Ufal marca presença no 36º Congresso Nacional dos Jornalistas


11/04/2014 13h35 - Atualizado em 18/10/2022 às 08h15

De 2 a 6 de abril aconteceu a 36ª edição do Congresso Nacional dos Jornalistas, no Centro de Convenções Ruth Cardoso, em Maceió. Além da presença de profissionais de todo o país, o evento também contou com uma participação ativa de professores e estudantes da Ufal.  As atividades foram marcadas por conferência internacional e debates sobre questões atuais do campo jornalístico bem como os desafios diante das mudanças estruturais que vem afetando o setor nos últimos anos.

A representação da Ufal somou mais de 50 estudantes além de professores que participaram da abertura ou desenvolveram atividades durante o Congresso. Foi o caso das docentes do Curso de Comunicação Social (COS) Andréa Moreira, Edna Cunha e Magnólia Rejane que coordenaram uma equipe de 20 estudantes, cujas inscrições foram garantidas pela Universidade, e desenvolveram ações de acompanhados, cobertura e produção de conteúdo durante o evento.

 Para Danielle Henrique, do 4º Período de Jornalismo na Ufal  o congresso nacional dos jornalistas é significativo para os estudantes porque apresenta um leque de discussões e abre espaço para outros debates, o que amplia os nossos conhecimentos sobre a nossa futura profissão.

A professora e Vice-Coordenadora do Curso de Comunicação Social, Andréa Moreira, participou como palestrante em uma das Rodas de Conversa do evento, com o tema O Poder Feminino nas Redações. “As mulheres hoje são maioria absoluta nas redações; de nós, é esperado o compromisso de exercer nossa influência no exercício do papel democratizante do Jornalismo, além de contribuir para assegurar avanços nas conquistas sociais”, ressaltou.

Para o estudante do COS e Coordenador Geral da Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social (Enecos), a ocasião também serviu para aproximar a Enecos do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Alagoas (Sindjornal).“A militância, neste espaço, é viva e isso, de alguma forma nos alimenta”, avaliou.

 

CONFERÊNCIA

A defesa dos direitos sociais permeou muitas discussões durante o Congresso, cujo ponto alto, na solenidade de abertura, foi a conferência do sociólogo francês Dominique Wolton, uma das maiores referências na área de Comunicação na Europa, defensor intransigente da democratização da mídia.

Sua palestra despertou o interesse do público, que interagiu com aplausos, risadas e inúmeras perguntas no debate que se seguiu à sua fala sobre o tema “Jornalismo para humanizar a Comunicação”. Wolton abordou as relações dos profissionais com as tecnologias que, contraditoriamente são um enorme contributo, pela velocidade que favorecem, e, ao mesmo tempo, um autêntico carrasco, pela saturação que impõem no processo da coleta e oferta da informação.

 “O jornalista é um soldado da democracia. Porém, mesmo dizendo sim a todas as tecnologias e reconhecendo que elas são formidáveis, devem saber que são eles que fazem a democracia, e não as tecnologias. Estas podem estar a serviço, inclusive de um regime autoritário. Portanto, a técnica não basta. Ela é um instrumento”, afirmou o cientista.

Sobre a proposta de regulação da Comunicação, Wolton não considera que isto possa afetar de maneira negativa a liberdade de imprensa, como querem fazer crer os que se opõem a essa ideia. “Regular não é cortar a liberdade. Pelo contrário, a lei protege os fracos contra os poderosos. E só na democracia existe lei. É preciso, por exemplo, regular a internet para proteger a informação”, destacou.

PAINEIS E PAINELISTAS

Nos painéis que se desenrolaram durante os quatro dias da programação, os jornalistas discutiram temas como: A Afirmação e a Confirmação da Mediação Jornalística, Jornalismo em crise ou a Crise do Mau Jornalismo, Jornalismo Novo ou Novas Plataformas, O Jornalismo e a Democracia, A Defesa do Trabalho, A Regulação da Profissão, O Jornalismo e a Defesa da Democracia, tema que também perpassou os demais.

