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Jakeline Siqueira de Melo
Jornalista especializada em mídia impressa: Jornal de Alagoas,
OJornal, jornais de pequenos meios, news letter, professora substituta
da Universidade Federal de Alagoas-UFAL e professora assistente I da Faculdade
de Administração de Alagoas-FAA. Especialista em Docência
do Ensino Superior e MBA em Design Estratégico pelo Centro de Estudos
Superiores de Maceió- Fejal -Cesmac/Alagoas
Resumo:
Este trabalho trata da relação da Fotografia no contexto
da arte pós-moderna. A arte pós-moderna explora todas as
nuances possíveis no lidar com o seu observador, este passa de
mero expectador para um intérprete, um interlocutor, receptador
dessa arte e até mesmo ativista da idéia que a obra de arte
expressa. Para essa relação de troca com seu público,
o artista utiliza recursos audiovisuais cada vez mais sofisticados, entre
eles; a fotografia. Nesse contexto, a fotografia passa de um simples recurso
visual para ser uma ferramenta de suporte e interface com o público
facilitando a interatividade entre artista, obra de arte e público.
Palavras-chave: 1.Fotografia 2. Recursos visuais 3.Arte pós-mderna
Evolução Técnica
A evolução técnica da Fotografia passou por muitas
nuances, muitos inventores, e, ao longo da história por combinações
de invenções: dos árabes no século X com Aihazen,
que descreveu em manuscritos como observar um eclipse solar no interior
de uma câmara escura, até na China onde eram desenvolvidas
na mesma época técnicas de gravura que se adaptavam bem
à impressão dos ideogramas da língua chinesa. Lembrando
que, ao longo do tempo, o homem já vinha desenvolvendo suportes
para registrar sua história (realidade vivenciada) e seu conhecimento,
utilizando suportes como rochas nas cavernas, couro, madeiras, argila,
papiro e seda. ”O nascimento da Fotografia está estreitamente
ligado às tentativas de aperfeiçoamento dos métodos
de impressão sobre papel, e, os chineses foram pioneiros nisso
(...)” (SENAC, 2002).
No Renascimento (séculos XV e XVI) a câmara escura foi utilizada
por Leonardo da Vinci para melhorar a reprodução da ”realidade”
em seus desenhos e pinturas, e, em seus estudos de perspectiva. Nesta
época, a câmara escura era um quarto sem luz, com um orifício
numa das paredes que permitia projetar, na parede oposta, uma determinada
imagem na posição invertida. Logo, este tamanho incômodo
foi substituído por uma caixa portátil, e o orifício
por lentes simples. Este esquema serviu de modelo para as primeiras câmeras
fotográficas. Existem estudos que Aristóteles, séculos
antes de Cristo, já havia demonstrado o princípio da câmara
escura. Assim, também ocorreu com os estudos científicos
para chegar ao negativo. A câmara escura apenas permitia ver as
imagens, mas não conseguia fixá-las. Era preciso algum suporte.
O Negativo
Em 1604, o italiano Angelo Sala descobriu que o Nitrato de Prata ficava
negro quando era exposto ao sol. Mas, foi em 1725 que o alemão
Johan Heindrich Schulze descobriu que era a luz do sol e não o
calor que transformava os cristais de prata em prata metálica negra.
Shulze conseguiu captar as primeiras imagens, mas não conseguia
interromper o processo, e, quando as imagens saíam da câmera
escura desapareciam.
São muitos os estudos realizados até chegar ao que a fotografia
é hoje. Foram muitas descobertas e, portanto não apenas
um único
inventor, pois em diferentes lugares, quase simultaneamente, vários
pesquisadores chegaram a resultados parecidos em seus experimentos.
A primeira imagem produzida foi feita pelo francês Joseph Nicéphore
Niépce, em 1826. Este chamou a técnica de heliografia, que
significa ”escrita com luz solar”. Com o betume da Judéia
e essência de Alfazema, Niépce conseguia fazer suas imagens.
