilização
de mais de um instrumento de construção de informação,
junto ao público da organização.
Referências
BARROS FILHO, Clóvis. Ética na Comunicação
- da informação ao receptor. São Paulo: Editora Moderna,1995.
HOLFELDT, Antônio et. al. Teorias da Comunicação.
São Paulo: Vozes, 2001.
KUNSCH, Margarida Maria Krohling. Planejamento de Relações
Públicas na comunicação integrada. São Paulo:
Summus Editorial, 2001.
LEGRAIN, Marc & MARGAN, Daniel. Relações com o público.
São Paulo: Makron Books, 1992.
LOPES, Boanerges; VIEIRA, Roberto Fonseca. Jornalismo e Relações
Públicas: ação e reação uma perspectiva
conciliatória
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