A Proposta de Emenda Constitucional para restituir a obrigatoriedade do diploma à profissão Jornalista foi discutida em painel foi mediado pelo ex-presidente da FENAJ, Sérgio Murilo, com  outros temas: ‘Políticas públicas como forma de garantir a democracia’ e ‘O papel do Estado para garantir o acesso democrático à comunicação’.

Dentre os painelistas, destacaram-se ainda: o escritor e jornalista Audálio Dantas; o diretor e supervisor editorial da Revista Retrato do Brasil, Raimundo Pereira; o diretor do Jornal O Globo, Ascânio Leme, o jornalista e blogueiro Luís Nassif, os jornalistas e professores universitários Edgard Rebouças (UFES) e Eduardo Meditch (UFSC), o Diretor Presidente da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), Nelson Breve, o Presidente da Fenaj, Celso Schöreder, além do Ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, cuja exposição gerou uma manifestação pública de integrantes da plateia contra a copa.

POLÍTICA E EDUCAÇÃO

“Jornalismo é uma ação que precisa da política”, afirmou Raimundo Pereira, em sua intervenção. Profissional símbolo de resistência contra a ditadura militar, Raimundo destacou as dificuldades que a imprensa popular enfrenta para sobreviver nos dias de hoje. Para ele, o jornalismo precisa do relacionamento político para sobreviver, e vice-versa.

Exemplo de jornalista e ator político, o alagoano de Tanque D´Arca Audálio Dantas enfatizou o papel do jornalismo na defesa da democracia e recordou os 25 jornalistas brasileiros assassinados pela Ditadura, dentre eles, Vlado Herzog, sobre quem Audálio escreveu o livro As Duas Guerras, pela Civilização Brasileira. A coragem de Audálio de denunciar fatos relacionados a esse episódio foi um marco importante no processo de redemocratização do Brasil.

Audálio foi deputado federal e também foi o primeiro presidente da FENAJ eleito pelo voto direto. Atualmente, é vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e diretor executivo da revista Negócios da Comunicação. Ao longo de sua carreia, conquistou muitos e importantes prêmios. Reportagens suas foram publicadas em livros.

Eduardo Meditsch tratou da forma como as universidades e o sistema educacional brasileiro tratam as suas diretrizes curriculares, e teceu algumas criticas: “Sobre as nossas diretrizes, destaco três pontos para analisarmos. O primeiro é ao MEC (Ministério da Educação), que resolveu limitar nas universidades alguns cursos que poderiam existir. O outro é sobre o distanciamento entre a teoria e a prática, e isso deve ser destacado nas universidades”.

CONVERSA E VERDADE

Além daquela sobre O Poder Feminino, outras Rodas de Conversa e Oficinas reuniram os participantes em torno de temas políticos, éticos, técnicos e pedagógicos. Dentre esses temas, atraíram grande interesse: A Apuração da Notícia, A Qualidade da Imagem, Os Limites da Cobertura, Especialidades do Jornalismo (Esportivo, Científico), A Complexidade do Assessoramento nas Mídias Sociais, A Formação Sindical, O Estágio e As Novas Diretrizes Curriculares no Jornalismo.

A Comissão da Verdade da Federação Nacional dos Jornalistas também se reuniu durante o congresso e denunciou 150 casos de profissionais de Comunicação vítimas de violência praticada pelo Golpe Militar. Prisões, tortura, morte, desaparecimento serão incluídos no relatório que ainda não está concluído e será entregue até o meio do ano, como contribuição da FENAJ para a Comissão Nacional da Verdade.

“O que temos é um ‘raio x’ que pode e deve ser completado ao longo do tempo. Mas precisamos que todos os sindicatos concluam seus trabalhos para que possamos encaminhar a nossa contribuição à Comissão Nacional da Verdade”, destacou o jornalista Sérgio Murilo. Em Alagoas, o trabalho da Comissão da Verdade do Sindicato dos Jornalistas já foi concluído, segundo informou o presidente, Ediberto Ticianelli.