Mas, até a Academia Francesa de Ciências comunicar oficialmente
a invenção da Fotografia em 1839, foram realizados muitas
pesquisas por diversos cientistas. Niépce conseguiu produzir os
primeiros negativos, em 1826. Mas, foi em 1839 que surgiu a Daguerreotipia,
onde o inventor Louis-Jacques Mande Daguerre, pintor de paisagens e desenhista
de cenários para teatro, descobriu um processo químico na
revelação da imagem que reduzia o tempo de exposição,
tornando o processo fotográfico mais simples. Em 1830, o matemático
húngaro Josef Petzval fabricou nova lente dupla, trinta vezes mais
rápida do que as anteriores, diminuindo mais ainda o tempo de exposição
à luz. E, em 1841, o inglês Fox Talbot inventou o primeiro
sistema simples para a produção de um número indeterminado
de cópias, a partir de uma mesma chapa, o que permitiu que a fotografia
se transformasse em um ”veículo de comunicação”.
Entre descobertas, de vários outros cientistas, houve brigas de
pintores e artistas com a fotografia e seus conceitos, assim como de cientistas,como
a briga entre Laroche e Talbot, que foi parar nos tribunais londrinos.
Laroche(ganhador da causa) alegava que ”os processos químicos
do Calótipo (a invenção de Talbot) e o seu novo sistema
de Colódio úmido, eram, na essência, iguais”.
SENAC(2002: P. 160). O Colódio úmido foi inventado por Frederick
Scott Archer, que não tinha patenteado a idéia. Embora pouco
flexível e complexo, o sistema foi utilizado para registro da guerra
da Criméia em 1855, pelo fotógrafo Roger Fenton, surgindo
a especialidade da Fotografia temática. E, para registro da primeira
exposição fotográfica feita pelo francês Hippolyte
Bayard, em 24 de junho de 1839, que anunciou seu processo dois meses antes
do lançamento da Daguerreotipia. Bayard foi totalmente esquecido
pela história.
Realidade fotográfica
Enfim, de descobertas e invenções, a Fotografia traz diversas
especificidades, sempre com o foco na ”realidade”, o que o
”olho ver”,
o que a luz registra. A Fotografia registra o momento em que a memória
poderia guardar, mas não com tantos detalhes e tantas verdades,
detalhes importantes impossível da memória registrar, como
cores e traços, expressões, que a arte retrataria, não
tanto como a realidade fotográfica. Por mais perfeita que a pintura
traduza a imagem real, sempre tem o deslize da mão do artista e,
principalmente seu modo de enxergar o mundo, sua expressividade, sua subjetividade.
E, é justamente no modernismo que a arte se liberta. Mas, é
no pós-modernismo que ela se descobre como arte sem limites. É
uma história de muitos inventores, portanto contraditória,
como a própria arte pós-moderna, com vários ”donos”,
e, sendo de todos e de ninguém. Mas, além desta verossimilhança
com o pós-modernismo, o melhor é o casamento que a arte
pós-moderna fez com a fotografia.
Interatividade
Já na semana da Arte Moderna, a Fotografia encontrou sua libertação,
ela poderia ser utilizada à vontade sem a preocupação
de ter que ”retratar” a realidade tal qual ela é. A
fotografia passou a ser utilizada por muitos artistas da forma que mais
lhe conviesse. Com a arte pós-moderna ou contemporânea essa
liberdade da fotografia transformou-se mesmo em libertinagem. Final do
século XX, década de 90, a fotografia tem sua liberdade
total com o advento da câmara digital. Agora, pleno século
XXI, a fotografia é suporte e ferramenta fundamental em trabalhos
audiovisuais, ela passa a fazer parte do contexto com a arte que interage
com o público, seja através de reproduções
em tela, colagens, mesmo com jogos de luzes. Segundo Santos (1991, p.
41), ”No pós-modernismo a paródia e o pastiche, antes
ocasionais, hoje em dia são quase regras(...)”. Em outra
página (1991, p.11) o autor acrescenta que ”(...) tecnociência,
consumo personalizado, arte e filosofia em torno de um homem emergente
ou decadente são os campos onde o fantasma pós-moderno pode
ser surpreendido”.
No artigo ”Leituras de Obras de Arte e Discussão”,
Lucimar Frange ressalta o uso da fotografia nos trabalhos de Regina Silveira,
e a designa ”uma artista multimídia”. Segundo a articulista,
o trabalho de Regina é uma ”associação de imagens,
sombras, símbolos, simulacros, ajuntamentos, associações
questionadoras de realidades visíveis e veladas”. A fotografia,
neste caso, entra como coadjuvante do material principal, mas sem a luz
e as nuances que ela traduz seria
difícil para a artista conseguir resultados surpreendentes como
o trabalho ”Paradoxo do Santo”, realizado em 1994, em Nova
York, quando a artista ”brinca” com as sombras de uma imagem
religiosa, e, com o foco de luz consegue reproduzir uma imagem maior,
que faz referência ao militarismo. Portanto, um retrato da realidade
expressa nas imagens e suas metáforas com a idéia das representações
históricas e ideológicas do que representa religiosidade
e poder. Bem ao gosto da arte contemporânea, que deixa o interpretante
passear a seu modo pela obra de arte. Uma exposição dentro
dos princípios pós-modernos, que segundo Lucimar Frange,
mais uma vez em seu artigo ”Leituras de Obra de Arte e Discussão”
relata que ”as imagens têm poder de fala, pois são
formas e estruturas de pessoas, que se indagam, se afirmam, se negam.
(...), somos modalizados e modalizantes pelas manifestações
visuais”.(p.11).
A fotografia e seus princípios de câmara escura, escrever
com a luz, retratar a realidade. Assim também como o seu poder
documental, sistematizado, enfim, suas funções de ferramenta,
suporte e, principalmente de modificar sua genética, agindo em
várias nuances desde os mais modernos meios de interação
como os mais tradicionais se encontra plena na arte pós-moderna.
E, tendo em sua história o gen híbrido de toda essa loucura
e formação da arte pós-moderna, casa com esta arte,
e fecha e abre ciclos de vida na Arte, fazendo história. Muitos
artistas a utilizam em suas performances, como em murais visuais para
a dança, como colagens em seus trabalhos de tela, como suporte
em documentários, como temática em trabalhos multimídias.
A fotografia e a arte pós-moderna andam de mãos dadas, paralelas,
cada uma com suas ”neuras”. Mas, lado a lado elas se complementam
em suas diversas funções, que cabe a cada artista fazer
o que mais lhe convier, como ressalta Lucimar: ”O profissional das
Artes, artista, professor, pesquisador têm uma responsabilidade
ao fazer-ver, fazer-ouvir, fazer-significar, fazer-querer, fazer-crer,
fazer-ser. Pelas formas, pelos sons, pelos corpos nos comunicamos, e fazemos
com que os outros se comuniquem”. (P.11). A fotografia também
é comunicação com o interlocutor, com a realidade.
Com o advento da fotografia digital é possível ver a ânsia
de todos, seja a massa, seja artistas e comunicadores em ”fazer-acontecer”
participando de alguma maneira da história, pois, assim como na
Arte o homem pós-moderno tem dois caminhos (além dos impossíveis
e inimagináveis). SANTOS (1991: p.11)”Dando Adeus às
ilusões o homem pós-
moderno já sabe que não existe céu nem sentido para
a história, e assim se entrega ao presente e ao prazer, ao consumo
e ao individualismo. E, pode escolher entre a criança radiosa,
o indivíduo desenvolto, sedutor, hedonista integrado à tecnologia,
narcisista com identidade móvel, flutuante, liberado sexualmente(...)
ou o andróide melancólico, o consumidor programado e sem
história, indiferente, átomo estatístico na massa,
boneco da tecnociência(...)”
Bibliografia
FRANGE, Lucimar Bello P. Leituras de Obra de Arte. Artigo coletânea
prof. Antônio Lopes.
SANTOS, Jair Ferreira dos.O que é Pós-moderno.Editora Brasiliense.SãoPaulo:1991.
10ª edição.
SENAC. Fotógrafo: o olhar, a técnica e o trabalho.Vários
autores. Rio de Janeiro. 2002.
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