HOMENAGEM MERECIDA

O grande homenageado do 36º Congresso Nacional dos Jornalistas foi o jornalista e professor alagoano, José Marques de Melo, agraciado com a Comenda de Honra da Federação Nacional dos Jornalistas, outorgada, a cada dois anos, a profissionais cuja trajetória tenha contribuído com o desenvolvimento do jornalismo e com a organização da categoria. Primeiro doutor em jornalismo titulado por uma universidade brasileira, o acadêmico foi um dos fundadores da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).

Marques de Melo formou várias gerações de jornalistas e pesquisadores; orientou mais de 60 dissertações de mestrado e 25 teses de doutorado no âmbito das Ciências da Comunicação; publicou meia centena de livros e coletâneas, mais de uma centena de artigos em periódicos científicos nacionais e internacionais. Atualmente, José Marques de Melo é professor titular da Universidade Metodista de São Paulo, onde é Diretor da Cátedra UNESCO de Comunicação.

Durante o congresso, Marques de Melo discutiu Os desafios do jornalismo científico na web, com a professora doutora Magnólia Rejane, coordenadora da única agência de notícias científicas de Alagoas, e o mestre em Letras, com especialização em ciências da literatura, Luís Jobim, neto de outro grande nome do Jornalismo Brasileiro, Danton Jobim.

Danton é considerado responsável pela renovação da imprensa brasileira, com a implantação do lead, na década de 50 e outras inovações no processo de produção e jornalística. Atualmente, Luís é responsável por coordenar o acervo de seu avô.

SEDUNDA EDIÇÃO

Esta foi a segunda edição alagoana do Congresso Nacional dos Jornalistas. A primeira aconteceu há 36 anos – o 17º Congresso, em 1978 – e marcou a retomada da organização nacional da categoria, após o período de recesso imposto pela ditadura militar, em um momento importantíssimo para os jornalistas e para a sociedade brasileira.

A primeira edição alagoana foi realizada na gestão do jornalista Freitas Neto (in-memorian), então presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Alagoas.

“Achamos que já estava na hora de sediarmos novamente este grande encontro, o evento mais importante da nossa categoria, e resolvemos encarar o grande desafio. A proposta do nosso sindicato foi aprovada no congresso do Acre, numa demonstração de confiança da Fenaj e dos jornalistas brasileiros na nossa responsabilidade e capacidade de organização. O Congresso dos Jornalistas coloca nosso Estado na pauta nacional da comunicação”, destacou a presidenta do Sindjornal, Valdice Gomes.

ENJIRA

O primeiro dia do 36º Congresso dos Jornalistas, antes da abertura oficial, abrigou o 1º Encontro Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial. O foco do Enjira foi a construção da igualdade racial na mídia e o papel dos jornalistas nesse processo, a visibilidade da cultura afro-brasileira e outras demandas relacionadas à população negra, além da troca de experiência sobre a abertura de espaços para o jornalismo especializado nas questões raciais, como o Portal Áfricas e cadernos especiais na mídia impressa.

O encontro contou com a participação de profissionais como Cleidiana Ramos, repórter especial do jornal A Tarde (BA), especializada em questões de identidade e religiosidade afro-brasileira; o jornalista Washington Andrade, diretor-geral do Portal Áfricas; e Rosane Borges, doutora em Ciências da Comunicação, coordenadora do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra.

Na opinião de Rosane Borges, falar de racismo no Brasil é como olhar diretamente para o sol, pois é algo que cega imediatamente as pessoas. “O racismo está presente, mas nos negamos a encarar. Precisamos trabalhar para promover a igualdade social e a mídia tem um papel fundamental nisso”, afirmou.

O Congresso dos Jornalistas é um evento promovido pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), realizado este ano com patrocínio do Governo de Alagoas, Prefeitura de Maceió, Sebrae, Petrobras, Federação da Indústria do Estado de Alagoas e Governo Federal, por meio da Caixa Econômica Federal, Ministério do Esporte e Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir).